domingo, 29 de junho de 2014

Domingo era assim.



Publicado originalmente no Facebook/Fan Page/Petrônio Gomes.

Domingo era assim.
Por Petrônio Gomes.

Era-nos facultada a escolha entre a missa das sete ou a das nove horas da manhã, na Catedral. Os mais preguiçosos preferiam esta última, pois vem de longe o mau costume de se adiar a “obrigação”. Se tínhamos o direito de escolher a hora da missa, não podíamos, entretanto, perdê-la, nem pensar! Seria o mesmo que estragar o domingo inteiro, atraindo sobre nós os olhares carregados dos pais, que não estavam “criando hereges”.

A Santa Missa era celebrada em Latim e o oficiante a rezava de costas para os fiéis, que não entendiam patavina do que ele dizia. O padre era auxiliado por um acólito, ou “coroinha”, geralmente um garoto levado da breca nos dias úteis. Como não se entendia a reza do padre, formavam-se uns grupinhos de rapazes fora da igreja para os comentários sobre assuntos sempre estranhos às recomendações da Caridade. Esses grupinhos renitentes sabiam quando deviam retornar ao recinto do templo nos momentos mais importantes.

Depois da missa, o café com cuscuz, legítimo de Braga, feito em cuscuzeiro de barro, coberto com um pano escuro e furado. Conversa na hora da refeição era mais frequente entre os adultos. Qualquer pergunta dos meninos a respeito de qualquer assunto era sempre rebatida na hora, principalmente quando eles não sabiam responder. A gente aproveitava para comer enquanto eles estavam falando.

Após o café, o banho de mar na Praia Formosa, um recanto que haveria mais tarde de perder a formosura quando se tornou passagem para a “zona sul”. Essa praia oferecia a vantagem do simples acesso, pois os seus frequentadores surgiam de todos os lados, a pé, escoltando bandos de crianças. Quando a maré estava na vazante, e se houvesse o azar de acontecer isto no domingo, a Praia Formosa parecia um imenso campo de concentração de gente seminua e triste.

Os mais afortunados, todavia, seguiam para a Atalaia Velha, a bordo de seus raros automóveis ou compondo a lotação de “marinetes” fretadas para este fim. Em qualquer dos casos, era sempre uma aventura tomar banho no “oceano”.

Os rapazes usavam uns calções de banho parecidos com as “bermudas” de hoje, com a diferença de que não tinham bolsos. Ninguém ficava de peito nu na praia, de um lado para outro. Era de praxe uma camiseta, que a gente pedia para alguém guardar quando dava vontade de entrar na água.

As moças usavam uma espécie de camisa de força que deixava apenas os membros livres, assim mesmo nem tanto livres. Quando surgiu o maiô de duas peças, foi um acontecimento que estremeceu a cidade, pois ninguém seria capaz de imaginar a possibilidade de tamanho atrevimento.

Depois da praia, almoço. Domingo era dia de galinha, uma galinha só. Era o único momento em que a paz do lar parecia desaparecer, sendo uma família numerosa. Todos nós gostávamos de coração, e galinha só tinha um. Todos nós gostávamos de moela, mas a galinha só tinha um estômago. Esperávamos o mais precioso: o peito, a titela. Mas era costume reservar a titela para o jantar, quando ela seria servida assada.

À tarde, cinema. Sessão das quatro no Guarani, com direito a seriado depois do filme. Picolé no corredor do cinema, xingamentos dos meninos que estavam na “geral”, um poleiro de madeira que havia nos fundos da sala de projeção, quase tocando no teto, quente como o diabo. Eles estavam xingando quem podia chupar picolé. Sempre haverá descontentes no mundo.

Terminada a “janta”, uma volta pela praça Fausto Cardoso, ouvindo a banda da Polícia Militar, vestindo o melhor terno de Panamá, em busca de olhares enamorados, mas já com o pensamento nos deveres da segunda-feira.

Domingo em Aracaju era assim..

Imagens: Praça Fausto Cardoso e Rua João Pessoa,
extraídas de sergipeemfotos.blogspot.com.br

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 27 de junho de 2014.

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Da Série "De Bar em Bar"


Do Lumiar ao Cio da Terra.
Por Amaral Cavalcante.

Tenho boas lembranças do Bar Lumiar. Ficava lá pra dentro. na Atalaia, ao pé de uma ladeira íngreme, despovoada, que poucos ousavam escalar. Fim de mundo só permitido a quem sabia onde a curtição se escondia e esse era o nosso caso.

Digo, da nossa turma ligada na era de aquárius, os macrobióticos empanturrados de arroz integral e grão de bico, mas ainda ligados no cuba-libre e na canabis que nos que nos expandia a consciência. Os malucos parávamos por lá, uma parada que se nos prestava muito bem naqueles confusos idos, quando bastava um público qualquer e um tiquinho só de carinho para a satisfação do nosso ego.

A casa tinha muro de cobrogós delimitando o pedaço, mas eram baixinhos, facilmente galgáveis por quem não contava com o larjam para o ingresso. Jardins extensos e avarandados nos quatro lados, cheios de mesas e caqueiros para acomodar a moçada moderna, o público pagante que adorava conviver com os alternativos. Os alternativos éramos nós, os artistas - a mais interessante maluquice dos Aracajus, nos anos oitenta.

Era um lugar chic onde dava gosto levar artistas visitantes para surpreende-los com o nível de civilidade da nossa província antenada com o mundo, mas era lá também que um quebrado qualquer, trepado no muro com uma cerveja quente e sequer algum dinheiro pra repeti-la, tinha permissão de ficar enfeitando a casa, como atração.

O barato da Atalaia já não era o coqueiro postal, nem os coloridos casebres dos pescadores, nem caranguejos descomunais com garras enormes quebradas por turistas nos bares da orla. Era o folclore cedendo moda aos estranhos poetas que intrigavam a cidade. Cabeleiras ao vento, panos mínimas cobrindo excitações explícitas, um circo de possibilidades estéticas e permissividades afetivas. Belas crianças loucas anunciando a maravilhosa era de Aquárius. Muito doidos, pois sim, como costumávamos ser os poetas de então.

Curtimos uma maluquice engraçada trepados no muro do Lumiar.

Então apareceu o Cio da Terra, já bem pra cá, perto do mar.
O Cio da Terra era mais a nossa cara!

Lá estavam Erê em libertárias performances, Joubert, o artista mais completo da nossa geração, Ilma Fontes - mãezona de todos nós - e os melhores fotógrafos, poetas, dançarinos, atores sem palco, as mais belas figuras que Aracaju tinha a oferecer.

No Cio da Terra consultávamos o I Chig declamando Omar Kayan e ouvíamos Ravi Shankar em posição de Lótus. Caetano e Gil, Ednardo e Belchior, Raul Seixas nem se fala, mas era Iansã que nos perfumava a noite e meu pai Oxalá o nosso guia.

O Cio da Terra retornou à aldeia um certo sincretismo perdido que essa geração restaurou. A moda e os modos orientalistas potencializados pelo chá de cogumelo e pela maconha da boa nos levavam ao Nirvana, mostrando-nos que o mundo era mesmo redondo e que a nossa consciência podia nos levar além das geografias.

