quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Walmir Almeida e a Fotografia em Sergipe

Foto: arquivo de Eduardo Almeida.

"... Walmir Almeida foi, sem dúvida, o nome mais importante da fotografia instantânea e documental de Sergipe. E foi o fotógrafo oficial do Palácio do Governo, acompanhando o dia a dia dos governantes, tanto na capital como no interior, o que garantiu uma produção imensa de fotos que, num dia qualquer de sua vida, reagindo a indiferença das autoridades, queimou, juntamente com os negativos. Sergipe perdeu parte de sua memória, de festas, procissões, inaugurações, figuras que circulavam no ambiente político e administrativo do Estado. Como era piloto, Walmir Almeida também fez registros aéreos, que também se perderam ardendo na fogueira da revolta pessoal. Walmir Almeida foi cinegrafista e realizava, com freqüência razoável, filmes com noticiários do Estado, narrados por Cid Moreira, que eram exibidos nos cinemas de Aracaju. Parte da filmografia de Walmir Almeida também se perdeu, alguns filmes foram o antigo Cine Clube, sob a responsabilidade do crítico Djaldino Mota Moreno, e outros foram recuperados, por iniciativa, dentre outros, de Pascoal Maynard. O Cine Jornal da tela, de Walmir Almeida, representa um capítulo especial da imagem de Aracaju e de Sergipe, desconhecido das novas gerações..." (Luiz Antônio Barreto).

Postagem originária da página do Facebook/Minha Terra é SERGIPE, em 17 de abril de 2012.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Passos Porto, Um Político e o Seu Tempo



Passos Porto, um político e o seu tempo *
Por Luiz Antônio Barreto.

PASSOS PORTO, nascido em Itabaiana em 28 de dezembro de 1923, era filho de Eliezer Porto e de Ana Passos Porto. Estudou em sua terra natal, com a professora Maria da Glória Ferreira, a quem mais tarde consideraria “uma das melhores professoras do mundo.” Trocou Itabaiana por Aracaju, matriculando-se no Colégio Salesiano Nossa Senhora Auxiliadora, em 1936, onde foi Orador do Centro Cultural São Luiz Gonzaga. Transferido para o Ateneu, para fazer o curso Científico, preparando-se para o vestibular do Curso de Engenharia da Escola Politécnica da Bahia, da qual mudou para a Escola de Agronomia, em Cruz das Almas, também na Bahia. Fez, em Campinas, São Paulo, o Curso de Tecnologia do Algodão, no Instituto Agronômico Campinense.

Formado, PASSOS PORTO permaneceu na Bahia, trabalhando como agrônomo do Instituto Baiano do Fumo, e da Secretaria da Agricultura do Estado da Bahia. Foi técnico das Missões Rurais do Ministério da Educação, também no Estado da Bahia, Chefe das Patrulhas Mecanizadas (ou Rodoviárias) da Comissão do Vale do São Francisco, no baixo São Francisco, de onde saiu para ocupar a che3fia do Fomento Agrícola do Ministério da Agricultura, em Sergipe, ligando-se, politicamente, ao Estado onde nasceu. Iniciou sua carreira política, filiando-se a União Democrática Nacional – UDN, liderada no Estado por Leandro Maciel. E já em 1959 candidatava-se a Deputado Federal, iniciando uma série de mandatos à Câmara Federal: 1959-1963, 1963-1967 (apesar de não ser eleito, ocupou uma vaga com a morte dos deputados Euclides Paes Mendonça e Francisco de Araújo Macedo, 1967-1971, 1971-1975, 1975-1979. Na eleição de 1978 foi candidato ao Senado, assumindo o mandato em 1º de fevereiro de 1979, cumprindo-o integralmente até 31 de janeiro de 1987, quando então retirou-se das disputas. PASSOS PORTO cumpriu seus mandatos pela UDN, pela ARENA, pelo PDS e pelo PMDB. Isto, considerando a sua participação, ainda, na chapa de José Carlos Teixeria a governador do Estado. O eleito na chapa de Antônio Carlos Valadares foi Dr. Benedito Figueiredo.

Em todos os mandatos PASSOS PORTO foi um parlamentar que representou a transição, das franquias democráticas pós 1945, até o movimento militar de 1964 e deste até a abertura política, a criação dos partidos políticos, a construção democrática dos anos 80. O processo de redemocratização da década de 1940 marcou, profundamente, a vida política sergipana. Dois blocos radicais, um liderado pela UDN, algumas vezes apoiado por pequenos partidos, como o PTB, o PST, outro formado pela coligação PSD-PR. Violência, perseguição, confrontos marcaram os quatro períodos de Governo estadual, dois do PSD-PR, dois da UDN. O último Governo dessa fase, liderado por Seixas Dória,oriundo da UDN, e Celso de Carvalho, do PSD, acabou com a deposição, a prisão, a cassação do mandado e a suspensão dos direitos políticos do Governador, abrindo vaga para o Vice- governador assumir a administração do Estado. Com o movimento militar de 1964 toda a representação política afunilou-se na ARENA, partido de apoio aos generais, com apenas uma exceção, a do deputado federal José Carlos Teixseira, que preferiu organizar a oposição em Sergipe, fundando o MDB.

Sério e digno, estudioso dos problemas do País e do Estado, fiel aos seus compromissos, PASSOS PORTO foi um tipo de político que soube honrar os mandatos que conquistou e mereceu a confiança e o respeito do eleitorado sergipano. Poucos tiveram, como PASSOS PORTO, a visão crítica da realidade, poucos souberam, como ele, entrar e sair da vida pública, deixando nos Anais da Câmara dos Deputados e do Senado Federal um legado de sua inteligência,preparo e compromisso político. Integrou o bloco governista, mas teve comportamento exemplar, reconhecido por todos.

PASSOS PORTO foi Primeiro Vice-presidente do Senado, entre 1981-1982, Segundo Vice-presidente do Senado, entre 1985-1986, Diretor Geral do Senado, por 5 anos, Presidente do IPC, em 2 mandatos, presidiu e integrou as mais importantes Comissões Técnicas na Câmara Federal e no Senado, bem como cumpriu diversas Missões no exterior, elevando a imagem político do Brasil. Foi, também, Diretor-Financeiro da NOVACAP e, ainda, Membro do Conselho Administrativo da Fundação Zoobotânica do Distrito Federal, onde continuou vivendo após seu último mandato.

PASSOS PORTO continuou, no entanto, com casa em Aracaju, onde passava alguns meses do ano, revendo os amigos, atualizando as suas informações sobre o Estado, recebendo as justas homenagens dos sergipanos, pelo seu exemplo de dignidade e de competência política, e influindo, didaticamente, com sua experiência, no ambiente político-partidário de Sergipe. Casado desde 1951, com Maria Terezinha Santos Porto, sua conterrânea de Itabaiana, pai de três filhos: Manoel Santos Porto, José Passos Porto Filho, que como o pai também ficou conhecido como Passito e tentou a carreira política, e Ricardo Luiz Santos Porto.

Vindo de Brasília participar das eleições, PASSOS PORTO morreu em Aracaju, no dia 19 de outubro de 2010, sendo sepultado sob os aplausos dos seus admiradores e amigos que acorreram ao Cemitério Santa Isabel.

*Publicado em 12/11/2010 Infonet - [Blog Luíz A. Barreto].
*Foto e texto reproduzidos do site: infonet.com.br

Postagem originária da página do Facebook/Minha Terra é SERGIPE, em 27 de Novembro/2012.

1912, Anais de Aracaju


1912, ANAIS DE ARACAJU
Por Luiz Antônio Barreto

Na virada do século XIX para o século XX, Aracaju ainda era uma cidade descalça, mas dava sinais de vaidade, mostrando sua beleza pelas lentes dos fotógrafos residentes e por aqueles que alojados no Hotel Brazil (onde hoje está o prédio da Assembléia Legislativa, na esquina da Praça Fausto Cardoso com a Avenida Ivo do Prado) vendiam seus serviços de fotos “elegantes e garantidas,” como passou a prometer o estúdio de Moura Quineau, montado na Praça Benjamim Constant, esquina com a Rua Itabaianinha e a Travessa do Palácio. O Presidente do Estado, padre Olímpio de Souza Campos, fez um grande esforço para calçar as ruas centrais da cidade. Na praça Fausto Cardoso, entre as palmeiras e os caminhos gramados, o Presidente mandou fazer uma réplica da Torre Eifel, pequena e tosca, mas charmosa como uma evocação do luxo parisiense, tão em moda naqueles tempos.

