sábado, 28 de março de 2015

Memória de Post do Facebook/GrupoMTéSERGIPE

Amaral Cavalcante.

(Enquanto os romancistas e os contistas mentem o tempo todo, o cronista mente só um pouquinho)

A saga de Wanderley

Eis aqui Wanderley, o sarará enferrujado: cabelo pixaim dourado, crespa cocada-puxa cercando a cara desbotada; a barriga extrapolando o cós da calça, os bagos dele, apertados numa protuberância imoral, sobravam-lhe muito abaixo da braguilha, arrumados na calça de linho, geralmente amassada.
O cinturão acima do umbigo um palmo, dava-lhe a aparência de corno manso, reforçada pela bunda de mochila que exibia indolente, a costura da calça lhe invadindo as papadas.

Não era de se respeitar àquele metro e pouco de gente, capaz de duas léguas de encrenca! Wanderley era desses que se põem na ponta dos pés com o dedo em riste, retesando as orelhas em assertivas e perorações.
Parranceiro, dizia-se bom de cachaça, mas com três milones bem servidos perdia o pescoço como um galo mutuca em rinha de campeões.

Acontece que nos mais entocados botecos de Simão Dias desgraçava-se o valente Wanderley, grunhindo sextilhas incompreensíveis, decassílabos em pé quebrado, numa conversa empinada que ninguém entendia, até que um condoído o devolvesse à família.
Era quando o o pai, abrindo a porta, agradecia com xingamentos guturais o favor dos amigos:
- Fi duma égua, esse menino me trai a descendência!
Ao que Dona Mariinha desgrenhada de sono, um fifó lhe iluminando a cara de matrona excelsa, quase enfartava:
- E a égua sou eu, né, seu porco gazo!
Ai então cabia ao ilustre bêbado, fazendo beiço de mimo, retrucar:

- Ta vendo, mãe?

A fascinante bodega de Nicanor, na ladeira do Cine Ypiranga, era o Centro Social dos cachaceiros e afins, para onde peregrinava desde as sete da manhã, uma horda de aferrados biriteiros. Vinham às duras penas e tremosos passos, dos quatro cantos da cidade. Chegavam se desculpando:
- Ia passando e só entrei pra ver se fulano já estava aqui. Mas num sussurro, confessando às prateleiras o imperioso vício que o trouxera ali, capitulavam:-
Bote uma!
Só Fabrício os ouvia, em atenta diligencia, ao passar e repassar um farrapo lodento no balcão.

Wanderley tinha modos. Chegava tomado banho, a fragrância Liferboy se sobrepondo aos cheiros da bodega, uma mistura de bacalhau e querosene perpassada sutilmente pelo perfume incompreensível do sabão pintado que Fabrício, sem cerimônias higiênicas, partia e embrulhava sempre no mesmo lugar do balcão em que cortava um naco de mortadela.
Nada mal, o cheiro de qualquer bodega é esse mesmo.

Meia hora depois era batata: Wanderley citava Homero - tio avô do seu pai - um cabra viciado em ninfas e principescas glórias, que aprendera a ser macho nas galeras com Ben-Hur e que defendera em outras circunstâncias os delicados miosótis de Nabucodunosor quando as hostes de Roma, com seus meganhas civilizatórios, os atacaram em nome da vida-merda ocidental.
-Onde um jardim era merda” ele dizia, pondo-se na ponta dos pés e ajeitando agoniado a frouxidão da calça.

Meu amigo finou-se morador de um quartinho mal cheiroso no Beco de Miné, tentando nos convencer da sua glória familiar.
Ia do parentesco com a Princesa Theodora às cavalgadas do Rei Arthur pelas praias de Avalon.
Com o olho triste, declamava empertigado a saga do seu tio Menelau, dono de um jazigo perpétuo nos Campos Elíseos, para onde deveria a municipalidade enviar os seus restos mortais.

Foi enterrado numa cova de chão no cemitério de Simão Dias, com o seu nome grafado na cruz sem o honorífico ipisilone, único indicativo de nobreza do pobre Walderley.

Amaral Cavalcante.

Postagem originária do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 26 de março de 2015.

Apresentação da Banda de Música da Polícia Militar de Sergipe

Apresentação da Banda de Música da Polícia Militar,
sob regência do Maestro Subtenente Carlos José Batista Santos.
Foto reproduzida do Facebook/E-Sergipe Governo de Sergipe.

Postagem originária do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 25 de março de 2015.

Uma mesa política no Cacique Chá

Capa do Livro de Mário Britto 

Texto de autoria de João Augusto Gama da Silva, publicado no livro de Mario Britto, intitulado "Cacique Chá - Jenner Augusto MARCOS DO MODERNISMO", em 17 de março de 2015.
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Uma mesa política no Cacique Chá
Por: João Augusto Gama da Silva.

Fernando Nunes chegava mais cedo e dava os dois expedientes. Umberto Mandarino era o mais assíduo, sempre saía mais tarde. Até 1964 o grupo era grande, com muita rotatividade. Inicialmente ficava nas mesas da varanda. Depois veio o medo. As pessoas deixaram de freqüentar a roda do Cacique.

O velho poeta Clodoaldo de Alencar dizia, sério, que “é preciso cautela e saber votar”. As eleições eram raras. Viciadas. Sem expressão. O primeiro da mesa a ser preso foi Tertuliano Azevedo, delegado do Trabalho. Sua vida em Sergipe ficou inviável. Mudou-se para o Rio de Janeiro, onde, por alguns anos morou no Flamengo. Logo em seguida prenderam Ariosvaldo Figueiredo. O medo aumentava.

A pequena burguesia da nossa mesa sucumbiu. Professor Garcia Moreno, brilhante, contraditório, esquivou-se. Freitas, o proprietário, lia seus livrinhos de cowboy e fingia que estava tudo bem. Fernando Porto, agnóstico e culto, comentava que ditadura para ele não era novidade, convivera com a de Vargas e agora com a dos militares. Roberto Porto, seu filho, falava pouco e morreu cedo. Fernando − viúvo e agora sem Roberto − mudou-se para São Paulo, onde vivia Rodrigo, e lá faleceu.

Valdemar Fortuna de Castro − elegante, professor e amigo − fazia de conta que o regime discricionário não era no Brasil. José Carlos Teixeira acreditava no MDB e resistia. Em 1966, a mesa do Cacique elegeu Jaime Araújo deputado estadual. O regime militar esmagara a oposição. Em 1968, a ditadura se aprofunda. Preso com Chico Varela, fomos soltos em 1969. A Assembleia Legislativa de Sergipe foi fechada e poucos meses depois Jaime perdeu seu mandato. Ouvimos sua cassação do “Cacique”. Imediatamente Zé Carlos Teixeira o convidou para trabalhar em Brasília, na sua gráfica. Jaime preferiu continuar em Sergipe.

Geraldo Sobral, juiz federal substituto, silencioso, não entendia a violência, as perseguições da ditadura. Alberto Carvalho era da turma da manhã. Silvério Fontes das duas. Guido Azevedo era eventual. Os irmãos Pacheco − Manoel e Afonso − irregulares, compareciam aos sábados. Afonso sempre mais discreto. A presença bissexta de Eurico Amado era uma alegria. Simplório, cosmopolita, morando no Rio de Janeiro, trazia sempre novidades e bons discos de bossa nova. Fazia boas festas na casa de sua família na Rua Itabaiana. Com Eurico, inevitavelmente, Ezequiel Monteiro aparecia. Às vezes Macepa. Celso Viana de Assis, expulso da Academia Militar das Agulhas Negras, exercia uma forte influência sobre nós, os mais jovens. Mostrava a necessidade do estudo e da leitura. Preso, quando solto foi-se embora de Sergipe.

