quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

A despedida 'arretada' de Ismar Barreto


A despedida 'arretada' de Ismar Barreto
Por Marcelo Rangel.

Este relato poderia ter um tom de lamento e pesar. Afinal, dois dias antes deste texto ser escrito, o estado de Sergipe perdeu um de seus maiores compositores, o versátil Ismar Barreto. Perder não é o verbo mais adequado. Afinal, seu humor e sua personalidade histriônica são imortais estão registradas em suas composições, que vão ficar para as próximas gerações de sergipanos. E o que se passou logo após a sua morte não dá para ser descrito exatamente com a melancolia que costuma cercar as cerimônias fúnebres.

Ismar vinha lutando contra um câncer diagnosticado quase um ano antes de sua morte, vindo a falecer na manhã do dia 02 de junho. Tive o privilégio de estar presente na última vez que cantou em público. Era o aniversário de uma de suas irmãs, Marlene. Mesmo já bastante abatido pela doença, tocou e cantou com o filho Netinho e seu grupo de samba para uma platéia de amigos e parentes. Foi um desses momentos mágicos, em que a emoção foi suplantada pela alegria de ver pai e filho em comunhão musical não planejada.

Velando Ismar
Foi um dos funerais mais animados em que já estive. Um sorriso maroto estampava o rosto do defunto, era o comentário geral. No início, a tristeza tentou dominar o ambiente. Foi então que, logo no início da tarde, Pantera, um dos grandes intérpretes da noite aracajuana, tratou de afugentar a maldita com a música de Ismar. É óbvio que todos lamentavam sua partida, mas de um jeito especial, mais adequado a sua personalidade. Para início de conversa, ele havia pedido para ser enterrado vestido de travesti. Não foi atendido, já que os amigos e a família acharam melhor que estivesse elegante, com o seu característico chapéu panamá, bem do jeito malandro e boêmio que lhe era peculiar.

Aliás, o fino da bossa aracajuana foi ao funeral despedir-se do compositor: “boêmios e analistas, loucos e bichas, palhaços e compositores... petistas e otimistas, ricos e artistas, urologistas, sapatões...”. Exatamente como na canção “Madrugada”, mil vagabundos contrabandeavam corações. Choravam a fauna e a flora que ele descreveu tão bem. No entanto, como a mesma canção preconizava, a melancolia ali não tinha vez. Alguém chega com um CD contendo gravações caseiras, que é imediatamente tocado e ouvido com atenção. Um telão foi instalado no local para exibir a gravação de uma homenagem em que vários intérpretes executavam suas músicas. Políticos de todas as facções, autoridades, familiares, doutores, músicos de vários estilos, amigos e amigas lembravam de suas “armadas”, de sua verve indolente, seu jeito meio bruto. Seu tio, Milson Barreto, contava que ele havia ligado do hospital dez dias antes, para dizer que fecharia uma rua para comemorar o aniversário do tio no mês de junho. Como o senso de humor é predominante na família, ele dizia que Ismar, apesar de não ter vivido para fazer a comemoração, havia lhe dado um “presentão” de aniversário: seria enterrado no túmulo da família do tio, então este não poderia morrer durante três anos.

No bar da esquina próxima ao local onde o corpo foi velado, seu parceiro João Alberto e uma roda de amigos bebiam cerveja em sua intenção. Um copo (cheio) para o falecido era mantido na mesa. A bebida era regularmente trocada, “porque Ismar não bebia cerveja quente”. Após secarem a bebida do primeiro bar, dirigiram-se a um segundo do outro lado da rua. Ainda mais boteco do que o primeiro, o pequeno estabelecimento da Rua Itaporanga, centro de Aracaju, parecia adequar-se até mais ao boêmio homenageado. Os camaradas já agendavam outro encontro. “Vamos nos encontrar para falar mal de Ismar”, combinavam eles em meio a risadas. Uma das esposas sintetizou bem a cena: um bando de homens rindo e bebendo, mas segurando o choro. Sabiam que a perda era irreparável para eles, para a cidade, para a música popular sergipana, mas procuravam manter vivo seu espírito, recordando as peripécias da juventude, o bom coração e suas tiradas inspiradas. Não satisfeitos, estacionaram um carro e ligaram o som bem alto para ouvir a voz do amigo nas composições que todos cantavam divertidamente. O grupo foi crescendo e já ocupava a calçada até a esquina da Rua Siriri, com algumas das figuras mais expressivas e atuantes da vida cultural da cidade. A vizinhança deve ter estranhado a movimentação, animada demais para um velório.

No dia seguinte de manhã, houve cantoria antes de o corpo ser levado num carro do Corpo de Bombeiros para o cemitério Santa Isabel, também no centro da cidade. No caminho, mais piadas eram disparadas pelos amigos: “segura o Ismar que ali tem um cabaré e ele pode querer fugir pra ir lá”. Não se pode dizer que o ambiente no cemitério era exatamente festivo. A tristeza e a dor predominavam e o talento do músico foi exaltado em discursos emocionados, mas sempre havia alguém que falava algo engraçado, quebrando a tensão. As mulheres, um capítulo à parte na biografia do artista, capricharam no visual: estavam elegantes e especialmente belas. O preto não foi o básico. Pareciam ter combinado que usariam roupas coloridas. Sem excessos, mas atraentes, numa produção especial para o adeus ao famoso mulherengo.

Na saída, ao invés de mais choro e lamento, uma certa leveza parecia ter tomado conta dos corações. “Chegamos em casa bem dispostos e ficamos lembrando do meu tio e rindo das histórias dele. Parecia que todos haviam sido abençoados, foi um dia leve e muita gente ligou pra gente comentando isso”, testemunhou sua sobrinha Ananda. Ao ouvir isto, fiquei pessoalmente surpreso e confessei a ela que também tivera um dia ótimo depois do enterro. Fui caminhando para casa cantarolando “Viver Aracaju”, que Ismar compôs quando viveu longe dos bares e recantos da capital de Sergipe e é considerada o hino informal da cidade onde o artista viveu a maior parte de seus 52 anos:


(...)
comer muito siri
andar de pé no chão
descer a Laranjeiras
entrar no calçadão
ir para Pirambu
beber lá no Dedé
pegar uns aratu
tirar bicho de pé
voltar pra Aracaju
tomar um murici, então
à noite eu vou lá no Fan’s
tomar chopp com o Pascoal
papo vai papo vem
fofocar não faz mal
(...)
e quando o dia raiar
vou ver a vida nascer
te amo, Aracaju
resolvi te viver!

Trajetória
Mesmo com apenas dois CDs gravados, Ismar produziu um enorme repertório, do qual algumas canções são bastante conhecidas em sua terra. Seguindo a tradição de mestres como Braguinha, passeava por estilos aparentemente antagônicos. Suas bem-humoradas composições são célebres, algumas com críticas bem mordazes, mas também soube escrever versos que beiram o lirismo, apaixonados pela vida e pelos amores que teve. Descreveu becos e bares por onde andou e chegou a compor em parceria com nomes como Antônio Carlos & Jocafi, Xangai, Dominguinhos, Paulo Diniz, Eliezer Setton e Zinho. Na área publicitária compôs mais de 1.200 jingles comerciais, institucionais e políticos que caíam na boca do povo.

Olhava bastante para o seu próprio umbigo e o de sua terra. São freqüentes as referências a amigos - como no chopp da letra acima com o jornalista e produtor cultural Pascoal Maynard, companheiro de muitas rodadas. Recheou seus versos com regionalismos que são verdadeiros registros etnográficos da oralidade nordestina, a exemplo de “Coco da Capsulana”, vencedora do Festival Canta Nordeste de 1993 na voz de Amorosa, a itabaianense que é uma de suas mais notórias intérpretes. Em outra canção vencedora do mesmo festival em 1994, “Salada Tupiniquim”, satirizou popstars com uma certa verve antropofágica:

(...) Quando Pero Vaz de Caminha escreveu
Que aqui plantando tudo dá
Muita gente na Europa até deu
Vontade de se mudar pra cá
(...) E quem veio de lá pode ver
A Madonna dançando chen-nhen-nhen
Rolling Stones garçom em Olinda
Michael Jackson na Febem de Belém
Príncipe Charles catando caranguejo
Lady Di descascando aratu
Gorbachev enfermeiro em João Pessoa
Mike Tyson porteiro do Olodum
Maradona chofer em Maceió
E o Rambo gari em Aracaju (...)