O Teatro Carlos Gomes era um dos raros espaços culturais de Aracaju. Servia de teatro, propriamente dito, de salão de festas, de auditório e de cinema, seguindo a onda dos cinematógrafos. Em 1912 o Carlos Gomes trocaria de nome, para Rio Branco, mantendo as suas funções. O nome era uma homenagem ao Chanceler do Brasil, o Barão do Rio Branco, que morreu naquele ano, sendo uma das figuras emblemáticas da política brasileira. A Justiça, contudo, em 10 de março daquele ano, fazia o pregão de venda e arrematação do ainda Teatro Carlos Gomens, construção de pedra e cal, situada à Rua Japaratuba (atual João Pessoa) e avaliado em 30 mil contos de réis. A dívida, na verdade, era de apenas três mil contos de réis, verba testamentária deixada por Nicolau Pungitori, para construção de um masoleu destinado para os seus restos mortais. Pungitori fundou o Rio Branco e gozava de prestígio e respeito da população. O Teatro Carlos Gomes trocou o nome do compositor e maestro pelo do barão e Chanceler, mas sobreviveu com Juca Barreto e seu irmão Paulo Barreto Mesquita e outros da mesma família, até exaurir-se como espaço cênico, político, social, artístico e cultural.

Os feitos jurídicos dependiam, então, dos dez advogados e dos quatro rábulas, que mantinham Escritórios nas ruas centrais da cidade. O mais afamado deles era Gumercindo de Araújo Bessa, pela sua inquietude diante dos poderosos e pelo nível de sua cultura jurídica, seguindo-se João Antonio Ferreira da Silva, João Antonio de Oliveira, Joaquim do Prado Sampaio Leite, que foi aluno de Tobias no Recife, Carlos Alberto Rolla, que participou do Governo de Graccho Cardoso, Olímpio Mendonça, Alfredo Cabral, Leonardo Gomes de Carvalho Leite e Antonio Teixeira Fontes, e mais Antonio Gervázio Sá Barreto, Manoel Rollemberg de Menezes, Francisco Monteiro Filho e José Teixeira Fontes. Alguns deles ajudaram a fundar o Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, ideia de um estudante – Florentino Teles de Meneses – que não precisou concluir o curso médico na Bahia, para ser um dos maiores professores e intelectuais sergipano. Florentino Menezes foi professor de escola pública – Ateneu, Escola Normal – mas o que predominava, então, era o número de escolas privadas, dirigidas por devotadas senhoras, como Maria Cabral (Rua Japaratuba, 58, atual João Pessoa).

O Estado controlava apenas algumas poucas escolas, no contexto de uma rede de escolas particulares, como o colégio dirigido por Quintina Diniz, oriundo de Laranjeiras, e que pertenceu a professora Possidônia Bragança, e que mereceu, em ‘860, a visita do Imperador Pedro II, recheada de comentários elogiosos. O magistrado Evangelino de Faro era diretor do Colégio Grêmio Escolar, que mais tarde e no mesmo lugar (Praça Olímpio Campos) passou a ser “Jackson de Figueiredo.” O Colégio Tobias Barreto, fundado em Estancia em 1909, por José de Alencar Cardoso, o Colégio Salesiano Nossa Senhora Auxiliadora, que dividiam a preferência dos pais dos alunos. Décadas depois, o Colégio Tobias Barreto passou das mãos do professor Alcebíades Vilas Boas para a rede estadual de ensino, durante o Governo José Rollemberg Leite (1975-1979), e o Colégio Jackson de Figueiredo, dirigido pelo casal Judite e Benedito Oliveira, foi também adquirido pelo Estado, na gestão do Governador Antonio Carlos Valadares.

O complemento educacional era notado pelos inúmeros cursos de música, como o de Ricardina Lobão, que ensinava piano “por preço cômodo”, na Rua Itabaianinha, 16, o de Tobias Pereira Pinto, que ensinava piano em sua residência, à Rua Laranjeiras, 120,” por preços ao alcance de todos.”Havia, ainda, o Colégio Joaquim Honório, “habilitado para lecionar música teórica e prática”, e que anunciava a fundação, em março de 1912, de um bem montado estabelecimento de música, lecionando bandolim, piano, violino e todos os instrumentos de sopro e, ainda, afinando pianos. Cinema, escolas, educação musical, ajeitamento da paisagem, demonstravam o esforço de uma cidade para crescer e representar, para os seus moradores, um lugar adequado, alegre, jovial, sintonizado com as grandes cidades do País e do exterior. Aracaju teve, sempre, um charme que conserva com o passar dos anos, como atesta a evocação do ano de 1912.

Publicado pela Infonet em 02.03.2012 - Blog de Luíz A. Barreto
Texto reproduzido do site: infonet.com.br/luisantoniobarreto
Foto: download do Google

Postagem originária da página do Facebook/Minha Terra é SERGIPE, em 27 de Novembro/2012.

domingo, 25 de novembro de 2012

Mais Um Sonho Realizado


Mais um sonho realizado.
Por Robério Santos

Em 2005 tomei conhecimento de um dos livros mais raros que se há notícia por Sergipe, é o famoso Álbum de Sergipe, presente em tantos livros como referência no que se trata de fotografias antigas do nosso Estado e informações sobre ele. A princípio, devido ao título, pensei se tratar apenas de um álbum de fotos, fininho (devido a data de lançamento, 1920). Mas, em 2012 ao me deparar com uma cópia do original no Instituto Tobias Barreto percebi que o livro era mais que um livro e sim o ‘Santo Graal’ das publicações sergipanas. Luiz Antônio Barreto quem me fez a apresentação formal de uma cópia dele e fiz alguns retratos dos retratos e acrescentei à minha pesquisa para provar que Teixeirinha havia feito as fotografias do livro. Hoje, dia 22 de novembro de 2012, acordo às 6h e vou ao Google e digito “Álbum de Sergipe a venda” e me deparo com este anúncio:

“Livro Álbum de Sergipe - autor Clodomir Silva — Aracaju
Favorito
Preço R$ 1.000,00
Data de publicação2 8 Out 2012
Detalhes do anúncio
Vendo o livro Álbum de sergipe, ano 1920, autor Clodomir Silva. Obra rara, maior referência para o estudo da história de Sergipe, escrito por Clodomir Silva com patrocínio do Governo do Estado da época. Descreve sobre os 63 municípios, com fotos inéditas em preto e branco. São mais de 600 páginas, ilustradíssimo, fala sobre a política, economia, saúde, eduicação, etc. Os historiadores e pesquisadores sabem do que estou falando.
duda2007
Aracaju, Sergipe, Brasil
Rua Estância, 2.035 - bairro Pereira Lobo - Aracaju – Sergipe/ (79)3214 1420”.