Os irmãos Teixeira, Luiz e Tarcísio, adoravam conversar política. Chegavam às 4 horas da tarde no escritório de Jaime e seguiam com Jaime e Antônio Tavares para o Cacique. Não bebiam. Mandavam comprar sorvete de mangaba na Cinelândia todos os dias. Carlos Oliveira, capelense, trabalhava na Organização Internacioanal do Trabalho (OIT), em Genebra, frequentava todas as tardes, quando de férias em Aracaju. Seixas Dórea se tornou assíduo quando se mudou do Rio para Aracaju. Leopoldo Souza, deputado estadual, chegava depois da sessão da assembleia. Marcos Melo e Said Schoker eram do turno da noite. Gilvan Rocha, quando vinha de Brasília. Armando Rollemberg também.

Os “passantes”eram muitos: Gilson Cajueiro de Holanda, Gildo Guimarães (o Gildo Pistola), José Carlos de Almeida Filho (o Zé Miséria), Antonio Góis e Zé Emídio do Nascimento. Os dois últimos assumiram a titularidade nos dois expedientes. Frequência exemplar.

Aos sábados era um pleno ampliado: Walter Batista, Jonas Aguiar. Em mesas separadas as irmãs Dinah e Beca, Gilza Luíza, Lilia e Linta (ambas Pacheco), Zé Rosa de Oliveira Neto e Renato Chagas. Mário Jorge em todas as mesas. Muita cerveja.

As pessoas estranhas ao grupo, quando em mesa próxima à nossa eram sempre suspeitas de pertencerem ao Serviço Nacional de Informações (SNI).

Nos últimos anos fazíamos “o encerramento do ano letivo”. Havia entrega de medalhas de assiduidade e bom comportamento. Zé Valadares, certa vez, levou Dona Caçula, sua mãe, que adorou a brincadeira. Foi uma festa. Carlinhos Machado se apresentou de índio. Um show. Tínhamos sobrevivido à ditadura.

Jenner Augusto, pelo olhar bondoso de suas pretas, mucamas e mulatos, assistia a tudo em silêncio. E, com certeza, aprovava.

Postagem originária do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 26 de março de 2015.

A Morte de Dr. Sobral


Infonet - Blog Lúcio Prado - 05/01/2007.

A Morte de Dr. Sobral.
Por Lúcio Antônio Prado Dias.

Não foi um bom início de ano. Perdemos logo no dia 3 de janeiro o médico José Sobral. Ele foi um dos mais representativos nomes da medicina de Sergipe nas últimas décadas, na especialidade que escolheu: a ortopedia e traumatologia.

De temperamento afirmativo, não deixava para depois o que incomodava o seu coração. De uma bondade profunda, não era de guardar mágoas e ressentimentos. De espírito bonachão e risada marcante, bem de acordo com o seu biotipo, era também de uma seriedade exemplar quando o momento assim o exigia.

Certa feita, na função de superintendente do antigo INAMPS, na década de 70, enfrentou alguns colegas no que costumava chamar de “furor cirúrgico”, corrigindo distorções na autorização de guias para tratamento operatório. Um colega seu foi então reclamar dos cortes que estavam sendo processados em suas guias, que isso era um absurdo, um excesso de rigor na análise por parte da perícia. Ele de pronto rebateu: “você esqueceu que eu sou o seu auxiliar nesses procedimentos?” O colega retirou-se sem ter o que contra-argumentar. Era assim José Sobral, austero e correto nas suas ações e atos administrativos.

Nascido em Frei Paulo em 20 de junho de 1930, filho de Manuel Sobral e Maria Ramos Sobral, fez sua formação educacional básica no Colégio Tobias Barreto e o secundário no Atheneu Sergipense. À noite, cursava ainda a Escola de Comércio. Optou por fazer medicina e em 1950 seguiu para Salvador onde se graduou em 1955 pela vetusta Faculdade de Medicina da Bahia, no Terreiro de Jesus. Já no segundo ano da faculdade, passando férias em Aracaju, comparecia ao ambulatório do Pronto Socorro do Hospital de Cirurgia como observador. Conheceu então Osvaldo de Souza e Francisco Bragança, que atuavam na área de ortopedia e que o estimularam a trilhar o caminho da especialidade. Em Salvador, ainda por interferência deles, estagiou no melhor serviço de ortopedia da Bahia, chefiado pelo saudoso professor Benjamim da Rocha Sales e seus digníssimos auxiliares, dos quais se destacava a figura de Fernando Filgueiras, tido na época como o melhor cirurgião da “Boa Terra”.

Logo após a formatura, regressou a Aracaju, antes porém atuando por breve período em Itabaiana. Ingressou no corpo clínico do Hospital de Cirurgia ao lado de Bragança e O.Souza, compondo a primeira equipe realmente especializada em ortopedia e traumatologia do Estado. Depois se transferiu para o Hospital Santa Isabel, onde permaneceu até encerrar suas atividades profissionais. No Santa Isabel, Dr.Sobral montou seu consultório na área do pequeno ambulatório que funcionava no anexo do laboratório, que possuía três salas. A maior, logo na entrada, foi toda montada por ele. Foi o seu único e definitivo recinto, o consultório ortopédico onde atendia aos seus inúmeros clientes. Ao lado, havia o consultório da oftalmologia, ocupado por Álvaro Santana e Antonio Carlos, e no menor, funcionava o serviço de gastroenterologia, inicialmente ocupado por Wellington Ribeiro e depois por mim e Marcos Prado, onde fazíamos os exames proctológicos. Durante vários anos, tivemos uma convivência diuturna e fraterna nesse pequeno espaço da vida. Foi ali que aprendi a admirá-lo, ao ouvir suas histórias e aconselhamentos. Durante mais de 20 anos, a ortopedia de Sergipe esteve nas mãos dos três esculápios, somente mais tarde foram chegando os novos como Marcelo Villasboas e outros. Então falar de ortopedia em Sergipe nessas décadas era falar de Bragança, Osvaldo e Sobral, sendo que os dois últimos foram os primeiros professores da disciplina na nossa Faculdade de Medicina fundada em 1961, Sobral auxiliando O.Souza. Bragança comandou a disciplina de cirurgia. Idealistas e humanitários, ensinaram de graça, sem nada receber, por dois anos. Por suas mãos e ensinamentos, formou-se toda uma geração de ortopedistas. Ingressou nos quadros do antigo IAPI no setor de perícias e prosseguiu assumindo diversas funções no órgão e acompanhando suas diversas transformações ao longo do tempo, até se aposentar.

Comentava-se muito à época que existia uma rivalidade entre ele e Osvaldo, uma rixa antiga, ressentimentos e mágoas. Pura conversa. Eram dois profissionais que tinham seus estilos próprios mas ambos com a mesma e sólida formação moral. Quando o Departamento de Medicina da nossa Universidade, sob o comando de Fernandinho Maynard, promoveu uma série de homenagens aos seus professores pioneiros na ortopedia e cirurgia, coube a Sobral fazer a saudação a Osvaldo, numa bela peça de oratória que revelou o seu lado humano e grande preparo cultural e científico.

Em 1958 José Sobral casou-se com Dona Maria Quitéria Fontes Sobral e teve 2 filhos, Sérgio José Fontes Sobral, nascido em 1962, analista de sistemas e Mércia Maria Fontes Sobral de Oliveira, em 1965.

Nas horas de lazer, preenchia o seu tempo com a música e o cinema, de preferência no recesso de seu lar ao lado da sua querida esposa. Quando instalamos o Cineclube da Sociedade Médica, em 1995, 1996, não sei bem, ele foi um dos seus mais assíduos freqüentadores e sempre me indicava títulos para serem exibidos.

O que guardo na memória de Sobral é a sua simplicidade e generosidade, de um ente despojado de vaidade e inveja, estando presente para ajudar ou colaborar com todos, um amigo dos amigos, valorizando quem devia ser valorizado e criticando que deveria ser criticado, participando enfim da boa luta.