O duplo sentido, a malemolência e a picardia, tradicionais na música popular nordestina, também eram o seu forte. Na minha humilde opinião, algumas de suas composições assumidamente bregas - “Porteiro de Cabaré”, por exemplo – são mais criativas e musicalmente ricas do que muitas outras que exploram este filão. Um velhinho de vermelho, cercado de veadinhos e que gosta de anões, na visão ferina de Ismar virou “Papai Noel Boiola”. Nesta última em especial, seu escracho beira o sublime ao utilizar um arranjo jazzístico para uma tremenda gozação com o bom velhinho.

É certo que a cultura sergipana perdeu um de seus expoentes. Mas está eternamente premiada com o talento acumulado da obra de Ismar. Os botecos e a boemia de Aracaju também sentirão sua falta, mas seu espírito farrista e festeiro vai perdurar. E creio que esta onipresença deve fortalecer a cultura, pois alimenta não apenas a história musical, mas também a memória emotiva. Mais do que uma personalidade, Ismar é personagem legítimo deste estado; música, voz e verso do povo que habita a faixa de terra entre os rios Real e São Francisco, um povo que ele soube retratar tão bem através de sua música. Mesmo tendo sido tão timidamente reconhecido em nível nacional - por alguma razão que só a lógica do mercado deve conhecer – acredito que perde também a cultura brasileira, considerando que esta é fruto da fusão das diferentes culturas regionais. Que viva para sempre Ismar Barreto, nos corações e na música que pulsam em Sergipe.

Foto e texto reproduzidos do site: overmundo.com.br

Postagem originária da página do Facebook/Minha Terra é SERGIPE, 20 de Dezembro/2012.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Academia Sergipana de Letras

Foto reproduzida do blog: seminariodearacaju.blogspot

A Academia (maio de 2009).
Por José Anderson Nascimento - Presidente.

A Academia Sergipana de Letras é a instituição literária sergipana que tem por finalidade o cultivo e o desenvolvimento das letras em geral e colaborar na elevação das artes e da cultura do Brasil e, de modo particular, em Sergipe.

Foi criada segundo o modelo da Academia Brasileira de Letras, por iniciativa do poeta Antônio Garcia Rosa e de outros intelectuais sergipanos, destacando-se, entre eles, José de Magalhães Carneiro, Cleómenes Campos, José Augusto da Rocha Lima, Rubens Figueiredo, Monsenhor Carlos Costa, Clodomir Silva e Manuelito Campos.

A Academia tem uma história toda especial, pois sucedeu à Hora Literária, instituição recreativa, fundada em 1º de abril de 1919, depois transformada em sociedade literária de caráter acadêmico autônoma, por decisão da Assembléia Geral de 17 de julho de 1927.

A Hora Literária tinha como objetivos a promoção do estudo; o envolvimento intelectual do cidadão e a difusão do pensamento.

Cumpria, a Hora Literária, as suas metas, quando o movimento em prol da fundação da Academia consolidou-se, principalmente a partir de 13 de abril de 1929, quando deliberou-se que para a composição do quadro acadêmico, ficariam mantidos os acadêmicos que pertenciam à Hora Literária.

Assim, a 1º de junho de 1929, a Hora Literária convertia-se na Academia Sergipana de Letras, dando grande brilho às letras sergipanas. Seu primitivo estatuto criou 16 cadeiras para os seus sócios acadêmicos, todas patrocinadas por sergipanos ilustres, já, falecidos, na seguinte ordem: Tobias Barreto, Silvio Romero, Fausto Cardoso, Bitencourt Sampaio, Ivo do Prado, Gumercindo Bessa, Curvelo de Mendonça, Felisbelo Freire, Maximino Maciel, Lapa Pinto, Maria Perdigão, Severiano Cardoso, Frei Luiz de Santa Cecília, Horácio Hora, Armindo Guaraná e Pedro de Calazans.

Segundo o mesmo estatuto, para ocupá-las foram considerados sócios acadêmicos, com posse de todos os direitos inerentes à dignidade do cargo e das funções, os escritores e poetas Antônio Garcia Rosa, Cleómenes Campos, Etelvina Siqueira e Hermes Fontes, José de Magalhães Carneiro, Ranulfo Prata, Manuelito Campos, Rubens de Figueiredo, Clodomir Silva e Gilberto Amado; filológo e orador José Augusto da Rocha Lima; oradores D. Antônio Cabral e Monsenhor Carlos Costa; pedagogos Manuel Santos Melo e Helvécio Andrade.

Posteriormente, foram integrados os 24 membros restantes, a exemplo da Academia Brasileira de Letras, constituindo, dessa maneira, o corpo dos 40 imortais. A Academia passou a adotar, como logomarca, uma coroa de louros, formada de dois ramos, presos por um laço de fita, tendo ao centro o mapa de Sergipe, dentro do qual consta a divisa: Dare lumina terris (Dar luz a terra), encimada com uma estrela pentagonal.

Em 1931, o Sodalício estava composto de 40 membros efetivos e de 20 correspondentes. Como patronos das cadeiras criadas, estabeleceu-se a seguinte ordem: Tobias Barreto, Sílvio Romero, Fausto Cardoso, Bitencourt Sampaio, Ivo do Prado, Gumercindo Bessa, Curvelo de Mendonça, Felisbelo Freire, Maximino Maciel, Lapa Pinto, Lima Junior, Severiano Cardoso, Frei Santa Cecília, Horácio Hora, Armindo Guaraná, Ascendino Reis, Pedro de Calazans, Vigário Barroso, Pereira Barreto, Coelho e Campos, Caldas Júnior, Martinho Garcez, Ciro Azevedo, Pedro Moreira, Dias de Barros, Monsenhor Fernandes da Silveira, Manuel Luiz, Conselheiro Orlando, Jackson Figueiredo, José Jorge de Siqueira, José Maria Gomes de Souza, Oliveira Ribeiro, Guilherme Rebelo, Joaquim Fontes, Conselheiro Aranha Dantas, Baltazar Góis e Brício Cardoso.

Nos anais do Cenáculo, figuram como primeiros ocupantes das cadeiras, renomados homens de letras, a começar por Antônio Garcia Rosa, José de Magalhães Carneiro, Cleómenes Campos de Oliveira, José Augusto da Rocha Lima, D. Antônio dos Santos Cabral, Gilberto Amado, Ranulfo Prata, Manuelito Campos de Oliveira , Rubens Figueiredo, Artur Fortes, Luiz José da Costa Filho, Monsenhor Carlos Camélio Costa, Clodomir Souza e Silva, Manuel José Santos Melo, Helvécio de Andrade, Hermes Fontes, Manuel dos Passos Oliveira Teles, D. Mário Miranda Vilas Boas,João Pires Wynne, Alfeu Rosas Martins, Joaquim Maurício Cardoso, João Passos Cabral, Joaquim Prado Sampaio Leite, Julio Ferreira de Albuquerque, Antonio Manuel Carvalho Neto, Florentino Teles de Menezes, Benedito da Silva Cardoso, Gervásio de Carvalho Prata, Abelardo Cardoso, Enock Matusalém Santiago, José Esteves da Silveira, Edson de Oliveira Ribeiro, Humberto Olegário Dantas, Olegário Ananias Silva, Augusto César Leite, Hunaldo Santaflor Cardoso, Pedro Sotero Machado, Marcos Ferreira de Jesus, Zózimo Lima, Epifânio da Fonseca Dória e Menezes.

Passaram, também, pelos assentos da Academia, expressões culturais do porte de Antônio Garcia Filho, Felte Bezerra, José Silvério Leite Fontes, Luiz Pereira de Melo, Luiz Magalhães, Severino Pessoa Uchoa, José da Silva Ribeiro Filho, Renato Mazze Lucas, José Maria Rodrigues Santos, Acelino Pedro Guimarães, João Freire Ribeiro, Urbano Lima de Oliveira Neto, João Batista Perez Garcia Moreno, Exupero de Santana Monteiro, Abelardo Romero, José Bonifácio Fortes Neto, Jorge de Oliveira Neto, José Augusto Garcez , Francisco Leite Neto, Gonçalo Rollemberg Leite, Josué Tabira da Silva, D. José Brandão de Castro, José Sebrão Sobrinho, Monsenhor Domingos Fonseca de Almeida, Luiz Rabelo Leite, José Olino de Oliveira Neto, Filadelfo Jônatas de Oliveira, Walter Cardoso, João Fernandes de Britto, Clodoaldo de Alencar, Núbia Nascimento Marques, João Gilvan Rocha, Luiz Garcia, Orlando Vieira Dantas.

As reuniões da Academia, a partir de 1932, aconteceram na Sala da Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional de Sergipe, localizada no antigo Palácio da Justiça, na Praça Olympio Campos, onde atualmente funciona a Procuradoria Geral do Estado; mudou-se, depois para o Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, na rua Itabaianinha, nº 41, já que, praticamente todos os acadêmicos eram, também, sócios dessa modelar instituição cultural.