Levei um susto bom e fui tomado pelo desejo de ter este livro que tanto me prometi um dia adquirir. O livro que me inspirou criar o “Álbum de Itabaiana” que será lançado ano que vem na Bienal 2013. Respirei fundo, fiz a bendita ligação após ficar minutos olhando o telefone com o final ‘1420’ já que o ‘4’ assemelha-se de forma triangular ao ‘9’... data de nascimento do livro (1920). Thayane disse “é um bom sinal”... quando o senhor me atende do outro lado ele pergunta “quem está falando?” e eu “Robério Santos de Itabaiana te liguei para saber se o livro Álbum de Sergipe está ainda à venda” e ele disse “E se eu disser a você que tenho 2 deles muito conservado e que recebi boas referências suas depois que vi o Terra Serigy e uma matéria na internet sobre querer provar que Teixeirinha fez as fotos do Álbum, peguei seu telefone no Museu da Gente Sergipana e ia te ligar para oferecer, você acredita?”. Gente, eu quase choro (destino?), fui voando para Aracaju e bati um bom papo agora pela tarde com o senhor que prefere ficar anônimo e adquiri creio ser a cópia mais conservada do livro, muuuuito mais que a de Luiz Antônio Barreto que hoje está no instituto Tobias Barreto, na Universidade Tiradentes - UNIT. O exemplar que adquiri está praticamente intacto desde 1920 (desde suas páginas até as fotos), parece ter sido feito hoje. O que mais me assustou foram duas fotografias inéditas de Itabaiana que eu me passei quando analisei o exemplar de Luiz Antônio Barreto: uma do grupo de cavaleiros subindo a Serra de Itabaiana e outra da Igreja Velha na década de 10... isso mesmo, a Igreja Velha com suas paredes mais conservadas... (bem, é o que parece ser).
Eu estou em êxtase desde que cheguei de Aracaju... só sei que agora tenho mais orgulho de ser Itabaianense e hoje podemos dizer que Itabaiana tem um Exemplar Original de o Álbum de Sergipe (1820 a 1920). Feliz? Imaginem só como estou... depois de me tornarem o Guardião dos Negativos de Teixeirinha acho que esta é a maior felicidade em termos de aquisição histórica que já consegui... são 500 fotografias de Sergipe entre 1860 e 1920 em altíssima qualidade... e agora? Parabéns, Clodomir, por ter feito isso por nós!
Sem mais, por enquanto... isso é um resumo do resumo do resumo do quanto eu queria detalhar este achado...

Postagem original na página do Facebook/Minha Terra é SERGIPE, em 22 de Novembro/2012.

João Silva Franco, O João Sapateiro

João Silva Franco, O João Sapateiro *

"João Silva Franco trabalhou duro para sobreviver. Negro, quase dois metros de altura, teve a vida marcada pelo sobrenome postiço. Profissionalizou-se como sapateiro, remendando o couro, trocando o salto, pondo meia sola nos sapatos da população, independentemente do poder aquisitivo de cada pessoa. Quem podia, é claro, comprava sapato novo, em Aracaju, ou em outra qualquer cidade do País. Mas, quem tinha dinheiro curto, e queria fazer bonito na festa de São Benedito, que é colada na festa de Santos Reis, encerrando o ciclo natalino, entregava seu sapato velho a João Sapateiro, estabelecido nas cercanias do Mercado Municipal. Discreto, mas de boa conversa, o sapateiro exibia na sua oficina de trabalho, folhas de papel pautado, repletas de palavras escritas em letras de forma, fixadas nas paredes e nos poucos móveis do seu canto laboral. Eram trovas, pequenos e longos poemas, que surpreendiam a freguesia. João Silva Franco passou a ser conhecido como João Sapateiro, e reconhecido como o sapateiro poeta.  João Silva Franco era um lírico, mas não cantava apenas o amor. Suas trovas estavam afiadas como navalhas, cortando com cada verso o tecido da realidade. Não calava diante das injustiças, mesmo quando a doçura de seu jeito simples e bom acolhia a todos. Numa de suas quadras, publicada na primeira antologia dos seus versos (Aracaju: Nova Editora de Sergipe, 1965), João Sapateiro corrigia a admoestação de São Paulo, que na segunda Carta aos Tessalonicenses exortava ao trabalho, como única forma de sobrevivência. O poeta, tomado de justa ira, tingiu as linhas do papel pautado com letras grandes, todas maiúsculas letras de imprensa, que diziam:

QUEM NÃO TRABALHA NÃO COME

É CONVERSA MUITO FALHA,

PORQUE SÓ VEMOS COM FOME

O POVO QUE MAIS TRABALHA.”

Ele mesmo, trabalhador e poeta, glória entre os simples, da grande e rica Laranjeiras, fez do pé de cabra e do martelo, da faca afiada e do couro, um ofício fino, para embelezar os pés dos seus contemporâneos, como fez da palavra uma arma, manejada para criar beleza, com a coragem dos bons e dos justos. Os sapatos, gastos, se perdem, mas a poesia continua servida, nos livros que publicou. (Luiz Antonio Barreto).

*Foto e texto reproduzidos do site sulanca.com


Postagem originária da página do Facebok/Minha Terra é SERGIPE, em 20 de Novembro/2012.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Eraldo Machado de Lemos *

Eraldo Machado de Lemos *

"Nasceu em 6 de maio de 1922, na Fazenda Paraúna, em Brejo Grande, sendo seus pais Manoel Machado Lemos e Isaura Machado Lemos.
Formou-se em medicina pela Faculdade de Ciências Médicas do Rio de Janeiro (em 1947) e em Ciências Jurídicas pela Faculdade de Direito da Universidade Federal de Alagoas (em 1954).
Formado em medicina, exerceu a profissão nos estados da Bahia e de Sergipe. Durante algum tempo, exerceu a advocacia.
Foi líder estudantil, presidente do Diretório Acadêmico, Secretário Geral e Presidente da União Nacional de Estudantes.
Foi o primeiro sergipano a fazer parte da Associação Médica Brasileira. Também integrou a diretoria da Associação Baiana de Medicina.
Deputado Estadual (1947-1951), Deputado Federal (1966-1974), Presidente do Instituto Nacional de Aposentadoria e Pensão dos Comerciários (1958-1959).
Faleceu em Aracaju, com 88 anos de idade, no dia 05 de agosto de 2010".

*Foto e texto reproduzidos do Blog: medicosilustresdabahia.blogspot.com.br

Postagem original na página do Facebook/Minha Terra é SERGIPE, em 21 de Novembro/2012.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Eronildes Ferreira de Carvalho

Eronildes Ferreira de Carvalho *

"Nasceu no povoado de Canhoba, município de Propriá, no dia 25 de abril de 1895, sendo seus pais Antônio Ferreira de Carvalho e Balbina Mendonça de Carvalho.
Realizou os estudos iniciais em Maceió (Alagoas), no Colégio 11 de Janeiro e no Liceu Alagoano.
Em março de 1911, matriculou-se na Faculdade de Medicina da Bahia, sendo por ela diplomado em 20 de dezembro de 1917, quando defendeu tese sobre “O Ópio na Terapêutica Mental”.
Estudante, foi auxiliar de laboratório da cadeira de Terapêutica Clínica, interno do Hospício São João de Deus, diretor da Beneficência Acadêmica, auxiliar da clínica hospitalar do Prof. Antônio Borja e membro da Sociedade Médica dos Hospitais da Bahia.
Formado, foi nomeado, interinamente, Diretor Geral de Higiene e Saúde Pública do Estado de Sergipe e dirigiu diversos serviços de profilaxia durante a epidemia de gripe espanhola (1918).
Em 2 de janeiro de 1919, foi nomeado diretor interino do Posto de Assistência Pública do Estado de Sergipe e em 18 de fevereiro de 1920 foi Inspetor Médico Escolar.
Em 23 de fevereiro de 1923, após concurso, foi nomeado médico do Corpo de Saúde do Exército e destacado para servir na cidade de Bela Vista, no Estado de Mato Grosso.
Em 16 de outubro de 1920 foi transferido para Aracaju e em 1935 foi eleito indiretamente Governador Constitucional de Sergipe.
Como Governador, construiu os prédios da Biblioteca Pública, do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, do Palácio Serigi e do Hospital de Assistência a Psicopata e ampliou o Hospital de Cirugia.
Faleceu no Rio de Janeiro, onde tinha um cartório".

*Foto e texto reproduzidos do Blog: medicosilustresdabahia.blogspot

Postagem original  na página do Facebook/Minha Terra é SERGIPE, em 21 de Novembro/2012.

Festival de Arte de São Cristóvão (1979)


Festival de Arte de São Cristóvão (1979)
Por Jorge Lins.