Confidenciou-me a sua querida e única irmã, a Sra.Josefa Sobral que, quando do correr da aposentadoria, em função do afastamento de suas atividades e do convívio com os colegas, ele comentava abatido que não tinha mais amigos, que não teria sido um vencedor por não ter acumulado riquezas. Ledo engano. Não só tinha amigos, possuía admiradores. Não acumulou fortuna financeira, mas sim um patrimônio moral intangível. Milhares de pessoas encontraram em suas mãos a cura de suas doenças e o lenitivo para os seus males. Nós que convivemos mais de perto e principalmente essas pessoas, que se beneficiaram com sua conduta, sempre guardarão na memória o seu exemplo de vida. Sobral se foi, mas deixa um legado de realizações em prol da medicina de Sergipe.

Texto e imagem reproduzidos do site: infonet.com.br/lucioprado

Postagem originária do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 24 de março de 2015.

Zé Peixe recebe o busto no Cantinho da Arte da Unimed em 2006

Zé Peixe recebe o busto no Cantinho da Arte da Unimed em 2006.

Infonet - Blog Lúcio Prado - 28/04/2012.

Um mês para esquecer.
Por Lúcio Antônio Prado Dias.

Por quê não vai embora de vez, abril? Que mal lhe fizemos para que trouxesse tantos dissabores? Por quê essa compulsão em tirar do nosso convívio pessoas tão queridas e admiráveis? Tudo no seu mês, abril! Vá logo embora, deixe maio chegar, que por certo será mais benevolente.

Primeiro foi tia Azilda Sobral, que se foi, serena, digna... em vida, exemplo de bondade e doçura. Depois, no dia seguinte, Luiz Antonio Barreto, querido amigo, uma vida inteira dedicada à cultura e à história de Sergipe. O maior historiador de Sergipe, o que sabia mais coisas e dividia tudo que sabia com todos, só não sabia uma coisa: como fazer para não ser explorado (e como foi!). Compartilhei com Luiz muitos cafezinhos e conhecimentos, ele sempre me completando. Se existe alguém insubstituível, esse é Luiz Antonio Barreto.

Abril também leva Walmir, fotógrafo, cinegrafista, aviador, que registra com suas lentes os principais acontecimentos de Sergipe e o cotidiano da cidade, na segunda metade do século XX. Num gesto de decepção e desespero, ele destrói o seu maravilhoso acervo, por culpa da insensibilidade das autoridades desmemoriadas. Morre triste por não deixar a sua obra perpetuada.

E o que dizer de Róbson dos Anjos, pioneiro do turismo em Sergipe, comandando as primeiras excursões turísticas através de sua empresa. Não é que abril também resolve levá-lo para outras paragens? Não satisfeito ainda, esse famigerado abril registra o falecimento do engenheiro civil Walmick Bomfim, filho do saudoso professor Lourival Bomfim e irmão do nosso confrade da Academia Sergipana de Medicina Vollmer Bomfim e, insaciado, a do professor Cândido Pereira, um dos pioneiros no ensino da educação física em nosso estado. Tive o privilégio de ser seu aluno nos primeiros anos da Faculdade. Depois se tornou advogado, sempre amante das artes, um cavalheiro.

Quando tudo fazia crer que as más notícias de abril parariam por aqui, eis que um novo registro abala a cidade: a morte de José Martins Ribeiro Nunes, ou melhor, de Zé Peixe, 85 anos, homem do mar, herói do povo. Tivemos a oportunidade de homenageá-lo em duas ocasiões, durante a nossa passagem pela diretoria da Unimed. Em 2001 publicamos o livro “Zé Peixe”, com texto de Ilma Fontes e fotografias do saudoso “amarte” Dinho Duarte, na série "Os Danados". Em 2006, no Cantinho da Arte, presenteamos o nosso “peixe” com um busto em gesso, na cor dourada, em marcante solenidade que foi prestigiada pelo secretário Estadual da Cultura José Carlos Teixeira.

Por isso peço-lhe, encarecidamente, detestável abril, vá embora logo, deixe maio chegar, trazendo alegrias e a esperança de dias melhores.

Texto e imagem reproduzidos do site: infonet.com.br/lucioprado

Postagem originária da página do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 24 de março de 2015.

Inauguração da sete do Clube Itabaiana

Lourival Baptista (ao centro), Paulo Barreto de Menezes e
dirigentes do Itabaiana na inauguração da sede do clube
Foto: Divulgação.
Reproduzida do site: g1.globo.com/se/sergipe

Postagem originária da página do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 24 de março de 2015.

Artesanato Sergipano

Artesanato Sergipano.
Foto: Edinah Mary da Seides.
Reproduzida do Facebook/E-Sergipe Governo de Sergipe.

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 24 de março de 2015.

Antiga foto do Bar, Restaurante e Boite Cacique Chá

Antiga foto do Bar, Restaurante e Boite Cacique Chá,
no Parque Teófilo Dantas, em Aracaju/SE.
Foto: acervo Mário Britto.
Reproduzida do Facebook/Linha do Tempo/Mário Brito.

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 25 de março de 2015.

terça-feira, 24 de março de 2015

Memória de Post do MTéSERGIPE, de 21/03/2015

Amaral Cavalcante

Hernane, o performático

O ator Hernane Freire era tudo o que queria ser.

Hunfrey Bogart de capote e chapéu panamá na porta do Cine Brasil, em Simão Dias; Elvis Presley requebrando a novidade do Rock in Rooll no coreto da praça - o precário pimpão desabando na testa; era também um furibundo Fausto dos infernos danando-se nos becos, o esmoler de Gogol, a Cantora Careca de Yonesco, o príncipe da Dinamarca enfiando os dedos na caveira do papai.

Hernane era um pachá declamando o Rubaiyat, era Alice no país das maravilhas – o sapatinho de cetim atolado na sarjeta, a profusão dos babados espargindo arte nas calçadas da cidade.

Hernane foi o primeiro ator performático que eu conheci, ainda nos anos 1950, vivendo a louca ilusão da glória que inventara para si, depois de atuar como figurante numa ocasional filmagem na Bahia. Consta que ao voltar para Simão Dias a cidade não entendeu a extensão do seu grande feito artístico e isto o levou ao desvario.

Aos sábados ele armava uma Broadway na porta do seu cafofo, situado num beco de pedras lavadas a caminho da feira. Escancarava o janelão ao distinto público - geralmente meninos de carrego empurrando carinhos de rolimãs em busca de trocados - e impunha ao crestado olhar dos circunstantes, a maravilha dos seus brilhos rebordados, a fantástica ilusão do seu guarda roupa Hollywoodiano. Num dia era Poseidon, o colosso de Rhodes ricamente vestido e noutro, era Quasimodo aos farrapos, saltando divertido entre gárgulas.

Hernane era o que queria ser!

Adotara o pseudônimo de Terry Dymm, seu nome artístico venerado na distante Hollywood, jurava ele. Aguardava um telegrama a qualquer momento, chamando-o ao set. Tinha deixado em Bel Air, na Califórnia, a cinematográfica mansão que nos mostrava, em foto, numa velha Revista Variety caindo aos pedaços. Ficara em Simão Dias por condescendência à família, aguardando o chamado do seu agente, um feitor de talentos nos estúdios Paramount, que acertaria, à custa de propinas e jantares, o seu definitivo estrelato num filme produzido em CinemaScope, onde ele haveria de demonstrar a Simão Dias e ao mundo o seu irrefutável talento.

Enquanto o telegrama não vinha, gozando férias que durariam toda a minha infância, ele colhia parcos aplausos nos becos de Simão Dias e só tinha por si um fã esperançoso e devotado, que era eu.

