quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Memorial Clodomir Silva



Memorial Clodomir Silva.

Clodomir Silva: Um Sergipano a Serviço da Cultura.

Um ilustre sergipano que marcou a cultura sergipana. Esse é Clodomir de Souza e Silva, que pela sua importância, deu nome a uma biblioteca municipal em Aracaju, a uma maçonaria, ao Grêmio Escolar do colégio Atheneu Sergipense e a uma travessa no bairro Getúlio Vargas, também em Aracaju. Jornalista, escritor, advogado e político, ele integrou a elite intelectual sergipana entre 1920 e 1932. Duas obras marcaram sua trajetória. A primeira, no ano de 1920, foi “O Álbum de Sergipe”, uma obra comemorativa do 1º centenário da Emancipação Política de Sergipe. “O Álbum constitui referência para os estudos sergipanos, pois se trata de uma síntese da história, da geografia, da economia e da administração de Sergipe; um balanço da trajetória dessa unidade político-administrativa nos seus primeiros cem anos” avalia a historiadora Terezinha Alves de Oliva. O segundo livro foi “Minha Gente”, publicado pela primeira vez no ano de 1926 e que está na terceira edição. O livro é uma coletânea de textos sobre os costumes de Sergipe, no qual o autor retrata com fidelidade as peculiaridades desse povo. Homenagens Por todo esse legado, Clodomir recebeu várias e merecidas homenagens. Entre elas ter uma biblioteca que leva o nome dele. A biblioteca foi criada através da lei municipal número 30, de 7 de novembro de 1959, pelo então prefeito de Aracaju, Conrado de Araújo. Já a emenda que deu nome à biblioteca foi do vereador Roque Simas, datada de outubro de 1959.

Biografia Clodomir nasceu em 20 de fevereiro de 1892, na cidade de Aracaju. Seus primeiros anos de estudo foi feitos no colégio Atheneu. Aos 19 anos iniciou a carreira de jornalista, escrevendo para diversos jornais, entre eles Correio de Aracaju, Estado de Sergipe e Sergipe Oficial. Cursou a Faculdade de Direito de Recife, integrou a primeira geração do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, a Loja Maçônica Capitular Cotinguiba e a Academia Sergipana de Letras. Foi ainda professor do colégio Atheneu e da Escola Técnica de Comércio Conselheiro Orlando, além de deputado estadual por duas vezes. O intelectual faleceu de febre tifóide em 10 de agosto de 1932.

Foto e texto reproduzidos do blog: bibliotecaclodomirsilva.blogspot

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terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Fábrica de Charutos Walkiria, fundada em 1916, em Estância

Especialmente para os da Estância; Fábrica de charutos Walkiria, fundada em 1916 por Leopoldo de Araujo Souza, que chegou a ser uma das mais importantes do país.
Imagem: acervo Paulo Roberto Dantas Brandão.

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 16 de dezembro de 2013.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

José Calasans, um Mestre da História



Infonet - Blog Luíz A. Barreto, em 14/09/2004.

José Calasans, um Mestre da História.

José Calasans Brandão da Silva, nascido em Aracaju em 14 de julho de 1915, falecido em Salvador, na Bahia, em 28 de maio de 2001, foi uma das mais eminentes figuras de intelectual sergipano, com forte participação na vida sergipana, especialmente até a década de 1950, continuando, ainda, depois que mudou para Salvador e passou a ser, na Bahia, uma referência como professor universitário, exercendo funções destacadas na vida cultural baiana. Em Sergipe foi professor da Escola Normal e do Ateneu, presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, liderando movimentos culturais como o da criação do Centro de Estudos Econômicos e Sociais de Sergipe, em 1944, ao lado de Orlando Dantas, Garcia Moreno, Urbano Neto, Marcos Ferreira de Jesus, Jorge de Oliveira Neto e outros, a fundação da Revista de Aracaju, com Mário Cabral e Fernando Porto. Na Bahia foi professor de História Moderna e Contemporânea e professor Adjunto de Folclore na Universidade Federal da Bahia, da qual foi Vice Reitor, no Reitorado do também sergipano Macedo Costa., sendo também presidente do Conselho Estadual de Cultura, presidente da Academia de Letras da Bahia, presidente do Rotary Clube da Bahia, dentre outras atividades.

Formado em Direito, mas dedicando-se ao magistério, à história e ao folclore, José Calasans tornou-se um dos mais acreditados intérpretes da saga de Antonio Conselheiro, em Canudos, nos últimos anos do século XIX, construindo a mais consistente, ampla e citada bibliografia. Aracaju foi tema permanente de seus estudos, desde que, em 1942, apresentou tese no Concurso para a Cadeira de História do Brasil e de Sergipe da Escola Normal. Sua vasta obra consagra a biografia do pesquisador e do mestre da história, do folclorista e do investigador da cultura popular, recolhendo farto material com o qual mereceu o reconhecimento e a admiração dos brasileiros.

Calasans chamava a atenção para o fato de que os historiadores sergipanos dedicaram, por mais de 30 anos, seus esforços defendendo o direito de Sergipe sobre terras de fronteira, que tinham ficado sob o domínio da Bahia. A questão dos limites Sergipe - Bahia de fato inspiraram mais do que um ciclo de estudos, do qual os livros de Ivo do Prado, Manoel dos Passos de Oliveira Teles, Francisco Carvalho Lima Júnior, Elias Montalvão, e muitos outros, são o melhor testemunho, uma verdadeira luta, uma causa irrecusável a ser advogada pela elite intelectual e política do Estado.

Foi ele quem mudou os rumos da historiografia sergipana, a partir da tese Aracaju, Contribuição à História da Capital de Sergipe, tratando da Política de Inácio Barbosa; Política Açucareira; Santo Antonio do Aracaju; As Causas da Mudança; A Mudança, A Nova Cidade; cada capítulo com seu sumário, e todos eles levando às Conclusões; Na epígrafe, tomada de livro de Gilberto Freyre, e assinada pelo mestre de Apipucos, José Calasans faz a defesa da Província e daquele que defendendo a sua terra pode ser chamado de provinciano:

“o nome província e o adjetivo provinciano representam algumas coisas de básico para a nossa vida intelectual e artística e para a organização e desenvolvimento da nossa cultura. Alguma coisa de fundamental para uma política brasileira de cultura e, por extensão, para uma política cultural inter - americana. “Passou o tempo de considerar-se um desdouro a condição de provinciano; ela é antes uma condição de vitalidade, de autenticidade, de vigor, de permanência e de espontaneidade, para a nossa arte, para a nossa literatura, para a nossa cultura em formação.”

Aracaju, Contribuição à História da Capital de Sergipe abre um roteiro de pesquisas e de estudos, transformados em pequenos ensaios. Parte deles reunidos, em 1944, sob o título de Temas da Província, integrando Estudos sergipanos; Brício Cardoso e o ensino normal em Sergipe; Subsídio para o cancioneiro histórico de Sergipe; Fausto Cardoso e a revolução de 1906. Outros, debaixo do título geral Introdução ao Estudo da Historiografia Sergipanos também ligam o nome de José Calasans aos estudos históricos de Sergipe. São títulos: Um Discurso de Silvio Romero (de apresentação de Projeto para um livro de história de Sergipe, apresentado na Assembléia Provincial em 1874); Os primeiros trabalhos (sobre a historiografia sergipana); A Obra de Felisbelo Freire; A Escola do Recife; Carvalho Lima Júnior; A Questão de limites; História dos municípios; História política; Livros didáticos; Formação étnica; Biografias; Outros estudos; Obras gerais; Fases da nossa historiografia . Em 1992 o Governo do Estado, através da Fundesc, reuniu tais trabalhos, sob o título de Aracaju e outros temas sergipanos.