O ano é 1979. Durante a programação do Festival de Arte de São Cristóvão, o lançamento do livro OS REIS DA FLORESTA DE CIMENTO, texto teatral da minha autoria (e que enfocava o crescimento vertical desenfreado da cidade na época), com ilustrações de Jorge Luiz (Mestre do Bico de Pena). Na histórica foto, o escritor IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO (um dos mais importantes escritores vivos da nossa literatura e recebendo o autógrafo do aprendiz de vida e palavras. Convém frisar, que Loyola foi quem escreveu o “Pósfácio” do meu livro e fez na época uma relação entre o estilo da obra e a maravilhosa Coleção do Pinto, de Minas Gerais, destinada ao público infanto-juvenil, mas que tinha uma preocupação social), a poetisa IARA VIEIRA (Falecida há alhum tempo) e LUZIA SANTANA (cantora sergipana, irmã de Mingo Santana e radicada na Bahia, onde apresenatava um programa de TV). [Jorge Lins].

Foto e texto reproduzidos do Blog: coisasdesaocristovao.blogspot

Postagem original na página do Facebook/Minha Terra é SERGIPE, em 21 de Novembro de 2012.

Sergipanos lançam Memória, Patrimônio e Identidade


Infonet/Cultura/Noticias (21/11/2012).*

Sergipanos lançam Memória, Patrimônio e Identidade
O lançamento do livro será no dia 13 de dezembro

A memória está presente em monumentos, documentos, manifestações ditas folclóricas, músicas, paisagens, datas e personagens históricos, obras de arte, relatos orais e outros suportes. É uma importante ponte entre passado e presente, ponte esta que atua na manutenção da coesão de grupos e instituições formadoras da sociedade, uma vez que define o lugar de sujeito que ocupamos nesta sociedade.

Diante da necessidade urgente de salvaguardar o patrimônio histórico-cultural do município de Nossa Senhora das Dores (SE), as memórias dorenses, vítima de décadas de descaso, foi criado o Projeto Memórias (2003), dele o Informativo Cultural Memórias Dorenses (2005) e, depois, a Associação “Nossa Senhora das Dores dos Enforcados” (2006), entidade que hoje já conta com reconhecimento de utilidade pública nas esferas municipal e estadual e é, desde 2010, o único “Ponto de Cultura” do Médio Sertão Sergipano, chancela dada pela Secretaria de Estado da Cultura e pelo Ministério da Cultura por meio da concorrência em edital público e que garante o apoio financeiro a algumas atividades como oficinas, exposições, produção do filme “O Fogo do Cajueiro” (que resgata a história do cangaço no município), publicações as mais diversas etc.

Seguindo a proposta do Projeto Memórias, os escritores e historiadores João Paulo Araújo de Carvalho, Luís Carlos de Jesus e Manoel Messias Moura estarão lançando no próximo dia 13 de dezembro o livro “Memória, Patrimônio e Identidade”. Com mais esta obra, os autores buscam, como instrumento de promoção da dorensenidade (a identidade dorense), dar ao grande público acesso às pesquisas que os mesmos vêm desenvolvendo desde o surgimento do Projeto Memórias, há quase 10 anos. Estas pesquisas ensejaram a escrita de vários artigos, muitos deles publicados no informativo “Memórias Dorenses”, na Revista Perfil e em blogs e sites diversos, mas alguns inéditos, artigos que agora estão reunidos em livro.

Autores:

João Paulo Araújo de Carvalho

Professor das redes municipal, estadual e particular, com graduação em História pela Universidade Tiradentes, especialização em Educação e Patrimônio Cultural em Sergipe pela Faculdade Atlântico e mestrado em História pela Universidade Federal de Pernambuco. Como escritor, é autor de dezenas de artigos publicados em livros e periódicos, bem como do livro “Freguesia de N. Sra. das Dores (1858-2008): 150 anos de história e devoção”. É pesquisador da história, com destaque para religiosidade, cangaço e outros temas, sendo um dos fundadores e coordenadores do Projeto Memórias de N. Sra. das Dores.

Luís Carlos de Jesus

Professor de Ensino Fundamental e Médio, das redes públicas estadual e municipal. Graduado em Licenciatura Plena em História pela Universidade Federal de Sergipe e Pós-graduado em Gestão Educacional pela Faculdade Pio X e em Ensino e Identidade Cultura de História de Sergipe pela Faculdade Atlântico. Sócio-fundador do Projeto Memórias e da Associação de Incentivo a pesquisa e cultura Nossa Senhora das Dores dos Enforcados.

Manoel Messias Moura

Nascido em 1971 na Fazenda Tingui, município de Nossa Sra. das Dores (SE), Manoel Messias Moura é graduado em História pela Universidade Estadual Vale do Acaraú, membro fundador e coordenador da Associação de Incentivo à Pesquisa e à Cultura “Nossa Sra. das Dores dos Enforcados” (Projeto Memórias), tendo sido premiado várias vezes em concursos de redação a nível estadual e nacional. Manoel Moura tem também vários trabalhos publicados, é professor de artes plásticas, poeta cordelista, e artesão. Já exerceu na construção civil os ofícios de pintor, pedreiro, armador, eletricista, encanador e carpinteiro. Hoje, além de pesquisador da história local, atua como comerciante no ramo da alimentação.

Fonte: Assessoria de Imprensa.

*Foto e texto reproduzidos do site: infonet.com.br

Foto: Divulgação

Postagem original na página do Facebook/Minha Terra é SERGIPE, em 22 de Novembro de 2012.

Amigos Que Tenho


Amigos Que Tenho. 
Por Robério Santos

Luiz Antônio Barreto, Robério Santos José Augusto Baldock, Saracura, Luciano Correia, Robério Santos, Wanderlei Menezes, Rivas, Samarone e Jorge Carvalho

Agora, vamos enumerando quantos e quais livros cada ai publicou... Eu começo. Rivas - 50 Anos do Colégio Murilo Braga; 25 Anos do Colégio Murilo Braga; Está terminando um livro sobre a problemática das terras de Itabaiana e suas divisões através dos séculos.

Postagem original na página do Facebook/Minha Terra é SERGIPE, em 22 de Novembro de 2012.

Exemplares da Revista "Pipiri", Editada Pela PMA (1986/1997)

Coleções no Museu Histórico de Sergipe 

Exemplar da Revista Pipiri de novembro/1996, na capa, foto de Mário Jorge.
Foto reproduzida do Blog: coisasdesaocristovao.blogspot.com


Postagem original na página do Facebook/Minha Terra é SERGIPE, em 21 de Novembro de 2012.

Grupo Raízes

"Esse grupo de teatro fez parte de varias edições do FASC".
Foto e legenda reproduzidas do Blog: coisasdesaocristovao.blogspot.com.br

Postagem original na página do Facebook/Minha Terra é SERGIPE, em 21 de Novembro de 2012.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

João Evangelista dos Santos, o Popular Fumaça.

João Evangelista dos Santos, o popular Fumaça.

"No Mercado Albano Franco se encontra o mais antigo livreiro de usados em atividade: João Evangelista dos Santos, o popular Fumaça. Iniciou sua atividades no ano de 1975 na feira de sua cidade natal, Aquidabã. Depois começou a frequentar as feiras de Graccho Cardoso e Itabi, até que em 1978 começou o negócio na feira do Centro de Aracaju, no início da Rua Santa Roza, até que com a reforma dos mercados Albano Franco, Thalez Ferraz e Antônio Franco, Fumaça se muda para onde se encontra até hoje, os boxes 27 e 28, onde sua clientela compra revistas, livros de diversos gêneros, e alguns discos de vinil também. O preço “A gente sempre negocia”, informa o sempre alegre Fumaça". (jornal-contexto).

Foto e texto reproduzidos do blog jornal-contexto.blogspot

Postagem original na página do Facebook/Minha Terra é SERGIPE, em 20 de Novembro de 2012.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Do Vaqueiro ao Manequito


(Continuando com a história da Atalaia, republico:)

Do Vaqueiro ao Manequito
Por Amaral Cavalcante

Ninguém conseguia arrancar Luiz do Vaqueiro da sua cadeira de balanço na cozinha, só se fosse para atender a um desembargador ou algo que o valha, porque Luiz não era mole não. Sorridente e bonachão tinha lá seus princípios. Um deles era o de que um filho de Deus, mesmo sendo dono do mais concorrido bar da Atalaia, merecia descanso quando bem quisesse. “Tenho empregado é pra isso” dizia, mas quando Deus dava bom tempo era uma moça no trato com os amigos e uma fera com qualquer bagunça.
Lá mesmo, não! Quisesse tocar seu Iê-Iê-Iê que fosse pras dunas, onde aquela idiotice proliferava. Já as situações de amigação duvidosa e transgressões matrimoniais eram permitidas, desde que na entoca de uma mesa discreta e sem nenhuma safadeza visível.