Enfiando a cabeça pela janela, eu via extasiado o fantasioso mundo de Hernane. Estava tudo lá em calhamaços de papel almaço, tim-tim por tim-tim, escritos à mão: roteiros inacabados, skets, cenografias em croquis a crayon e lápis cera, figurinos rebuscados, cópia de contratos legais parecendo autênticos, consignações e arrazoados, tudo doidamente real e tão convincente que bastaram para conquistar minha devoção.

Hernane Freire foi o mais fulgurante astro da minha meninice.

Amaral Cavalcante – abril/2010.


Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 21 de março de 2015.

sábado, 21 de março de 2015

Morre Dr Hugo Gurgel


Morre Dr Hugo Gurgel

Por NE NOTÍCIAS, da redação

Morreu na madrugada desta quinta-feira, 19, o obstetra Hugo Gurgel.

O médico foi pioneiro nas clínicas Santa Lúcia e Santa Helena, em Aracaju.

Seu corpo será sepultado às 16 horas, na Colina da Saudade.

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 19 de março de 2015.

Homenagem a Dr. Hugo Gurgel (1922 - 2015).



Histórico da Clínica Santa Helena.

Em maio de 1975 era inaugurada a Clínica Santa Helena. Resultado de um sonho do nosso fundador Dr. Hugo Gurgel e de sua esposa Lúcia Gurgel com a valiosa ajuda do construtor João Alves Filho.
Iniciava-se a partir de então, um marco na história da medicina sergipana, repleta de realizações e amor ao próximo.

Buscando sempre inovar e dar o melhor quando se trata de saúde e responsabilidade, a Clínica Santa Helena tem demonstrado porque é líder no mercado em Sergipe. Ao ser inaugurada o seu projeto inicial era apenas obstetrícia. Com o passar dos anos, estendeu-se para a área ginecológica e, assim, criamos uma instituição que atende a toda classe feminina.

Muito mais do que em tamanho, a Santa Helena cresceu em qualidade e segurança. O nosso objetivo é continuar o trabalho sério, pioneiro e inovador que temos realizado há 39 anos para merecer a confiança de todas as mulheres sergipanas.

Conheça a biografia do nosso fundador - Dr. Hugo Gurgel.

Natural da cidade de Lavras da Mangabeira no Estado do Ceará, Hugo Bezerra Gurgel nasceu em 28 de agosto de 1922. Filho do comerciante José de Aguiar Gurgel e de Dona Maria Bezerra Gurgel.
Com o querido pai aprendeu que é preciso o máximo de todos os esforços para cuidar da educação dos filhos. Da exemplar mãe que teve, herdou o temperamento de brandura e paciência.

Os primeiros estudos aconteceram na sua cidade natal, complementados com o curso ginasial como aluno interno do Colégio Cearense na cidade de Fortaleza.

Pela presença do primo Onório Bezerra, estudante de Engenharia na cidade de Salvador, aliado a determinação de partir para uma carreira profissional fora do Ceará, por terríveis cenas que presenciou ainda menino da seca de 32 que aniquilou o Estado, deixa suu terra de origem e parte para Bahia, já pensando em se preparar para fazer o vestibular de Medicina. Chega à terra dos santos e mil e um axés em 1946.

Da seca de 32 no Ceará: "Isso me impressionou muito. À medida que ia crescendo, eu ia dizendo que jamais eu me formaria para trabalhar no Ceará".

Do desejo de ser médico: "Veio naturalmente. Na minha adolescência sempre admirei muito o médico. Com essa admiração veio a vocação. Naquela época, se tinha um médico, sobre tudo numa cidade do interior; com muito respeito. De qualquer maneira, ele era um ídolo. Realmente, é uma profissão que só faz mesmo servir o ser humano".

Hospedado em república na proximidade do bairro Rio Vermelho, para garantir despesas com livros e até mesmo de cunho pessoal, passa a dar aulas particulares, faz dois complementares (já que na época não existia o curso científico) no Colégio Marista. Defronta-se com o vestibular em 40 e sente o sabor de vitória na publicação do resultado.

Formado em 1946 tem espaço de trabalho garantido na cidade de Aracaju por fato interessante da sua vida. Primeiramente estava disposto a começar vida de médico na cidade de Curitiba, inclusive, já tinha feito contato com companheiros de faculdade que também estavam dispostos a acompanhá-lo, além de dispor de uma certa economia, pois em todo o momento em que morou em Salvador, ficou restrito aos estudos e ao trabalho de residente.

"Nunca fui a um carnaval e só tomei férias duas vezes. Era dedicado exclusivamente à medicina".
Dez dias antes de se formar, pela visita a Salvador do médico Benjamin de Carvalho, então diretor do Hospital de Cirurgia de Aracaju, ao médico Almir Oliveira, professor de Obstetrícia e também diretor da Faculdade da Maternidade, Climério de Oliveira, a procura de um médico para atuar na maternidade sob o seu comando, Hugo recebe indicação do seu mestre, amigo e ídolo. A proposta partida do seu querido professor e veiculada com mais uma promessa, tornou-se irrecusável. Curitiba ficaria para uma outra oportunidade.

"O professor Almir de Oliveira que era o meu pai, me convenceu quando me disse: você vai morar em Aracaju, vai morar numa maternidade para ser o seu médico residente, faça a sua tese e com seis meses você volta a salvador para apresentá-la que eu vou ser o responsável pela direção. Como conquistar um mestrado naquele momento era um momento palpável, tornou-se um agrupamento que realmente me convenceu, já que não iria sair de Salvador para uma aventura. Quatro meses depois ele morreu e eu por aqui fiquei".

Formatura acontecida no dia 11 de dezembro de 46 e chegada em Aracaju para trabalhar na Maternidade Francino Melo, do Hospital Cirurgia, no dia 10 de Janeiro de 47.

Sua permanência em Aracaju foi garantida por uma boa receptividade e perspectiva de uma carreira promissora pelo campo de trabalho completamente aberto.

"Verifiquei que a Obstetrícia ainda não estava atualizada, porque o Dr Augusto Leite era forçado a fazer na qualidade de cirurgião, intervenções. Eram mais clínicos gerais. O primeiro médico obstetra mesmo fui eu".

A permanência como médico duraram dois anos e alguns meses, em vista da montagem do primeiro consultório na Rua João Pessoa, edifício da Casa Cristal. Não teve problema de conquistar uma razoável clientela de imediato, pois só assim procedeu na mudança de vida profissional, após um bom tempo de residente, fortalecido pelo conceito que tinha perante a classe médica, responsável por inúmeras indicações. O tempo de folga da época de solteiro era preenchido com animadas conversas acontecidas na Ponte do Imperador, com dois amigos que conquistou. Lauro Porto e Clóvis Conceição.

É testemunho vivo de todo o processo da Obstetrícia em Sergipe, sendo o primeiro obstetra a fazer cesárea em Sergipe.

"O Dr Augusto Leite era quem fazia as cesáreas. A técnica dele era superada. Quando eu acabei de fazer a primeira em Sergipe, fazendo uso da experiência de outras do tempo da maternidade de Salvador, Dr Augusto chegou e me disse: eu senti um alívio, pois para mim era um sacrifício muito grande".

Hugo dá continuidade à sua clínica em sala que adquire no Edifício do Hotel Palace, passa a trabalhar no IAPC, conquista de emprego por concurso e segue em frente sua carreira.

Dispondo de uma clínica de muito movimento, pensa na possibilidade de partir para um empreendimento via construção. Em sociedade com o sogro Manelito Aguiar, o amigo e médico Gileno Lima e mais outro médico Ciro Tavares concretiza o sonho com a inauguração da primeira clínica particular em Sergipe exclusivamente para obstetrícia e ginecologia.