A luz no Cio era pouquinha que o brilho maior teria que ser o nosso. Os freqüentes - que já chegavam ligados – eram somente os permitidos. E o papo, ora meu Deus, sempre em torno da mais interessante novidade: de Andy Warhol a Debret, de Oscar Wilde a Jean Genet, e, se faltasse viagem, Jean Paul Sarte na veia. No Cio da Terra estávamos expostos a um turbilhão de possibilidades estéticas e a arte era moeda corrente.

A preciosa maluquice, também.

Descrevo uma noitada no Cio da Terra: em homenagem a Eric Clapton, o bailarino Erê resolveu aparecer envolto em parcas peles encarnando um majestoso Guaxinim, decidido a incluir na programação do bar o blues reinante em nosso quintal particular. Inaugurava Erê uma coreografia felina, refazendo-se em formas e lubricidade, ora gemendo um coito ora acendendo estrelas, sempre excitante e belo, até que o bar se desfez numa madrugada improvável, todos roendo a parede do vizinho, os olhos cheios de noturnidades.

Acabamos no mar.
Lindos, bêbados e nus.

(Fotos devem ser cobradas a Ricardo Sampaio Nunes).

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 22 de junho de 2014.
https://www.facebook.com/groups/259696634059007/permalink/871037396258258/

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O Panela da Arte.

A atalaia era uma maré verde que se estendia a perder de vista. o matagal brincando de tanger o mar de volta à imensidão.
Depois da Boate Tio Zé os caminhos respeitáveis se acabavam. Mais além, só os guauçás convivendo entre trilhas abertas por pescadores afoitos e amantes em busca de esconderijo para o bem-bom do amor sem testemunhas. Aquele “Motel das Estrelas”era o nosso providencial abrigo para fodelanças baratas. Era fácil tanger a conquista amorosa para o meio do matagal, e, sob um teto de estrelas gozar, até que a madrugada dissesse basta ou um grauçá enxerido nos mordesse as partes.

Foi então que Ricardo Batata abriu naquelas lonjuras o bar “Panela da Arte”. Ficava a não sei quantos metros da fronteira permitida, lá dentro do maravilhoso matagal onde só ia quem tinha negócio. O “Panela” foi o lugar onde curtíamos os mistérios que tornaram transcendentes a nossa libertária juventude.

Muito jererê, o bode amarrado em viagens siderais, nóias particulares aos trancos e barrancos postas de pé pela necessidade de transgredir. De vez em quando um “Sunchine” – gota lisérgica transportada das ilhas britânicas para cá- remetia a maluquice sergipana à onda universal do auto conhecimento, ao escancaro mental que o LSD proporcionava às jovens cabeças de então. Tomei vários ácidos e não me arrependo disto, embora não o prescreva, hoje, para ninguém.
Adorávamos ficar de bobeira, rindo das florezinhas na estrada, da felicidade que nos vinha em cores, o mundo muito mais belo e solidário percebido além da realidade. Estávamos bem, compartilhando entre nós a alegria de sensações universais.

O “Panela” consistia em dezenas de almofadas no chão iluminado por lâmpadas “estreboscópicas” que nos remetia a universos de luz inusitados, um som pauleira pulsando a casa inteira e nos tomando do pés à cabeça enquanto escorregávamos o universo entre os dedos. Viajávamos os territórios psicodélicos da alma em busca das prometidas trilhas da era de Aquárius.

Lá, acendíamos fogueiras à melhor arte de então: das artes plásticas à literatura, de Yonesco a Pirandello, do balé russo às invenções de Alvin Ailey, e finalmente à liberação do corpo incentivada por filmes como “Hair” e “Jesus Cristo Superstar” exibidos pelo querido Cézar Macieira no quintal da casa.

Na hora de pagar a conta cada um avaliava a sua e o pagamento podia ser agora ou depois. Servir-se de um rango qualquer era liberado: tinha almôndegas de caixa para quem quisesse fritá-las e iscas de fígado, mas o maluco que as quisesse que fosse para o fogão preparar o seu repasto. O dono do bar, Ricardo Batata, estaria ali ou alhures - talvez nas praças de Amsterdam - um dono de bar sem conta para apresentar, mas feliz da vida por nos conceder maravilhas.

Nunca um bar mereceu tanto a memória da nossa geração quanto o “Panela da Arte”.

Amaral Cavalcante – julho/2009

Postagem originaria da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 25 de junho de 2014.

sábado, 21 de junho de 2014

20 de Julho! João Sapateiro completaria 95 anos


20 de Julho! João Sapateiro completaria 95 anos.
Por Neu Fontes.

Retiramos parte de um texto do Luiz Antonio Barreto sobre João Sapateiro:

João Silva Franco trabalhou duro para sobreviver. Negro, quase dois metros de altura, teve a vida marcada pelo sobrenome postiço.

Profissionalizou-se como sapateiro, remendando o couro, trocando o salto, pondo meia sola nos sapatos da população, independentemente do poder aquisitivo de cada pessoa. Quem podia, é claro, comprava sapato novo, em Aracaju, ou em outra qualquer cidade do País. Mas, quem tinha dinheiro curto, e queria fazer bonito na festa de São Benedito, que é colada na festa de Santos Reis, encerrando o ciclo natalino, entregava seu sapato velho a João Sapateiro, estabelecido nas cercanias do Mercado Municipal. Discreto, mas de boa conversa, o sapateiro exibia na sua oficina de trabalho, folhas de papel pautado, repletas de palavras escritas em letras de forma, fixadas nas paredes e nos poucos móveis do seu canto laboral. Eram trovas, pequenos e longos poemas, que surpreendiam a freguesia. João Silva Franco passou a ser conhecido como João Sapateiro, e reconhecido como o sapateiro poeta.

O pequeno espaço de trabalho de João sapateiro foi, em Laranjeiras, um ponto de encontro, um daqueles lugares que reúne as pessoas para uma conversa animada. Farmácia e barbearia, no interior, terminam sendo locais atrativos, onde são formados grupos para as conversas, passando em revista os assuntos dominantes da cidade. Em Laranjeiras o Cartório de Antonio Gomes, a alfaitaria de Graquinho, e a oficina de João Silva Franco, ao lado da farmácia de Antonio Rollemberg, se constituíram em locais especiais, que assitiram a decadência econômica e cultural da cidade, sentindo o êxodo dos mais novos, que saíam para estudar, e o desaparecimento dos mais velhos, arrancados da vida. Quando morreu Bilina, Laranjeiras chorou e o toque do Patrão da Taeira silenciou, até que Maria de Lourdes, também já morta, foi buscar o ritmo, as cores e a coreografia para continuar cantando: “Meu São Benedito, eu não quero mais c’roa, quero uma toalha, enfeitada em Lisboa.” Quando morreu Alexandre, os fiéis do culto negro tomaram nos braços o seu caixão e desfilaram pelas ruas laranjeirenses, elevando e baixando a urna funerária, num gesto simbólico da religiosidade dos afrodescendentes.

Foto e texto reproduzidos do Facebook/Neu Fontes.
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“QUEM NÃO TRABALHA NÃO COME
É CONVERSA MUITO FALHA,
PORQUE SÓ VEMOS COM FOME
O POVO QUE MAIS TRABALHA.”

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 20 de junho de 2014.

O Gosto Gostoso







Fotos de Fernando Magalhães.

O Gosto Gostoso.

Era o bar da guerrilha citadina nos anos 80, o aparelho dos descontentes, o bar dos descolados. Bar de ativista político sabe-se como é: ele pega pela consciência e sai juntando tudo num mesmo paladar, numa irmandade gustativa e solidaria onde se misturam sonhos de justiça e palavras de ordem, onde amores revolucionários se encontram e expectativas político/eleitorais engatinham.