José Calasans publicou diversos trabalhos, destacando-se: O ciclo folclórico do bom Jesus Conselheiro (1950); Cachaça moça branca (1951); A santidade de Jaguaripe (1952) Euclides da Cunha e Siqueira de Menezes (1957); No tempo de Antonio Conselheiro (1959); Os vintistas e a regeneração econômica de Portugal (1959); Antonio Conselheiro e a escravidão (1968); Folclore geo – histórico da Bahia e seu recôncavo (1970); Antonio Conselheiro, construtor de igrejas e cemitérios (1973); Canudos: origem e desenvolvimento de um arraial messiânico (1974); A revolução de 30 na Bahia (1980); Canudos na literatura de cordel (1984); Quase biografias de jagunços (1986); Aparecimento e prisão de um Messias (1988); Miguel Calmon Sobrinho e sua época (1992).

Conferencista requisitado, organizador de um dos mais completos acervos sobre Canudos, José Calasans publicou outros trabalhos e deixou inéditos. Seu acervo foi doado a Universidade Federal da Bahia e depositado no Núcleo do Sertão, dedicado aos tempos do Conselheiro, sob a orientação do professor Fernando da Rocha Peres. Outros documentos, principalmente os sergipanos, cobrindo décadas de história, foram doados, há tempo, ao Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe e ao PESQUISE, Pesquisas de Sergipe. Uma toalha de mesa, com autógrafos dos seus amigos e visitantes, está preservada em sua casa, sob a guarda da viúva, D. Lúcia Margarida Maciel da Silva, sua grande companheira e incentivadora.

Fonte: Pesquise - Pesquisa de Sergipe/InfoNet".
Contatos: institutotobiasbarreto@infonet.com.br.

Fotos e texto reproduzidos do site: infonet.com.br/luisantoniobarreto

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 14 de dezembro de 2013.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Marcelo Déda, o aluno

 

Marcelo Déda, o aluno.
Por Ibarê Dantas

Quando Marcelo Déda foi meu aluno por volta de 1983, o país estava em plena fase de transição do Estado autoritário para a democracia e havia um amplo debate na sociedade sobre o futuro político do Brasil.

Em Aracaju, as discussões mais acaloradas sobre a política nacional e local aconteciam no Centro de Estudos e Investigação Social (CEIS), que funcionava nas segundas-feiras no segundo andar do Instituto Histórico. Quando presidi essa instituição, no período 1981-1983, havia uma participação plural de estudantes, professores sindicalistas e militantes de todas as tendências. Déda compareceu a algumas reuniões, mas não chegamos a nos aproximar.

Foi nas salas da UFS, quando lecionei a disciplina Política, optativa para o curso de Direito, que começou nossa interlocução. Naquela altura, Déda era militante do PT, estava envolvido na política estudantil do DCE e já havia concorrido a uma cadeira de deputado estadual nas eleições de 1982.

Como a maioria das aulas transcorria com ampla discussão de textos previamente agendados, um jovem participativo conhecido como Déda começou a destacar-se com suas intervenções articuladas com discurso de esquerda. Era um tempo em que o pensamento marxista gozava de grande influência entre professores e alunos, especialmente na área de Ciências Humanas. Mas isso não acontecia apenas na UFS. Na Unicamp, onde eu havia cursado o mestrado em Ciência Política (1979-1980), estudavam-se, sobretudo, os autores marxistas.

Compreende-se então porque boa parte dos meus jovens alunos politizados dos anos oitenta já chegavam ao curso um tanto inclinados pela concepção instrumentalista do Estado, ou seja, crentes que a sociedade política era um mero instrumento da classe dominante. Nesse grupo estava Déda, então um leninista assumido.

Ainda na Unicamp eu havia elaborado um pequeno trabalho sobre Lênin, tentando demonstrar que seu pensamento era incompatível com a democracia. De volta às aulas em Aracaju, enfrentei esse debate recorrendo a Gramsci, não pelo seu projeto político, mas pela sua teoria da hegemonia, que fornece uma engenhosa ferramenta para se compreender a complexidade da relação entre Estado e sociedade. No centro dessa problemática estava a questão democrática, tema recorrente nessa fase de repúdio das práticas autoritárias.

A partir dessas controvérsias, os debates se intensificavam e motivavam muito os alunos. Déda, irrequieto e um tanto apressado e afoito, com seu raciocínio rápido, começava a revelar suas potencialidades com argumentação criativa. Defendia seus pontos de vista com o ardor e o entusiasmo de sua juventude, mas nunca faltava com o respeito ao interlocutor. Nesse clima estimulante, as discussões se ampliaram, foram se tornando cada vez mais interessantes e começaram a prolongar-se após às aulas nos bares do Siqueira Campos e adjacências. No início fomos sem acompanhamento. Mas não demorou a formar-se um grupo interessado, tornando os encontros mais partilhados.

As discordâncias com Déda continuaram, mas nem por isso o prazer da conversa deixou de progredir. Para o professor, além de serem momentos instigantes de testar a consistência de seus ensinamentos, o aluno cativava com a franqueza de suas convicções, com seu sorriso simpático e, sobretudo, pela disposição de enfrentar o debate com abertura para aceitar novas ideias, uma postura bem diferente de muitos dos seus colegas e/ou correligionários fechados num sectarismo estéril.
Mas nem tudo era bem visto. Para os ortodoxos empedernidos, as ideias do professor passaram a ser vistas como suspeitas, motivando advertências e críticas. Era como se o mestre estivesse desviando a juventude dos grandes fundamentos clássicos sagrados. Não obstante as restrições e as cobranças, o relacionamento prosperava, e a empatia se estabeleceu de tal forma que passou a resistir ao tempo. Enquanto isso, o jovem estudante vez por outra surpreendia.

Um exemplo disso aconteceu quando Déda apresentou um seminário a partir de um texto de Nicos Poulantzas. Como se sabe, este famoso cientista político grego radicado na França, em seu último livro, deixava patente que o socialismo ou seria democrático ou não se realizaria. Déda analisou o texto e fez uma leitura tão rica como jamais eu tinha visto nem entre os doutores da Unicamp. Eram manifestações de seu potencial criativo e analítico que desabrochava. Nessa época ainda não dispunha da grande fluência verbal, que aprimorou ao longo do tempo de forma admirável. Entretanto já demonstrava bom senso e uma visão de conjunto sem perder de vista os detalhes. Além dessas características, comecei a notar também no seu modo de agir uma postura ética e uma autenticidade que embasavam sua honestidade intelectual.

Não obstante continuar reverenciando os clássicos marxistas, apresentava suas dúvidas e questionava-os ao menos pontualmente, como se estivesse procurando compreender a história e a realidade social sem os cânones da ortodoxia. Uma indicação disso era o enfrentamento dos críticos das experiências do socialismo real sem receios de abalar suas crenças. Por exemplo, nesse tempo e em nossa convivência posterior como amigo, nunca o vi defender o respeito aos direitos humanos de forma seletiva, ou seja, restrita aos países capitalistas. Em sua fala de formatura, como orador da turma, ainda rendeu homenagens a Lênin. Mais tarde, no seu discurso de posse de governador, lembrou-se do velho Marx do Dezoito Brumário, mas a filosofia de sua mensagem fundamentou-se nos postulados democráticos e republicanos, ilustrados em citações de Paulo Freire, Galeano, Comte-Sponville, Weber e Bobbio.

Quando meu aluno, já se encontrava engajado no Partido dos Trabalhadores e assim continuou entre os mais devotados, mas nunca o vi subordinar seus princípios morais às justificativas inverossímeis.