De vaqueiro o bar do Luiz só tinha o nome: especializado em moquecas sergipanas com muito coco um tiquinho de dendê, atendia a um filé com fritas fazendo munganga, debicando do freguês. Um Parmegianne, tão em moda entre os elegantes da época, saia sim, mas debaixo de quatro tuncos.

Atração musical, propriamente, ainda não existia, mas lá estavam em mesa bancada por Hugo Costa, o seresteiro Antonio Teles e o cantor Lourão, de vez em quando o sopro de Medeiros, o violão de Macêpa e a voz maviosa de Nicinha Santos, debulhando boleros e guarânias.

O “Balneário”, primeira construção vetusta na praia de Atalaia, fora construído no governo Leandro Maciel por volta de 58 e completava, com a pista asfáltica onde se incluía uma ponte nova e o Aeroporto Santa Maria, as atenciosas melhorias que o governo apresentava a uma Aracaju que se descobria capaz de grandes transformações.

A iniciativa privada chegou afoita: primeiro Zé, o irmão, depois Luiz assumiu a empreitada, transformando o “Balneário” no “Vaqueiro” de quem trato aqui por conhecê-lo como a palma da mão. Muitas vezes fui levado para a cozinha pra acomodar o facho, degustando com Luiz um resto de camarão ao alho, cada um dest’amanho.

O bar passou de Luiz pata Rivaldo, o seu último dono, e a evolução estética no local tornou-se visível. Amante das artes, Rivaldo mujdou o nome para “Tropeiro”, criou uma ala vip onde instalou um belo mural de Joubert e chamou pra lá os artistas de então. Amorosa, esta cantora nossa de tantos predicados apareceu no Vaqueiro, quicando sua energia itabaianense para deleite nosso.

O “Tropeiro “ deu no que vemos hoje: uma terreno baldio enfeiando a principal esquina do nossa maior cartão postal.

Saindo do Vaqueiro convinha dar uma passadinha no vizinho “Busrguesia” para tomar um Cleper- bebida inventada pelo dono para substituir o Cuba Libre, já fora de moda – e encontrar a moçada politizada urdindo contra golpes intelectuais contra a ditadura e declamando Maiakovski. Seu Burgesia, um velho comunista de sólidas posições adotara este apelido desonroso, talvez para debicar da História.
Depois vinha o Barbudo’s, onde eu certamente estaria, nas delícias homéricas das curtições etílicas.

A tinta passos do Vaqueiro ficava o templo homérico das transgressões mais malucas, a bodega do velho pescador Manequito, um gigantesco preto-retinto de manoplas incomensuráveis e voz suave, idílico, contando coisas do mar difíceis de acreditar: arraias que assombravam o mundo, caranguejos dançando gafieira, camarões de barba branca e tempestades dignas de qualquer Ulisses.

Enquanto a moçada navegava no alto mar das lorotas, ria bonito o velho negão gigante, servindo pros bebuns a pilombeta esquálida que lhe rendia alguns trocados. Também era um bar de cheiro insinuante: a despudorada sovaqueira do proprietário invadia em feromônios o casto nariz das donzelas. Diz-se dele que nunca calçou um sapato; os pés cinqüenta e tanto nunca encontraram calçado que os abrigasse. E era sempre de pés no chão que nos atendia, abrindo folgazão suas garrafas de batida. a atração da casa “Tem de tudo quanto é coisa!” e mostrava na prateleira a fileira de litros arrolhados com capuco de milho.

Bebi de todas, mas a melhor, meu branco, era a de murici que travava o gogó e batia imediatamente no juízo do freguês.
Nunca se viu igual.

Postagem original da página do Facebook/Minha Terra é SERGIPE, em 16 de Novembro de 2012.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

A Arte Popular de Véio



Véio: Arte popular do sertão de Sergipe para o mundo.

Por: Verlane Estácio e Raquel Almeida

Um museu a céu aberto no meio do sertão chama atenção de quem passa pela BR 206, na altura do KM 08, na estrada que liga os municípios de Feira Nova e Nossa Senhora da Glória. Trata-se do Sítio Soarte, de propriedade e criação do Cícero Alves dos Santos (Véio), artesão sergipano que utiliza madeira para representar seu olhar inusitado sobre as histórias de vida do homem sertanejo. Recentemente, as esculturas de Véio foram retratadas no livro ‘Teimosias da Imaginação’, obra que reúne parte da produção de artistas considerados os dez melhores da arte popular brasileira. O sucesso foi tamanho que Véio foi o escolhido, entre os brasileiros, para participar da exposição e lançamento da versão francesa do livro, na Galeria Cartier, em Paris.

Natural de Nossa Senhora de Glória, Véio ganhou este apelido ainda criança por gostar de escutar a conversa dos mais velhos. Foi nesta época que artista começou a refletir sua admiração pela cultura popular em cera de abelha, mas logo depois descobriu os troncos de madeira para produzir suas esculturas. O Soarte, Museu do Sertão, criado ao lado de sua residência, recria a vida na região e traz para os visitantes a Casa de Farinha, Casa de Profissões, Igreja e o Sítio Caduco.

Quem passa pelo local se depara com um cenário curioso, formado por esculturas em madeira bruta que representam manifestações socioculturais criadas no que o próprio artista costuma chamar de ‘Universo Simbólico de Véio’. As esculturas do artista, que estão entre as menores do mundo, são feitas a olho nu, utilizando canivetes e até palitos de fósforo. “A maioria das pessoas que passam por aqui ficam curiosas, não sabem ao certo o que estão vendo. Aqueles de origem mais simples pensam que é macumba ou coisa de gente que não tem o que fazer. Outros param, observam, tiram foto e até levam sem pedir”, conta aos risos.
No seu acervo, o visitante pode encontrar peças grandes, médias, pequenas e minúsculas. São noivas, grávidas, seres imaginários, chapéus de couro, utensílios domésticos, maquinas rústicas, roupas e acessórios que fazem parte da vida do sertanejo. Autodidata, Véio conta que trabalhada na base da inspiração dada por Deus. “Quando a inspiração chega, posso criar qualquer coisa que esteja na mente do povo, desde a Marquês de Sapucaí às lendas e realidades do homem sertanejo. Vou em busca do material e deixo a imaginação tomar conta, pois temos muita riqueza a nível de história e cultura”, comenta.

Em suas obras, o artesão tenta fazer uma espécie de alusão ao ciclo da vida. “Digo que as peças novas trazem o valor da juventude e as velhas, já frágeis, que vão se destruindo pela ação da natureza, trazem a parte final da vida”, explica Véio.

Publicações

Além de revistas de arte, a trajetória de Véio já foi retratada em cinco documentários. São eles: ‘Véio- Tradição e Comtemporaneidade’, ‘Nação Lascada de Véio’, ‘A Glória do Sertão’, ‘Véio - O filme’, ‘O Universo Simbólico de Véio’ e Cavalhada de Poço Redondo’.

Suas peças estão espalhadas em vários lugares do mundo e do Brasil. Em Sergipe, as peças podem ser encontradas no seu próprio sítio, Memorial de Sergipe e Museu da Gente Sergipana. Fora do estado, é possível encontrá-las no Museu do Folclore (RJ), Galeria Estação (SP), Museu do Homem (PE), Galeria Pé-de-boi (RJ), Garandagem (AL), entre outros.

Teimosias da Imaginação

A exposição realizada pela Fundação Cartier em Paris marcou o lançamento do livro ‘Teimosias da Imaginação’ na versão francesa. O projeto apresentado no Brasil em três linguagens – documentário, exposição e livro- reúne coleções particulares de dez artistas brasileiros. Germana Monte-Mór ficou responsável pela curadoria do livro e Rodrigo Naves pela curadoria-adjunta e prefácio. Já os textos e entrevistas dos artistas foram editados pela historiadora Maria Lucia Montes.