Ia-se ao Gosto Gostoso porque era lá que a subversão funcionava, onde se controvertia os decretos e, sem pudores burgueses dava-se um jeito no mundo, mandava-se às favas a a opressão, resistia-se bebendo e vociferando contra a ditadura, até o nascer do sol.

Pois bem... o mundo cruel retornava de madrugada nos rabiscos da conta, no bocejo do garçom, na traição do sol clareando tudo. Tínhamos que voltar pra casa sem tantos heroísmos revolucionários porque os nossos vizinhos não nos conheciam assim, tão diferentes deles.

- Corina tem um filho comunista, coitada! E além disto, ele fuma maconha!

Pois não é que virou obrigação a quem se quisesse engajado freqüentar o Gosto Gostoso? Ficava no Bairro Grageru, fim da cidade porque dali não se ia mais a lugar nenhum que não havia rua. O fim de linha estava a cem metros do Bar, no Conjunto Habitacional “Cidade dos Funcionários” construído na década de sessenta pelo governador Seixas Dórea. Era uma novidade urbanística de forma circular, com ruas paralelas e concêntricas circundando uma pracinha de capim. Casinhas de pombo em formato igual, paredes frágeis e teto de amianto, certamente planejadas por um engenheiro modernoso, metido a inovador.

Na primeira vez em que eu fui l naquele concêntrico conjunto habitacional, me senti como o zonzo “preá de bazar” das feirinhas de natal onde apostávamos em casa ele entraria entre as que o rodeavam.

Depois dali era só um imenso quintal de manjelões, goiabas e cajus de graça, terra de fogo-pagôs e riachinhos bestas na fronteira final da cidade.

Voltemos ao Gosto Gostoso.
Principalmente às quartas-feiras, o bar se estendia pelo asfalto com mesinhas de ferro atravancando a rua. Uma multidão barulhenta catando mesa, não dava para quem queria.

Comia-se bem no Bar do Fernandinho. A delícia principal era a Maniçoba, manjar pra macho enfrentar sem titubeio, feito de folhas de Manaíba, venenosas se não fossem tratadas com os centenários cuidados que só o povo de Lagarto guardara, vindo de ancestrais culinárias indígenas.

Fernandinho, lagartense, responsabilizava-se: - “O veneno a gente tira numa boa!”. Mas tinha também tripa se porco torrada, frango a passarinho e um supremo Sarapatel servido com fartura que dava pra três. Afinal, os proprietários tinham aquilo muito mais como um aparelho político do que como um meio de vida.

Fotografemos o bar: um mar de cavanhaques trotskanos, barbudos pálidos e monossilábicos, senhores graves plenos de sabedoria e adolescentes imberbes se chegando à causa com ouvidos complacentes, ávidos de justiça e festa.

Notável também eram as bolsas de coro cru a tiracolo. Cada quem carregava nelas o seu arsenal bélico: folhas soltas com desenhos malucos, doutrinas, diários guevarianos, manifestos, a última edição de Carlos Zéfiro e, lá no fundo perfumando tudo o providencial baseado - que ninguém é de ferro!

O barato da maconha era a sustança da guerra!

Vida, esperança de justiça e sofreguidão. acho que éramos todos assim belos e revolucionários, naquele tempo do Gosto Gostoso.

Sem ele, a nossa história política seria outra.

Amaral Cavalcante – 27/03/2009

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 20 de junho de 2014.

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Esperando Angélica


Publicado Originalmente no Facebook/Fan Page/Petrônio Gomes.

Esperando Angélica.
Por Petrônio Gomes.

Ela chegava sempre às cinco horas da tarde e anunciava sua aproximação com um longo apito, intermitente e fanhoso. Porque “Angélica” era uma velha lancha que fazia o transporte dos veranistas retardatários para a Atalaia Nova em dias de sábado.

Seu nome estava escrito na face externa da proa, como em todos os barcos do mundo, mas o seu proprietário só pronunciava “Angerca”, e era assim que todos a conheciam no Iate Clube de quarenta anos passados.

Voltei por lá algumas semanas atrás, depois do almoço, em um desses domingos monótonos que nos convidam a pensar na vida.

Do saudoso Iate Clube que ainda mora em minha lembrança, muito pouco existe, além do feitiço de sua célebre balaustrada, onde colocávamos as cadeiras para falar de tudo, enquanto olhávamos o rio em sua eterna caminhada, ora para um lado, ora para o outro. E parece que sua marcha vagarosa, de enchente ou vazante, influenciava nossa vontade de conversar ou ficar em silêncio...

A primeira lembrança que me surgiu foi a do seu Comodoro inicial, Murilo Dantas, meu contemporâneo de colégio e depois banqueiro, da “Casa Dantas Freire”, um dos homens mais inteligentes que conheci. Posso dizer que foi ele quem me “apresentou” ao Iate Clube, levando-me para percorrer suas dependências, e com que orgulho!

Havia uma particularidade na arquitetura do Clube: de qualquer lugar onde estivéssemos, poderíamos divisar toda a área restante! Quem estivesse, por exemplo, junto àquele mastro em cujo piso foi desenhada a “Rosa dos Ventos”, poderia ver uma criança que se banhava na piscina. Mas não era esta piscina atual a que me refiro. A original era mais uma decoração do que um balneário, e ficava na confluência que veio a marcar a outra parte construída mais tarde.

Onde fica hoje a piscina, construída por Ronaldo Calumby e José Figueiredo, era ontem a quadra onde o futebol de salão dominava a plateia jovem. Hélcio e Hélio eram os astros da época, os irmãos Martins de saudosa memória, de tão prematura partida.

Dorival Caymi, Núbia Lafayete, Miltinho, Chico Buarque, a orquestra de Nelson Ferreira, são alguns que me vêm à lembrança dos que pisaram o pequeno palco improvisado do Iate Clube. Há um fato interessante sobre a orquestra de Nelson Ferreira. Quando ela se apresentou, o comodoro Tennyson Freire estava gripado, em casa. Mas na noite do encerramento, o próprio chefe da orquestra fez questão de ir até sua residência e tocar para ele da calçada...

Lembro-me também de datas tristes, como a do passamento do irmão mais novo de Ronaldo, vítima de afogamento. Uma tarde que parecia não passar nunca, à espera do barco que o traria. Depois, a partida do próprio Ronaldo. E de Thenison, de Paulo Lemos, de Durval Maynart, de Geraldo Rezende, Gentil Tavares, Oviedo Teixeira, Pedro Bastos, Alcebíades, Lucilo Costa Pinto, Odilon Soares de Mello, Leonardo Pires, Carlos Rubens... Sei que faltam muitos ainda, mas consola-me o fato de lembrar apenas os nomes de quem continua vivo em minhas lembranças.

Os tempos eram outros, não havia tantas opções para o lazer como agora. E as pessoas viviam de outro modo, lotavam o clube em dias de corrida de regata ou de barcos a vela. Os navios da Petrobrás diminuíam a marcha quando avistavam o Iate Clube, apitavam e recebiam respostas do lado de cá.

Mas fiquei satisfeito com minha visita. Como disse no princípio, a querida balaustrada ainda está como antes, o próprio retrato do meu querido Iate do passado, nas tardes de sábado, esperando Angélica.