Enquanto pude observá-lo ao longo da existência, os valores que cultivou na mocidade não foram abandonados. Com sua memória privilegiada, acumulava saber e empenhava-se em fortalecer suas convicções. Quando as via abaladas, resistia em certa medida, mas impulsionado por sua honestidade intelectual terminava se rendendo às evidências. Basta lembrar um episódio que achei bem ilustrativo.

Na formação estudantil de Déda, a Revolução Francesa foi apresentada de forma apologética, fato comum entre os historiadores. Anos depois de Déda haver deixado a Universidade, comentei com ele a respeito de um curso que ministrei sobre o livro de Hanna Arendt intitulado Da Revolução, no qual a autora confronta a Revolução Americana com a Francesa, tentando mostrar a superioridade da primeira. Ele interessou-se pela obra e fiz chegar às suas mãos um exemplar. Quando voltamos a nos encontrar, ele me disse mais ou menos o seguinte: “Professor, essa mulher me mata. Leio sua argumentação, desconstruindo minhas convicções, releio e quando não consigo rebatê-la, levanto-me e vou à varanda tomar um vento e respirar para me recompor.”

Rimos juntos e voltamos a comentar o livro. Parecia que continuava como meu aluno. Franco e espontâneo, animado com a vida, tolerante e generoso com os divergentes, enfrentava as ideias contrárias como se fosse um processo natural. Foi assim que cresceu. Não foi por acaso que se revelou uma das figuras humanas mais fascinantes da vida pública brasileira, admirado por gente de todos os partidos e de todas as classes.

Tê-lo como aluno foi uma honra proveitosa e gratificante. Além de sua contribuição para meu crescimento intelectual com seus questionamentos instigantes, ao seu lado vivi grandes momentos de satisfação em diversos ambientes. Em nossa longa convivência, mais frequente no passado e esporádica quando governador, tive amigos com formação acadêmica mais sólida, mas poucos tão atenciosos e ninguém com sua versatilidade, com sua energia, com sua vivacidade e com sua inteligência. Com essas potencialidades, espírito público e grande força moral, construiu uma das carreiras mais marcantes da história política de Sergipe.

Fotos e texto reproduzidos do Facebook/Antonio Francisco Jesus.

Postagem originária da página do facebook/MTéSERGIPE, de 14 de dezembro de 2013.

Primeira visita de Getúlio Vargas a Sergipe

A qualidade da foto é sofrível, mas é uma raridade. Primeira visita de Getúlio Vargas a Sergipe, ainda como Chefe do Governo Provisório (não sei se 1931 ou 32) - Cadastro de Sergipe 1933.
Foto: acervo Paulo Roberto Dantas Brandão.
Legenda: Paulo Roberto Dantas Brandão.

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 13 de dezembro de 2013.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Quadro alegórico de Aracaju em 1855

Quadro alegórico de Aracaju em 1855, quando da sua fundação. (Cadastro de Sergipe 1933).
Foto: acervo Paulo Roberto Dantas Brandão.

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Tragédia da Fábrica Santa Cruz (1947)

Quem pensa que as enchentes em Estância são coisas recentes.
A de 1947 ficou conhecida como a Tragédia da Fábrica Santa Cruz.
(Cadastro de Sergipe 1949).
Imagem e legenda de Paulo Roberto Dantas Brandão.

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 9 de dezembro de 2013.

Usina Pedras (Cadastro de Sergipe 1949)

Foto: acervo Paulo Roberto Dantas Brandão.

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 10 de dezembro de 2013.

Usina Central (Cadastro de Sergipe 1949)

Foto: acervo Paulo Roberto Dantas Brandão.

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 10 de dezembro de 2013.

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

A Cascatinha

Foto: acervo Rosa Faria/Arquivo: Adaílton Andrade
Imagem reproduzida do Facebook/Linha do Tempo/Adaílton Andrade.

(Eis um pouco de como era Barrinhos. Isto sem lhes lembrar do grande pioneiro do Colunismo Social em mídia televisiva, nem do grande produtor cultural que era).

A Cascatinha

A Cascatinha fora antes uma gruta artificial instalada no parque Teófilo Dantas, nos fundos da Matriz. Servira de residência a um casal de pacas com prole próspera e gordos traseiros, que recebia da Prefeitura honras de celebridades. Contavam até com funcionários oficialmente designados para, toda tarde, descarregar ali um apetitoso cesto de cascas de melancia e bananas podres. Fedia a chiqueiro doméstico o pedregulho disforme com três entradinhas, por onde, vez por outra, apareciam os roedores municipais em busca de aplausos.
Delícia da meninada!

Mas veio a modernidade, Aracaju preparava-se para o grande advento do turismo, arquitetos e paisagistas ( geralmente formados na Bahia) ansiosos por transformar a cidade numa quase cidade grande. Em nome não sei de que eles tiveram que condenar a gruta das pacas!

E foi então que elas desapareceram num animado churrasco prestigiado por respeitáveis figuras do terceiro escalão da Prefeitura. No seu lugar, surgiu o Bar Cascatinha.

O novo proprietário, Seu Joel, um parente de conhecido vereador noviço nas lides sociais, convencera-se de que somente o colunista João de Barros com sua vistosa criatividade, poderia trazer para a inauguração do novo estabelecimento o charme que ele precisava para conquistar frehuezia... e nos contratou.

Não fez mais do que a obrigação. Tínhamos realizado, semanas antes, a “Primeira Festa Hippie” na Sorveteria Yara, cujos escândalos e indignações movimentaram a caretice da cidade por bom tempo. Portanto, a mídia estaria no papo!

Programamos uma “performance” culminando com a volumosa atriz Walquíria Sandes chegando por via aérea, pendurada num cabo de aço e impulsionada por busca-pés e pitus. Por sugestão de Joubert, ela trajaria longa bata rebordada com o inusitado slogam: “Fogo nela!”, mas a produção chiou, a Petrobrás jamais emprestaria um guindaste e na mão, meu irmão, com a imensa Walquíria, não daria mesmo!

No dia da inauguração, com a banda “Os Comanches” maltratando Raul Seixas, amargamos um espetacular fracasso. Ninguém teve coragem para adentrar o recinto. Uma quase multidão de curiosos convenientemente distante do ba-fa-fá, mas querendo ver no que dava aquilo tudo, incentivava aos gritos “Soltem as pacas! Soltem as pacas! ”. Ao que Barrinhos respondia, com muita languidez e certa concupiscência:

- "É a mim que eles querem"...

O dono encomendara badejas de canudinhos e pasteis com recheios diversos, destinados à gulodice dos visitantes, mas qual, tirando uns quatro esfomeados, a maioria preferiu assistir àquela maluquice, de longe. Entrar, nem implorando!

A Cascatinha funcionou por alguns anos como extensão dos cabarés, varando as madrugadas. Era o lugar da última cantada, da sopa de mão de vaca e do hamburguer final, mas nunca perdeu o fedor fantasmagórico das pacas torradas que, até hoje, juram os mendigos que dormem por lá, ainda reivindicam o local.

Amaral Cavalcante – dezembro/2008.

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 9 de dezembro de 2013.

Um Olhar sobre o Engenho Pedras


 Um Olhar sobre o Engenho Pedras

“Nossa maneira de agir é marcada pela influência do açúcar”
(Maria de Glória Santana Almeida)

Localizado na região da Cotinguiba, próximo à cidade de Maruim, o Engenho Pedras destacou-se por atravessar diversas fases da economia açucareira.e é considerado o mais importantes dos engenhos em Sergipe, sendo atualmente um dos mais estudados. Em 19 de junho de 2010 a turma da disciplina Temas de História de Sergipe II visitou o engenho.