O convite para ir à Paris veio a partir do lançamento do livro em São Paulo, na Galeria da Estação Pinheiros. Véio, que se destacou por sua desenvoltura, foi então o único brasileiro convidado para falar de arte e de suas obras em uma mesa redonda de debates na Fundação Cartier. Com a simplicidade de um autêntico nordestino, o artista conta que estranhou um pouco a forma como a arte era debatida naquele local.

“Eram só 10 pessoas me perguntando à respeito das minhas peças, costumes e das pessoas que aqui viviam. Enquanto isso, todos que estavam no auditório ficavam quietos, foi daí que pedi que as perguntas fossem abertas para a plateia também.

Fonte: Infonet - 19/6/2012.

Artigo e foto reproduzidos do site consultnews.com.br

Foto: Portal Infonet. 

Postagem original na página do Facebook/Minha Terra é SERGIPE, em 23 de Agosto de 2012.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

"Aracaju de Ontem e de Hoje", de Jaime Gomes Junior - 30


Foto da Avenida Desembargador Maynard, próximo da esquina da Avenida Hermes Fontes, em 1962. Ao fundo vemos o belo casarão na esquina da Avenida Barão de Maruim com Hermes Fontes. Foto atual de Outubro de 2012. Acervo Particular: Jaime Gomes Junior.

Postagem original na página do Facebook/Minha Terra é SERGIPE, em 23 de outubro de 2012.

Professor e Educador Ambiental José Bezerra Neto

Professor sergipano recebe prêmio Betinho 2010

O professor e educador ambiental José Bezerra Neto realiza projetos na área social há mais de 20 anos. Suas ações envolvem educação e meio ambiente nas escolas e associações em Aracaju (SE). Graças aos diversos projetos realizados na área, ele – que é ex-aluno e hoje professor do Colégio Arquidiocesano – foi indicado e ganhou o Prêmio Betinho Atitude Cidadã 2010, sendo um dos dois mais votados do Brasil.

A votação da terceira edição do Prêmio Betinho chegou ao fim no dia 30 de novembro. Desde o dia 9 de agosto, quando foi lançado, foram computados 56.507 mil votos de reconhecimento às atitudes de pessoas de todo o país que se mobilizam de diversas formas para melhorar as condições de vida de comunidades de baixa renda ou das localidades onde vivem.

“Com a educação ambiental, a comunidade mudou hábitos alimentares e suas atitudes com relação ao lixo, o saber fazer através da solidariedade, entre outros. Sinto-me honrado pelo reconhecimento do trabalho desenvolvido ao longo de todos esses anos. É uma honra receber esse prêmio porque só vem reafirmar nosso compromisso com o meio-ambiente e a solidariedade com as pessoas. E não é só meu, é meu e de meus alunos, que me ajudam a desenvolver meus projetos”, afirma o professor.

O foco é amplo. Suas ações abrangem desde temas como reflorestamento; despoluição de rios e margens, preservação dos animais silvestres; plantio de árvores em bosques, praças e avenidas de Aracaju; até coleta seletiva e economia de energia e água. Além desses projetos, que já somam mais de 17, ele ajuda a realizar campanhas de arrecadação de alimentos e captação de ração para cães e gatos.

Todo esse trabalho promove a conscientização ambiental e social de jovens e crianças. “Depois da visitação a uma creche com alunos de uma escola, esses alunos viram uma realidade bem diferente da deles, e, incomodados com a situação, passaram a ser mais solidários com as pessoas mais necessitadas”, explica José.

Esta é a primeira vez que o professor é indicado ao prêmio. Apesar de ter saído vitorioso, ele nunca pensou que algum dia fosse recebê-lo. “A indicação a esse prêmio não foi uma meta, mas sim consequência de todo o trabalho desenvolvido. O Cheirinho de Mato foi muito importante, sem dúvida, para esse reconhecimento, mas os outros projetos que desenvolvi nesses mais de 20 anos em prol da comunidade e meio ambiente também foram importantes, tais como as oficinas de educação ambiental para escolas públicas, a despoluição de rios e margens, além das várias campanhas de arrecadação de alimentos e de ração para cães e gatos”, disse Bezerra.

Segundo o professor, as aulas de educação ambiental podem ajudar a melhorar a qualidade de vida dos alunos e, consequentemente, de suas famílias, sensibilizando, mudando a concepção e o comportamento das pessoas em relação ao meio ambiente. “Ensinar as crianças a cuidar do meio ambiente é plantar uma semente para colher um futuro sustentável. A Educação Ambiental é um instrumento eficaz de interação entre a sociedade e a natureza. É o caminho para que cada indivíduo mude de hábitos e assuma novas atitudes que levem à diminuição da degradação ambiental e à melhoria na qualidade de vida”, completou.

O Prêmio

O Prêmio foi lançado pelo Comitê de Entidades no Combate à Fome e pela Vida (COEP) em 2008, buscando valorizar as pessoas que praticam no dia-a-dia a luta contra a fome e a promoção da cidadania. Ele quer ainda dar rosto, voz e reconhecimento a quem participa ativamente da comunidade onde vive e acredita que cada um – do seu jeito – pode fazer a sua parte para construir um Brasil melhor e mais justo. O Prêmio também serve de estímulo para que todos encontrem sua forma de participação.

Em sua 1ª edição, a iniciativa recebeu cerca de 17 mil votos, provenientes de 674 localidades, e 33 vencedores foram anunciados durante o II Encontro Nacional do COEP, realizado no Rio de Janeiro. Durante a solenidade pelo aniversário de 15 anos do COEP, a esposa de Betinho, Maria Nakano, recebeu simbolicamente o troféu em nome dos vencedores: uma pequena escultura com a caricatura de Betinho feita pelo cartunista Ique, que cedeu o direito de uso de sua obra. Em 2009, o Prêmio teve ainda mais participantes. Foram cerca de 78 mil votos de 1.410 localidades e 32 vencedores.

O COEP é uma rede que reúne comunidades, organizações e pessoas. São cerca de 1,1 mil organizações, públicas e privadas (universidades, empresas, órgãos governamentais, entidades de classe e organizações não governamentais, entre outras); mais de 100 comunidades em todos os estados brasileiros; 29 municípios e mais de 12,5 mil participantes da Rede Mobilizadores. A Rede Mobilizadores reúne pessoas, do Brasil e do exterior, que atuam ou desejam atuar na área social. Os (as) participantes interagem e aprimoram conhecimentos e práticas na área social por meio do site www.mobilizadores.org.br.

Fonte: Jornal da Cidade.

Foto e texto do blog cheirinhodemato/José Bezerra.

Postagem original da página do Facebook/Minha Terra é SERGIPE, em 10 de Julho de 2012.

Pedro Amorim: Construtor de Canoas de Tolda

Crédito Foto: Adeval Marques

PEDRO AMORIM
Do site rotadosertao.com (08/07/12).

Pedro Amorim: um dos últimos mestres navais construtor de Canoas de Tolda
As canoas de tolda foram de grande impotância para o desenvolvimento do Baixo e Médio rio São Francisco.

Pedro Amorim: um dos últimos mestres navais construtor de Canoas de Tolda
Em Propriá/SE - As canoas de tolda foram de grande impotância para o desenvolvimento do Baixo e Médio rio São Francisco. De igual importância estão também os seus construtores navais, pilotos canoeiros e os proprietários que fazem parte dessa história sem registro e que até hoje passam desvalorizados por àqueles que podem e deveriam fazer algo em nome desse legado. Volto a dizer: "um povo sem cultura e sem história perde a sua identidade enquando formação social e por conseguinte de sua nação."

Lembrar a história é viver duas vezes ou mais; lembrar é trazer de volta as emoções e voltar ao passado. As boas lembranças provocam satisfação, oxigena a mente, fecunda a vontade de viver mais e sempre. Canoa de tolda: o símbolo do Baixo São Francisco.

Fonte:gazetadepropria/Adeval Marques

Postagem original na página do Facebook/Minha Terra é SERGIPE, em 15 de Julho de 2012.