Mais adiante se retira da sociedade e monta a clínica Santa Helena, agora, com participação exclusiva da família. Fez parte da fundação da faculdade de Medicina de Sergipe e teve na faculdade uma outra história de vida. Só deixou a sala de aula por conta da aposentadoria.

Tem título de Cidadão Sergipano e faz bom proveito dos tempos de folga para desfrutar da fazenda de coco que possui na foz do Rio São Francisco. Foi fundador da Sociedade Médica de Sergipe e seu presidente por dois períodos, presidente do Clube dos Médicos e o primeiro presidente do Conselho Regional de Medicina.

O consultório, clientela e tudo mais, passaram para filha Eline.

"Ter uma filha como continuidade do meu trabalho é um orgulho".

Casou com Lúcia Menezes em 52. É pai de quatro filhos: Eliane, Eline, Ana Paula e Hugo Filho. Tem 11 netos e três bisnetos. Tem como genros: Marcelo, Josan, José Augusto e Sílvia.

Texto e imagem reproduzidos do site: clinicasantahelena.com.br
Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 19 de março de 2015.

quinta-feira, 19 de março de 2015

Aracaju 150 anos + 3

Catedral Metropolitana em 1907 (foto)

Infonet - Blog Luíz A. Barreto - 20/03/2008.

Aracaju 150 anos + 3.
Por Luíz Antônio Barreto.

Aracaju, no dizer do eminente e saudoso professor Fernando Porto, foi uma vitória da geografia. Áreas baixas, alagadas, inóspitas à vida humana, que sequer pouparam o Presidente da Província – Dr. INÁCIO JOAQUIM BARBOSA -, que fundou a cidade e a fez capital por uma mesma Resolução, a de nº 413, de 17 de março de 1855, foram transformadas num canteiro de obras, graças a atuação de engenheiros militares, servindo à Província, a começar por Pirro, que morava, de alguns anos, na Barra dos Coqueiros, e conhecia os problemas principais da Província.

Em 1855 Aracaju era uma região dividida em poucas partes: Tramanday, para o sul, fixava os limites na área da atual Praia 13 de Julho; Olaria, equivalente hoje ao centro, banhada pelo rio Sergipe, e cercada de dunas, a oeste; e Massaranduba e Santo Antonio, ao norte, regiões distintas, uma, junto ao rio Sergipe, tomou, mais tarde, dois nomes: Praia do Tecido, em alusão à Fábrica Sergipe Industrial, e Chica Chaves, zona de chácaras, a outra, mais antiga, tinha núcleo na colina de Santo Antonio, onde uma igrejinha existia desde o século XVIII. Tais partes garantiram, em 150 anos + 3, os limites do desenvolvimento urbano da cidade.

A economia da Província indicava que a riqueza açucareira estava concentrada na produção dos engenhos dos vales dos rios Cotinguiba e Sergipe, exigindo um porto para movimentar as cargas de exportação do açúcar e de importação dos gêneros necessários ao abastecimento da população sergipana. A Alfândega, repartição que anotava o movimento econômico provincial, já estava as margens do estuário do rio Sergipe, antecipando os fatos. Aracaju, então, é também uma vitória da economia, como atestaria a sua capacidade de adaptação aos ciclos produtivos.

Embora a Resolução da mudança da capital estabelecesse que núcleo fundante da nova cidade fosse o Povoado do Santo Antonio, os engenheiros que projetaram Aracaju, chefiados pelo capitão Sebastião Basílio Pirro, escolheram a área da Olaria para traçar praças e ruas, construir todos os equipamentos necessários ao ordenamento da vida urbana, estabelecendo os espaços para as repartições públicas, igrejas, casario residencial, prédios comerciais, enfim edificar um burgos que nascia destinada a servir de ponto de convergência de toda a Província. Um conjunto de obras fundamentais deu a Aracaju uma planta, construções militares e civis, praças e ruas em quadras simétricas, com feição de um tabuleiro de jogo de dama ou de xadrez, fontes, moradias, serviços públicos, fazendo florescer um planejamento urbanístico, ainda hoje considerado no planejamento das administrações.

Nos primeiros anos as obras de Aracaju eram custeadas pelo Império, com a participação, gradual, da Província. Com a Proclamação da República, em 1889, o Estado passou a arcar com a maior responsabilidade das obras públicas, contando com o apoio financeiro do Governo da União e com o esforço da Intendência Municipal.

A atual praça Fausto Cardoso, que já teve os nomes de Praça do Mercado, Praça do Palácio, Praça da República) serviu de peão de ordenamento para o levantamento da planta de construção da cidade de Aracaju. A idéia era, partindo da margem do rio Sergipe, traçar 10 quadras com trechos de 100 a 110 metros, nos três sentidos: norte, oeste e sul. E assim foi feito, salvo em direção oeste, por causa dos morros e dunas de areia, comuns e que foram, à época, intransponíveis. O exemplo foi o Morro do Bonfim, que esperou 100 anos, de 1855 a 1955, para ser desmontado, permitindo o agenciamento de uma área central.

A primeira das obras foi o Palácio provisório, construída na esquina da praça com a rua da Aurora, atual avenida Rio Branco, e que além de servir de sede do Governo provincial foi transformado, poucos anos depois, para servir de Paço Imperial e hospedar o Imperador Pedro II, a Imperatriz e comitiva, que visitaram Aracaju em janeiro de 1860. O imponente edifício ficou incorporado à cidade e conhecido como a sede da Delegacia Fiscal, repartição federal.

O Palácio do Governo, a Assembléia Legislativa e a Ponte do Imperador foram obras fundamentais na mesma praça. O Palácio, concluído na década seguinte e reformado em 1920, a Assembléia, edificada nos terrenos inicialmente destinados à Igreja Matriz, e a Ponte do Imperador, construída para ser o ancoradouro da visita imperial a Sergipe continuam, com algumas alterações, testemunhando o projeto de construção da cidade, como ícones referenciais.

Para o norte, três quadras surgiram entre as praças Fausto Cardoso e General Valadão (que antes chamou-se Praça da Cadeia e depois Praça 24 de Outubro), fazendo florescer a rua da Aurora, beirando o rio Sergipe e as ruas Laranjeiras e São Cristóvão, transversais que cresceram em direção oeste, abrigando casas comerciais e residências. Na praça General Valadão foram construídas a Cadeia Pública, hoje Palácio Serigy, sede da Secretaria da Saúde, e o Quartel da guarnição federal, que demolido cedeu terreno para as obras do Hotel Paláce de Aracaju, concluídas em 1962, e do Edifício Estado de Sergipe, inaugurado em 1969.

A primeira igreja da capital sergipana foi a Casa de Oração São Salvador, construída na rua do mesmo nome, atual rua de Laranjeiras, na esquina com a rua do Barão (Barão de Maroim- João Gomes de Melo), depois Japaratuba e desde 1930 rua João Pessoa. Mandada construir por Inácio Barbosa, mas inaugurada pelo Presidente Salvador Correia de Sá e Benevides,que lhe deu o nome, a Casa de Oração serviu de Matriz por alguns anos, até a edificação da Matriz, hoje Catedral, na praça que hoje leva o nome do seu ex-vigário, o Monsenhor Olímpio Campos.Ao visitar Aracaju, Dom Pedro II fez um périplo de visita às muitas obras, demorando-se em ouvir relato sobre cada uma delas.

Na praça Olímpio Campos foi construída, também, a sede do Tribunal de Relação do Estado de Sergipe, terminada em 1894 e inaugurado em 1895, e que agora, nominado Palácio Silvio Romero, serve de sede ao Memorial do Poder Judiciário. Convém fixar que em tais locais houve aterros e florestamentos, que se prolongam ainda hoje, em outras áreas para onde a cidade cresceu.