No início da década de 70, as reuniões da Academia foram mais uma vez transferidas. Desta feita, graças aos trabalhos desenvolvidos pelos acadêmicos Severino Uchôa, então Presidente, e Emmanuel Franco, as tertúlias acadêmicas passaram a ter lugar no vasto salão do primeiro andar da antiga Biblioteca Pública, hoje Arquivo Público do Estado, na Praça Fausto Cardoso. E aí permaneceu por alguns anos, até que foi desalojada e transferida para o sobrado em que funcionou, antigamente, o Colégio Tobias Barreto, localizado na Rua Pacatuba, 288, o qual, aliás, é um dos últimos exemplares da arquitetura civil do início do século XX, em nossa cidade.

Como se vê, não foram fáceis esses longos anos de existência da Academia, já que para começar, não possuía uma local próprio. Ultimamente, porém, o tratamento melhorou e o Estado de Sergipe vem mantendo, com a instituição cultural, um pacto de uso do prédio público, numa total parceria, uma vez que ambos estão comprometidos com as ações de promoção, difusão e intercâmbio das atividades culturais e artísticas de Sergipe.

A Academia no curso dos seus 78 anos de existência tem sido reconhecida pela sociedade sergipana como a instituição cultural responsável pelo estímulo do movimento intelectual do Estado e, como tal, tem merecido do Poder Público e da iniciativa privada, as melhores atenções, sempre voltadas para a consecução dos seus objetivos, na incessante busca do desenvolvimento cultural e social do povo sergipano.

A Academia Sergipana de Letras é reconhecida, também, como a mais democrática das Academias do país, pois, em seu quadro, abriga não só literatos, como também homens de artes, humanistas e cientistas, dando, assim, uma ênfase especial à cultura em geral, cumprindo, destarte, as suas finalidades estatutárias.

Com efeito, na atualidade (MAIO/2009), as cadeiras acadêmicas estão ocupadas por intelectuais que nos diversos gêneros literários, como: José Lima Santana, Eduardo Garcia, Santo Souza, Emmanuel Franco, Luzia Costa Nascimento, José Amado Nascimento, Clara Leite de Rezende, Clodoaldo de Alencar Filho, José Abud, Hunald de Alencar, Wagner Ribeiro, Aglaé d´Ávila Fontes, Gizelda Santana de Morais, Luiz Eduardo Costa, Francisco Guimarães Rollemberg, Ofenísia Soares Freire, Mário Cabral, Dom Luciano José Cabral Duarte, Jácome Góes, José Anderson Nascimento, Bemvindo Salles Campos Neto, João Alves Filho, Luiz Antonio Barreto, João Oliva Alves, Manoel Cabral Machado, Luiz Carlos Fontes de Alencar, Maria Lígia Madureira Pina, Artur Oscar de Oliveira Déda, Estácio Bahia Guimarães, Luiz Fernando Ribeiro Soutelo, Marcelo da Silva Ribeiro, João de Seixas Dória, Carlos Britto, Jorge Carvalho do Nascimento, Marlene Alves Calumby, Acrísio Torres de Araújo, José Gilton Pinto Garcia, Carmelita Pinto Fontes, Maria Thetis Nunes e Ariosvaldo Figueiredo Santos.

Numa ação de grande incentivo, o saudoso ex-Presidente Antônio Garcia Filho, criou a 25 de agosto de 1984, o Movimento Cultural da Academia Sergipana de Letras, que, numa homenagem ao seu fundador, passou a ser denominado de Movimento Cultural Antônio Garcia Filho. Esse importante núcleo de difusão cultural reúne os escritores José Ferreira Lima, Cléa Maria Brandão Mendes, Ângela Margarida Torres de Araújo, Tânia Maria da Conceição Meneses Silva, Marcos Almeida, Gustavo Aragão, Josefina Cardoso Braz e Sergival Silva. A importância desse Movimento Cultural, no cenário acadêmico, foi confirmada, de forma unânime, com a eleição e posse de alguns dos seus antigos integrantes, para cadeiras acadêmicas, dentre eles: José Lima Santana, Acelino Pedro Guimarães, Maria Lígia Madureira Pina, Bemvindo Salles de Campos Neto, Marcelo Ribeiro e Luzia Maria da Costa Nascimento.

Entre as atividades da Academia figuram palestras, cursos, concursos literários, seminários, além da publicação da Revista e de livros de autores sergipanos. Promove, ainda, a preservação e a divulgação da Literatura e de outras manifestações culturais, mantendo intercâmbios com sociedades culturais brasileiras e estrangeiras, objetivando desenvolvimento cultural do povo sergipano.

Texto reproduzido do blog: clodoaldoalencar.blogspot
De: Clodoaldo de Alencar Filho.

Postagem originária da página do Facebook/Minha Terra é SERGIPE, em 17 de Dezembro/2012.

José Augusto Garcez (1918 - 1992)

Foto reproduzida do blog: thiagofragata.blogspot

José Augusto Garcez, Precursor da Museologia Sergipana*

No mês de maio, período em que se comemora a Semana de Museus no Brasil, faz-se necessário resgatar fragmentos da história de um homem que contribuiu significativamente para o desenvolvimento e formação do pensamento museológico sergipano.

De acordo com a museóloga Cristina Bruno, “a construção da memória da Museologia é uma tarefa que não pode ser realizada, muitas vezes, sem o estudo biográfico e a análise da produção de seus principais protagonistas” (Bruno & Neves. Museus como agentes de mudança social e desenvolvimento. São Cristóvão: Museu de Arqueologia de Xingó, 2008. p. 23). Esse é o caso da Museologia sergipana, pois a trajetória do colecionador e museólogo José Augusto Garcez, se entrelaça com a história cultural do Estado de Sergipe, principalmente nas décadas de 1940 e 1950 do século XX, onde exerceu uma forte influência para o desenvolvimento dos nossos museus.

Nascido em 1918, na Usina Escurial (São Cristóvão), filho de Silvio Sobral Garcez e Carolina Sobral Garcez, iniciou seus estudos secundários no Colégio Tobias Barreto, concluindo-os no Colégio Maristas, em Salvador. Mais tarde, ainda na Bahia, iniciou o Curso de Direito, que, por motivos de saúde, não chegou a concluir. Foi nesse momento de fragilidade física que, Garcez conheceu o médico Prado Valadares, de quem se tornou amigo e a quem dedicou um interessante texto biográfico, em 1938. Iniciando sua atuação como articulista, aos 20 anos, Garcez passa a contribuir com vários jornais na Bahia, no Rio de Janeiro, em São Paulo e, sobretudo, na imprensa sergipana.

Intelectual atuante e aficionado pelo universo da cultura, José Augusto Garcez fez parte de mais de uma dezena de instituições culturais, dentre elas o Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (IHGSE), a Sociedade Brasileira de Folclore, a Associação Sergipana e Brasileira de Imprensa. Ingressou na Academia Sergipana de Letras em 15 de novembro de 1972, tornando-se o ocupante da cadeira de número 22. Em 1953, fundou um dos mais importantes movimentos culturais do Estado, o Movimento Cultural de Sergipe, responsável pela edição de dezenas de livros, chegando à década de 1960, com 37 volumes publicados, revelando e destacando grandes nomes da literatura sergipana.

Imbuído do desejo de musealizar as raízes culturais de Sergipe, José Augusto Garcez fundou, em 1948, e manteve com recursos próprios, o “Museu Sergipano de Arte e Tradição”, o qual foi detentor de um grande acervo referente à cultura material de Sergipe, resultado de coletas feitas em suas viagens pelo interior do Estado. A partir de suas ações museológicas, Sergipe passa a se destacar no quadro da museologia nacional, acompanhando o período de efervescência do surgimento dos Museus de Arte Moderna. Nesse sentido, Maria Cecília Lourenço informa que, naquele contexto, “nem todos [os museus] são chamados de Museu de Arte (...). Outros contêm em sua denominação Museu de Arte e Tradição, como os do Estado do Sergipe, sediados em Aracaju (1948) e na cidade de Itaporanga D’Ajuda” (LOURENÇO. Museus Acolhem Moderno. EdUFS, 1999, p.89).

