segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

O revolucionário Rubens Chaves


Publicado originalmente no site Osmário Santos, 03/07/2004.

O revolucionário Rubens Chaves
Idealizador de obras importantes, o arquiteto ficou conhecido também pela dedicação ao futebol.

Por Osmário Santos.

Com seus avançados projetos, na década de 60, Rubens Chaves chegou a ser conhecido como louco. Um desses projetos é o estacionamento para carros avançando sobre o rio Sergipe, com a finalidade de facilitar o trânsito de veículos da Ivo do Prado. Outro é o fechamento dos cruzamentos a cada 100 metros, em sistema alternado, por considerar que Aracaju foi uma cidade projetada para burros e carroças. Diz que foi o responsável pela implantação da primeira rua de trânsito em sentido de mão única, quando foi o criador do Código de Obras e Urbanismo, que até hoje está em vigor. No futebol, uma vida de abnegação pelo Confiança, time do qual foi seu presidente, registrando passagem pela Federação Sergipana, quando deu o ponta-pé inicial para o surgimento da campanha Gol da Sorte, após ter atendida solicitação que fez ao governador do Estado para salvar o futebol sergipano.

Rubens Sabino Ribeiro Chaves nasceu a 18 de setembro de 1938, na cidade de Aracaju, sendo filho de Joaquim Sabino Ribeiro e Letícia Silva. Aprendeu com o pai a aplicar a disciplina no trabalho e levar uma vida com seriedade, nunca falhando aos compromissos assumidos. Com a mãe, a rigidez em suas atitudes.

No Jardim de Infância Augusto Maynard, o início nos estudos, onde conquistou o diploma de doutor do ABC. O curso primário foi realizado no Colégio do Salvador. O curso ginasial foi no Colégio Atheneu, prosseguindo os estudos na Fundação Getúlio Vargas, em Nova Friburgo, Rio de Janeiro.

A juventude vivida em Aracaju traz recordações de um tempo em que prevalecia a lealdade e sinceridade nas pessoas. “Havia transferência de idéias”. Havia a rígida educação que recebeu das irmãs Galrão, contribuição de grande importância em sua formação. “Tinha que ter até o compromisso com a religião, coisa que hoje não há; o homem está se esquecendo de Deus”. Do Atheneu, faz referência aos ensinamentos recebidos dos professores Felte Bezerra e Gesteira.

Saiu de Aracaju para estudar numa escola que era considerada modelo da época. Concluído o curso científico em Nova Friburgo, num colégio da Fundação Getúlio Vargas, resolveu fazer o curso de Arquitetura em Salvador para ficar mais próximo da casa dos pais.

Arquitetura.

Ingressou na faculdade no ano de 1958, terminando o curso em 1963, realizando estágio no setor de projetos de repartições públicas e na prefeitura de Salvador. Quando morou na capital baiana, empolgou-se pelo esporte, despertando para a organização da estrutura dos clubes profissionais de futebol, através do Vitória. O futebol é sua paixão desde menino. Jogou em todas as posições, mas a que mais gostou de atuar foi a de goleiro.

Com o diploma na mão, no ano de 1964 chegou a Aracaju cheio de idéias. De imediato conquistou um espaço para trabalhar na Prefeitura de Aracaju, graças ao prefeito Godofredo Diniz. Na época, estava sendo montado o Departamento de Urbanismo da Prefeitura de Aracaju, oportunidade que se pensou em fazer o código de obras, disciplinando o crescimento da cidade.

Código de Obras.

Rubens diz que fez um trabalho relativamente bom em sua primeira passagem na prefeitura. “Criei o Código de Obras e Urbanismo que até hoje está sendo usado, mesmo decadente, pois foi feito no ano de 1966 e foi o primeiro. Antes tinha um código de postura, que dizia assim: ‘É proibido cuspir na rua’. Coisas que aprisionavam a sociedade. Parti para fazer um código que disciplinava gabaritos de prédios, largura de ruas, áreas de estacionamentos, lazer, praças”.

O Código de Obras de Urbanismo foi aprovado pela unanimidade dos vereadores da época. Com o código em vigor, os próprios vereadores, arrependidos, só não suspenderam, segundo Rubens Chaves, por causa do regime militar que passou a vigorar no Brasil em 31 de março de 1964. “O que mais incomodou os vereadores foi justamente o que se relacionava à arrumação de barracos nas praças, que é uma praga que até hoje existe”.

Como obra municipal, seu primeiro trabalho foi a Galeria de Arte Álvaro Santos. Um dos estudos que sonha ser concretizado algum dia em Aracaju é a criação de um estacionamento avançado sobre o rio Sergipe, para desobstruir o tráfego da Ivo do Prado. “Ia lançar sobre o rio um patamar grande para os carros irem para o estacionamento, liberando a pista. Muitos administradores já me procuraram para discutir essa idéia. Talvez algum faça, algum dia”.

Detran.

Registrou uma passagem pelo Detran, no trabalho de planejamento de trânsito, quando foi o responsável pela criação da primeira rua com sentido único de tráfego. Até então, Aracaju só possuía ruas com mão dupla. No Detran, ocupou o cargo de diretor técnico, no governo João Garcez. A primeira rua a ter mão única, conforme depoimento de Rubens Chaves, foi a rua Itabaiana.

Outro estudo que espera algum dia ainda ser implantado na cidade trata de fechar um cruzamento, a cada 100 metros, alternadamente. “A cidade de Aracaju foi feita para burros e carroças. Quando o carro chegou, as ruas ficaram de uma maneira tão perigosa que esses cruzamentos, a cada 100 metros, tornaram-se pontos de acidentes. O projeto abriria uma rua e fecharia outra, acabando o cruzamento, com o desembocar dos veículos numa rua, sem cruzar de um lado para o outro”.