(imagem: sergipeemfotos.blogspot.com.br).

Foto e texto reproduzidos do Facebook/Petrônio Gomes.

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 17 de junho de 2014.

sábado, 14 de junho de 2014

Centro de Produção, município de Poço Redondo






Centro de Produção, município de Poço Redondo/SE.

Poço Redondo é o município sergipano que é conhecido por ser o lugar onde começa a famosa Rota do Cangaço, local onde o famoso cangaceiro Lampião e o seu bando foram emboscados e tiveram suas cabeças e mãos decepadas. O caminho até onde aconteceu a morte de Lampião é uma atração a parte nos 700 metros que dura o passeio até a chegada à Grota de Angicos, local exata onde ocorreu o fato que marcou o fim do cangaço no Nordeste. O turista depara-se com a caatinga, com suas árvores sem folhas e diversos cactos, além de encontrar também muitos animais silvestres, como calangos e saguis. É neste pequeno vale que ficam duas cruzes e uma placa com o nome de Lampião e Maria Bonita, numa homenagem as maiores figuras do cangaço brasileiro.

E não é só pela parte histórica que a cidade de Poço Redondo se destaca. No município, que está localizado a 170 km de Aracaju, que fica o Centro de Produção. O lugar é repleto de peças históricas que um dia fizeram parte do cotidiano do homem do sertão, onde podemos achar facilmente dentre os artigos expostos, o ferro que Maria Bonita, esposa de Lampião, passava as roupas, como também a máquina de costura do alfaiate Zé de Bela. Armas, fotos e artigos pessoais dos cangaceiros que mostra um pouco de como vivia o bando mais conhecido da história do cangaço no Brasil. "Todo este acervo foi doado a mim por moradores da região e hoje faço questão de mostrar aos turistas", conta o idealizador do Centro de Produção, o mestre Tonho.

Obras do mestre Tonho.

O artesão estampa traços de sua cultura nos objetos que produz, consciente ou inconscientemente. Muitas de suas tradições, como símbolos mágicos e crenças, ficam marcadas em suas peças. E é neste mesmo Centro de Produção que o Mestre Tonho produz e vende suas peças um artesanato todo feito em madeira, onde estão evidenciadas suas crenças, hábitos e tradições. Não podemos falar em artesanato somente com o objetivo comercial, pois ele pode ser produzido para consumo próprio ou mesmo doação sem perder sua característica artesanal e é o que o mestre, Tonho faz. Já são mais de mil peças produzidas pelo artesão. "São mais de 25 anos talhando todos estes objetos que eu mesmo faço, com a matéria prima tirada do próprio município e faço questão de expor e vendo aqui no centro", destaca.

Fotos e texto reproduzidos do site: turismosergipe.net

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 14 de junho de 2014.

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Um Maçom e seu livro


Infonet - Blog Luíz A. Barreto - 24/09/2010.

Um Maçom e seu livro
Por Luíz Antônio Barreto.

O Dicionário Biobibliográfico Sergipano, de autoria de Armindo Guaraná, continua sendo a mais frondosa árvore da inteligência sergipana, fulgurando em suas páginas centenas de nomes de bacharéis, médicos, engenheiros, militares, sacerdotes, professores, artistas, que formaram a elite cultural de Sergipe, principalmente aqueles que viveram nos séculos XIX e XX. É, por isto mesmo, um inventário do mais alto valor, que ainda hoje é a maior e melhor referência, ainda que biografias de sergipanos estejam no livro Homens do Brasil – Sergipe, do general Liberato Bitencourt, que precede o Dicionário de Armindo Guaraná, embora sem a mesma estrutura de registro e informação.

O certo é que o livro de Armindo Guaraná fixou essa singularidade sergipana, de oferecer ao Brasil a contribuição dos filhos ilustres da terra, quase todos incluídos com suas biografias e referências autorais. É raro alguém de valor que não componha a obra de Guaraná, tendo projetado sua vida intelectual antes de 1920. O livro, editado pelo Presidente Graccho Cardoso, em 1925, foi preparado, após a morte do autor, contando com a organização final de Prado Sampaio e de Epifânio Dória. Os dois editores seguiram os parâmetros estabelecidos nas biografias, preservando a qualidade das páginas que Armindo Guaraná preparou.

Mais um nome sergipano teria o mérito de ser incluído no Dicionário, o de Otaviano de Menezes Bastos, nascido em Capela (SE), em 28 de setembro de 1879. Estudou em sua terra natal o curso primário, mudando-se para Aracaju, continuando os estudos ginasiais, antes de seguir para o Rio de Janeiro e matricular-se na Escola Militar da Praia Vermelha, em 1896. Passou pouco tempo na Escola Militar, desligando-se em 1897, no bojo de um movimento revolucionário dos próprios estudantes. Mesmo anistiado, não quis voltar ao convívio com os militares e deu início a diversos trabalhos, desde o de comerciário e, em 1902, o de funcionário público do Ministério da Fazenda, como Escriturário na Alfândega do Pará. Trocou o Pará por São Paulo, servindo na Delegacia Fiscal do Tesouro Nacional, na Caixa de Amortização e no Tribunal de Contas. Exerceu diversas outras funções de confiança, dentro e fora de São Paulo.

Otaviano de Menezes Bastos começou sua vida intelectual em Aracaju, redigindo o jornal O Porvir, em 1900, quando em 11 de fevereiro circulou pela primeira vez, adotando os pseudônimos Fiel e Amorim de Montarroyos. Sua vida maçônica, que lhe rendeu o reconhecimento nacional, também foi iniciada na capital sergipana, na Loja Camerino, sendo iniciado em 13 de fevereiro de 1900, sendo Mestre em 1901. Por onde andou ou viveu colaborou com jornais e revistas, tornando-se conhecido em vários Estados pela sua contribuição intelectual. Depois publicou, ao que tudo indica, na Bahia a primeira edição da sua Pequena Enciclopédia Maçônica, republicada em São Paulo, em 1952. Fluente e aplaudido pelos seus escritos, Otaviano de Menezes Bastos escreveu e publicou os seguintes livros: O triângulo e a tara, O México e o papado, O Maçom e o Seminarista, Rito Brasileiro.

Em Sergipe foi sócio honorário do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe e membro correspondente da Academia Sergipana de Letras, legitimando-se, na sua terra, como intelectual. Foi, contudo, na Maçonaria que Otaviano de Menezes Bastos tornou-se uma referência em todo o Brasil, conquistando a admiração dos seus irmãos, até morrer, no Rio de Janeiro, em 29 de setembro de 1952. Nesta data é quando sai a segunda edição da Pequena Enciclopédia Maçônica, livro essencial ao conhecimento do mundo maçônico. Ele, que na Ordem teve todos os graus, viu a Maçonaria, conquistou todos os títulos, inclusive os de Benemérito e de Grande Benfeitor, morreu admirado e respeitado pelos seus irmãos de todo o País, deixando uma obra doutrinária, de livros e de artigos de jornais e de revistas, que adornam o seu perfil de intelectual da Maçonaria do Brasil, reforçado pela sua presença e atuação em diversas lojas, em muitos Estados brasileiros.

Foto e texto reproduzidos do site: infonet.com.br/luisantoniobarreto

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 10 de junho de 2014.

Carvalho Déda no batente do jornal


Infonet - Blog Luíz A. Barreto - 05/12/2008.

Carvalho Déda no batente do jornal.
Por Luíz Antônio Barreto.

