terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

A vida do desembargador Aloísio Abreu



Publicado originalmente no site do Jornal da Cidade, em 08/10/2012.

MEMÓRIAS DE SERGIPE.

A vida do desembargador Aloísio Abreu.
Por Osmário Santos.

Aloísio de Abreu Lima nasceu na cidade de Capela/SE, a 15 de dezembro de 1931. Seus pais: Eduardo de Abreu Lima e Maria José Lima.

O Sr. Eduardo foi um pequeno proprietário rural que manteve, com muito sacrifício, a pequena fazenda Carvões, em Capela, local onde Aloísio nasceu. Dele, o filho herdou a humildade, o esforço de vencer na vida e a coragem para educar os filhos Eduardo de Abreu Lima (falecido), Maria Helena Abreu e Aloísio.

De sua mãe, só tem a dizer que foi uma extraordinária mulher e que, mesmo sendo uma mulher da roça, fez tudo para proporcionar uma digna educação pelos filhos.

Ela morreu e não teve a felicidade de ter visto, em seus momentos finais de vida, meu irmão Eduardo, mas teve a felicidade de me ver como desembargador e a felicidade de minha presença no exercício do Governo do Estado, embora provisoriamente. Ela teve toda esta felicidade. Ela viu a minha trajetória de vida. Acredito que ela morreu feliz por isso.

Uma infância repleta de estudos, pois, logo aos cinco anos de idade, foi para Capela para o período de alfabetização com a professora Adelina. Com mais um tempo, passou a estudar no grupo da rede estadual de sua cidade natal. Desse tempo, Aloísio tem lembranças de um menino pobre que não teve condições para o lazer, mas se contentou com o amor de seus pais. Não esquece de dizer que também fez parte da Cruzada Eucarística, um envolvimento religioso, que o fez fixar na mente a idéia de ser padre. “Fiquei muito entusiasmado e fiquei muito religioso”.

Como na época não existia o curso ginasial em Capela, veio para Aracaju como aluno interno do Colégio Jackson de Figueiredo, onde concluiu o curso primário. Fez admissão para o Colégio Estadual, sendo bem sucedido, mas continuou morando no Jackson, mesmo estudando no Atheneu. Do tempo de aluno do Atheneu, faz questão de destacar os grandes mestres que teve: Manoel Cabral Machado, professor Cajueiro, José Olino, José Augusto da Rocha Lima, Ofenísia Freire. “O Atheneu era uma academia”. Fez parte do Grêmio Estudantil Clodomir Silva e também brigou contra o ensino do canto orfeônico.

“Não tolerava e até hoje não entendo de canto orfeônico. Nós tivemos um congresso estudantil e eu defendi uma tese no Instituto Histórico contra o canto orfeônico, pedindo que fosse retirado do currículo. Consegui muitos adeptos e também muitas críticas. Inclusive a professora Nilza, uma professora culta, chegou a dizer que eu era um menino ignorante. Na verdade, tudo que fazia dava certo no futuro”. O canto orfeônico desapareceu do currículo escolar tempos depois.

O pensamento de fazer Direito nasceu quando ainda era criança. Tudo começou quando viu, pela primeira vez, o desembargador Joel Aguiar fazendo discurso. “Aquilo me emocionava e disse para mim mesmo: um dia eu vou ser como o Dr. Joel. Ele foi a minha primeira fonte de inspiração no Direito.”

Fez o primeiro e o segundo ano do curso clássico no Atheneu. O início do terceiro fez na cidade de Salvador, no Colégio Estadual da Bahia. No tempo em que tomou a decisão para estudar fora, já se preparando para o vestibular, ainda não estava em funcionamento a Faculdade de Direito de Sergipe. Pela necessidade de aliviar os custos financeiros do pai por essa permanência fora de casa, conseguiu morada no Colégio Ypiranga e trabalho pelo dia como bedel do próprio colégio.

Digo com muito orgulho que já fui bedel e isso me conferiu responsabilidade muito cedo. Houve ocasiões que tive de ocupar a turma com lições, por conta da falta de professores.

Quando estava no segundo semestre do terceiro ano colegial, constatou que existiam 200 candidatos para 50 vagas para o curso de Direito em Salvador. Como já estava funcionando a Faculdade de Direito em Aracaju, já entrando no segundo ano, com poucos candidatos para o vestibular, resolveu vir para Aracaju e por aqui concluiu o terceiro ano no Tobias Barreto e, mais ainda, conseguiu vaga para trabalhar como bedel pelo dia com direito a dormida no colégio. “Nasci com a tendência de ser bedel.”

Feito vestibular explodiu de alegria ao saber que passara em segundo lugar, juntamente com Darcilo Costa. Com satisfação, diz que teve como professores, Cabral Machado, Gonçalo Rollemberg, Garcia Moreno, João de Araujo Monteiro – o querido Monteirinho – Olavo Leite, Renato Cantidiano, Armando Rollemberg, Enok Santiago, Hunald Santa Flor Cardoso. “Tive grandes mestres”.

Participou do centro acadêmico como vice-presidente da diretoria comandada por Adroaldo Campos. Na campanha eleitoral de Leandro Maciel, fundou o comitê estudantil e fica como presidente. “Era um udenista violento. Não vou negar a ninguém a vida inteira”. Fez discurso por toda cidade de Aracaju, viajou pelas cidades do interior e até chegou a levar até a fazenda do pai o candidato Leandro Maciel.