Em Sergipe, no século XIX, ser proprietário de engenho significava ter prestígio social e por isso inúmeras disputas foram travadas entre herdeiros pela posse das terras, resultando em uma fragmentação dos engenhos que ao longo do século se caracterizaram por serem de pequeno porte se comparados aos da Bahia e de Pernambuco.

Tais disputas pela herança nos testamentos marcaram a história do Engenho Pedras. Seu primeiro proprietário foi o coronel Manuel Rolemberg de Azevedo, de família holandesa, em 1823. Sendo que os quatro engenhos vizinhos, de menor porte, teriam também sido dirigidos pelos descendentes desse importante coronel, através de alianças, principalmente pelo casamento.

A família Rolemberg ao se instalar no engenho se empenhou em manter o “modus vivendi” europeu através da ostentação do luxo demasiado que compunha a casa grande com enormes lustres, vasos de porcelana, cristaleiras, quadros de pintores renomados etc. Infelizmente, a situação atual é bastante diferente. Devido ao descuido e descaso dos atuais donos, a magnífica estrutura ameaça desabar a qualquer momento levando à baixo parte importantíssima da nossa história.

O modo de vida européia também marcou a sociedade colonial e imperial através da presença marcadamente influente da Igreja Católica. Na organização do espaço físico do Engenho percebe-se a construção da Capela do lado direito (considerado sagrado) da Casa Grande; uma representação da vigilância sobre a moral e os bons costumes. Ali eram realizados batismos, casamentos e outras comemorações religiosas importantes que norteavam a vida da sociedade local. Atualmente, grande parte da mobiliária foi modificada, refletindo a falta de consciência sobre a importância da preservação do patrimônio histórico.


Mas não se pode esquecer que além da Casa Grande e da Capela, existiu também a Senzala. Esta não era apenas local de “descanso” e “reprodução” daqueles que foram a força motriz da economia açucareira. Para se ter uma idéia, Pedras chegou a ter 129 escravos no ano de 1866. E todo esse grupo também trouxe consigo costumes que contribuíram na formação do ser sergipano. Apesar dos espaços físicos serem bastante delimitados no engenho, o mesmo não ocorria no espaço social, tão pouco cultural, percebendo-se, dessa forma, uma verdadeira miscigenação de “raças” e de idéias.

No engenho Pedras a Senzala não era como convencionalmente a imaginamos. Eram pequenas casas, de condições muito precárias que se enfileiravam uma após a outra. Esse tipo de composição permitiu a formação de unidades familiares mais estáveis do que nos engenhos onde predominavam as grandes senzalas.

Atualmente, o engenho se tornou uma espécie de fazenda de cana-de-açúcar e está totalmente direcionado à produção e industrialização do açúcar através da Usina Pinheiros, instalada no local. Sua população é, majoritariamente, composta por trabalhadores assalariados que veio de outras localidades e que muito pouco ou nada conhecem da história daquele que já foi um dia o engenho mais importante de Sergipe.
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ALMEIDA, Maria da Gloria Santana de. O Engenho Pedras: uma unidade em Sergipe. VIII. Simpósio da ANPHU. Aracaju, 1975.
DANTAS, Orlando Vieira. A Vida Patriarcal em Sergipe. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980. 190p.

SOUZA, Antônio Lindvaldo. Anos de prosperidade e mudanças: a sociedade do açúcar e a necessidade de uma nova capital. Temas de História de Sergipe II. São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe/CESAD, 2010.
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Foto e texto reproduzidos do blog: sergipeemprosa.blogspot
De: Mislene.











Um Olhar sobre o Engenho Pedras
Fotos reproduzidas do blog: sergipeemprosa.blogspot
De: Mislene.

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 10 de dezembro de 2013.

Mauricio Graccho Cardoso (Cadastro de Sergipe 1949)

Mauricio Graccho Cardoso (Cadastro de Sergipe 1949).
Imagem e legenda: Paulo Roberto Dantas Brandão.

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segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Lições de um sedutor.


Infonet, Blog Marcos Cardoso, em 08/12/2013.

Lições de um sedutor.
Por Marcos Cardoso.

Marcelo Déda era um sedutor. A verve irrequieta, a simpatia encarnada no jeito familiar de se relacionar com os iguais e os diferentes, o raciocínio ligeiro, a capacidade de perscrutar a memória prodigiosa e colocar as palavras certas nos lugares adequados faziam dele um homem fascinante. Claro que o fato de ser bonito contribuiu para torná-lo mais atraente. E vaidoso.

A jornalista Mônica Gugliano, que cobria a Câmara Federal quando Déda lá chegou em 1995, aos 34 anos, fez um depoimento para O Globo lembrando que, inteligente, habilidoso político e bom frasista, ele logo virou uma referência para os jornalistas que cobriam as atividades da Casa.

"Mas estaríamos faltando com a verdade ou omitindo uma partezinha dela se ignorássemos que o deputado de risada franca e aberta, gentil no trato com a imprensa, conquistava corações", ressalta ela, acrescentando: "Déda era um colírio para os olhos da mulherada. Ao ser eleito líder da bancada petista, as jornalistas, informalmente, passaram a referir-se a ele como líder e gato".

Quando se despediu da liderança, ainda segundo Mônica, teria dito: "Finalmente não sou mais líder. Agora, sou só gato".

Mas por trás daquela persona que irradiava beleza, gentileza e alegria escondia-se um aristotélico animal político. Puro sangue. Intelectual sabedor de sua função social, Déda se destacou pela paixão como procurou compreender desde sempre a política, essa arte complexa que rege a relação entre cidadãos e sociedades. Era possuidor de sensibilidade aguçada para apreender o sentido do interlocutor e ao mesmo tempo perceber os anseios coletivos.

Exigente e às vezes até rude com quem trabalhava com ele, mas sin perder la ternura jamás, tinha a humildade de buscar aprender com os adversários e a capacidade de perdoar. Tornou-se amigo e aliado de primeira hora de Edvaldo Nogueira, o ex-estudante de medicina comunista que derrotou o seu grupo na disputa pelo DCE da Universidade Federal de Sergipe. Edvaldo sucedeu a Déda na presidência do diretório estudantil no começo dos anos 80, num embate fundamental na formação da sua práxis política.

E em 1987, ao chegar à Assembleia Legislativa com púberes 26 anos, após marcar posição em eleições anteriores para deputado estadual e para prefeito de Aracaju, quando apareceu como estrela em ascensão, Déda se aproximou daquele que mais conhecia sobre a engrenagem e as vicissitudes parlamentares, o deputado e ex-vice-governador Djenal Tavares de Queiroz. O general do Exército, que poderia ter sido o adversário mais duro, deixou-se seduzir pelos sentimentos honestos daquele barbudinho com ideal socialista.

"Seu avô era assim como você. Ele dava a palavra e cumpria", contou o próprio Déda ao jornalista Osmário Santos (Memórias de Políticos de Sergipe no Século XX, 2002), citando comparação do velho deputado-general com o seu avô, jornalista, rábula e também deputado constituinte, de 1947, José de Carvalho Déda. Marcelo inspirou-se na intelectualidade do avô, mas teve contato com a política e com a história da esquerda sergipana na barbearia de seu Edgar Ribeiro, comunista histórico que trabalhava numa esquina da rua Socorro, onde morava o estudante do Atheneu que veio de Simão Dias para concluir o primeiro grau em Aracaju.

O jovem Déda foi um deputado constituinte atuante, que deu coloração importante à Carta Estadual promulgada em 1989. O menino que chamou a atenção na paupérrima estreia eleitoral do PT, em 1982, e se sobressaiu ao só perder para o fenômeno Jackson Barreto na primeira eleição nas capitais pós ditadura, tornou-se ali reconhecido como político de verdade. "Esse garoto daria um excelente deputado federal", vaticinou o jornalista paulista Ivan Rodrigues, então diretor de jornalismo da TV Sergipe, impressionado com a capacidade de articulação e com o discurso da revelação petista.

