segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Erivaldo de Carira e seu autêntico forró


Imagem para ilustração de artigo, postada pelo Grupo do Facebook/MTéSERGIPE.

Foto: Felippe Araújo.

Publicado originalmente no site Osmário Santos, em 13/03/2006.

Erivaldo de Carira e seu autêntico forró.
Por Osmário Santos.

Erivaldo Cícero de Oliveira nasceu a 16 de outubro de 1949, na cidade de Carira/SE. Seus pais: Manoel Cícero de Oliveira e Maria Julita Quinto de Oliveira.

O pai foi agricultor, trabalhador de roça por excelência e nos finais de semana pegava a sanfona de oito baixos e tocava nas festas da região para ganhar um dinheiro a mais e ajudar no sustento da família. "Minha mãe, eu e Erivalda, minha irmã".

Do pai conta que herdou a honestidade e a simplicidade. "Isso eu carreguei no capricho. Posso dizer que ele faleceu e nunca chegou alguém para prestar uma queixa dizendo que tinha feito alguma coisa errada. Isso passo para os meus filhos, pois um homem só tem valor se for honesto, correto em suas atitudes e ter dignidade".

De sua mãe, que além de cuidar da casa e dos filhos, começava o dia logo ao amanhecer trabalhando na roça, herdou a disciplina, seu lado de bondade e amor aos filhos.

Com a prima Judite, numa escola pública, o menino Erivaldo aprendeu as primeiras letras na cidade de Carira. Em vista de mudança de seus pais para a cidade de Porto da Folha, deu continuidade aos estudos com a professora Zezinha, numa escola municipal no povoado Lagoa Redonda. Com ela estudou até o terceiro ano do curso primário e a partir daí deixou os estudos de lado.

Da mudança de residência para Porto da Folha, conta que só aconteceu pela dificuldade financeira que seu pai passou após empréstimo no banco para plantação em seu terreno. "Como no ano do empréstimo a seca bateu e não deu nada, teve de vender o terreno que tinha dentro da cidade de Carira para pagar o banco".

Desesperado, pegou o cavalo e saiu em direção ao rio São Francisco. No município de Porto da Folha encontrou um terreno com boas condições para plantação. Comprou e, na volta, avisou a mulher e aos filhos da compra da área de terra e anunciou a mudança de cidade.

"Nós saímos num dia de segunda-feira ao meio-dia, depois das compras da tradicional feira da cidade. Saímos em três carros-de-boi com a mudança. Foram dois dias de viagem de Carira a Lagoa Redonda. Mesmo estando com cinco anos de idade, até hoje me lembro de todos os momentos da viagem".

"Quando chegamos em Poço Redondo, numa casinha, que era uma tapera velha, toda furada, lugar onde Lampião fez morada quando das suas passagens pela região. Minha mãe chorava, arrependida por ter ido para aquele lugar, mas foi lá que a gente começou a morar e a trabalhar. Como meu pai se interessava pelo futuro dos filhos, arranjou uma professora e botou para ensinar a gente".

Ainda menino começa a trabalhar. Estudava pela manhã e pela tarde era ajudante de carreiro. "Por isso tenho uma música que relata minha vida na roça de nome Fazenda Velha. ‘Carriei com quatro boi dento do carro/. Me levantei muito cedo para tirar o leite do gado/. Do tempo que eu era novo, meu pai não tinha empregado/. Essa música é a história da minha vida’". Trabalhou no campo até os 18 anos.

Com 10 anos de idade, sempre que o pai saía a para tocar nas festas acompanhado de mais dois músicos, formando um conjunto pé-de-serra, Erivaldo o acompanhava como músico. "Tocava zabumba nas festas de Lagoa Redonda. Com 12 anos, já comecei a tocar na sanfona de meu pai". "Aos domingos, as meninas do povoado e alguns amigos iam lá pra casa para dançar. Eu ficava tocando com a cabeça baixa e não olhava para ninguém, com vergonha das meninas. Minha mãe ficava tirando onda com a minha cara e dizia que eu mijava nas calças com 10 anos de idade (risos). Aí eu ficava mais envergonhado (risos e mais risos). Quando uma das meninas me chamava para namorar eu ia para o canto da sala e começava a chorar" (risos e mais risos).