Foi em Simão Dias, em 8 de setembro de 1946, que apareceu um jornal de vida longa no interior, tendo no batente de sua redação e da ilustração, através de xilogravuras, José de Carvalho Déda.

Basta uma simples leitura, uma conferência no Catálogo dos jornais, revistas e outras publicações periódicas, organizado por Armindo Guaraná, comemorativo do Centenário da Imprensa no Brasil, publicado pela Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil, em 1908, para que tenha a mais exata idéia de como a imprensa floresceu em Sergipe. De 226 verbetes, cobrindo de 1832 a 1908, 140 indicavam jornais e revistas editadas em Aracaju, e 86 no interior, salientando-se que no interior os jornais eram: 36 de Estância, 16 de Laranjeiras, 10 de Maroim, 8 de Propriá e 7 de São Cristóvão. Os restantes 8 estavam distribuídos por Santo Amaro das Brotas, Neópolis, Rosário do Catete e Simão Dias.

Foi em Simão Dias, em 8 de setembro de 1946, que apareceu um jornal de vida longa no interior, tendo no batente de sua redação e da ilustração, através de xilogravuras, José de Carvalho Déda, advogado provisionado, político, intelectual, homem do seu tempo, com uma obra que serve de referência nos estudos da história e do folclore. Carvalho Déda encarnou o seu jornal, contando com uma colaboração constante do irmão Francino da Silveira Déda, e, mais tarde, do filho Carlos Alberto Déda, que viveu o cotidiano de A Semana e tornou-se, após a morte do pai, no curador de todo o acervo de 23 anos de sobrevivência.
Acostumado a redigir, Carvalho Déda fazia de tudo no seu semanário, inicialmente circulando no domingo e mais adiante saindo aos sábado, uma tribuna do povo de Simão Dias, sem contudo perder o contato com o Estado, com o País e com o mundo. Mesmo sem teletipos, telex, Internet e outras tecnologias, A Semana podia ser considerado um jornal moderno, com bom volume de informações, editado com graça, leveza e, ainda, com o humor predominante crítico do redator principal.

As atividades políticas de Carvalho Déda não impediram sua presença constante na redação do jornal. Sua experiência era tão reconhecida, que a UDN o convidou para redigir e dirigir o Correio de Aracaju, grande jornal sergipano, que contou em sua redação com Homero de Oliveira e com Edison Ribeiro, figuras que cuidaram do passado daquele prestigioso jornal. Carvalho Déda deu conta do recado e parecia fazer pouca diferença, entre editar e dirigir o Correio e a sua Semana.

A Semana teve, em seu tempo, a importância que teve A Razão, em Estância, O Laranjeirense e O Republicano, em Laranjeiras, e o Correio Sergipense, em São Cristóvão, que foi, sem dúvida, um dos melhores jornais de todo o século XIX. Quando os olhos dos pesquisadores forem lançados por todo o Estado, para formar um panorama da vida nas comunidades, tais jornais serão referências básicas, mantendo o tônus cultural animador da sociedade sergipana.

A Semana é uma escola, no sentido de que ela ensina a fazer jornal e a tratar as páginas dos jornais com a dignidade da boa notícia, do comentário justo, da denúncia e da cobrança necessários e acima das questões locais. Mais que isto, A Semana tem arte em suas páginas, seja pelas charges, caricaturas, ou seja pelas ilustrações que fizeram de Carvalho Déda um artista, que aliou no batente do jornal muitas qualidades requeridas pelo jornalismo. A reunião dos jornais, a começar pela coleção 1946/1947, em CD ROM permite aos contemporâneos solver, com prazer, esse belo exemplo de cidadania cultural deixado por Carvalho Déda em A Semana.

Para evocar Carvalho Déda, nos exatos 110 anos de nascimento e 40 anos de morte, o BANESE CARD e a FUNCAJU promovem, no dia 9 de dezembro, uma Exposição comemorativa, na Galeria de Artes Álvaro Santos, focalizando em 50 painéis o cidadão, o político, o intelectual, o jornalista e o xilógrafo. Na Exposição será lançada uma caixa com o título O Mundo de Carvalho Déda, reunindo 4 livros: Brefáias e Burundangas do Folclore Sergipano, que ganha 3ª edição, Simão Dias – Fragmentos de sua história, em 2ª edição, o romance inédito Formigas de asas e a coletânea Carvalho Déda Vida & Obra, com textos inéditos, correspondências, ilustrado com fotos e xilogravuras.

Vai na caixa, também, um DVD com a vida e a obra do fundador de A Semana, e um CD ROM com a coleção do semanário simãodiense, dos anos de 1946 e 1947, como parte de um projeto que digitalizará toda a coleção, até 1969.

Foto e texto reproduzidos do site: infonet.com.br/luisantoniobarreto/

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 10 de junho de 2014.

O Assassinato de Carlos Firpo

 Carlos Firpo discursa em solenidade no Hospital Santa Isabel, em 1958.

Nicola Mandarino.

Infonet - Blog Lúcio Prado - 29/02/2008.

O Assassinato de Carlos Firpo.
Abril de 2008 marca o cinquentenário do assassinato de Carlos Firpo, que foi Prefeito de Aracaju. Afinal, quem mandou matar o médico?

Por Lúcio Antônio Prado Dias.

“...não, não te lamentes não, que a pura verdade, virá depor! Deus, não esquece o coração, que sempre foi fiel, no amor” ( “Injustiçada”, de Antonio Garcia Filho).

Aracaju acordou sombria na manhã de 29 de abril de 1958, com nuvens cinzentas prenunciando chuva. Mas tempestade maior estava por vir. Estarrecida, a sociedade sergipana tomava conhecimento pela rádio, do assassinato do médico Carlos Firpo. Na madrugada, sua casa foi invadida por uma pessoa que, no quarto onde dormia, desferiu-lhe certeiras e vigorosas facadas no abdome que o levaram, minutos depois, à morte.

Naquela noite, Firpo estava sozinho. Milena, sua esposa, no momento do crime, encontrava-se no quarto ao lado, onde dormia ao lado das filhas Julieta e Maria das Graças. Milena, em depoimento à Polícia, disse que em razão de um resfriado prolongado de Maria das Graças, que dificultava o seu sono, vinha dormindo nos últimos dias, no quarto dela.

A família residia numa bela casa de andar localizada à rua Campos, que ainda hoje preserva o antigo estilo arquitetônico. Carlos, surpreendido no meio da noite, gritou pedindo socorro. O médico Aloísio Andrade, seu vizinho, ouviu os gritos e abrindo a janela de casa, ainda chegou a ver um vulto, correndo pela rua em direção ao rio. Rápido, foi à casa do amigo e deu-lhe o primeiro atendimento.

“ - Veja o que fizeram comigo, Aloísio...! “

“ - Que aconteceu, Carlos, quem fez isso?” perguntou-lhe, aflito.

“ - Não vi, estava escuro, não deu para enxergar. Acordei ferido!”, respondeu, esvaindo-se em sangue, com o abdome aberto, exteriorizando as alças intestinais, duas delas seccionadas.

“ - Leve-me para o hospital”, suplicou aos gritos, enquanto Aloísio presta-lhe os primeiros socorros.