Foi no Museu de Arte e Tradição que o intelectual preservou, pesquisou e comunicou parte do patrimônio salvaguardado. Mesmo funcionando em um espaço inapropriado, o que limitava a expografia e dava um aspecto de grande reserva técnica ou depósito, a instituição cumpriu suas funções museais, conferindo-lhe destaque diante de sua funcionalidade e sendo bastante visitado. Foi nesse cenário que ocorreu um progressivo desenvolvimento das pesquisas e estudos da cultura material sergipana, desdobrando-se em algumas publicações, a exemplo de “Canudos Submersos” (1956), “Holandeses em Sergipe” (no prelo), “O destino da Província” (1954), dentre outros. Sua casa tornou-se um centro irradiador do pensamento museológico sergipano, sendo sua coleção uma chave reveladora para o seu entendimento, através da qual seus estudos construíam, reconstruíam e desconstruíam versões pautadas no processo da pesquisa de documentação museológica.

Como reza o ditado popular, “costume de casa vai à praça”, assim fez o colecionador, extrapolando para além da sua residência, os conhecimentos museológicos. Sabedor do poder do rádio, enquanto instrumento de educação e expansão da cultura, Garcez criou o programa “Panorama Cultural”, em 1949, na antiga Rádio PRJ 6, o qual se caracterizou pela divulgação das atividades de pesquisa desenvolvidas no âmbito do Museu de Arte e Tradição, entre elas poesia, literatura brasileira e sergipana.

Garcez foi o idealizador do Serviço de Pesquisa e Documentação Cultural-Científica, cuja função era resgatar documentos que versavam sobre a história sergipana, criando, também a Biblioteca Popular Tobias Barreto, fatos que atestam as idéias do colecionador em ressaltar os valores culturais de Sergipe.

Atuando em vários planos da Museologia, Garcez foi da prática à teoria com o seu livro “Realidade e Destino dos Museus” (Aracaju: Livraria Regina, 1958), sendo o responsável por uma obra pioneira de análise crítica e comparativa das primeiras instituições museológicas do Estado de Sergipe. Através da sua leitura é possível perceber a sua insurgente atuação em prol da cultura sergipana, sobretudo no campo Museológico, reivindicando melhorias para os nossos museus e, até mesmo, a criação de um museu para a cidade de Aracaju.

Partindo dessa breve análise da atuação de Garcez, podemos concluir que a sua preocupação com a musealização da memória cultural de Sergipe e a sua atuação prática – fazendo do Museu Sergipano de Arte e Tradição o primeiro espaço que efetivamente desenvolveu as funções básicas de uma instituição museal: a preservação, pesquisa e comunicação – torna-o precursor do pensamento museológico sergipano. Em 1976, parte da sua coleção foi vendida para o governo do Estado e passou a compor os acervos do Museu Histórico de Sergipe (São Cristóvão), do Museu Afro-Brasileiro de Sergipe (Laranjeiras) e do Arquivo Público Estadual, em Aracaju.

Em 12 de janeiro de 1992, aos 74 anos, José Augusto Garcez faleceu em Aracaju. Na ocasião, Luiz Antônio Barreto destacou que: “mais do que a foto antiga repleta de mortos, fica a memória, o gesto (...) abençoa[n]do a todos que buscavam na sua casa - mais que uma casa, um refúgio e um museu - o contato e o convívio da intimidade que a cultura sempre fez possível, pela linguagem do mesmo fazer” (José Augusto Garcez, um estranho homem. Revista do IHGSE. N° 31, 1992). Assim, entre os que fazem a Museologia sergipana hoje, resta uma dívida para com Garcez, homem cuja obra pode e deve ser resgatada e discutida.

*Texto publicado no Jornal da Cidade, Caderno B / Opinião /no dia 31/05/2009
Site: jornaldacidade.net/2008

Texto reproduzido de publicação em 16 de julho de 2009
No blog: ensaiosmuseologicos.blogspot
De: Cláudio Chacal 

Postagem originária da página do Facebook/Minha Terra é SERGIPE, em 19 de Dezembro de 2012.

Palácio Olímpio Campos

Foto reproduzida do site: biblioteca.ibge.gov.br/colecao_digital_fotografias

O Palácio Olímpio Campos (junho de 2010).
por José Anderson Nascimento. *

Mestre em Educação pela Universidade Federal de Sergipe e Presidente da Academia Sergipana de Letras.

O secular Palácio do Governo, após mais de uma década de reformas, foi reaberto ao público em solenidade acontecida na noite do ultimo dia 21, quando o Governador Marcelo Deda inaugurou o Museu Palácio Olimpio Campos, ofertando à sociedade um espaço cultural representativo da história, em Sergipe.

O monumento histórico e artístico teve a sua construção iniciada, provavelmente, no final de 1859, como relata Urbano Neto (NETO, O Palácio Olimpio Campos, Revista IHGS, n. 26, p. 85), e as obras foram visitadas pelo Imperador D. Pedro II, no dia 10 de janeiro de 1860. Três anos depois o Palácio estava concluído, assumindo uma postura monumental na incipiente capital, com a sua soberba fachada frontal, voltada para o Leste, medindo 29 metros e as fachadas laterais medindo 35 metros, que se mantiveram até os dias atuais.

Na sua concepção inicial, era um formoso sobrado ao estilo português, encimado com um frontão triangular, onde se via o brasão imperial em baixo relevo, característico dessas construções, muito em voga na época. No pavimento térreo, bem na parte central, existiam três largas portas que davam acesso ao halldo edifício. De cada lado do conjunto formado por estas três portas ficavam três janelas que, como todas as portas e janelas existentes na construção, tinham a parte superior em arco pleno. No pavimento superior, nove janelas com sacadas providas de grades em ferro forjado, coincidindo os eixos destas janelas com os das janelas e portas do pavimento térreo. 

O pesquisador Urbano Neto, no seu estudo sobre o Palácio do Governo destaca que as vidraças das demais janelas eram do tipo “guilhotina” com vidros de 20 x 20 centímetros aproximadamente. As bandeiras de todas as janelas eram de vidros cortados em triangulo que se ajustavam ao semi-círculo dos arcos plenos destas aberturas. 

Na sua estrutura, o Palácio do Governo exibia nos quatro ângulos do edifício, como cunhais, pilastras que serviam de suporte à cornija que contornava todo o bloco quadrangular e sobre cada pilastra um pequeno acrotério marcando os ângulos da platibanda, que eram simples muros de pouca altura, sobre os acrotérios, modestos finais construídos com massa de cal.

Os elementos para a construção do Palácio foram salão, pedra e cal. A pedra calcária provinha da região da Cotinguiba e era transportada via fluvial, até Aracaju.

O certo é que em 1863 as obras do Palácio do Governo estavam concluídas. Alexandre Rodrigues da Silva Chaves, Presidente da Província, que assumira em 31 de julho de 1863, “apontava como obra terminada o Palácio do Governo, espaçoso, mas, no seu entender, sem estética”, como anota J. Pires Wynne (WYNNE, História de Sergipe: 1575-190, vol. I, Editora Pongetti, p. 213). 

*Mestre em Educação pela Universidade Federal de Sergipe e Presidente da Academia Sergipana de Letras.

Texto reproduzido do blog: clodoaldoalencar.blogspot
De: Clodoaldo de Alencar Filho.

Postagem originária da página do Facebook/Minha Terra é SERGIPE, em  17 de Dezembro/2012.

“Jubileu de Ouro” do Curso de Medicina da UFS (2011)

Medicina na UFS - 50 Anos (Publicação de 6 de abril de 2011). *

Medicina comemora 50 anos com programação ao longo do ano

As comemorações do “Jubileu de Ouro” do Curso de Medicina da UFS

Há exatas cinco décadas inicia-se em Sergipe o ensino formal das ciências médicas. Isso porque em 21 de março de 1961 começava a funcionar a Faculdade de Medicina de Sergipe, curso posteriormente incorporado à UFS. Para homenagear o Jubileu de Ouro do curso de medicina foi preparada uma série de atividades comemorativas que se estenderão por todo o ano.

O sonho de uma Faculdade de Medicina em Sergipe

A ideia da criação de uma Faculdade de Medicina em Sergipe surgiu na década de 50 sob a tutela de Garcia Moreno. Juntamente com o corpo médico do Hospital de Cirurgia, ele fundou a Sociedade Civil Mantenedora da Faculdade de Medicina.

A Sociedade Mantenedora foi fundada em 12 de junho de 1953. Antes mesmo da criação da Faculdade, a Sociedade Mantenedora, que seria responsável pela direção geral, já havia escolhido os futuros professores. No entanto, dificuldades operacionais e políticas da época adiaram por oito anos a concretização do sonho.

Eis que surge a faculdade

O processo de criação da Faculdade de Medicina teve prosseguimento, somente em 1960, com o apoio do governador Luiz Garcia e do Prof. Antônio Garcia Filho, então Secretário da Educação, Cultura e Saúde.