Dessa convivência, a promessa de que seria aproveitado foi cumprida por Leandro com a vitória da UDN. Treze dias depois que o novo governador assumiu o governo, estava nomeado promotor-substituto da cidade de Nossa Senhora das Dores.

Já estava terminando o terceiro ano quando foi nomeado. Revela que até antes de o governador assumir o poder, não existiam critérios para a nomeação de promotores-substitutos e muitos deles eram comerciantes, políticos, fazendeiros, pessoas ligadas à comunidade, porém sem nenhuma ligação com a área jurídica.

Leandro, segundo Aloisio, acabou com esse processo de escolha e passou a aproveitar o estudante de Direito. Aloísio e Epaminondas – hoje, desembargador – foram os dois primeiros promotores-substitutos nomeados em Sergipe.

Logo depois de mim, foram Jorge Mesquita, Alencar, Adroaldo Campos. Porque todos nós participávamos da campanha de Leandro Maciel. Tenho a satisfação de dizer isso, e dizer como reconhecimento e gratidão ao meu passado.

Formado em Direito, nunca exerceu advocacia. Ao término do curso, pela abertura de concurso para juiz, se inscreveu e foi aprovado. Nomeado para Dores, passou dez anos, chegando ao total de 12 anos de trabalho naquela cidade. Trabalhou em Riachuelo por um ano por pedido de remoção. Promovido para a Comarca de Lagarto, atuou como juiz por dois anos. Desse tempo, sente-se feliz em recordar o prêmio que recebeu do Boletim do Nordeste – órgão noticioso da área jurídica na região – como Melhor Juiz Cívil do Nordeste, outorgando-lhe a Medalha do Mérito Judicial.

Em Aracaju, como juiz da Vara Civil, passou dez anos. Também, teve seu trabalho reconhecido pela Ordem dos Advogados, que lhe concedeu voto de louvor pelo desempenho na Terceira Vara da Comarca de Aracaju. Os Diários Associados, através do Diário de Aracaju, colocou Aloísio como o uiz do ano de 1972.

Confessa que nunca teve volúpia para chegar ao Tribunal de Justiça como desembargador. Tinha conhecimento que existia muita gente à sua frente e, por isso, não tinha nenhuma preocupação. Com morte de Mário Lobão em acidente, com a aposentadoria de Lauro Pacheco para ser secretário de Segurança Pública e com a aposentadoria de Luiz Garcez, tomou posse.

O Dr. Luiz Garcez resolveu, muito jovem, se aposentar. Minha vaga veio em decorrência da aposentadoria precoce de Luiz Garcez. Desencantou-se do Tribunal, resolveu cuidar do seu patrimônio – um homem rico. Como preferiu cuidar de suas fazendas, abriu a minha vaga.

No Tribunal, exerceu a Corregedoria-Geral de Justiça e chegou a exercer a presidência. Dessa passagem, relata que inaugurou alguns fóruns e abriu espaço para a Informática, sendo o responsável por sua implantação no Tribunal de Justiça. Chama atenção que, desde a presença do desembargador Alencar, todos os desembargadores que passaram pela presidência do Tribunal de Justiça fizeram relevantes obras dando uma nova feição do Poder Judiciário em nosso Estado.

Agora, a desembargadora Clara bateu o recorde. Foi quem mais trabalhou. Por sinal, ela inaugurou na sexta-feira, o Fórum de Aracaju. Foi uma inspiração minha. Fui eu que consegui o terreno e fiz o projeto. Graças a Deus, a Dra. Clara fez a execução da obra. Quando ela assumiu o Tribunal já pegou o terreno e o projeto pagos. Ela teve determinação e executou a obra.

Da sua volta ao comando do Tribunal como vice-presidente ao lado do desembargador Epaminondas Silva de Andrade Lima, tem toda satisfação, justamente por trabalhar com um colega, nomeando no mesmo tempo em que ele foi nomeado como promotor-substituto. “É um rapaz altamente competente e criterioso. Eu acredito muito na sua administração”. No Tribunal Eleitoral, passou por dois biênios como juiz e mais dois anos, 95/ 96, como presidente.

Sente-se realizado por ter conseguido, no seu Estado, elevados cargos.

Considero que as coisas me chegaram por obstinação. Dentro de meio século, dois desembargadores exerceram o Governo do Estado. Tive no governo do Estado por duas vezes. A primeira, por 17 dias e, a segunda, por sete dias. De qualquer maneira, foi registrado. Fui um plantonista, mas fui um plantonista que marquei minha presença no governo de Sergipe, no exercício pleno. A história está aí para dizer.

Casou com Maria Isabel Santana de Abreu, promotora da Infância e da Juventude e desse casamento quatro filhos: Alba Germana Santana de Abreu, psicóloga; Marlon Sérgio, engenheiro e bacharel, exerce hoje a função de tabelião-registrador; Ricardo Múcio, presidente do Tribunal do Júri; e Aloísio de Abreu Filho, engenheiro e empresário. É avô de nove netos.

Texto e imagem reproduzidos do site: jornaldacidade.net/osmario-leitura

Postagem originária do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 21 de fevereiro de 2016.

Nenhum comentário:

Postar um comentário