Nesse momento, chegam outros amigos entre eles Canuto Garcia Moreno, cirurgião, que ajuda Aloísio nos cuidados ao ferido, colocando-lhe uma toalha umedecida sobre o abdome. Lourival Bomfim tenta acalmar Milena e as filhas, naquele momento completamente desnorteadas. A comoção é geral. Os médicos, por fim, atendem ao apelo de Firpo. Seguem às pressas para o Hospital de Cirurgia, mas ele não resiste aos graves ferimentos e morre no Centro Cirúrgico.

Carlos Firpo era Diretor do Hospital Santa Isabel desde 1949, onde operou uma completa transformação naquela instituição, obtendo o credenciamento do IAPI, o que aumentou consideravelmente a subvenção do nosocômio. Além disso, construiu a maternidade, implantou os serviços de RX e laboratório, lavanderia mecânica, edificou a clausura das Irmãs, o centro cirúrgico, estendendo todos os benefícios aos mais carentes, aos pobres indigentes. Carlos era também um militante político, udenista atuante e influente, ex-Prefeito de Aracaju, que lutava com afinco para ter o seu nome acolhido como vice-governador na chapa de Heribaldo Vieira. Entretanto, ambos não eram os preferidos da cúpula udenista, liderada por Leandro Maciel, governador de então. Mas Carlos lutava pela indicação. Era querido pela população, médico humanista de muito labor e coragem. No tempo da 2ª Grande Guerra, casara-se com Milena Napolioni Mandarino, moça muito bonita, de pele bem alva e modos requintados, filha de Nicola Mandarino.

Nicola era um imigrante italiano que em Sergipe prosperou e tornou-se homem de muitas posses. Morava numa bela casa situada à Praça Olímpio Campos, onde hoje é o Palácio Episcopal, no início da Rua Santa Luzia. A família adquiriu bens, entre eles uma propriedade no povoado Colégio, em Itaporanga, que possuía uma bela casa assobradada no alto da colina, com vista deslumbrante do leito do Rio Vaza-Barris. Milena, de hábitos recatados e de fina educação, estudava no Colégio do Salvador, sua família possuía muitos amigos e tinha um convívio social intenso. Entre os amigos da família, Afonso Ferreira Lima, mais conhecido por Afonsinho, vindo da Bahia para estudar em Aracaju e o médico Carlos Firpo, jovem inteligente e garboso. Milena e Carlos começam a namorar e durante o noivado e casamento, vem a Segunda Guerra Mundial. Afonsinho, como era mais conhecido, segue a carreira militar, tornando-se exímio piloto de avião, com a missão de patrulhar o litoral brasileiro. Já Carlos Firpo destaca-se na medicina, muito estimado pelos pacientes e com forte atuação política. A revolta que toma conta da população contra os imigrantes dos países da tríplice aliança, Alemanha, Itália e Japão, não poupa Nicola Mandarino, acusado injustamente de colaborar com o Eixo como espião do regime de Hitler e Mussolini. Da sua varanda do sobrado no povoado Colégio, ele supostamente transmitia informações para os submarinos alemães sobre a localização dos navios e cargueiros brasileiros que navegavam pelo nosso litoral. A população descontrolada clama por vingança, depois do torpedeamento e afundamento de navios no litoral de Sergipe. Na verdade, nunca ficou provado que Nicola Mandarino fosse espião. Um velho rádio receptor foi confundido com um transmissor e jogado pela janela. O enxoval de casamento de Milena também recebe o mesmo tratamento, sendo destruído pela população ensandecida. Definitivamente, Nicola não era um espião.

Casados, Carlos e Milena vão residir na casa da Rua Campos e é nessa casa que acontece o assassinato de Firpo, episódio que fica conhecido como o “Crime da Rua Campos”, com forte repercussão em Sergipe e em todo o país. Na época, Nicola residia na casa, com a filha, o genro e as netas. Nela ainda trabalhava e residia uma empregada doméstica, que depois seria testemunha importante no desenrolar do processo.

Em janeiro de 1955, quebrando uma longa tradição oligárquica, é empossado no Governo de Sergipe o engenheiro Leandro Maciel, da UDN, com forte apoio popular. Na véspera da sua posse, ocorrida no dia 31 de janeiro, trazendo autoridades e jornalistas de várias partes do país, pousava no aeroporto de Aracaju um avião da FAB pilotado pelo major Afonso Ferreira Lima, o Afonsinho, que na oportunidade reveria os amigos, entre eles, a família Mandarino. Carlos Firpo, nessa época, já era um médico muito estimado, havia sido Prefeito de Aracaju, dirigia o Hospital Santa Isabel e era prócer político destacado e amigo do vice-governador empossado, o também médico José Machado de Souza. Durante o governo de Leandro, Firpo ampliou a sua área de influência e passou a lutar bravamente pela sua indicação como vice-governador na chapa da situação nas eleições que aconteceriam em 1958.

O que se segue após o crime da rua Campos, é uma sucessão de equívocos e excessos policiais, com relatos de violência e mais assassinatos, com a população mobilizada e informada pela imprensa de todos os passos da investigação. Até o Lions Clube entra na investigação. A “sinistra trama passional”, de acordo com a versão policial, invade as páginas dos jornais de todo o país e monopoliza as atenções por muito tempo.

Dias depois do assassinato, um chofer de táxi de Aracaju procura a polícia e relata que teria conduzido a Paulo Afonso, no dia seguinte ao crime, dois indivíduos que lhe pagaram sem reclamar a importância de Cr$ 5.000,00. Segundo palavras do chofer, eles teriam presenciado o cortejo fúnebre de Carlos Firpo em direção ao Cemitério Santa Isabel, ficando impressionados com a multidão que o acompanhava e, comentando entre si, mostravam-se assustados com a repercussão do crime. Quando o táxi cruzou a divisa Sergipe-Bahia, um deles teria suspirado, aliviado: ”Dessa estamos livres”. A partir da pista, a polícia chegou aos suspeitos e deu ordem de prisão aos dois: José Euclides Timóteo de Lima e José Pereira dos Santos, mais conhecido como Pereirinha.

O conhecimento entre os dois vinha do tempo em que trabalharam juntos na CHESF. Timóteo havia sido demitido por se envolver em briga com colegas dentro da empresa e Pereirinha ainda trabalhava na hidroelétrica e para se ausentar do trabalho para a missão criminosa, teria alegado a necessidade de cuidar de um parente que se encontrava doente. Eles teriam chegado a Aracaju pelo menos uma semana antes do assassinato e prepararam com detalhes todos os passos do crime. Pressionado, Pereirinha confessou ter sido o autor do crime.

De Timóteo, à custa de torturas que o levaram à morte, obtiveram uma confissão. Mesmo negando inicialmente qualquer envolvimento com o crime, quando acareado com Pereirinha, este confirmou a ação. Timóteo passou a ser brutalmente torturado e terminou citando dois nomes: Enock Pessoa de Carvalho, com quem teve um primeiro contato na Bahia e depois o Coronel Afonso Correia de Lima, o Afonsinho, que se encontrava na cidade dias antes do assassinato. Não resistindo à tortura, Timóteo veio a falecer na madrugada da terça-feira e o laudo médico-legista, assinado pelo Dr.Antonio Coutinho, dava como causa-mortis uma miocardite crônica (!).

Ao longo do tempo, ficou clara a intenção de conduzir as investigações para o que parecia mais óbvio: um crime passional. O que se seguiu posteriormente foram confissões forjadas pelos rigores da pressão e da tortura intelectual impostas a pessoas que trabalhavam na casa do casal e que culminaram com a prisão de Milena e Afonsinho, sob a acusação de terem encomendado o crime, pois estariam supostamente envolvidos em relações extraconjugais.