“Dr. Antônio Garcia priorizou a fundação da Faculdade de Medicina entre as tarefas da secretaria e convenceu o governador sobre a necessidade de formar médicos para atender a população desassistida do estado" conta Eduardo, filho de Antônio Garcia.

Com o apoio irrestrito do governador do Estado, Antonio Garcia conseguiu fundar a Faculdade de Medicina. Em 21 de janeiro de 1960 foi eleita a primeira diretoria da Faculdade de Medicina de Sergipe, sendo o Prof. Antônio Garcia Filho seu primeiro Diretor. E, em 11 de janeiro de 1961, o Presidente Juscelino Kubitschek assinava o decreto nº 49.864 que autorizava o funcionamento do curso.

O início

A Faculdade de Medicina de Sergipe ofertou inicialmente 20 vagas. Em 16 de fevereiro de 1961 realizou-se o primeiro vestibular, com 54 inscritos dos quais apenas 9 foram aprovados.

A primeira aula inaugural foi proferida pelo professor Silvano Isquerdo Laguna. Eduardo Garcia conta que Dr. Antônio Garcia o fez vir da Universidade de Valladolid, na Espanha, a fim de iniciar o ensino de Anatomia em Sergipe.

Durante os dois primeiros anos, o curso de medicina funcionou nas dependências do Instituto Parreiras Horta. Em 1962, através de uma parceria, a Faculdade é transferida para o Hospital de Cirurgia, local onde permaneceu por quase três décadas, até a construção do Hospital Universitário em 1989.

Lúcio Prado, formado pela UFS e presidente da Academia Sergipana de Medicina relata que “nos primeiros anos de funcionamento da Faculdade, de forma honorífica, os professores ensinaram sem receber salários ou qualquer outra forma de pagamento”.

A Faculdade de Medicina possibilita a criação da UFS

Antes do surgimento da Faculdade de Medicina, Sergipe contava com cinco escolas de ensino superiores (Faculdade de Química, Faculdade de Ciências Econômicos e Contábeis, Faculdade de Filosofia e Letras, Faculdade de Serviço Social e Faculdade de Direito), Eduardo Garcia conta que por exigência da Lei, para que Sergipe pudesse pleitear a criação de uma Universidade seria necessário que a sexta escola de ensino superior fosse de Medicina ou Engenharia, pois o Estado já possuía Filosofia e Direito que também eram exigidos.

Após a criação da Faculdade de Medicina, é possível a criação da Universidade Federal de Sergipe, o que ocorre em 28 de fevereiro de 1968 através da união da seis faculdades até então existentes.

Construção do Hospital Universitário

Em 1988, as dependências do Hospital de Cirurgia já não eram suficientes para abrigar o curso de Medicina. Nesse ano foi feita uma passeata com médicos e estudantes reivindicando a construção de um Hospital Universitário.

O governo da época então desativa um hospital usado para tratamento de pacientes tuberculosos e passa o prédio para tutela da UFS. Coube a Eduardo Garcia, então reitor, a tarefa de adequação daquele espaço para o funcionamento do curso.

“Quando o hospital para tuberculosos veio para nossas mãos, foi necessária uma série de melhorias para adequá-lo às condições que o curso exigia. Na época possuíamos uma planta para construção de um Hospital Universitário, mas para o governo foi mais viável desativar aquele hospital e passar sua administração para a UFS”.

Dessa forma, em 1989 o curso de Medicina e os outros cursos de saúde que a universidade já possuía ganham uma nova casa, compondo o Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS).

O curso de Medicina hoje

Hoje o curso está entre os mais procurados para o Processo Seletivo Seriado (PSS), e já foi capaz de formar aproximadamente 1.500 médicos ao longo dos seus 50 anos de existência.

Para enfatizar a importância do curso para o Estado, Eduardo Garcia relata que “somente hoje, a universidade foi capaz de criar um novo curso de medicina, e até mesmo instituições privadas só conseguiram há pouco tempo, isso mostra o quanto foi relevante e difícil a construção deste curso 50 anos atrás; os homens que se empenharam nessa árdua tarefa são verdadeiros heróis”.

Para Lúcio Prado, “a homenagem aos primeiros médicos é muito apropriada, uma vez que foram os pioneiros que, enfrentando várias adversidades, tornaram possível a formação de profissionais da área médica”.

Bruno Garcia, estudante de Medicina e ex-coordenador geral do Centro Acadêmico, relata que “a profissão de salvar vidas já é algo de extrema importância, e ter esse curso no seu estado lhe dá todas as condições para aprender isto de forma gratuita é muito gratificante”.

Investimento para o futuro

O professor Alex Vianey ressalta que estão prevista algumas reformas para o curso, a fim de aumentar sua qualidade e capacidade de assistência a população.

Entre as melhorias estão a criação de uma unidade de transplante, laboratório de práticas, maternidade infantil, 30 salas de ambulatório e uma unidade de emergência, reformas previstas para 2012.

“Quando essa mudanças forem feitas, e aliada a reforma curricular, o curso ganhará ainda mais vida e força para continuar sendo um centro de excelência na formação de médicos para o Estado de Sergipe”, afirma Alex Vianey.

Juacy Júnior (estagiário)
Márcio Santana
comunica@ufs.br

Fonte: ufs.br

*Texto e foto reproduzidos do blogdoricco.blogspot.com.br

Postagem originária da página do facebook/Minha Terra é SERGIPE, 19 de Dezembro/2012.

Discurso de Jorge Carvalho Recepcionando Amaral Cavalcante

Foto reproduzida do site: camaradearacaju.blogspot

Discurso do acadêmico Jorge Carvalho do Nascimento recepcionando o novo acadêmico Amaral Cavalcante na Academia Sergipana de Letras
  
Senhor Poeta Antônio do Amaral Cavalcante:

Quando tive a honra de receber o convite de Vossa Senhoria para recepcioná-lo ao ingressar nesta Academia Sergipana de Letras, relutei. O que dizer de um poeta? O que dizer a um poeta? Como dizer a um poeta? Percebi que Vossa Senhoria marcou a data da sua posse, como acadêmico, às vésperas do dia 12 de julho, quando a poesia celebra os 107 anos de nascimento do poeta chileno Pablo Neruda. Julho, já sei, é o mês no qual nascem os poetas. Hoje comemoramos os 65 anos do encontro de Antônio do Amaral Cavalcante com a vida. Entendi a responsabilidade da honraria de apresentar a Vossa Senhoria os votos de boas vindas e busquei a inspiração para receber o poeta sergipano de Simão Dias em Neruda, com o poema “É Proibido”:

É proibido chorar sem aprender/Levantar-se um dia sem saber o que fazer/Ter medo de suas lembranças/