Para o sul, pela mesma rua da Aurora, surgiram algumas edificações essenciais, como o Quartel da Polícia, onde mais tarde o Presidente Graqccho Cardoso construiu o prédfio do Ateneu Pedro II, o Hospital de Caridade, e a Escola de Aprendizes Marinheiros, que décadas depois foi convertida em Capitania dos Portos. A Fundição, os clubes Sergipe e Cotinguiba, e o Depósito de Inflamáveis (onde está hoje o Iate Clube de Aracaju), além de outras construções, levaram Aracaju ao sul.

Na virada do século, iluminada a gás, ainda dependendo das fontes para o seu abastecimento, Aracaju começa a ser pavimentada, em suas ruas centrais, ganha um Teatro, o Carlos Gomes, situado na antiga rua Japaratuba (João Pessoa), transformado em Cine Teatro Rio Branco, e deixa de lado projetos de outras construções, com os quais sonhou nos seus primeiros cinqüenta anos de vida.

Aracaju recebeu diversos melhoramentos, que contribuíram para tornar-se uma cidade mais bonita, dinamizando a sua vida social. Os serviços de transporte fluvial ligando a capital a Laranjeiras, Riachuelo, Maroim e Santo Amaro, o transporte urbano, com os bondes à tração animal, percorrendo as ruas da cidade desde 1908, e a partir de 1926 bondes elétricos, unindo o centro aos bairros Industrial, Santo Antonio e Cirurgia, os trens, com sua estação na avenida Coelho e Campos, ligando Aracaju a Salvador em 1913, seguindo para Propriá, a partir de 1915, a Escola Normal, construída nos padrões mais modernos da pedagogia, contando com um Grupo Escolar anexo, o primeiro a ser construído na capital sergipana, a luz elétrica, iluminando as ruas, a partir de 1913.

O Governo de Siqueira Menezes, velho republicano, general de Canudos, aumentou o número de obras fundamentais, como o Horto Florestal, grupos escolares, um deles transformado no Quartel de Polícia, à rua Itabaiana, o prédio da Biblioteca Pública, atual Câmara de Vereadores, e foi seguido por outras administrações empreendedoras, especialmente a de Graccho Cardoso, responsável pela construção de grupos escolares, do Instituto de Química, do Instituto Pareiras Horta, da Penitenciária Modelo, do Mercado Modelo, ou Antonio Franco, da Intendência (Prefeitura) Municipal, da Caixa d´Água, dentre outros.

Na década de 1930 surgiram outras obras fundamentais, como o prédio da Biblioteca Pública, na praça Fausto Cardoso, onde está sediado o Arquivo Público, o do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, onde foi instalada a Rádio Difusora, a Ponte sobre o rio Poxim, todas na gestão de Eronídes de Carvalho.

O Mercado Thales Ferraz, o Instituto de Tecnologia e Pesquisas de Sergipe, o novo prédio do Colégio Ateneu, a abertura da rua de Laranjeiras, unindo o centro de Aracaju ao bairro Siqueira Campos, a abertura da estrada Aracaju –Atalaia, pelo Raposo (Sementeira), ampliaram a cidade, sendo obras de grande valor, executadas pelo governador José Rollemberg Leite, que administrou o Estado de 1947 a 1951, auxiliado pelo prefeito Marcos Ferreira de Jesus.

O Parque de Exposições, o Conjunto residencial Agamenom Magalhães e o Auditório (Teatro) do Colégio Estadual Ateneu Sergipense, foram obras do Governo Arnaldo Garcez, que dotaram Aracaju de equipamentos necessários ao seu progresso como capital.

A cidade toma ares europeus, com os bangalôs construídos em várias ruas, pelo engenheiro alemão Altenech. Hotéis, bares, restaurantes, sorveterias, casas de espetáculos, dinamizam a vida social da capital sergipana. Ruas movimentadas, porto visitado, regularmente, por navios nacionais e estrangeiros, trens indo e vindo, aviões aportando nos flutuantes do rio Sergipe, ou na pista de barro do Campo de Aviação, marinetes e ônibus facilitando o contato das populações interioranas, davam atestado de êxito ao projeto de construção de Aracaju, ao completar 100 anos. (continua).

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Infonet Blog Luíz A. Barreto - 28/03/2008.

Aracaju 150 anos + 3 (II)
Por Luíz Antônio Barreto.

O desmonte do Morro do Bonfim, imensa duna que sobreviveu um século no meio da planta de Pirro, fornecendo areia para os aterros da capital, foi a mais importante obra pública do ano do Centenário. O Governador Leandro Maciel repetiu outros governantes do Estado, que terminaram deixando grandes contribuições na modernização da cidade de Inácio Barbosa. Além de construir o novo prédio da Escola Normal – Instituto de Educação Rui Barbosa -, de construir a estrada de acesso asfáltico à cidade, pela atual Avenida Osvaldo Aracaju, Leandro Maciel fez a estrada Aracaju-Atalaia, a Ponte Presidente Juscelino, sobre o rio Poxim, a estrada Atalaia-Aeroporto, asfaltada, que permitiu a instalação do Aeroporto Santa Maria, inaugurado em janeiro de 1958, em substituição ao Campo de Aviação, e abriu, ainda, a estrada Atalaia-Mosqueiro.

Sem o Morro do Bonfim e com acesso ao mar, Aracaju deu um salto na consolidação do seu projeto de cidade planejada. O centro foi convenientemente agenciado e serviu ao comércio, recebendo obras de vulto como a Estação Rodoviária, construída no Governo Luiz Garcia. A Atalaia passou a ser uma área, atraente, de expansão urbana, consolidada duas décadas depois, com o projeto do Bairro Coroa do Meio, que recebeu nova Ponte, a Godofredo Diniz, sobre o rio Poxim. Aracaju deixava de ser uma cidade apenas ribeirinha, para ganhar e incorporar o mar, para onde levou toda uma estrutura de lazer e entretenimento. Prédios imponentes, públicos como o Edifício Walter Franco, o Hotel Pálace de Aracaju, particulares como os edifícios São Carlos, na Praça Fausto Cardoso e Atalaia, na Avenida Ivo do Prado. Antes de terminar a década de 1960, Aracaju ganhou o edifício Estado de Sergipe, de 27 andares, e o Estádio Lourival Baptista, o Baptistão.

Nos anos seguintes foram abertas avenidas estruturantes e construídas obras que podem ser consideradas fundamentais para manter, sob o ordenamento original, o crescimento da cidade. A zona sul foi a que mais cresceu, a partir do Bairros São José, Grageru e 13 de Julho. Novamente seria preciso aterrar velhos mangues e córregos, para a abertura de ruas e a edificação de casas e prédios de apartamentos. Paralelamente a obras públicas, como o Ginásio de Esportes Constâncio Vieira, a Biblioteca Epifânio Dória, ambos na continuação da Rua Vila Cristina, surgiram centenas de casas, a partir do Conjunto João Alves, e dezenas de edifícios de apartamentos, que se tornaram conhecidos como “Norcolândia.” A nova Avenida Francisco Porto (Saneamento) encheu-se de casas e de prédios e sua continuação, Avenida Gonçalo Rollemberg (Nova Saneamento) levou, na direção oeste, um grupo enorme de condomínios de apartamentos. Na região do Bairro São José proliferaram as clínicas e pequenos hospitais, consultórios, lojas, dinamizando o crescimento, sempre mantido o bom gosto das construções.