O pai sai dos oito baixos e aumenta o seu número de tocadas nas festas da região. Em uma delas, na Serra do Boi, Lagoa Redonda, começou a tocar e quando deu meia-noite, chama o filho, entrega a sanfona e pede para ele segurar a animação da festa. "Tocava sentado num banquinho e a festa era iluminada a luz de candeeiro, onde o ambiente ficava envolvido de fumaça e com cheiro de querosene. O velho pegou a mulher e foi dançar e eu lá... sentado, num banquinho, metendo cacete (risos e mais risos). Filho de peixe, peixinho é (risos). Toquei até o dia nascer e mais algumas horas (risos). Depois dessa festa comecei a ganhar um dinheiro com a sanfona de meu pai".

Sendo o filho de Manezinho de Carira, como era chamado seu pai pelo povo de Lagoa Redonda, Erivaldo passou a ser chamado artisticamente de Filho de Manezinho de Carira. Logo tratou de procurar um outro nome, mas isso só aconteceu quando passou a tocar nas emissoras de rádio em Aracaju. "A saudosa Dona Valdice, mulher de Josa, o Vaqueiro do Sertão, ela foi quem batizou o nome Erivaldo de Carira".

Como o pai desde cedo colocou na cabeça do filho que viver da música não dava certo, aos 18 anos Erivaldo começa a trabalhar como motorista. Aproveita a oportunidade da compra de um Jipe pelo cunhado e começa a dirigir depois de algumas instruções passadas pelo marido de sua irmã. Pouco tempo depois, o cunhado compra um caminhão e entrega a Erivaldo para pegar cargas. Mais adiante o caminhão é passado para o nome de Erivaldo. "Saí da roça e resolvi morar em Carira com o caminhão, fazendo linha de feira (pau-de-arara). Aí, quando foi num dia de segunda-feira, lá na fazenda de compadre Almeida, vi que a cidade de Carira estava cheia de guardas do Detran. Quando percebi a presença do pessoal que usava gorro branco na estrada logo fiquei com medo, pois não tinha carteira de motorista (risos). Quando cheguei lá, o caminhão ficou preso e mais tarde tive de arranjar um motorista para conseguir a liberação do caminhão. Como não podia mais dirigir, fui para Aracaju e tirei a minha carteira de habilitação como motorista profissional".

Passa um tempo, vende o caminhão e vem para Aracaju para trabalhar como motorista de ônibus. "Passei quatro anos na Viação São Pedro. Viajava para Nossa Senhora da Glória, Dores, Santo Amaro, Porto da Folha e outras cidades. Mas quando encostava o ônibus em excursão e tinha uma sanfona, fazia a festa (risos)".

Quando voltou a Carira para trabalhar com caminhão constituiu família. Quando conquistou espaço na Viação São Pedro fixou residência na cidade de Nossa Senhora da Glória. Quando sai da empresa de ônibus, volta a Carira. "Meu pai vendeu a propriedade de Lagoa Redonda, comprou um terreno em Carira e um caminhão, um Ford F-600, e fui tomar conta. Voltei a fazer linha de feira, levando o pessoal da cidade de Carira para as demais feiras das cidades da região. Depois comprei um outro caminhão e comecei a carregar lenha, esterco para a cidade de Itabaiana e carvão para diversas cidades, inclusive Aracaju, Arapiraca, Paulo Jacinto e Palmeira dos Índios em Alagoas. Passei um tempo de quase seis anos com essas viagens. Vinha para Aracaju carregado de carvão e vendia o produto pelas ruas dos bairros da cidade. O caminhão em marcha lenta pelas ruas e os carregadores gritando: olha o carvão. Um saco para um, para outro, e assim conseguia vender toda a carga. Também carregava o saco nas costas e fazia a entrega do carvão quando parava o caminhão. Ficava preto e branco só os dentes (risos). Foram cinco anos nessa luta. Depois comecei a carregar tomates em Cocorobó (Bahia) para a Fábrica de Frutos Tropicais em Sergipe".