Mercados Centrais Marcaram Desenvolvimento da Capital


Mercados Centrais Marcaram Desenvolvimento da Capital
Com Informações de Andreza Lisboa da AAN

A região centro-comercial de Aracaju, além de abrigar importantes estabelecimentos e lojas, também oferece um valioso registro histórico sobre a cultura, política e economia da nossa cidade.

É nessa região que se concentram boa parte dos antigos casarões e prédios imponentes que marcam a história dos 156 anos da capital. Dentre este vasto e valioso conjunto arquitetônico, os mercados centrais Antônio Franco e Thales Ferraz impressionam turistas e moradores pela sua bela e sólida estrutura que resiste às marcas do tempo.
Desde quando surgiu, em 1855, até o início do século XX, a cidade de Aracaju não possuía uma área de mercado central organizada. Os produtos comerciais que chegavam eram expostos no chão da ‘Rua da Frente', mais precisamente na esquina das ruas Laranjeiras com São Cristóvão. Somente no governo de Graccho Cardoso (1922-1926), é que se efetivou a construção de um mercado dentro dos padrões de higiene e saúde pública instituídos na época.

O engenheiro Sebastião Basílio Pirro elaborou os primeiros esboços do projeto inicial. A inauguração do novo espaço recebe o nome de Mercado Antônio Franco, também conhecido na época como mercado modelo. O prédio era bastante imponente para o período e lembrava os grandes mercados de comércio do mundo. Havia um conjunto de lojas nas quatro faces do prédio, um pátio de aparência útil e versátil, além de um estilo arquitetônico de origem colonial espanhola.

Estratégico

A construção do mercado central ficou localizada em uma região estratégica para a capital. Segundo o historiador Amâncio Cardoso, o local reunia uma grande concentração de pessoas e isso facilitou o desenvolvimento comercial. "Ainda no início do século XX, a zona portuária e a antiga estação de trem se constituíam como importantes meios de transporte e comunicação para a cidade. A proximidade com estes locais foram fatores importantes para a livre circulação de compradores e comerciantes, que vinham tanto da capital como do interior do estado", explica.

O rio Sergipe também era uma importante via de transporte e comunicação entre Aracaju e o interior. Em especial, nas regiões do Vale do Cotinguiba, como as cidades de Maruim, Riachuelo, Laranjeiras, Santo Amaro e Japaratuba. Já o trem, cuja antiga estação era localizada no final da avenida Coelho Campos e no espaço em que hoje se concentra a praça de eventos do Forró-Caju, caracterizava-se como um dos meios de transporte mais usados na época.

No setor de comércio e serviços, o mercado se situava em uma área de grandes estabelecimentos, como bancos, o internato para moças Nossa Senhora de Lourdes, o prédio da antiga Alfândega, além da igreja San Salvador. A concentração de cassinos, clubes dançantes, bordéis e boates nas áreas circunvizinhas também facilitaram a intensa circulação de pessoas no local. "Era uma área de confluência profana e religiosa. O profano é que era uma área comercial, de meretrício, de negócios. E religiosa, por ter um colégio de ensino católico e uma igreja", afirma o historiador.

Referência

O mercado central também era um importante centro de sociabilidade no início do século XX. O local atraía negociantes, profissionais liberais, operários, compradores e viajantes que faziam transações comerciais, discussões e encontros casuais. Neste momento, o espaço já despontava como um centro de referência para o convívio social da sociedade aracajuana da época.

A proximidade com o bairro Industrial também contribuiu para deixar o lugar mais atrativo para o setor social e econômico. "Não só por estar próximo a uma zona portuária, comercial e ferroviária é que havia o intenso fluxo de pessoas no Mercado. Fora estes espaços, também há a proximidade com o bairro Industrial, um dos locais mais populosos da capital nesse período. A economia aracajuana da época sofria grande movimentação de trabalhadores e operários com as duas fábricas têxteis do local", afirma Amâncio Cardoso.

A partir da década de 40, o Mercado Antônio Franco não comportava mais a quantidade de comerciantes e compradores de outros estados, Alagoas e Bahia, assim como da capital e interior que frequentavam diariamente o lugar. A solução foi investir na construção de um novo prédio que atendesse adequadamente esta demanda. Surge em 1948, o mercado auxiliar que recebe o nome do famoso industriário Thales Ferraz.

Anos depois, a área próxima aos mercados passa por intensa transformação, como a derrubada da antiga estação de trens para a construção de uma praça, em 1950, e posteriormente, a demolição da garagem de trens por conta de um vendaval em 1974. Aliás, a década de 70 marca o declínio do pólo centro-comercial dos mercados centrais.

"O auge do Centro Histórico foi entre as décadas de 40 e 50, sendo que depois ele entra em franca decadência. Com o declínio da área comercial e, futuramente, histórica dos Mercados Centrais é que há uma transformação deste local em uma zona de baixo meretrício durante a década de 70", analisa Amâncio.

Revitalização

A partir dos anos 90, a Prefeitura Municipal de Aracaju (PMA), em parceria com o Governo do Estado, começa um projeto de revitalização do Centro Histórico com a valorização de alguns monumentos e edificações, além da restauração dos mercados centrais. É nesse mesmo período que é construído o mercado Albano Franco, vizinho aos dois anteriores e com uma arquitetura bastante diferenciada.

Esse último empreendimento marca a terceira e última etapa de evolução do Centro Histórico. Para o professor Amâncio, a área possui grande significado para o valor histórico da cidade e merece constante atenção de autoridades e sociedade civil. "A revitalização do patrimônio do centro histórico de Aracaju é muito importante para o interesse econômico, turístico, comercial e a formação de novos empregos. O seu forte potencial arquitetônico que reúne construções ecléticas, em arte decor, neoclássicas e modernas, serve como documento histórico sobre a evolução da paisagem urbana da cidade", conclui.

Foto e texto reproduzidos do blog blogdoreginaldo.blogspot de Reginaldo Santos.

Postagem original na página do Facebook, em 12 de Novembro de 2012.
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sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Um Bar de Otário


Um Bar de Otário
Por Amaral Cavalcante

 Fui ao Gleide Lanches, na calçada da Atalaia, levado por uma reticente nostalgia. O insinuante clima de pegação, os amassos fortuitos, a mistura de sons que vai do rock pauleira ao jazz, da cornice às delícias de Freddie Mercury e que de repente serena numa canção dolente de Caetano, me transportaram aos bares malucos da década de 1970, onde ficaram vencidas as minhas mais descoladas emoções. Fui tentar rever no Gleide o poeta maluco com o seu rabo de cavalo, as pantalonas berrantes, o coração feito pandeiro ritmando amores.

Que desilusão! Encontrei um povo feinho encastelado em suas mesas num círculo fechado de conversas restritas. Um bando de desconhecidos, um deserto de compartilhamentos. Nos bares de 70 caminhávamos entre as mesas nos reconhecendo, tirando onda, afofando o papo numa gregária distribuição de motivos felizes. Era assim no Bar 315, na Furna da Onça, na Cascatinha, nas Bocas, no Corno Velho, no Vaqueiro, no Burguesia, no China, no Barbudo’s... este último, um templo onde cultuávamos o por do sol carburando um fininho nas tardes amenas da Atalaia para depois, cabeça entorpecida de fumo e maravilhamentos, guardarmos o precioso botim dos nossos amores madrugados.

Duas cervejas mijadas, um frango à passarinho (de pescoço e moelas), um bêbado roçando em mim o umbigo de pitomba, pedi a conta! Meia hora depois a garçonete - metade bunda, metade indiferença - me apresentou uma conta fantástica que, depois de agitados impropérios e bate-boca com o dono, um sonolento senhor com cara de padeiro, foi refeita, salvando-me dos 20 reais acrescentados.

Amigos, amados, por onde andam vocês?