Por qualquer ângulo que seja vista e para qualquer direção que o olhar seja lançado, Aracaju cresceu mantendo exemplares de uma arquitetura eclética, que chama a atenção dos estudiosos. Da zona norte, onde estão as moradias mais simples, para a zona oeste, onde o Bairro Siqueira Campos funciona com vida própria e expande sua influência para outras áreas, o ritmo de construção aponta para um tipo novo de moradia, o de dois e até três pavimentos, melhoria física que permite maior conforto, mantendo as famílias reunidas. Para a zona sul, por todos os caminhos, Aracaju atravessou o bairro de Atalaia e encostou suas construções, principalmente condomínios, nos rios que antes banhavam a zona rural da capital. Robalo, São José, Gameleira, Areia Branca, Terra Dura, Arrozal, Aloques, eram povoados que foram incorporados ao crescimento urbano da cidade, ao lado do mar, onde a Rodovia José Sarney pontifica como um caminho turístico para o sul, até a foz do rio Vaza-Barrís, que em breve ligará com o município de Itaporanga, a fronteira que falta para garantir o futuro da capital sergipana.

A visão de 2005, que incorpora avanços fantásticos, atesta a capacidade de crescer de uma cidade que tanto mais velha fica, mais bonita se apresenta aos olhos de todos, dos de casa e dos que chegam, atraídos pela riqueza cultural que o turismo promove. O Bairro Jardins é o melhor exemplo, pois reúne tudo o que se pode afirmar de Aracaju: beleza, classe média forte, bom gosto na moradia, convivência civilizada. É evidente que a cidade continua com problemas sérios, antigos, desafiando as autoridades. É certo que a capacidade de investimentos, responsável pela construção da Ponte Construtor João Alves, ligando Aracaju e Barra dos Coqueiros e ao Porto, a Pirambu e daí em diante, ou pela construção do Viaduto Jornalista Carvalho Deda, que são duas obras que enchem os olhos de todos, não tem seqüência em outras ações, como a de pavimentação da Atalaia, o asfaltamento das ruas movimentadas do Bairro Siqueira Campos e outras obras de saneamento, embelezamento e florestamento, que desde 1855 são necessárias e essenciais à sobrevivência de Aracaju, não mais como um projeto de engenharia, mas como uma bela e bem realizada realidade, produto do sonho, da competência, do empenho e do trabalho de todos os sergipanos.

O futuro já chegou e causa preocupações. O caso mais grave é o do trânsito, onde a peleja diária dos motoristas, motociclistas e ciclistas em tráfego pesado, ruas estreitas, além de vícios e privilégios que complicam a solução dos problemas. O doublé de médico e político Antonio Samarone, estudioso das condições sanitárias de Aracaju, tem tocado em cada um dos problemas, e tentado ordenar o trânsito, pela SMTT, de forma a tornar menos estressante a locomoção pela cidade. Há ganhos visíveis nas suas ações, mas há obstáculos, de várias etiologias, dificultando o trabalho do professor Samarone, como, por exemplo, a contínua entrada de novos carros, em grande quantidade mensal, para circularem no mesmo traçado e nas mesmas e acanhadas ruas de Pirro e de outros, continuadas com as mesmas dimensões, ao longo da história de 153 anos. E mais: a falta de áreas e prédios de estacionamentos, a saturação de certas zonas, onde o transporte coletivo concorre para o caos, como no centro comercial da cidade, e a falta de vias de escoamento rápido, do centro para os bairros e para as áreas de expansão residencial, nos municípios de Nossa Senhora do Socorro e São Cristóvão, e de equipamentos, como viadutos, pontes, vias expressas, e formas alternativas de transporte de massa.

Texto e imagem reproduzidos do site: infonet.com.br/luisantoniobarreto

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 15 de março de 2015.

quarta-feira, 18 de março de 2015

Aracaju... Sempre Aracaju

Foto de André Moreira.

Aracaju... Sempre Aracaju.
Por Lygia Prudente.

Hoje é seu dia Aracaju. A sua jovialidade está estampada na relação de amor com o seu povo, indiferente aos 160 anos que hoje comemora. Fui testemunha do seu desenvolvimento, evidente há alguns poucos anos, e por isso posso dizer que cresci com você. E muitas lembranças vêm à tona, com a alegria contagiante da juventude, trazendo na memória os recantos aprazíveis e marcantes da nossa cidade, que favoreceram as paqueras e os namoros da nossa geração.

A retreta na Praça Fausto Cardoso, que por conta das normas ainda provincianas, encerrava-se as 21 horas; a missa das 19 horas na Catedral Metropolitana, no Parque Teófilo Dantas; as matinês do Cinema Palace; o rolete de cana vendido na esquina da Praça Fausto Cardoso com a rua de Pacatuba; a feirinha de Natal, com o Carrossel do Seu Tobias. 

As lembranças são muitas e, apesar de buscarmos no passado as sensações de outrora, vivemos a sua maturidade com igual orgulho, valorizando de igual forma o que se nos apresenta de novo. O retrato do progresso através dos shoppings, Riomar e Jardins, a Passarela do Caranguejo, o Mercado com seu colorido contagiante, os pontos de encontro e alegria nos bares que margeiam a orla; a praia de Atalaia, que lindamente emoldura o litoral.

Enfim, Aracaju, os filhos que se foram, na sua inquietude, em busca de outros horizontes, com certeza sentem saudades do seu jeito meio caipira de ser, acolhedor como qualquer casa de mãe, e voltam para matar a saudade, esporadicamente. Sinta-se hoje, no seu dia, querida, amada, abraçada.

Amamos você Aracaju!

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 17 de março de 2015.

segunda-feira, 16 de março de 2015

Luiz Gonzaga em Propriá

Luiz Gonzaga em Propriá/SE.
Aqui na companhia do seu amigo Pedro Chaves.
Foto: acervo de Pedro de Medeiros Chaves.
Reproduzida do blog: gazetadepropria.blogspot.com.br

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de  15 de março de 2015.

Pedro de Medeiros Chaves



Pedro de Medeiros Chaves, nasceu em Propriá/SE., em junho de 1900.

Eleito Prefeito de Propriá no ano de1950.

Ergueu o obelisco em comemoração aos 150 anos da emancipação política da cidade.
Foi o primeiro a dedicar uma praça no Brasil com o nome de Luiz Gonzaga, seu amigo...

Fonte: Blog gazetadepropria.blogspot.com.br

Fotos: acervo de Pedro de Medeiros Chaves.

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 15 de março de 2015.

Duas Pontes



Publicado originalmente no Facebook/Petrônio Gomes, em 12/02/2015.

Duas Pontes.
Por Petrônio Gomes.

Há alguns anos, pedi ao meu amigo e fotógrafo Lineu que colhesse para mim umas imagens de pontos tradicionais da cidade. Ele teve o cuidado de executar sua tarefa nas primeiras horas da manhã, evitando, assim, a interrupção do tráfego e aproveitando a iluminação do alvorecer. Coisa de artista, e Lineu era e é um artista. Dias depois, recebi em casa as fotos da igrejinha do Santo Antônio, do velho casarão dos Rollemberg, na rua da frente, e da Ponte do Imperador, entre outras. Guardo-as ainda comigo neste meu pequeno gabinete de trabalho, onde estão protegidas pelo meu ciúme.

Nada poderá ser dito a respeito da Ponte do Imperador, além do que está escrito na importante obra de Ana Maria Medina. Ali se encontra toda a história de sua construção, dos seus vários batismos e até de suas vicissitudes.

O que é fato é que a Ponte do Imperador ainda evoca a própria cidade quando surge num retrato, muito tímida, sobre o último trecho do rio preguiçoso. Quando menino, eu morria de inveja dos outros colegas corajosos que se atiravam de sua cobertura para o gostoso mergulho no rio, sempre que a maré alta coincidia com as tardes de domingo.

Durante os anos de minha ausência, no Rio de Janeiro, soube que haviam montado um bar ou uma sorveteria na Ponte, não me recordo direito. Mas todos aprovaram a ideia e a Ponte não foi diminuída com isto. Pelo contrário, não fora mais um tributo ao seu recanto poético? Uma ponte de brinquedo, que tinha medo de molhar os pés e que nunca levou alguém a lugar algum...