A vida de sanfoneiro por muitos anos foi atrelada à vida de motorista. A música acontecia nos finais de semana e feriados. "Comprei uma safoninha quando saí de Lagoa Redonda e fui morar em Carira. Muito tempo depois, uma sanfona 120, paga com o dinheiro do caminhão".

A primeira vez que canta e toca no rádio em Aracaju aconteceu no programa de José Benício, na rádio Liberdade AM. Devido ao sucesso da apresentação, logo recebe convite para se apresentar na rádio Difusora e canta no programa de José Cláudio.

Não esquece da primeira grana gorda recebida como artista. "Foi na Fazenda São Cristóvão, do saudoso José Luís, no município de Carira, na divisa com Glória. Foi uma pega-de-boi no mato. Aí meu nome passou a ser conhecido na região como bom sanfoneiro e começou a chover convites. Atendia todos eles e toca e muito. Começava às 3 horas da tarde e terminava no outro dia, às 5 ou 6 da manhã, acompanhado de zabumba e triângulo".

Tem 33 anos de música, muito trabalho e conquistas. Conta que ao tomar a decisão de viver exclusivamente compondo, tocando e cantando forró, vende o caminhão e compra um Opala no ano de 1973. "Comecei fazendo shows em circos pelas cidades do interior de Sergipe. Saía de casa na sexta-feira e chegava na segunda, sem ter um conto no bolso. A mulher dizia: ‘o senhor está bonito! Como é que vai fazer a feira?’. O circo não dava nada. Mas eu comecei! Meu sonho era gravar um disco. Isso aconteceu em 1984".

"Levei um ano juntando dinheiro. A vida de tocar em circo era muito difícil. Mas não fique só em circo. Comecei a cantar em touradas, vaquejadas e outras festas. Até que conseguirmos gravar o disco em São Paulo, na Fama Som, e que recebeu como título ‘Forró a Brasileira’. Na Fama Som do meu amigo Antônio Poderoso gravei três discos. Gravei em vinil quatro discos e quatro CDs. O último, ‘Do Jeito que eu Gosto, Erivaldo de Carira, o Autêntico Forró, Volume X’, está sendo lançado este ano".

Uma longa jornada de trabalho, mas gratificada pelo reconhecimento de seu trabalho artístico pela mídia e pela conquista de um grande público em especial os adeptos do forró.

"Já cantei em São Paulo, já gravei no programa de televisão Amigos do Forró, apresentado pelo Nerivan Ivan Silva, na TV Gazeta, em São Paulo. Mas a dificuldade para chegar nas emissoras de televisão do Rio e de São Paulo é grande. Em Aracaju venho sendo convidado para o palco principal do Forró Caju que leva o nome de Luiz Gonzaga. Faço questão de registar que a mídia sergipana sempre abre espaço para o nosso trabalho e por isso sou muito grato ao pessoal da imprensa do meu Estado".

Sente-se uma pessoa realizada pelas graças de Deus e tem a felicidade de ter dois filhos sanfoneiros: Erivaldinho do Acordeon, Erivaldo Oliveira, o Mestrinho do Acordeon, e ainda a cantora Tháis Nogueira.

Casou com Noélia Santos Oliveira, da cidade de Nossa Senhora da Glória, e com ela três filhos: Erivaldo Santos Oliveira, Elizangelo Santos de Oliveira e Erickson Santos Oliveira. Do segundo casamento, com a baiana Benildes Alves Nogueira, três filhos: Erivaldina Alves de Oliveira, Erivaldo Júnior Alves de Oliveira, Thaís Nogueira Alves de Oliveira. Do terceiro casamento, com Isabel Mendonça de Oliveira, da cidade de Frei Paulo, dois filhos: Stefany e Stela Vine.

Texto reproduzido do site: usuarioweb.infonet.com.br/~osmario

Postagem originária do Facebook/GrupoMTéSERGIPE. de 3o de janeiro de 2016.

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