Decidi oferecer o meu afago de boas vindas aprendendo com Amaral Cavalcante e com os ocupantes da Cadeira número 39 deste sodalício. Ao lembrá-los tomei consciência de que na Cadeira 39, o único com o qual eu não tive oportunidade de conviver foi o seu patrono: Joaquim Martins Fontes da Silva, bacharel em Direito e poeta como o acadêmico que ora toma posse. A sua chegada a Academia Sergipana de Letras, senhor poeta Amaral Cavalcante, representa para a cadeira número 39 uma homenagem especial ao seu patrono, outro cultor da lira poética.
Nos primeiros anos de juventude, em 1974, quando comecei a trabalhar como revisor do jornal Gazeta de Sergipe, conheci a vetusta figura do jornalista Zózimo Lima, cronista como Amaral Cavalcante. Zózimo era o cultor da ironia a quem nós, revisores, temíamos, pela certeza de que seríamos debochadamente nominados e citados na edição seguinte, caso não nos esmerássemos na correção das suas “Variações em Fá Sustenido”, a festejada crônica que o reconhecido jornalista quotidianamente assinava. Era o fundador da Cadeira 39 deste sodalício e com ele aprendi muito. À sua imortal sabedoria de ancião e ao que pregavam as suas crônicas me remeti ao ler Neruda:
É proibido não rir dos problemas/Não lutar pelo que se quer,/Abandonar tudo por medo,Não transformar sonhos em realidade.
Foi nesse mesmo período de sonhos juvenis que acentuei a minha ânsia de transformar desejos em realidade, ao privar com o mais jovem de todos os velhos do meu convívio: o jornalista Orlando Dantas. Dele pude sorver as lições do bom jornalismo, a necessidade de combater, de saber lutar, de defender os ideais nos quais se crê e com os quais cada um se move. Aprendi o quanto somos humanos, ao mesmo tempo doces e intolerantes, mas que somos capazes de incorporar as lições dos nossos equívocos. Com Orlando Dantas experimentei o dia-a-dia existencial que expressa cada um dos versos de Pablo Neruda:
É proibido não demonstrar amor/Fazer com que alguém pague por tuas dúvidas e mau-humor.
Uma das melhores lições de amor aos estudos aprendi em 1976, quando sentei em uma das salas de aula da Universidade Federal de Sergipe como aluno da professora Maria Thétis Nunes na disciplina Cultura Brasileira. Foi ela a última ocupante desta Cadeira 39 à qual Vossa Senhoria agora tem assento, senhor poeta Antônio do Amaral Cavalcante. Seduzido, fui encantado pelas lições da mestra Thétis, pela relação afetuosa que ela estabelecia com os alunos. Pela capacidade de questionar a História e pelo bom humor permanente. Por ela fui fortemente influenciado nas opções que fiz pela carreira docente e pela pesquisa em História da Educação. Fiquei orgulhoso ao tomar assento ao lado da mestra nesta Academia Sergipana de Letras, quando aqui cheguei, em 1978, recebido pelo amigo dileto, o acadêmico Luiz Antônio Barreto. Logo descobri ter em Maria Thétis, mais que a professora, a confreira, uma amiga que praticava os ensinamentos de Pablo Neruda:
É proibido deixar os amigos/Não tentar compreender o que viveram juntos
Chamá-los somente quando necessita deles.
Portanto, honrando a tradição do poeta Joaquim Martins Fontes da Silva, Vossa Senhoria, poeta Amaral Cavalcante, sucede a três importantes intelectuais que ocuparam, pela ordem cronológica, a Cadeira 39 da Academia Sergipana de Letras: Zózimo Lima, Orlando Dantas e Maria Thétis Nunes. Confio na sua comprovada competência intelectual como poeta, jornalista, agitador cultural e cronista que é. Manifesto toda a admiração de amigo que sou de Vossa Senhoria, no canto de Neruda:
É proibido não ser você mesmo diante das pessoas,/Fingir que elas não te importam,
Ser gentil só para que se lembrem de você,/Esquecer aqueles que gostam de você.
Senhor poeta Antônio do Amaral Cavalcante:
Com este canto do poeta chileno reafirmo os votos de boas vindas que apresento a Vossa Senhoria em nome da Academia Sergipana de Letras, dizendo que orgulhosos recebemos o filho que Simão Dias viu nascer no dia 11 de julho de 1946, menino gerado pela graça de Corina Hora do Amaral e seu amor por José Cavalcante Lima. Família na qual o matriarcado era forte. Menino que dividiu os primeiros anos da infância com seus irmãos José Nery, Tereza, Édila e Jorge, o único já falecido. Mas, aos quatro anos de idade o menino foi viver na cidade de Itaporanga D’Ajuda com as tias-avós paternas Emiliana Nery, uma professora jubilada, católica, filha de Maria, militante da Pia União, e a presbiteriana Maria dos Anjos, que ecumenicamente o alfabetizou e incentivou as primeiras leituras, juntamente com o padre Arthur Moura Pereira, o vizinho das margens do rio Vasa Barris.
Na guerra santa da sua família, o menino Amaral Cavalcante fez primeira comunhão, freqüentou a Cruzada e foi coroinha sem entusiasmo. Da igreja católica, gostava mesmo da pompa dos altares, dos mistérios do senhor morto guardado em caixão de vidro, de desfilar nas procissões com o distintivo da Cruzada e, principalmente, do serviço de alto-falantes e da música dolente que anunciava a hora do Ângelus.
Mas, foi o estimulo de Maria dos Anjos que o ensinou a ser bom leitor. A tia-avó era uma oradora de Itaporanga D’Ajuda, que tinha guardados em seus baús discursos para todas as ocasiões: Dia da Arvore, Grito do Ipiranga, Natal, Valor do Saber. Em pouco tempo o menino aprendeu a recitá-los com voz impostada e a angariar alguns trocados para abrilhantar os eventos sociais da cidade.
Menino introspectivo, inquieto, nunca aceitou o anonimato. Aos 12 anos de idade Amaral Cavalcante regressou a sua Simão Dias, onde outra vez conviveu com o núcleo familiar original na hospedaria mantida por sua mãe, em companhia do pai, Liminha, funcionário dos correios. Pai a quem Amaral dedicou um poema, prestando tocante homenagem póstuma no seu festejado livro Instante Amarelo:
No mais alto beiral da minha casa/plantaste a sombra de uma angústia.
Jurei jamais cantar-te o breve instante/e a sempre incerteza do teu passo
não seria compasso em meus poemas./Jurei emudecer como uma árvore
que no silêncio tece a sombra e o fruto/mesmo depois que lhe podaram os ramos.
Estes versos ruidosos/irrompem da aridez do meu silêncio/como se a flor da angústia soterrada/ainda sobre os escombros germinasse/com a cor e o perfume do meu grito.
Cravada no meu corpo/sua ausência pende-me dos ombros
e toda juventude do meu passo esmorece/ante a solidão da caminhada.
A hospedaria da família costumava receber artistas convidados dos circos que se instalavam na cidade: Marinês, Jackson do Padeiro, Wilson Simonal, Milionário e Zé Rico, José Augusto e palhaços sergipanos como Gravatinha e Batalhinha.
Naquela casa, Amaral Cavalcante conheceu os poemas de Ascenso Ferreira, leu as aventuras de Pedro Malazarte, os amores da Princesa Teodora e as batalhas de Carlos Magno. Vibrou com a História da Mulher que virou Cachorro e com as pelejas do Cego Aderaldo. Ali começou a se forjar o poeta que hoje recebemos. A matriarca Corina, ao perceber o gosto do menino pela poesia, o presenteou no Natal com uma Antologia de Sonetos de amor que tinha cerca de 400 páginas. Ia de Petrarca aos Irmãos Campos. Tudo isso aconteceu no período em que Amaral trocara a Igreja Católica pelo protestantismo presbiteriano. Igreja Presbiteriana que freqüentava, passando semanalmente pela Escola Dominical, entoando encantado os hinos evangélicos.
Entre Itaporanga D’Ajuda e Simão Dias, Amaral Cavalcante aprendeu a arte do autogoverno cantada por Pablo Neruda:
É proibido não fazer as coisas por si mesmo,/Não crer em Deus e fazer seu destino,
Ter medo da vida e de seus compromissos,/Não viver cada dia como se fosse um último suspiro.
Esse aprendizado incluiu a iniciação de Amaral Cavalcante no jornalismo. Em Itaporanga D’Ajuda, começou a escrever um jornal em papel pautado, juntamente com Marcos Prado Dias, que atuava como ilustrador, e com a colaboração de Danilo Sampaio. Cada edição manuscrita, com um único exemplar, era levada de porta em porta. As pessoas liam e depois devolviam o exemplar acompanhado da contribuição financeira que entendiam justa. Talvez a riqueza dessas experiências tenha feito de Amaral Cavalcante um menino que cedo se rebelou contra a monotonia rotineira dos grupos escolares que freqüentava. Consumia o tempo das aulas desenhando e escrevendo nos cadernos problemas distantes das lições ensinadas pelas professoras. Na vida escolar era mais atraído pelos sanduiches de sardinha que levava de casa.
Transferido para Simão Dias, freqüentou o Ginásio Carvalho Neto, da Campanha Nacional de Escolas da Comunidade, a CNEC, onde apenas dois professores o interessavam pelo discurso que faziam: as aulas de História do professor Lauro Pacheco e as aulas de Português do professor Fernando Ferreira de Matos. A escola não era atraente, mas o convívio com os colegas o entusiasmava. Do mesmo modo as práticas cívicas com as quais se tornava um ser social, como o canto coletivo do Hino Nacional Brasileiro, no início e ao final da jornada escolar, bem como as idas aos médicos que freqüentavam o Ginásio regularmente para examinar os alunos. Mas, acima de tudo, as aulas de Etiqueta e de Canto que recebia da professora Olga e que o forjaram até o momento em que saiu de Simão Dias para ingressar no Colégio Agrícola. Na mala levou saudades, que celebrava, como ensinou o canto de Pablo Neruda:
É proibido sentir saudades de alguém sem se alegrar,/Esquecer seus olhos, seu sorriso, só porque seus caminhos se desencontraram,/Esquecer seu passado e pagá-lo com seu presente.
O Colégio Agrícola foi um importante lócus da sua formação. Ali, costuma dizer, virou gente. Morou no internato e aprendeu o que é estar cercado de colegas e ao mesmo tempo viver sozinho. Lidou com as tarefas do campo, cuidou do curral, aprendeu a tirar leite, plantar e capinar, serviu na enfermaria e na residência do diretor, o agrônomo Moacyr Wanderley.
Ao voltar para o Ginásio Carvalho Neto, em Simão Dias, onde cursou o último ano daquele ciclo, era outro. Fez política estudantil e liderado pelo padre estanciano Joaquim Antunes Almeida, o Padre Almeida, fundou o Grêmio Escolar daquela instituição de ensino, ao lado de Clínio Guimarães, sob a influência do seu professor de História, Lauro Pacheco. Era o professor Lauro Pacheco quem mais falava de política para os estudantes, quem criticava o colonialismo e os abusos da propriedade latifundiária. O professor Lauro Pacheco foi uma espécie de consultor que contribuiu na redação do Regimento Interno do Grêmio. Amaral concluiu o curso ginasial e foi o orador da sua turma. O menino, agora rapaz, estava pronto para conquistar a capital do Estado. O ano era o tumultuado e tenebroso 1964. Amaral havia, já, vivido 18 anos. A dureza da vida se fez real. O comércio foi a alternativa de trabalho que se apresentou, para garantir o próprio sustento e colaborar com a renda da família. À noite, freqüentava as aulas do Atheneu. Foi vendedor ambulante de aparelhos de jantar, transportando enormes e pesadas caixas de louça na cabeça. Trabalhou na Movelaria Universal, arrumando móveis. As agruras do mundo mostraram a Amaral uma regra de viver que Neruda transformou em poesia:
É proibido não tentar compreender as pessoas,/Pensar que as vidas deles valem mais que a sua,/Não saber que cada um tem seu caminho e sua sorte.
Mas, nada disto fez Amaral Cavalcante renunciar aos sonhos. Na bagagem que trouxe de Simão Dias vieram os primeiros poemas. Aquelas folhas datilografadas foram importantes quando ele conseguiu trabalhar nos escritórios do Sergipe Jornal, onde conheceu o jornalista Luiz Eduardo Costa, agora confrade deste sodalício na Cadeira 14. Fez amizade com Luduvice José, que o levou para a Academia de Jovens Escritores, organizada pela professora Carmelita Pinto Fontes, atual ocupante da Cadeira 38 desta Academia Sergipana de Letras. A convivência no Sergipe Jornal estimulou o aprofundamento na leitura e alargou o relacionamento social do jovem poeta de Simão Dias. Lá conheceu Florival Santos, que o convidou para ocupar o cargo de Secretário da Galeria de Arte Álvaro Santos. Ali, um novo amigo: Clodoaldo de Alencar Filho, agora também confrade e atual ocupante da Cadeira número oito da Academia Sergipana de Letras, que o apresentou aos jovens intelectuais de Sergipe: Mário Jorge, Ilma Fontes, João Augusto e Aparecida Gama, Luiz Antônio Barreto, Nino Porto, Ivan Valença, Aderaldo Argolo e Ezequiel Monteiro. Era a poesia que agregava Amaral Cavalcante. O jornalismo era o pano de fundo. O Margelino foi o primeiro jornal alternativo que fundou nesse período. Impresso em mimeógrafo, era distribuído entre os alternativos freqüentadores do Parque Teófilo Dantas. Antecedeu o Folha da Praia, periódico alternativo que inscreveu definitivamente o nome do poeta Amaral Cavalcante na galeria dos grandes do jornalismo em Sergipe. Antes disso, o inquieto Amaral fez cinema, fez teatro, criou o Teatro Livre da Sociedade de Cultura Artistica de Sergipe – a SCAS, a Associação Sergipana de Cultura – ASC, a Editora Jovens Reunidos – Jovreu e o Clube de Poesia. A maturidade chegou e encontrou o poeta presidindo a Fundação Cultural do Estado de Sergipe. Mas, era mesmo a poesia que o embalava e a partir dela comungou com Pablo Neruda:
É proibido não criar sua história,/Deixar de dar graças a Deus por sua vida,
Não ter um momento para quem necessita de você,/Não compreender que o que a vida te dá, também te tira.