Não se reelegeu porque ousou votar a favor da cassação do prefeito acusado de superfaturar obras e serviços, o que pareceu alinhamento com o único governador do PFL, Antonio Carlos Valadares. Pode ter avaliado mal, mas foi por imaturidade e convicção. E o povo sergipano soube reconhecer que ali havia mais do que um suposto algoz do popular e corajoso político emedebista e concedeu-lhe a eleição para deputado federal em 1994.

Voltas que o mundo dá: Valadares e Jackson tornaram-se correligionários e amigos. “Só quem não conhecia o Governador Marcelo Déda poderia duvidar da facilidade com que os adversários se dispunham a lhe estender a mão, tal o respeito que ele lhes dedicava e tamanho o espírito conciliador de que era dotado. Déda fazia da política uma atividade maior, em que o benefício da sociedade era sempre o seu objetivo primeiro. Na sua prática política não havia lugar para mesquinharia, apenas para o diálogo e para gestos de grandeza”, desabafou no Senado o político do PSB que sofreu dura oposição de Déda enquanto governador, no final dos anos 80. Estavam juntos desde a campanha de 2002, quando ele se reelegeu senador e José Eduardo Dutra, candidato ao governo, foi derrotado no segundo turno por João Alves Filho.

"O que iremos guardar de Marcelo Déda é a sua jovialidade e a sua capacidade de aglutinar tantas forças para elaborar um projeto que trouxe muitas mudanças para Sergipe. Ele foi um guerreiro e sua grande obra foi a honradez, a dignidade e a ética que sempre nortearam seu caminho e sua vida pública", disse o agora governador de fato e de direito Jackson Barreto.

Déda se apaixonou de vez pela política na dura e surpreendente — para os militares — eleição de 1974, quando assistiu na TV a Jackson Barreto e Jonas Amaral, dois resistentes da ditadura que se elegeriam deputados estaduais. Foi a eleição em que Gilvan Rocha, também do MDB, elegeu-se senador, derrotando nada menos que o mito Leandro Maciel. E José Carlos Teixeira elegeu-se deputado federal. Esses são os precursores do que Déda viria a se tornar depois. Só que Déda foi maior do que todos eles.

Ninguém por acaso vence seis eleições consecutivas, duas vezes para deputado federal, sendo o mais votado em 1998, e ganhando quatro disputas para cargo executivo no primeiro turno, duas vezes para prefeito de Aracaju (2000 e 2004) e duas vezes para o governo de Sergipe (2006 e 2010), derrotando o experiente e respeitado João Alves nos dois embates, inclusive quando o negão era o governador do Estado, em 2006.

Nos sonhos de Lula, Déda estaria no Senado em 2015. “Eu acho que estão faltando tribunos com envergadura no Senado e o Déda poderia ser um senador extraordinário. Ele poderia ser o tribuno que está faltando no nosso país”, disse o compadre durante o velório no Palácio Museu Olímpio Campos, acariciando a cabeça daquele com quem guardava uma relação quase de pai para filho. “Além do PT perder um quadro extraordinário como Marcelo Déda, a gente perde uma das grandes realidades políticas desse estado”, concluiu o ex-presidente, uma referência indiscutível.

Como referência também o foi Ibarê Dantas, professor de Ciência Política na UFS, “um homem que foi fundamental em minha formação”, nas palavras do próprio Déda. “Eu lia nos manuais clássicos do Marxismo, ele me trouxe Gramsci, que foi fundamental para que eu mudasse a minha imagem de mundo”.

Ensinamentos que fizeram dele não um esquerdista sectário, um socialista frustrado, mas um homem ciente da grandiosidade de sua função e consciente de que não foi inventado do nada, porque outros vieram antes dele, como sinalizou no discurso de posse no governo em 1º de janeiro de 2007:

"Sou filho de uma geração e, como representante dessa geração, eu sei o que devemos às outras que nos antecederam. Um filho cuja história, com paciência e tempo, tece a sua multifacetada tapeçaria que nos liga a outras eras e a muita gente. Nos liga, por exemplo, a tradição oligárquica de Fausto Cardoso, o grande herói urbano de Aracaju, o tribuno eterno de Sergipe que sacrificou a vida no altar das suas ideias e fez-se símbolo e exemplo para todos os que buscaram a modernização política, a justiça social, a democracia e o fim dos conluios oligárquicos. Não deixa, pois, de me emocionar que justo em 2006, quando a revolta de Fausto Cardoso completou cem anos, um centro-esquerda com forte apelo antioligárquico e indiscutível perfil mudancista conseguisse levantar Sergipe numa revolução pelo voto, produzindo a vitória que hoje me traz aqui à presença de Vossas Excelências para em nome do povo sergipano assumir o governo do Estado trazendo no coração o compromisso democrático e popular e nas mãos as bandeiras das mudanças".

O que pode ser arrematado com o que disse em maio deste ano, já alquebrado pela doença, ao sancionar o projeto do Proinveste: "Não sou capaz de decifrar os enigmas de Deus. Deus é insondável. O que ele está querendo com isso, não sei e nunca saberei. Mas me compete, na história, que é no terreno onde sempre operei, buscar fazer aquilo que me fez Marcelo Déda". E assim fez.

Texto reproduzido do site: infonet.com.br//marcoscardoso
Foto reproduzida do site: bobcharles.com.br

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 9 de dezembro de 2013.

domingo, 8 de dezembro de 2013

Dona Helena do Educandário Brasília, em Aracaju

 Dona Helena Barreto.

Dona Helena e Roberto Garcez.

"Helena Barreto, D. Helena, uma das Diretoras do Educandário Brasília, professora do terceiro ano. Aos 97 anos em plena lucidez. Muito querida por todos, principalmente para quem teve a honra de ser seu aluno". (Roberto Garcez).

Foto/Legenda reproduzidas do Facebook/Linha do Tempo/Roberto Garcez.

Postagem reproduzida da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 8 de dezembro de 2013.

Marcelo Déda


Marcelo Déda.

Do Livro ‘Memórias de Políticos em Sergipe no Século XX: Marcelo Déda’
Texto: Osmário Santos/Foto: Divulgação.

Marcelo Déda Chagas nasceu a 11 de março de 1960, em Simão Dias, Sergipe. Seus pais: Manoel Celestino Chagas e Dona Zilda Déda Chagas.

O sr. Chagas era funcionário do Fisco Estadual na época em que os postos fiscais da receita estadual consistiam numa pequena casa na beira da rodovia e uma corrente em sua frente para liberar ou não o tráfego de veículos. Ele tinha, como responsabilidade profissional, o posto localizado entre a cidade de Simão Dias e Paripiranga, fronteira com a Bahia.

O processo da liberação da referida corrente era simples: para os carros de passeio, trânsito livre. Já para os caminhões, sem dispensar os que conduziam feirantes, o responsável do posto, ao avistá-lo, trancava a porteira fiscal. Desse antigo processo adotado pela fiscalização estadual, Marcelo Déda tem bucólicas lembranças, pois, em momentos de sua infância, vez e outra, lá estava perto do pai, acompanhando-o no abrir e fechar a tal corrente. Guarda, com carinho, até hoje, uma foto em que menino estava brincando com a corrente do posto.

O sr. Chagas é de origem camponesa. O avô de Déda tinha uma propriedade rural, um sítio na cidade de Paripiranga, perto de Simão Dias. Dessa proximidade com a cidade baiana é que o sr. Manoel Celestino Chagas conheceu D. Zilda. Contava com 17 anos de idade, e a jovem Zilda, com 16. O namoro não recebeu o apoio do pai dela, mas não foi motivo de impedimento para que o casamento fosse concretizado.