Paralelamente, outras versões corriam de boca-em-boca: poderia o crime ter motivações políticas? Quem estaria interessado na morte de Firpo, que insistia em ser candidato a vice-governador? Disputas políticas teria sido a causa do crime? O Jornal Última Hora, do Rio de Janeiro, através de uma série de longos artigos, passou a defender essa tese, chegando a insinuar possíveis beneficiários no assassinato. O Dr.Machado chegou a ser injustamente envolvido nesse episódio. A SOMESE, à época presidida por Canuto Garcia Moreno e a Associação Comercial de Sergipe, por outro médico, Gileno da Silveira Lima, promoveram um grandioso ato público de desagravo ao Dr.Machado, com um palanque armado em frente a sua casa, na Rua Pacatuba. Durante horas, uma multidão de admiradores, populares e políticos, incluindo o próprio Governador, prestou solidariedade ao grande pediatra, com discursos inflamados.

A sociedade sergipana, entretanto, estava dividida nas suas opiniões. Exigia a elucidação do crime, teria sido um crime político ou um crime passional? Um outro aspecto que não chegou a ser aprofundado pelas investigações dizia respeito a transações comerciais entre Nicola Mandarino e outras pessoas, inclusive o genro. Especulava-se que por causa das perseguições sofridas em função de sua origem italiana e do confisco determinado pelo Governo brasileiro no tempo da Guerra, Nicola teria transferido parte dos seus bens para terceiros. Este fato foi comentado pelo jornalista Luiz Eduardo Costa, um estudioso do assunto, em artigo publicado na imprensa, onde diz que o inquérito “não levou em conta o desaparecimento de documentos que estariam guardados cuidadosamente pelo Dr. Firpo”.

Dos personagens envolvidos nesse relato, Nicola Mandarino morreu na década de 60. Pereirinha, condenado a vinte e cinco anos de cadeia, cumpriu a pena e morreu na década de 90. Afonsinho morreu na década de 70 e Milena continua viva e reside em Salvador. Na época, eles chegaram a ser presos na Penitenciária de Aracaju, saindo apenas para prestar depoimentos. Por terem sido impronunciados pelo STF, nunca foram a júri popular. Enquanto estava detida, Milena recebeu o carinho e a solidariedade de muitas pessoas, que não acreditavam na sua participação no crime. O médico e intelectual Antonio Garcia chegou a compor a música “Injustiçada”, que foi gravada pela RCA Victor na voz de Alcides Gerardes, um cantor de projeção nacional, que fez grande sucesso na década de 50. “...Deus, não esquece o coração, que sempre foi fiel, no amor...Não, não te lamentes tanto agora, que sobre a noite da calúnia, ressurgirá a aurora...”

O fato é que, passados 50 anos, o assassinato de Carlos Firpo ainda é um mistério a desafiar a imaginação das pessoas.

Fontes:

1. Wynne, J.Pires.Livro:História de Sergipe, vol.2.Rio de Janeiro:Editora Pongetti, 1973.
2. Figueiredo, Ariosvaldo.Livro:História Política de Sergipe.Aracaju.
3. Impressos: coleção do Jornal Última Hora, diversas edições.1958.
4. Impressos: artigo publicado na imprensa pelo jornalista Luiz Eduardo Costa, em 2006.
5. Impressos: diversas edições dos jornais O Nordeste, Folha Popular, Correio de Aracaju, A Cruzada e o Diário de Sergipe, 1958.
6. Documentos: acervo da Biblioteca particular do médico Petrônio Gomes.
7. Depoimento pessoal do Dr. Antonio Garcia Filho, em 1994.

Fotos e texto reproduzidos do site: infonet.com.br/lucioprado

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 10 de junho de 2014.

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Carro de Praça



Publicado originalmente na página do Facebook/Petrônio Gomes.

Carro de Praça.
Por Petrônio Gomes.

Era só sair da Agência Central do Banco do Brasil, levantar um braço e Orlando me respondia lá da praça. Dois minutos depois, eu entrava no seu “Chevette” e nem precisava dizer-lhe onde morava.
Com seus setenta e poucos anos e sempre feliz com a vida, Orlando talvez tenha sido um dos últimos remanescentes dos profissionais do ramo em Aracaju, nos doces anos em que a cidade adormecia antes das vinte e duas horas.

Invariavelmente ele me perguntava como eu ia de saúde e logo depois, começávamos a recordar velhas histórias de sua profissão...

Como aquela de “Carrinho”, que, surpreendido por um violento aguaceiro no largo onde hoje se ergue o edifício do INAMPS, na Praça João XXIII, sentiu que o fogo do seu automóvel havia apagado. Quando alguns rapazes se aproximaram oferecendo ajuda para empurrar o veículo, não pensaram que estavam afrontando o orgulho de um velho conhecedor: “Não vão empurrar coisa nenhuma, isso é um Ford!”
E era mesmo, embora houvesse sido fabricado em 1941, durante o esforço de guerra. Qualquer pingo que caísse em certo objeto que ficava junto ao motor, era o suficiente para que o carro estancasse imediatamente.

Lá pelos anos quarenta, Aracaju tinha cerca de seiscentos mil habitantes a menos, o bastante para bocejar logo após a conversa fiada na calçada, depois do cuscuz vespertino. O transporte coletivo cabia aos bondes, logo depois substituídos pelas “marinetes”, pequenos ônibus com capacidade reduzida e que perdiam o fôlego quando aparecia uma ladeira qualquer.

O bonde, entretanto, terá sido o mais racional e mais econômico veículo de transporte coletivo das cidades, além de mais poético, certamente. Nunca se ouviu falar de alguém atropelado por um bonde, mesmo porque ele fazia mais barulho do que se imagina. Havia passageiros nos estribos, sim, mas só aos domingos, quando todos queriam chegar a tempo para o cinema de Juca Barreto, sessão das quinze horas, a famosa “matinée do perfume”...

Para o cinema ou para qualquer ponto da cidade, tendo pressa o cidadão e estando vestido convenientemente, o certo mesmo era chamar um carro de praça. Mas por que este nome?
Táxi é nome importado e não quer dizer coisa alguma para o cidadão comum. Muito mais lógico era o nome alusivo ao verdadeiro fim do veículo, isto é, um automóvel à disposição do público e que ficava estacionado na praça. Para chamá-lo, a cidade inteira conhecia o número do telefone: 131. Tirava-se o fone do gancho, girava-se a manivela umas quinze vezes e ouvia-se uma suave resposta do outro lado, o mesmo alô de todas as épocas. O usuário perguntava então: “É do Centro?”

Só poderia ser, pois todos os telefones eram ligados à Central, de onde as duas telefonistas completavam a chamada, quando não faltava energia. Minutos depois, ouvia-se uma buzina na porta. O chofer descia, abria a porta traseira e recebia o distinto passageiro, uma cena romântica que atualmente estão querendo revitalizar com o nome de “atendimento personalizado”.

Os carros, quase todos de procedência norteamericana, tinham tapetes felpudos nos dois espaços entre os assentos. Eram robustos veículos de chaparia maciça e brilhavam mais do que mesa envernizada. Os pneus dos carros mais paparicados tinham faixas brancas, sempre esfregadas pelos proprietários nas horas de folga.