Depois, por uma iniciativa também nascida do bem que se quer à cidade, a Ponte chegou a ser transformada em um museu, o que não deixou, também, de ser uma atitude louvável. Mas não se pode tirar dela o que sempre representou, pelo menos para quem não se acanha de ter saudades.

Muitos anos mais tarde, uma segunda ponte foi inaugurada, bem acima de onde se encontra a primeira: um assombro de empreendimento que, por muitos meses, ocupou o tempo dos comentaristas e bisbilhoteiros de todas as épocas. Mas toda a cidade engoliu em seco, quando a esteira de luzes riscou a superfície do rio, abrindo um novo capítulo na história da cidade e do nosso Estado.

Ao contrário da Ponte do Imperador, construída para receber o Monarca e sua real comitiva, esta segunda ponte foi feita para mostrar ao Brasil que nosso pequenino Estado sabe o que quer e possui competência e tenacidade para consegui-lo.

Não vai muito distante o tempo em que a simples procedência nortista de alguém era considerada entre risos, levada no deboche. E ainda hoje não é muito raro encontrar-se uma pessoa no sul que ignore completamente as noções mais elementares de nossa geografia. Já fui perguntado, certa vez, se Sergipe ficava no Ceará...

Dentro de poucos anos, quando cessarem as marolas das paixões, a nova e bela ponte entrará tranquilamente nos anais dos grandes empreendimentos do Estado. Do alto de sua inegável imponência, ela estará, desde agora, a acompanhar a marcha do nosso progresso, enchendo nossos corações de justo orgulho.

Texto e fotos reproduzidos do Facebook/Petrônio Gomes.

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 12 de março de 2015.

Morre o médico pediatra Hyder Gurgel

Foto: Sindimed.

Infonet - Saúde - Noticias - 10/03/2015.

Morre o médico pediatra Hyder Gurgel
Sindicato dos Médicos lamenta morte do médico

Nesta terça-feira, 10, o Sindicato dos Médicos de Sergipe encaminhou nota sobre a morte do médico pediatra Hyder Gurgel.

“É com pesar que o Sindicato dos Médicos de Sergipe (Sindimed) comunica a todos o falecimento do médico pediatra Hyder Gurgel, ocorrido na manhã desta terça-feira, dia 10 de março. O Sindimed envia condolências a todos os seus familiares, ao tempo em que registra a grande perda para Sergipe, uma vez que doutor Hyder Gurgel, contribuiu muito com a medicina sergipana, em especial na pediatria”, diz a nota.

Texto e imagem reproduzidos do site: infonet.com.br/saude

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 10 de março de 2015.

Carta para Dr. Hyder


Publicado originalmente no Facebook/Lucio Prado Dias, em 11/03/2015.

Carta para Dr. Hyder.
Por Lúcio Prado Dias.

Aracaju, 10 de março de 2015.

Querido professor, confrade e amigo!

“Há um instinto de imortalidade na santidade. Aquele que vive com Deus sabe que viverá para sempre” ( Dom Estevão Bittencourt ).

A Academia Sergipana de Medicina curva-se diante do seu corpo inerte e seu pavilhão posta-se aos seus pés, em sinal de gratidão e respeito.Rejubila-se com o seu espírito que agora habita os tabernáculos do Senhor! Por entender a posição da Medicina na comunidade, você se tornou um líder de sua classe e um modelo de médico.

Como médico pediatra, ao lado de Machado e Paulo Carvalho, você foi um dos tripés da nossa Faculdade de Medicina tanto na sua fundação, quando lecionou por quase dois anos sem nada receber pecuniariamente e depois por longos anos com dedicação até a aposentadoria. Exerceu funções públicas com responsabilidade, probidade e zelo.

A sua recordação da Gruta do Boqueirão, em Lavras da Mangabeira, no Ceará, sua terra natal, encheu-nos de emoção quando o visitamos na semana passada, na companhia dos confrades José Hamilton Maciel Silva, Antônio Samarone, Anselmo Mariano Fontes e Geodete Batista, esses dois últimos colegas de especialidade. Já acometido da insidiosa enfermidade, você nos recebeu afetuosamente, denotando um humor e raciocínio apurados, apesar do abatimento físico, ao lado da companheira de toda a vida, a sua querida Rosa.

Estávamos naquele momento diante de um homem de origem humilde que, superando todas as dificuldades, constituiu uma sólida família em terras sergipanas e atingiu os píndaros da glória profissional, como pediatra, professor pioneiro da Faculdade de Medicina, empreendedor vitorioso, gestor engajado, que na condição de chefe do Departamento de Saúde de Aracaju criou, na década de 60, o primeiro centro de reidratação venosa do Nordeste brasileiro, sendo também um dos fundadores da Sociedade Sergipana de Pediatria e da Academia Sergipana de Medicina, da qual foi presidente, de 2001 a 2003 e um dos seus mais atuantes membros.

Sentimo-nos gratificados em ver você presente, calmo, de bem com a vida e a emoção que contagiou a todos naquele momento só não foi maior que a minha, em particular, pela oportunidade e o privilégio que tive de conviver com você, em torno da nossa Academia de Medicina, a “Casa de Gileno”, a sua Casa, Dr. Hyder,

Sei muita coisa de sua história, que você estudou Medicina na Bahia, formando-se em 1951. Que seu irmão Hugo, mais velho, já estabelecido em Aracaju como obstetra, puxa você para Aracaju, dois anos após a sua formatura. No Hospital Cirurgia, dividiu o atendimento das crianças com José Machado de Souza. Como professor pioneiro de pediatria, ensinou os seus conceitos de atenção à criança e, fato inusitado, incentivou também os seus alunos a economizar água, evitando desperdícios do precioso líquido, talvez por conhecer como ninguém as agruras de sua terra de origem, na luta contra a seca, como bem lembrou Antônio Samarone.

Que mais poderia desejar um homem, na face da terra, do que ter uma sólida família e o reconhecimento e admiração de seus colegas, ex-alunos, amigos e confrades, pelas realizações e conquistas? Muito pouco, Dr. Hyder!

Gostaria que você transmitisse algumas palavras à sua querida esposa, Rosa Queiroz Gurgel. Diga-lhe que, ao seu lado, ela foi um personagem ativo no trabalho diuturno na saúde pública e privada, construindo a dois uma história de realizações, superando com sabedoria e resignação os momentos adversos que encontraram pelo caminho. Soube muito bem conviver todos esses anos com a força da união, dedicados um ao outro com afeto, respeito e amor. Souberam mais. Souberam transmitir aos filhos bons ensinamentos de educação, ética e forte personalidade.

Diz uma das lendas que corria nas Lavras da Mangabeira, que se o menino de calças curtas conseguisse, de fora da Gruta do Boqueirão, cutucar com longa vara a mesa e derrubar toda aquela riqueza, assustava-se ao ver que, em poucos minutos, tudo estava novamente composto. Assim é a vida. Quantas baixelas de ouro e de prata não derrubamos pela vida e que depois foram se recompondo?

Dedico a você, para encerrar essas mal traçadas linhas, as palavras do poeta José de Góis Duarte, dirigidas postumamente a Dr. Augusto Leite, patrono da cadeira três, que você ocupou na nossa Academia desde a sua fundação, em 1994.

" Sublime missão de todo dar-se no exercício pleno da bondade; a prática do Bem, da Caridade; ao amor espontâneo - fruto d'alma - lenitivo sem par que a dor alheia acalma”. Afirma: "Este não morrerá! Este não morrerá, pois que não morre quem de todo se dá, quando socorre ou a quem fere a dor, nos caminhos do mundo".

Hyder Gurgel, repouse em paz!

PS - Um dia a gente se encontra!

Texto e imagem reproduzidos do Facebook/Lucio Prado Dias.

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 12 de março de 2015.