Amaral fez o seu destino. O crítico literário Ezequiel Monteiro desenhou o perfil do poeta: “Foi Amaral quem me revelou os poetas Ezra Pound e Yeats,
considerados os mais influentes do século. A partir de então sempre vi no
autor de “Instante Amarelo” uma mistura de poeta e fino intelectual.”
O poeta Amaral Cavalcante publicou três livros: o primeiro, TRÊS TEXTÍCULOS NUM SÓ SACO. Depois, JÁ VOU. E por fim, a obra que o consagrou: INSTANTE AMARELO, de 1971. O acadêmico Luiz Antônio Barreto, ocupante da Cadeira 23 deste sodalício, sublinhou a importância da obra e do poeta:
...poesia doce para uma atmosfera amarga de péssimas lembranças. A surpresa apresentada pelo novo poeta, logo acolhida pela crítica mais autorizada, sacudia a literatura sergipana. Desde então, o nome de Amaral Cavalcante jamais deixou
de circular nos ambientes intelectuais de Sergipe.
O poeta recebeu o reconhecimento dos seus contemporâneos. A maturidade o fez cronista. E, para reconhecê-lo, outra vez vale a pena dar voz a Luiz Antônio Barreto:
Suas crônicas, hoje postadas na rede mundial de computadores, em portais sergipanos, atestam a linguagem de um escritor maduro, consciente da sua responsabilidade como condutor de um grande número de seguidores. Amaral Cavalcante é, ainda, um memorialista a seu modo, capaz de cascavilhar no passado não apenas fatos, mas detalhes deles, com os quais elabora textos antológicos.
É com este cabedal que o poeta, jornalista, animador cultural e cronista ingressa agora na Academia Sergipana de Letras e toma assento na Cadeira 39, para que
se faça justiça ao seu exemplo de criador, de líder e de militante da causa
da cultura. No dizer do ocupante da Cadeira 23 deste sodalício,
Amaral Cavalcante pertence a um grupo grande de pessoas
ocupadas, ao longo da vida, com o fazer cultural, que devem transitar pelas
entidades sob os aplausos públicos. Jackson da Silva Lima, Ibarê Dantas,
Beatriz Góis Dantas, Paulo Fernando Teles de Moraes, Terezinha Oliva, Luiz Alberto dos Santos, Antonio Carlos Mangueira Viana, Francisco José Costa Dantas, Murilo Mellins, Francisco José Alves, Antonio Samarone, Marcelo Deda, José Paulino da Silva, Maria Neli Santos e Lílian Wanderley.
Amaral Cavalcante conquista a imortalidade, com os merecimentos que o acadêmico Luiz Eduardo Costa soube muito bem preconizar:
Se ainda na Academia Sergipana de Letras houver lugar para um poeta, um
cronista primoroso, um jornalista e editor saltador de obstáculos, um
subversivo agente da contaminadora ideologia da cultura, aí, o despertar de
Amaral para o premio da imortalidade acadêmica, lhe deverá ser, sem nenhum
favor, concedido. Vivendo agora esse instante azul de aceitação do reconhecimento, Amaral, se vier a sentar-se na dignificada cadeira da professora Thétis Nunes, despertará na mestra um sorriso, agora etéreo, de plena satisfação com o seu substituto nessa simbólica imortalidade.
Agora, poeta Amaral Cavalcante, Vossa Senhoria está consagrado ao reconhecimento da História. A sua alma, a sua lira, a sua personalidade, a sua trajetória de vida, a sua obra recebem o compromisso de todos nós de um culto perene, permanente, que jamais se apagará. É desta imortalidade que falamos. É da insatisfação que o intelectual constrói a sua felicidade. E Vossa Senhoria, poeta Amaral Cavalcante, nos felicita com o seu convívio, premia a todos nós, porque soube, como o outro aniversariante ilustre deste mês de julho projetar a sua vida nos seus amigos, na literatura e na História. É como se estivesse a homenageá-lo que Neruda cantou:
É proibido não buscar a felicidade,/Não viver sua vida com uma atitude positiva,
Não pensar que podemos ser melhores,/Não sentir que sem você este mundo não seria igual.

Bem vindo poeta Antônio do Amaral Cavalcante.

Muito obrigado!

*Discurso de Jorge Carvalho recebido via e-mail

Postagem originária da página do Facebook/Minha Terra é SERGIPE, em 19 de Dezembro/2012.

Lú Spinelli e a Dança Cênica em Sergipe.

Foto: reproduzida do site: educar-se.com

Publicado no Blog Primeira Mão, em 24/04/2011.

Lú Spinelli e a Dança Cênica em Sergipe.
Quarenta Anos de Movimento e Poesia.

Prof. MSc. Mário Resende.
Professor do Núcleo de Dança/UFS.