Os motoristas mais conhecidos eram contratados para longas viagens, como Recife, pois medo de avião nunca saiu de moda. Mas as estradas eram empiçarradas e precárias, assim como as nossas ruas, que eram quase todas pavimentadas com paralelepípedos.

Justamente por causa de tais condições, os profissionais do volante eram mais cuidadosos, olhavam de outro modo o público. A indústria automobilística nacional ainda não existia e os consertos eram feitos nas oficinas para tudo. Quanto mais cuidado, melhor. Hoje, quase não se conserta coisa alguma, trocam-se peças.

E quase todos os motoristas profissionais de Aracaju viviam dignamente, possuíam suas residências confortáveis e educaram seus filhos, como qualquer cidadão de profissão liberal. Como em nossa cidade, naquele tempo, os automóveis particulares se contavam pelos dedos, conhecíamos muitas pessoas pelos carros que passavam.

Orlando nunca teve o dissabor de ver seu automóvel batido e nunca foi chamado à atenção por qualquer passageiro. Em conversa com seus colegas mais jovens, ele gostava de aconselhar a todos o valor da cortesia, do amor à profissão.

Quando chamo um táxi atualmente, fico a comparar o tratamento que recebíamos no passado, quando as ruas não eram asfaltadas e o táxi era apenas... um carro de praça.

(Imagens: aracajuantigga.blogspot.com).

Fotos e texto reproduzidos do Facebook/Fan Page/Petrônio Gomes.

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE. de 10 de junho de 2014.

terça-feira, 10 de junho de 2014

Homenagem a Irineu Fontes


Irineu Fontes o Cirineu da Televisão Sergipana.
Por Neu Fontes.

No início da década de 60, Irineu Fontes, então representante de rádios e radiolas, viaja a São Paulo e vê de perto a revolução que a televisão causa na vida da cidade e das pessoas.

Ao retornar a Aracaju, Irineu conversa com o prefeito da capital na época, Godofredo Diniz, que fica entusiasmado com o que ouve e libera uma verba para a compra de antena. Começa a nascer o embrião da televisão em Sergipe.

A antena repetidora é, então, montada no morro do urubu, zona norte da cidade. O poder irradiante é pequeno e o sinal que chega, da TV Jornal do Comércio, de Recife, em Pernambuco, não era dos melhores. Mas é suficiente para encantar os poucos privilegiados que possuem um aparelho de TV comprado na loja a Curvelo.

Foto e texto reproduzidos do Facebook/Neu Fontes.

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 10 de junho de 2014.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Jordão de Oliveira




Publicado originalmente no site pge.se.gov.br

Jordão Eduardo de Oliveira Nunes, pintor, professor, poeta e escritor.
Por Mário Britto.

Nascimento: no dia 13 de outubro de 1900, em Aracaju/SE
Falecimento: no dia 08 de abril de 1980, Rio de Janeiro/RJ.

De origem humilde, descobre-se artista em Aracaju, onde iniciou os primeiros estudos e fez os primeiros desenhos em crayon, sob a influência do mestre Quintino Marques, realizando nesse período sua primeira exposição individual. Mudou-se para Recife e, posteriormente, em 1921, para o Rio de Janeiro, onde viveu até o seu falecimento.

No Rio de Janeiro, estudou na Escola Nacional de Belas Artes, com mestres do quilate de Batista da Costa, Lucílio Albuquerque e Rodolfo Chamberland, tornando-se, em 1930, docente de pintura e catedrático de modelo-vivo na respeitável instituição. Foi um dos professores mais queridos da ENBA. Em 1937, assumiu a presidência da Sociedade de Belas Artes.

De 1924 a 1978, participou de diversas exposições pelo país e no exterior, a exemplo dos salões de arte de Rosário de Santa Fé, na Argentina e da Feira Internacional de Nova Iorque, nos Estados Unidos.
Jordão de Oliveira foi presença de destaque nos Salões Nacionais de Belas Artes, promovidos pela Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro, nos quais conquistou, entre outros: em 1933, o prêmio de “Viagem ao Exterior”, o mais cobiçado deles e em 1938, a Medalha de Ouro. Em 1944, foi júri do Salão Estadual de São Paulo e do Salão Nacional de Belas Artes.

Suas obras estão espalhadas em importantes espaços, entre tantos, destacamos: o Nacional de Belas Artes, o Palácio do Catete, a Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro e a Ordem Terceira da Candelária, todos no Rio de Janeiro/RJ; o Palácio do Rio Negro e o Museu Imperial, em Petrópolis/RJ; o Palácio do Ingá e o Museu Antônio Parreiras, em Niterói/RJ; a Pinacoteca do Estado de São Paulo/SP e, ainda: os Ministérios da Aeronáutica e da Agricultura; as Faculdades de Medicina e Odontologia da Universidade do Brasil e a Faculdade Nacional de Direito.

Hoje, grande parte de suas obras se encontra na pinacoteca que recebeu seu nome, no Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe – IHGS, em Aracaju/SE. Em 1978, Jordão de Oliveira realizou sua última exposição individual, na Galeria Horácio Hora, em Aracaju/SE, sob a Curadoria de Luiz Adelmo. Em 2012, participou, in memorian, da coletiva “Coleção Mário Britto”, edição especial Mostra Aracaju/SE.

Em Sergipe, o hall de entrada do Museu-Palácio Olímpio Campos abriga dois importantes painéis encomendados durante o Governo Leandro Maciel (1955-1959) e desenvolvidos na década de sessenta, no Governo de Luiz Garcia. Neles, Jordão retrata elementos da base econômica de desenvolvimento do Estado. Em 1980, foi inaugurada a Galeria Jordão de Oliveira na biblioteca da Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão/SE.

Como escritor, Jordão de Oliveira publicou três livros: em 1975, “Caminhos Perdidos” (memórias); em 1976, “A Cor das Coisas (poemas) e, em 1980, “Delta”(poemas). Comentando seu livro de estréia, o romancista baiano Jorge Amado, em carta enviada ao poeta-pintor diz o seguinte: “(…) Tudo é bonito em seu livro, como em sua pintura. Há páginas que são obras-primas como a Carta de Mamãe no capítulo 44. Que livro mais bonito seu Jordão! Não importa o rótulo, de memória ou romance é a presença de um homem de verdadeira grandeza”.

Depois de sua morte, em 1982, através da Lei nº 365/82, a Rua Bojuru, na Ilha do Governador, na qual o pintor residiu por muitos anos, passou a ser chamada Rua Jordão de Oliveira.

A obra de Jordão revela beleza e sintonizada harmonia entre inspiração e técnica acadêmica. De sua paleta, não saem cores vivas, porque é na densidade dos tons ocres e escuros que ele encontra a luminosidade vista em suas deslumbrantes paisagens. Retratista, em sua iconografia encontramos pessoas comuns, mas, sobretudo, personalidades importantes. Sobre a obra se Jordão de Oliveira, escreveu no Dicionário Brasileiro de Artista, o respeitado crítico de Artes Walmir Ayala: “Seu colorido discreto completa na sua obra o equilíbrio das massas e as sutilezas de luz e sombra. Sem demonstrar preferências por um único gênero, consegue interpretar seus modelos com semelhança e sem amaneiramentos de forma e suas paisagens reproduzem aspectos de horizonte amplo, de perspectiva bem compreendida.”

Fotos e texto reproduzidos do site: pge.se.gov.br

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 8 de junho de 2014.