Postagem original na página do Facebook/Minha Terra é SERGIPE, em 8 de Novembro de 2012.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Preciosas Brefáias do Folclore Sergipano.*

Edição de 1967.
Resenha do livro "Brefáias e Burundangas do Folclore Sergipano", de José de Carvalho Déda (1898-1968), apresentada por Amâncio Cardoso dos Santos Neto durante reunião de estudos do grupo Defensores do Patrimônio Cultural Sergipano no dia 10 de abril de 2011. Originalmente publicada em: Aracaju Magazine, Aracaju, ago. 2002, p. 18-19.

DÉDA, José de Carvalho. Brefáias e Burundangas do Folclore Sergipano. Aracaju, Livraria Regina, 1967.

Por Amâncio Cardoso dos Santos Neto *
e Francisco José Alves **

Há algumas semanas, foi lançada a segunda edição de Brefáias e Burundangas do Folclore Sergipano (Maceió: Edições Catavento, 2001. 252 p.) de José de Carvalho Déda (1898-1968). A primeira edição foi em 1967 (Aracaju, Livraria Regina). A atual foi organizada e anotada pelo jornalista e folclorista Luiz Antônio Barreto, sob os auspícios, em boa hora, do Instituto Tancredo Neves/Sergipe.

O magistrado Carvalho Déda era um profundo conhecedor da cultura sergipana. Ele ouvia, vivenciava e anotava os fatos do acervo do saber popular. Apesar de ser natural de Paripiranga/BA, foi em Simão Dias que saboreou e coletou as preciosidades do folclore local. Além disto, percorreu vários municípios em busca de seu objeto de pesquisa. Ele foi, em verdade, um garimpeiro de nossa cultura popular. Fez parte de uma geração de folcloristas que produziram estudos a partir da década de 40 e 50 do século XX, tais como Mário Cabral; Paulo de Carvalho-Neto; José Calasans (1915-2001) e Felte Bezerra (1908-1990).


Edição de 2008.
Brefáias e Burundangas é composto por 36 (trinta e seis) entradas de assuntos. O material enfeixado pelo folclorista transita no plano das crenças e superstições (a reza da cabra preta, as “promessas”, a figura do diabo, as Luzernas, o lobisomem, as encomendações das almas, ...); no dos usos e costumes (os velórios, os apelidos, os juramentos, as épocas e as datas, preconceitos de honra, modéstias e exageros, ...); no da linguagem popular (as vozes dos animais, provérbios, linguagem dos caminhões, ...); no plano da lúdica (o reisado, o parafuso, as argolinhas, o quebra-pote, o pau de sebo, o “judas”, o “casamento de cavalo”, o folguedo de São Gonçalo, a víspora, os “trancalínguas”, o “gato e o rato”, ...); no das artes e das técnicas (remédios, “batalhões” ou “trabalhadas”, caçadas e armadilhas, ...); no da música (trovas, repentes e desafios); no da literatura oral (o burro carregado de louça, a mulher do piolho, o papa-hóstia e a freguesona, uma estória de formiga, o milho de “Bita”, a sogra de Cristo, as galinhas do vigário, etc.).

A obra de Carvalho Déda é uma miríade de usos e costumes do nosso povo. Alguns deles até desaparecidos. É o caso da Festa do Barricão, assim descrita por Carvalho Déda: “puxando um desordenado préstito pelas ruas da localidade, ia uma carroça com uma enorme barrica, dentro da qual um mascarado, em trajes femininos, cantava versos alusivos ao celibato, que eram respondidos, em coro, pelos acompanhantes ao som da sanfona e reco-reco. Ao passar por uma casa [onde] havia uma solteirona, o carro parava e o mascarado do barricão se exibia com exagero, fingindo um angustioso pranto de vitalina.” (p. 119). A Festa do Barricão, muito em voga no interior de Sergipe até o final do século XIX e início do XX, teria sido relegada, segundo o autor, devido às irreverências das cantorias que feriam a sensibilidade das vitalinas, criando casos de polícia.

Carvalho Déda presta homenagem aos trovadores João Canário e “Sá” Martinha, também esquecidos, conforme ele, pela memória sergipana.

João Canário, natural de Itabaina/SE, faz parte da infância profunda do autor que ficava “horas e horas, esquecido do mundo, escutando o velho cantador.” (p. 151). Canário era cego e tinha desgosto por não saber tocar viola. Cantava ao som de um “querequexé” de folhas de flandres. Ele era perfeito na rima, no repente e nos “desafios”. Fazia suas funções nas feiras do interior guiado por um menino ativo, apelidado por Caboco Liso, que era os olhos do cego. Boêmio incorrigível, morreu na miséria e “esquecido dos sergipanos !”, lastima Carvalho Déda (p. 150).

A trovadora “Sá” Martinha do Sabão não cantava em feiras, somente em sua casa ou na dos amigos, e sempre “sob as vistas do pacato esposo.” (p. 151). Fora bonita; perdera uma vista e, tempos depois, nascera e crescera-lhe um bócio. A maledicência popular alcunhara-a de Martinha do papão, humilhando e azucrinando a cantadora. Conta-se que por ter perdido um desafio para um poeta “carapinha” ou de cor negra, ela deixara de cantar. A assistência de moças brancas e preconceituosas do sertão sergipano viu a trovadora perder nos versos para o “pachola pixaim”. E nunca mais se repetiriam “as tertúlias na bucólica casinha do Sabão.” (p. 154).

O livro de Carvalho Déda é um repositório sentimental e valioso das manifestações populares sergipanas. Esta característica foi reconhecida por uma sumidade nos estudos do folclore nacional, Luiz da Câmara Cascudo (1898-1986). Ele escreveu, em 1965, uma “Apreciação” sobre Brefáias e Burundangas que na atual edição foi posta pelo organizador como “Fortuna Crítica”, acompanhada pelo texto “Folclore sergipano” do antropólogo Felte Bezerra (1908-1990), também constante da 1ª edição.

Brefáias e Burundangas é encerrado por uma espécie de apêndice. Falo do registro de 809 (oitocentos e nove) provérbios populares e um glossário com 957 (novecentos e cinqüenta e sete) vocábulos. Uma espécie de sergipanês, como escreveu o apresentador da obra, Luiz Antônio Barreto.

Neste vocabulário, é curiosa, dentre outras coisas, a variedade de referência ao ânus ou região anal. Tais variações demonstram, entre o povo, o quanto esta parte do corpo é carregada semanticamente. Certo é que há um uso prolífero de variantes na cultura popular referente ao ânus. Eis os vocábulos que aludem ao referido órgão anotados pelo autor: bugueiro; bufante; broca; chicote; federal; fevereiro; farinheiro; felipe; pregas; regueira (região anal) e cuelho (o pelo do ânus).

A coleta de Carvalho Déda é um documentário vivo e diversificado do folclore sergipano. É um registro de fatos folclóricos recomendados tanto ao estudioso das Ciências Humanas quanto àqueles que simplesmente têm curiosidade para conhecer uma parcela significativa do patrimônio cultural de nossa gente. Ou seja, esta recolha espera tanto a análise do especialista para tentar interpretar a cultura local e discutir sua identidade, quanto satisfazer o espírito daqueles que reconhecem a concomitante universalidade e especificidade dos traços da cultura sergipana.

Por fim, deixemos o eminente Câmara Cascado avaliar sinteticamente Brefáias e Burundangas do Folclore Sergipano: “Trata-se, evidentemente, de um livro útil, movimentado, bem brasileiro, dedicado às bases fundamentais e eternas do seu Espírito, a cultura tradicional do seu povo.” (p. 249).

* Mestre em História Social pela Universidade Estadual de Campinas; Graduado em História e Especialista em Geografia Agrária pela Universidade Federal de Sergipe; Professor do Instituto Federal de Sergipe - acneto@infonet.com.br.

** Doutor em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro; e Mestre em Antropologia pela Universidade de Brasília; Graduado em História pela Universidade Federal de Sergipe; Professor do Departamento de História da Universidade Federal de Sergipe - fjalves@infonet.com.br.

Postagem original no Blog dpcs-ufs.blogspot.com.br
Por Defensores do Patrimônio Cultural Sergipano.

*Foto e texto reproduzidos do Blog dpcs-ufs.blogspot.com.br

Postagem original na página do Facebook/Minha Terra é SERGIPE, em 8 de Novembro de 2012.