A prática de homenagear é tão antiga quanto à existência da cultura humana. Ela pressupõe o reconhecer no outro a construção pioneira, a abertura de caminhos, a facilitação de constituição de estradas e pontes sem as quais estaríamos caminhando com mais vagar. Reconhecer no outro a construção de algo digno é ato de grandeza cultural que humaniza o homem.

Ao tratarmos de reconhecimento é que relembramos que há quatro décadas, tivemos em Aracaju o I Festival de Dança Moderna, Contemporânea e Afro. Os tempos eram difíceis, a cidade pequena e conservadora. Estávamos no auge do regime militar e a dança acadêmica não tinha espaço, nem patrocínio, tampouco público. Nessa época, a SCAS – Sociedade de Cultura Artística de Sergipe – entidade cultural que atuava em Aracaju já tinha entrado em retração. A SCAS em anos anteriores tinha sido patronesse de espetáculos de música e de teatro. No tocante aos grandes espetáculos de Dança que trouxe para a cidade, na maioria das vezes, estes se restringiram à linguagem do balé clássico. Nesse deserto de movimento, Lúcia Spinelli percebeu uma lacuna a ser preenchida e por aqui fincou suas raízes, através do Studium Danças.

Somente a partir do trabalho da professora Lúcia Spinelli é que as sementes das Danças Moderna e Contemporânea aportaram na capital sergipana. Sem essas sementes muito provavelmente estaríamos contando outras histórias no que se refere à Dança acadêmica em Sergipe. A criação do Studium Danças e a realização dos Festivais Anuais são marco na história cultural de Aracaju. Sua criadora, Lú Spinelli, vivenciou e foi testemunha de importantes modificações nessa capital no campo dos costumes, dos mitos e dos preconceitos. Na década de 70, ao se estabelecer em Aracaju, enfrentou resistências típicas de toda ação pioneira, mas também recebeu os apoios das jovens mentes e intelectuais iluminados da cidade, a exemplo de João de Barros, Joubert Morais, Jorge Lins, Irineu Fontes, o então poeta Carlos Ayres de Brito, Ilma Fontes, o musicista Antonio Alvino Argolo, Lânia Duarte, Aglaé Fontes, Madre Albertina Brasil, Amaral Cavalcanti, Professor Alencarzinho, Professor João Costa, Luís Eduardo Costa, Luís Eduardo Oliva, Ivan Valença, Professor Antônio Garcia e Dr. João Cardoso Nascimento Junior, ex-reitores da Universidade Federal de Sergipe, entre outras pessoas de real importância.

De fora de Sergipe, Lú conta que sempre teve o apóio e o incentivo de Eduardo Cabús, dono do Teatro Gamboa e atual proprietário do Teatro Bibi Ferreira, no Rio de Janeiro, do professor Clyde Morgan, convidado da UFBA para atuar no curso de Dança, e atualmente docente da Universidade de Backport, New York e Julio Vilan, assistente de Klauss Vianna e Angel Vianna, do prof. Rolf Gelewsky de Reneè Gumiel, pioneiros da dança moderna e contemporânea no Brasil. Dulce Aquino, Pró-Reitora de Extensão da UFBA, Lia Robato, Diretora do Projeto Axé/Salvador, Laís Gois, ex-diretora da Escola de Dança da UFBA e Jurema Penna, autora e atriz baiana, expoente do Cinema Novo na Bahia, grupo que atuou o grande Glauber Rocha, também fizeram parte de rol de apoiadores.

Em muitos aspectos do que avançamos, somos devedores a essa mestra da Dança. No campo dos costumes e da dança Lú foi revolucionária, sendo uma das responsáveis pela quebra de preconceitos e tabus arraigados na sociedade aracajuana. Atuou como uma das responsáveis técnicas pelo Festival de Arte de São Cristóvão durante 18 anos. Foi também produtora de grandes espetáculos que se fizeram presentes nos palcos sergipanos. Com Lú Spinelli tivemos pela primeira vez em Sergipe, a possibilidade de artistas homens e negros freqüentarem aulas e serem reconhecidos na cena da dança no estado de Sergipe e fora dele. Lú fundou o Studium Danças em 1971, tendo como primeiro professor convidado o bailarino pernambucano Alcides Muniz, recém chegado da Europa. Muniz havia dançado em diversas companhias como o Gulbenkian em Portugal, o Balé de Nice, na França, entre outros. Antes de ir para a Europa, Muniz tinha atuado no Brasil, em particular, trabalhou com Dalal Aschar, no Rio de Janeiro e com Flávia Barros, em Pernambuco.

Também trabalharam no Studium o, hoje, professor Doutor Eusébio Lobo, da UNICAMP (ministrou aulas no Studium nos anos 70); Marcelo Moacyr, dançarino que atuou em diversas companhias internacionais, formado pelo Laban Center Londres, Antonio Alcântara/UFBA que trabalha com Danças no Canadá e Firmino Pitanga, com formação na UFBA, coreógrafo, dançarino, pesquisador de danças africanas em diversos países da África e fundador do balé da UMES, na USP.

Por sua vez, em Sergipe surgiram do Studium Danças o saudoso Francisco Santos, popular Chiquinho, por muitos anos professor de Dança na escola Municipal de Artes de Aracaju, os dançarinos Marcos Braz-Erê, Rita Trindade, Gladston Santos, Rinaldo Machado, Jayme Guedes, Hamilton Marques, Julieta Menezes, Sandra Freire, Clara Alice Oliveira, Ivani Andrade, dentre outros.

A partir das ações de Lú que tivemos a primeira companhia de dança cênica sergipana, o “Grupo Studium Danças”. Criado em 1973, era um grupo amador formado por uma série de jovens aracajuanos que posteriormente procuraram outros meios, todos alunos da escola, a saber: Silvana Flores Cardoso, Beatriz Braz, Cristina Garcia, Clara Alice e Acácia Oliveira, Martinha Bragança, Dayse Monte, Ana e Cibele Ramalho entre outras alunas. O grupo viajou para diversos eventos no Brasil, participando de circuitos e de festivais universitários. Em Sergipe, por diversas vezes, abriu os espetáculos que aconteciam no Festival de Artes de São Cristovão.

O primeiro espetáculo do grupo amador chamou-se Afro Sacro e foi apresentado pelo grupo Studium Danças na Igreja do Rosário, em São Cristovão. Posteriormente, no primeiro Festival de Artes e Cultura de Laranjeiras, o espetáculo foi reapresentado na integra, e lá novamente dançaram sob o som da Missa Luba, cantado por “os trovadores do Rei Balduim” um coral católico do Congo Belga. Lú montou diversos outros espetáculos, a exemplo da “Feira dos Aracajus”, “Glória, Glória, Glorioso”, “Vivência”, “Xocós”, todos pautados na cultura sergipana, dentro de uma visão contemporânea de dança.

Nos anos 80, o Grupo Studium Danças transformou-se em Sociedade Produtora de Dança, em caráter profissional. Nessa época, o grupo se fez presente pelo país no Festival Internacional das Mulheres Ruth Escobar, em São Paulo, no Ciclo de Dança do Recife e na Oficina Nacional de Dança da UFBA, entre outros grandes e importantes de eventos brasileiros. Fez diversas turnês em diversos estados do Nordeste. O grupo profissional teve sempre a direção de Lú, mas atuou em parceria com importantes coreógrafos brasileiros e estrangeiros, a exemplo de Marcelo Moacyr, Denilto Gomes, Airto Tenório, Clady Morgan, Valério Césio, Rosito de Carmine, entre outros.

Em quarenta anos de atuação em Sergipe, Lú Spinelli plantou e colheu muitos frutos na arte da Dança e fez desta, nos seus espetáculos, a palavra que não podia falar, o espaço para a crítica e para o riso, a luz para produzir beleza e poesia, o movimento para celebrar a vida e dialogar com a dor, a arte que somente o corpo é capaz de transmitir nesse campo do saber humano que deve ser o mais democrático de todas as artes. A existência e a continuidade da escola de dança Studium Danças, em quase meio século, chancelam o compromisso, a lealdade e competência dessa profissional em manter acesa a chama da arte do movimento no estado de Sergipe. No mínimo, esse fato nos delega o papel de reconhecer e homenagear Lú Spinelli, artista que através da dança, soube tão bem interpretar e expor aqui e no Brasil, a grandeza e a beleza da cores e sabores da cultura sergipana.

Texto reproduzido do blog: primeiramao.blog.br
De: Eugênio Nascimento e Kleber Santos.

Postagem originária da página do Facebook/Minha Terra é SERGIPE, em 19 de Dezembro/2012.