Foi chamado de louco.

Por suas idéias avançadas, foi chamado de louco pela imprensa. “Muitas vezes, no início, até a ‘Gazeta de Sergipe’. Mas, depois, reconheceram. Afinal, todo mundo de louco e médico tem um pouco”.

Não chegou a montar escritório de arquitetura em Aracaju, pela opção que fez pela fundação de uma construtora em sociedade com um irmão. “Nós começamos a construir através da RIC. Posteriormente, nós terminamos a empresa e eu parti para o ramo da hotelaria, que foi uma conseqüência imediata da própria construtora. Ela fez o hotel e, na separação, eu fui gerenciar o hotel, embora sentisse no fundo que não era hoteleiro. Agora estou transformando aos poucos o prédio do hotel que possuo em condomínio”.

Na Prefeitura de Aracaju, passou por mais de seis administrações, sempre ocupando cargo em comissão. No Detran, passou duas vezes. Também passou pela Secretaria de Articulação com os Municípios, no governo Valadares. Atualmente trabalha na Codise. “O mais importante: não sou funcionário público, sempre trabalhei em cargo em comissão. Sou um técnico, sem nenhum envolvimento com o lado político”.

Arrependimento.

Desabafa que trabalhou muito de forma graciosa, fazendo projetos de arquitetura para residências em Aracaju. “Minha vida toda foi isso. Na época em que cheguei aqui, tinham na cidade somente três arquitetos. Aí começou aquele monte de pedidos de amizades que eu tinha, de minha família. Comecei a atender aos amigos, fui deixando, sempre atendendo aos amigos. Foi ruim para mim. Vejo jovens colegas meus chegando e com dois, três anos já estão com bom pé de meia. Vejo que passou meu tempo e que apenas criei meu nome, graças a Deus. Porém, sinto que o dinheiro continua curto, pois sou um sonhador da profissão”.

Não gosta de fazer planta de residência, por considerar uma coisa muito pessoal. “O que gosto mesmo é de fazer projeto de coisa popular. Por exemplo: um estádio de futebol, posso projetar, como o que fiz recentemente para a cidade de Nossa Senhora das Dores”. Como gosta mesmo é de urbanismo, gostaria de ver Aracaju dentro da Carta de Atenas, tornando-se uma cidade disciplinada, com equilíbrio em suas funções, dando tranqüilidade aos seus habitantes, criando seres humanos amáveis.

Futebol.

Sempre sonhador, conseguiu aplicar muito pouco das idéias da época em que estudava na parte estrutural do Vitória da Bahia. Mas sempre foi torcedor fanático do Confiança, time fundado pelo seu pai. Chegou a ser presidente do clube e presidente do Conselho Deliberativo, com inúmeros serviços prestados ao longo dos anos.

Sua maior frustração como dirigente do Confiança foi ter presenciado a demolição da sede, quinze dias após sua saída da presidência do clube. “Uma sede onde nós lutávamos com grande vontade, eu e nossos colegas de diretoria da época. Já estava com o telhado pronto, uma sede pequena, feita com sacrifício. Ao sairmos, o novo presidente mandou demolir a sede. Isso nos doeu muito, a mim e aos meus amigos. E o pior é que esse pessoal já passou, ninguém fala mais desse presidente e o nosso nome continua sendo lembrado”.

Dia do fico.

Sua maior realização no esporte sergipano foi não deixar o Confiança se acabar, quando teve para sair do cenário esportivo. “Eu me juntei aos torcedores da época, lutamos para que meu pai deixasse de lado a idéia de tirar o Confiança do campeonato, definitivamente. Essa luta motivou uma passeata linda na cidade. Saímos do Centro, da rua João Pessoa, e viemos para o bairro Industrial, uma caravana linda, a pé. Esse dia, nós chamamos de o ‘Dia do Fico’. Então, meu pai, atendendo aos pedidos, disse: ‘Como é para o bem de todos, o clube fica’. Ele mudou de opinião ao ver a multidão na porta da fábrica. Chegou a dizer que não sabia que o Confiança era tão grande. Isso aconteceu em 54, 55, por aí”.

Gosta tanto de ser dirigente de futebol e tem tanta confiança no trabalho que desenvolve em benefício do esporte que não teme em dizer. “Se morasse num centro maior, chegaria à CBF”. E sobre a maior injustiça? “Eu não posso relembrar coisas ruins. Deixa passar. Aqueles que cometem as injustiças passam e ninguém fala mais”.

Na passagem pela Federação Sergipana de Futebol, lutou pelo soerguimento do futebol em Sergipe, pleiteando junto ao governador do Estado uma campanha para salvar o esporte. “Desse pleito, surgiu a campanha Gol da Sorte, desenvolvida junto à Secretaria da Fazenda. Isso é que é importante”.

Família.

É casado com Marlúcia Leite Ribeiro Chaves, em seu segundo casamento. Do primeiro, com Maria Jacira, é pai de dois filhos: Enderson e Veruska. Do casamento com Marlúcia, é pai de Helton, Hendrigo e Heider. É avô de Luana, filha de Veruska.

Texto reproduzido do site: usuarioweb.infonet.com.br/~osmario
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Imagem para ilustração de artigo, postada
pelo Grupo do Facebook/MTéSERGIPE.
Foto reproduzida do site: infonet.com.br

Postagem originária do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 30 de janeiro de 2016.

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