Marcelo Déda é o filho mais novo dos cinco filhos do casal. Todos eles foram criados envolvidos em clima de muito amor e preocupação permanente com os estudos. Seus irmãos são: Cláudio, conhecido na família como Cacau, hoje é juiz de Direito em Aracaju; Maria Aparecida é casada com o primo Aldo Déda; Selma e Maria do Carmo, esposa do advogado Edson Ulisses.

Homem simples, o sr. Chagas não teve acesso à educação superior, embora tivesse concluído o primário. Sua caligrafia fascinava os filhos. Era ele que, ao final da tarde, passava a limpo todos os pontos dos filhos, passados pelos professores em sala de aula. O filho Marcelo que acompanhou esse procedimento desde pequeno também foi beneficiado pela caligrafia do pai. Meu pai teve uma noção muito perfeita do significado da educação na vida de uma pessoa.

Houve um envolvente relacionamento entre pai e filho, que até hoje persiste. Seu pai continua gozando de vida e saúde e Marcelo conta um episódio interessante:

Até hoje, eu, já com quarenta anos de idade, não sei guiar. Meu pai não tinha carro e ele dizia sempre: ‘não pegue carro de amigo, porque se você provocar um acidente, vai ser difícil, vai complicar a nossa vida aqui’. Até hoje terminei não aprendendo. Casei-me com a minha primeira esposa, Márcia, e ela sabia dirigir. Depois me elegi deputado estadual, e a Assembleia Legislativa tinha motorista. Terminei me esquecendo. Mas eu vou aprender. Eu tenho dois desafios para o ano 2000: um é o de ganhar a prefeitura, e o outro, é aprender a dirigir.

Déda sente muito orgulho do pai que sempre dizia aos filho. Eu posso ir a qualquer estabelecimento comercial porque eu tenho crédito. Eu não apenas compro à prestação, como sempre faço questão de quitá-las antes de seu vencimento.

Os pais viveram até o ano de 1969 na cidade de Simão Dias. Com a aposentadoria, sr. Manoel trouxe a família para a Aracaju, graças ao direito de comprar a casa financiada outorgado aos servidores públicos estaduais através de sorteio no governo de Lourival Baptista. Nessa época, as irmãs de Déda já estavam casadas. Os outros três filhos vieram para Aracaju. Mas isso não aconteceu, porque Déda resolveu ficar em Simão Dias, morando com a sua tia Eunice, uma pessoa de grande importância na sua formação. Só deixou a cidade em que nasceu no início de 1973.

Da tia Eunice, agradece o lado da sua formação religiosa. Foi por suas mãos que foi conduzido à Igreja Católica Apostólica Romana. Eu ajudava missa, eu fui coroinha, subia na imensa torre da igreja de Simão Dias. Eu ia bater o sino lá em cima, às 5h30 a fim de chamar os fiéis para a primeira missa da manhã que acontecia às 6h. Era uma aventura! A torre era cheia de morcegos, a escada era antiga e rugia. Minha tia dizia que, de vez em quando, aparecia a alma do Padre Madeira, um padre antigo de Simão Dias.

Déda confessa que não sentiu vocação para padre e diz que, no momento atual, embora não seja católico praticante, dentro de si, tem impregnado uma fé inabalável, graças a esse período de convivência com a tia. A formação católica tem uma força muito grande em minha vida, porque, desde pequeno, ela me fazia ler os evangelhos, fazia-me ler livros religiosos.

Sua primeira ideia de combate à injustiça, em defesa da igualdade das pessoas, não foi uma ideia que adquiriu da política em sua militância no PT, mas da formação cristã que teve na casa da sua tia Didi, como carinhosamente chamava a tia Eunice.

A minha ideia é que o cristianismo é incompatível com a miséria, é incompatível com a desigualdade, incompatível com a arrogância e com a opressão. É uma marca de liberdade, de uma libertação muito forte.

D. Zilda era uma autêntica matriarca, mulher de personalidade muito forte, muito bonita, muito inteligente e defensora ao extremo dos filhos. Compara esse espírito de defesa dos filhos, como uma águia defendendo seu ninho. É filha de José de Carvalho Déda que, para o neto, foi o homem mais inteligente que conheceu em sua vida. Um advogado provisionado, um rábula de reconhecimento além Sergipe. Na prática da advocacia, mesmo sem ter ido a nenhuma escola, como era comum naquele tempo, ao lado de Dudu da Capela, eram os dois maiores advogados criminalistas de Sergipe.

O convívio com o avô, Carvalho Déda, é mais outro ponto de sua formação, principalmente, pelo acesso que teve a sua imensa biblioteca. Meus primeiros livros foram lá na biblioteca de Carvalho Déda no período em que estudei o ginásio. Eu o chamava de Papai Zeca.

Além do trabalho de rábula, seu avô tinha o jornal “A Semana”, rodado em máquinas manuais do início do século passado.

Trabalhar com a impressora manual era serviço pesado, e, com isso, meu pai dizia para os filhos: “quem não estudar vai para a tipografia”. Isto significava rodar a imensa antiga impressora, que tinha uma roda onde era colocada a tinta, de aproximadamente dois metros de diâmetro.

Um fato interessante sobre o jornal editado pelo avô é que ele fazia o comentário do cotidiano através da charge que ele mesmo preparava em processo de xilogravura. Enquanto estava à espera dos clientes de suas causas jurídicas, ficava a manipular o canivete na madeira, graças a sua habilidade com as mãos. Também fazia brinquedos em madeira, para os filhos e para os netos. Déda não esquece da alegria quando recebeu um Mané Gostoso, um boneco sustentado em duas varetas e que faz piruetas, quando é manipulado com uma das mãos.

Outro lado forte do avô era o seu trabalho como folclorista. Ele é o autor de um dos clássicos do folclore sergipano: “Brefaias e Burundangas”. Também foi político, intendente de Simão Dias, cargo que hoje corresponde a prefeito, além de deputado estadual por duas legislaturas. Da passagem de seu avô pela política, Déda diz existir uma singularidade envolvendo a ambos e as duas Constituições democráticas de Sergipe.

A primeira, elaborada em 1947, contou com a participação de meu avô Zeca. A segunda, escrita em 1989, contou com minha presença. Teve um Déda assinando em 1947 e um Déda assinando em 1989. O meu avô Zeca exerceu grande influência em minha vida política, pelo peso intelectual que ele teve, pela exigência e por seu comportamento na política de homem de palavra. Muitas vezes, em minha passagem pela Assembléia Legislativa, o velho deputado Djenal Tavares de Queiroz me dizia: “seu avô era assim como você. Ele dava a palavra e cumpria”.

De sua mãe, Déda herdou o lado da liderança e o de ter orgulho do que se consegue ser e não abrir mão dos seus direitos.

Quando eu perdi a eleição em 1990, ela me disse: “meu filho, no momento mais difícil, no momento em que estiver mais oprimido, não dê o braço a torcer. Abra o seu guarda roupa, escolha a melhor roupa que você tiver e saia. Mas lembre-se: não abaixe a cabeça”. E essa idéia de não desistir de minha mãe foi vital para mim. Mais ainda, foi a lição de que você não deve baixar a cabeça quando estiver certo. Ela completava esse sábio conselho dizendo: “um dia as pessoas irão reconhecer que você hoje está certo”. E essa coisa de fato tem sido, na minha vida, de muita importância.

A infância de Déda foi a de um menino do interior, com brincadeiras da maior simplicidade, algumas delas já não mais conhecidas pelas crianças de hoje. Jogou furão, bola de gude e não desprezou o futebol.

