Prático José Martins Ribeiro Nunes (Zé Peixe)
Uma referência em sua profissão, Zé Peixe não cativou
aqueles ao seu redor somente por seu jeito simples e humilde. O seu trabalho
como prático, profissão que exerceu por mais de meio século, deixou marcas
naqueles que conviveram com ele durante os anos em que trabalhou no mar, a
serviço da vida de inúmeros navegantes guiados por ele na boca da barra do Rio
Sergipe. Efetivamente aposentado no ano passado, por conta da idade avançada e
do Mal de Alzheimer, doença degenerativa que o acometeu, José Martins Ribeiro
Nunes é hoje um exemplo entre os seus iguais.
O prático Leonardo Inácio, que chegou a Aracaju em 1991 e
conviveu com “Zé Peixinho” (como ele era conhecido por seus colegas na
praticagem) por mais de 20 anos, conta que é impossível apontar nele um único
defeito. “Nenhuma pessoa que tenha convivido com Zé Peixe vai falar algo de
ruim dele. Ele vai ficar na história como uma pessoa única, um ser humano sem
máculas”, afirmou Leonardo.
Leonardo, que trabalhou diretamente com Zé Peixe na
praticagem durante cinco anos, faz questão de elogiar a sua humildade, mesmo
diante do grande – e justo – reconhecimento do seu trabalho. “Ele é um cara que
sempre teve os pés no chão. Nunca teve um lapso sequer de vaidade, mesmo sendo
personagem de reportagens nacionais e internacionais, em revistas da Alemanha e
da Inglaterra”, declarou o prático.
Em sua opinião, a história de Zé Peixe, tanto no campo
profissional como no campo pessoal, faz dele uma figura representativa do povo
sergipano. “Eu tenho muito orgulho de ter tido a oportunidade de trabalhar com
ele. Zé Peixe é uma das poucas pessoas que representam verdadeiramente a
sergipanidade e é alguém que só honra a imagem do seu Estado”, declarou Leonardo
Inácio.
Marinha
A função de Zé Peixe como prático o levou a receber a
Medalha Almirante Tamandaré, uma das maiores honrarias concedidas pela Marinha
do Brasil. No entanto, embora tenha uma vida dedicada ao trabalho no mar, nunca
fez parte da própria Marinha. Não que isso tenha impedido que seus esforços
junto aos navegantes fossem reconhecidos por várias pessoas que passaram pela
Capitania dos Portos de Sergipe.
O comandante da Capitania dos Portos, o capitão-de-fragata
Berivaldo Vieira Figueiredo, explicou que, embora a atividade seja afim ao
trabalho da Marinha, os práticos não fazem parte do quadro de militares. “A
praticagem é apenas regulamentada e supervisionada pela Marinha, que realiza
inquéritos e controla a tabela de serviços”, afirmou. No entanto, a falta de
patente militar nunca impediu que a Marinha reconhecesse a importância do
trabalho de Zé Peixe.
De acordo com o comandante da Capitania dos Portos, Zé Peixe
pediu a sua aposentadoria somente no ano passado, com a doença já em estágio avançado.
Na ocasião, o prático recebeu as devidas homenagens em uma cerimônia realizada
na sede da Capitania, quando foi lembrado, inclusive por outros profissionais
da praticagem, por seus serviços prestados ao mar e aos navegantes.
“Zé Peixe é um ícone para Sergipe. Foi prático em uma época
onde existiam poucos recursos tecnológicos e chamou a atenção pela forma como
desempenhava o seu trabalho. Ele passava muita serenidade para os comandantes
que realizavam as manobras nas embarcações. Vários comandantes da Capitania que
trabalharam com ele ressaltaram as suas qualidades. Além disso, ele virou uma
referência para a praticagem e é uma pessoa que sempre será lembrada por
Sergipe”, declarou Berivaldo Vieira.
Reconhecimento
A forma peculiar como lidava com a profissão e a vida fez
com que pessoas de outras partes do Brasil e do mundo viessem a Aracaju para
ver de perto o cotidiano de Zé Peixe. Uma dessas pessoas é o paraibano Edgley
Fernando Cavalcanti, que veio da Paraíba até a capital sergipana para conhecer
aquele homem que o encantara através de imagens televisivas.
Cavalcanti teve o seu primeiro contato com Zé Peixe por meio
de uma reportagem veiculada em programa jornalístico de abrangência nacional.
“Achei fascinantes os seus feitos como prático em Aracaju”, revelou. Foi
justamente por esse motivo que, em 2007, decidiu vir a Sergipe para conhecer
pessoalmente o prático. Depois de uma conversa de praticamente uma hora, ele
reforçou a imagem que já tinha feito de José Martins.
“O que mais me chamou a atenção foi a sua simplicidade. Ele
sempre trazia esses valores e, por isso, eu sempre levo essa história comigo”,
afirmou Edgley Cavalcanti. O resultado desses dois encontros – o televisivo e o
pessoal – o levaram a escrever duas crônicas sobre Zé Peixe, intitulado por ele
como ‘Amigo das Águas’, algo que ele diz ter feito de coração.
E foi justamente o impacto sentimental, advindo com a
notícia sobre a doença que atingiu Zé Peixe, que ele decidiu escrever uma
terceira crônica sobre o prático. “Foi algo que me marcou muito. Então, decidi
fazer uma despedida saudosa dos seus feitos”, declarou Cavalcanti. Como não
poderia deixar de ser, destacou em suas palavras o jeito especial de José
Martins. “Costumo compará-lo sempre aos atletas de ponta, que muitas vezes são
marcados pela vaidade. Zé Peixe sempre foi muito simples, se diferenciando dos
demais”, completou.
Fonte:
Fernando Pires
Jornal da Cidade - Aracaju/SE.
Fotos e texto reproduzidos do site: navioseportos.com.br
Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, em 16 de setembro de 2013.
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