Estudou o primário no Grupo Municipal Fausto Cardoso. Cecília foi a sua primeira professora. Passou um tempo nas Escolas Reunidas de Simão Dias, onde teve uma grande frustração. A primeira vez em que fez uma prova, a professora advertiu-lhe que iria ganhar cem se saísse bem na avaliação. O menino Marcelo delirou, pensando que iria ganhar uma cédula de cem mil réis.

Pensou que daria para comprar muitas balas. Fez a prova e, ao recebê-la, cobrou pela nota. Quando a professora disse-lhe que a nota já estava na prova, tamanha descoberta foi motivo de frustração. Muitas vezes a coisa tem dois significados. Não é aquilo que você pensa.

Ainda em Simão Dias, conheceu toda emoção de um amor platônico. Marta fez o coração de Marcelo bater mais forte, mas só de desejo. Ela era a filha do gerente do Banco do Nordeste e tinha de doze a treze anos de idade. Ele se apaixonou perdidamente. A paixão terminou em versos mal escritos, em sofrimento sempre distanciado.

O programa do sábado do tempo vivido em Simão Dias era comprar boi de barro na feira para brincar de fazenda. Também ia se divertir com os primos na tipografia do avô Zeca ou na tenda do tio João Déda, uma espécie de celeiro que, conforme a tradição da família da mãe, vendia couro. Também não esquece das boas brincadeiras de correr na Praça São João e a de brincar com tanajuras.

Simão Dias era o seu mundo. Naquele tempo, a coisa interessante que marcava a cidade era o fato de que a cadeia pública, o hospital e o cemitério eram todos vizinhos.

Como a cidade era marcada pela pecuária, a coisa mais bela do mundo para Déda era ver, ao final de uma tarde de inverno, a boiada passar pelas ruas da cidade, puxada por vaqueiros com suas roupas tradicionais de couro e ouvir seus cânticos típicos do abôio. A imagem do sertanejo forte, habilidoso no cavalo, conduzindo a boiada, correndo atrás da rês. Foi uma infância que me deu uma grande força psicológica. Tive uma infância muito feliz.

Já tendo feito a quinta série no Colégio Carvalho Neto, decidiu vir para morar com os pais em Aracaju, precisamente, na rua Socorro.

Matriculou-se no Atheneu na sexta série. Foi se adaptando à cidade e ao colégio, até quando sentiu o mundo cair sobre suas costas. Por falta de seriedade nos estudos e porque brincou demais, foi reprovado na oitava série. O fato transformou-se em uma das maiores frustrações de sua vida, ao perceber que os colegas se adiantaram e ele ficara na oitava série.

Na época, existiam alguns colégios particulares que facilitavam o crédito. Ao fazer o pedido de transferência de matrícula, ouviu de seu pai uma grande lição que não esquecerá jamais. “Não! Você perdeu, vai ter que pagar pelo seu erro. Você vai repetir o ano, porque não vai adiantar você ir para qualquer escola, pois não irá compreender o significado da reprovação”.

Déda chorou muito, sentiu muita dor dentro de si e, a partir daí, resolveu enfrentar os estudos de uma outra forma.

A dor na minha vida serviu para me ensinar. Nunca foi um sofrimento desperdiçado. Sempre tinha uma grande lição, e, dessa lição, eu tirei força para dar passos significativos depois.

Como não havia vagas no Atheneu para alunos repetentes, foi estudar em curso noturno, no Colégio 8 de julho, também da rede estadual de ensino, que funcionava na Rua Vila Cristina, onde hoje é a Secretaria de Administração.

Estudar aos dezeseis anos de idade, junto de pessoas mais velhas do que ele, alunos de vinte, trinta, quarenta anos que iam sentar num banco escola pela noite após uma longa jornada de trabalho, provocou-lhe um grande choque. No íntimo, estava sempre a refletir: meu pai me dá condições de eu viver sem trabalhar, e eu perco um ano. É muita irresponsabilidade.

Esse período de estudos no 8 de julho foi o seu primeiro contato com a classe trabalhadora de uma forma mais direta.

Fiz belas amizades. Assisti a uma tragédia. Era colega meu um funcionário da Energipe, cujo nome não me lembro. Numa bela noite, nós chegamos à sala de aula e vimos que sua carteira estava vazia. Ele era um homem casado, tinha uns vinte e sete anos. Tinha sido eletrocutado ao fazer uma manutenção de uma linha viva. Isso foi muito marcante para mim, pois mostrou que, se alguns faziam todos os esforços e ainda tinham tempo para estudar, eu tinha era mesmo que mudar minha maneira de encarar os estudos.

Na esquina da rua Socorro, bem na proximidade de sua casa, havia a barbearia do sr. Edgar Ribeiro, um comunista histórico. Um barbeiro que cortava o cabelo em plena época da ditadura, ouvindo, à noite, a Rádio BBC de Londres. Uma figura que, segundo Déda, pelo seu lado belo, se confundiu com a esquerda de Sergipe. Sempre de bem com o rádio, nele acompanhava as seções da Assembléia Legislativa, transmitidas, na época, por uma das emissoras de Aracaju.

Exatamente na barbearia do sr. Edgar, Déda teve contato com a política e com a história da esquerda em nossa terra, bem contada pelo amigo barbeiro.

As histórias de prisões dele, a história da organização do Partido Comunista em Sergipe nos anos 1940, a história de grande líderes e intelectuais: de Careca, de Agonaldo Pacheco, de Wellington Mangueira, do médico Renato Mazze Lucas, que esteve preso com ele na penitenciária na década de 1950. Contava como se pichava um muro pela noite. Foi o primeiro comunista que eu conheci. Olha que ele era um comunista tipicamente brasileiro: livros de Marx escondidos, uma guia no pescoço, um quadro de Iemanjá na parede da barbearia e, ainda mais, era espírita kardecista. Era essa coisa bonita que é pluralidade da alma brasileira. Mesmo aqueles que militam na esquerda, que estudaram os princípios do Maxismo, não perderam sua ligação com a fé, com as crendices populares, com as religiões populares e com as marcas da vida brasileira.

Estudando à noite, tinha todo o tempo para ouvir histórias do sr. Edgar. A partir daí, Déda começou a ler livros de Jorge Amado, textos de esquerda e acompanhou a eleição de 1974 quando viu pela televisão Jackson Barreto e Jonas Amaral. Foi o início da sua paixão por política. Quando tinha no bolso o resto da mesada, eu comprava o Pasquim, o Movimento e Opinião, jornais alternativos da época.

Quando chegou em Aracaju, o bairro São José era de transição. Chegou logo após da inauguração do Batistão. Encontrou um bairro que ainda tinha área de mangue. Não era um bairro como é hoje, de classe média, que abriga muitas clínicas. Seu lado popular ainda prevalecia.

Outro aspecto de importância na vida de Déda, foi o da felicidade de ter, como vizinho da residência de seus pais na rua Socorro, a família Paixão, liderada por sr. Manoel. Uma família de negros extremamente positivos, a ponto de ter muito lhe influenciado. Trabalhando no comércio, mesmo com todas as dificuldades que tinha para manter a família, era fonte permanente de otimismo.

Não me esqueço nunca de um conselho que ele me dava quando saía para pescar siri no Colodiano, onde hoje é o Shopping Riomar. Ali tinha uma barraquinha e o pessoal ia pescar siri na frente da Sementeira. O sr. Manoel, um dia, depois que eu lhe dei bom dia e perguntei se tudo estava bem, respondeu-me: ‘Déda, nunca esqueça: quem corre pelos campos não aprecia a beleza das flores’. Essa era a sua filosofia de vida. A cada momento da vida, a pessoa tem que compreender que não precisa se apressar demais, pois precisa de tempo para ver a beleza da vida.

Junto com os meninos do bairro São José, sem faltar Luís, um vizinho parecido com Pelé, Tonho, Evandro, Mestre e outros, o jovem Marcelo saía de casa aos sábados para o lazer.
Nós íamos jogar bola, onde é o bairro Jardins hoje, local que tinha o campo do Alambique. Às vezes, íamos jogar na Praia 13 de Julho ou, simplesmente, pegávamos carona nos caminhões para irmos jogar na Atalaia. Minha adolescência foi com essa turma.

Só saiu do bairro São José para casar. Em sua mente, ainda hoje, só existem boas lembranças.
O Bariri, por exemplo, era o campo de futebol onde hoje é o Supermercado G. Barbosa. Por isso, quando o prefeito Gama dizia que eu não conhecia Aracaju, só posso dizer que eu tenho vinte e sete anos nessa cidade. Eu vivi essa cidade, malhando para entrar no Iate, porque não era sócio, malhando para entrar na Atlética, no carnaval, pulando muro para entrar no Cotinguiba, pedindo carona para Atalaia, indo pescar siri na 13 de Julho, indo participar dos jogos de bairros contra bairros, jogando como lateral esquerdo pela turma do São José, assistindo a sessões de Cinema no Plaza, no Vera Cruz, ou no bairro Siqueira Campos. Ia ao cinema de tamanco e voltava pela Baixa Fria, pegando a Rio de Janeiro, batendo tamanco no asfalto. Eu assisti filmes no Cine Vitória e no cinema na colina do Santo Antônio.

Também conta que, aos sábados, chegava na Padaria Santo Antônio, perto de sua casa, para saber se tinha alguma festa. Confessa que foram muitas as que foi como “penetra”. Nunca foi violento, nem de brigar, mas não escapou das tradicionais brigas de turmas. Eu já tomei carreira de sair correndo da Atlética até o bairro São José. Fui salvo por Tarciso da Tasvídeo.

Concluída a oitava série, voltou ao Atheneu e encontrou o colégio sob a direção da professora Maria da Glória. Assistia à aula de farda de gala. Estava com dezessete anos de idade. Desse tempo do Atheneu, diz que não existia escola particular para rivalizar em Aracaju. Talvez, no seu ponto de vista, só as tradicionais escolas de São Paulo, Rio de Janeiro, a exemplo de Dom Pedro II. Os laboratórios eram impecáveis e o corpo de professores era de fazer inveja. Turmas organizadas, consultórios médicos e material de ensino. Juntava-se a isso tudo, o que mais gostava: a parte de educação artística.

Nós tínhamos cinema com Djaldino Mota Moreno, César Macieira; teatro com Bosco Scaf, Bosco Seabra, Jorge Lins e Luís Eduardo Oliva. Antônio Maia ensinava artes plásticas, tudo com material à disposição. Também tinha dança com a professora Nelma Fontes. O Atheneu era o centro da organização cultural no final da década de 1970.

Nesse envolvimento cultural, teve sua primeira experiência como integrante de uma agremiação. Junto com os professores de cinema e alunos adeptos da sétima arte, tornou-se fundador do Clube de Cinema do Atheneu. Eu fiz documentário sobre os festejos da rua São João em 1977. Nesse tempo eu já estava nas ruas de Aracaju, filmando o São João.

Na sua segunda fase no Atheneu, já voltou bom aluno. Sabia como ninguém se organizar nos estudos. Logo às 7h já saía de casa para estudar com os colegas Evandro e Aronaldo, que o pegavam de carro, para juntos irem à Biblioteca Pública Epihânio Dória. Tinha salas de estudos e ficávamos lá até às 11h30.

Para enfrentar o vestibular, fez, durante um mês, o curso “intensivão” de um curso pré-vestibular chamado Visão, somente duas matérias: matemática e física. Déda sempre gostou de boêmia e de serenatas. Era freqüentador do bar Cancela que ficava nas proximidades do Atheneu. Teve tempo para fazer teatro, cinema e artes plásticas dentro do movimento cultural implantado por Maria da Glória no Atheneu. Disse que foi autor de muitos quadros a óleo.

Foi por isso que, quando eu cheguei em 1985 à televisão, as pessoas viram uma revelação na eleição a prefeito. Nada cai do céu, nada nasce pronto. Eu devo isso a essa experiência que eu tive em minha vida, graças a Deus, a do bairro São José e a experiência do Atheneu, principalmente, na área de teatro e cinema. Isso me ensinou postura, noção de tempo, compreensão da importância da dicção. Tudo isso eu devo a quem? Ao povo de Sergipe, que pagou a minha escola.

Foi aprovado em segundo lugar no vestibular de Direito da UFS.

Embora seu pai, desde a infância, tivesse preparado o filho para ser médico, e se entusiasmasse com as notas dez em Biologia no primeiro ano científico e média nove no ano seguinte, Déda tomou a decisão de não optar por Medicina diante de um episódio da morte de um menino por afogamento.

Eu fui ver, com a turma do bairro, o corpo do menino no IML. Confesso que depois que vi o cadáver na mesa de necropsia, traumatizei-me e eu percebi que não dava para Medicina. Daí comecei a pensar em fazer Psicologia, Sociologia ou Jornalismo. Nenhum desses três cursos existiam em Aracaju nessa época. Já estava com dezessete anos e já estava me aproximando do movimentos políticos.

Já conhecia Chico Buchuinho, já estava próximo do DCE. Também já conhecia Clímaco. Queria alguma coisa na área de Ciências Sociais. Não tinha por aqui. Os mais próximos eram Direito ou História. Não me arrependo de ter feito a escolha para Direito. Deus foi muito bom comigo. Na época que tomei a definição, tomei a definição certa. Eu não me imagino em outra atividade profissional, que não advocacia.

Entrou na Faculdade de Direito no primeiro semestre de1980 e saiu no segundo semestre de 1984.

Fui aluno do ministro Luís Carlos Fontes de Alencar, do desembargador Antônio Góes, que foi o meu paraninfo; de Luís Bispo; do meu tio Artur de Oliveira Déda, em Prática Forense. Também fui aluno da professora Eugênia em Criminologia; de Moacyr Motta em Direito do Trabalho; de Itamar, Direito Administrativo; do professor Monteirinho em Direito Previdenciário.

Em Ciência Política, como matéria optativa, tive o professor Ibarê Dantas, um homem que foi fundamental em minha formação. Ele trouxe autores da Ciência Política que eu nunca tinha lido. Eu lia muito mais nos manuais clássicos do Marxismo. Ele me trouxe Gramsci, que foi fundamental para que eu mudasse a minha imagem de mundo, aprender melhor como é a disputa política no Ocidente. Ibarê é um homem conhecido plenamente na vida pública sergipana.

É autor de um clássico “Tenentismo em Sergipe”, uma obra citada por Francisco Weffort, citada por todos os estudiosos do tenentismo. Eu tive a oportunidade de não tê-lo apenas como professor, mas como um grande amigo meu. Divergi de 60 a 70% das vezes que a gente discutiu, mas Ibarê com sua conduta de intelectual, de acadêmico, de cidadão engajado, contribuiu para a minha formação. Até hoje eu peço a ele conselhos.

Homenagem a Marcelo Déda pelo seu novo mandato à frente do Governo de Sergipe. Este material mostrando a sua vida política, foi publicado há 10 anos. Hoje, Marcelo Déda já tem muito a contar para a memória de Sergipe.

Texto e foto reproduzidos do site: usuarioweb.infonet.com.br

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 8 de dezembro de 2013.