segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

João Costa: o mestre do teatro sergipano

Foto postada para ilustração do artigo, por Facebook/GrupoMTéSERGIPE.

Publicado originalmente pelo site Osmário Santos, em 07/02/2011.

João Costa: o mestre do teatro sergipano
Por Osmário Santos.

Professor de português de várias gerações, continua em plena forma ocupando como sempre , posição de destaque em sala de aula, o seu segundo mundo. Um patrimônio do ensino em Sergipe, uma existência de dedicação ao ensino da língua portuguesa.

Um homem e de palco, onde o teatro, sua grande paixão, sempre ocupou lugar privilegiado em sua vida. É responsável pelo lançamento de inúmeros atores sergipanos.
A história do teatro sergipano não pode ser escrita sem o seu nome. Fundou o teatro da Sociedade de Cultura artística e com ele uma página de glória e de conquistas na arte cênica.

Sergipe passou a mostrar lá fora que tinha teatro, quando duas peças de sua autoria foram vencedoras de festivais. O Norte e Nordeste realizado na Paraíba com o prêmio de melhor espetáculo e o de melhor direção, e o festival Nacional de Teatro, onde conseguiu o prêmio de melhor espetáculo.

Um de seus trabalhos de escritor de teatro recebeu corte pela censura federal na época do regime militar. Hoje, está afastado do palco, mas não está desanimando. “ O que falta é amparo financeiro. A UFS não tem dinheiro. Os governos n]ao têm dinheiro e, quando têm, consideram que teatro é investimento de última categoria”.

Filho de Cedro de São João

Nascido no município de Cedro do São João, Sergipe, é filho de pais pernambucanos: José Costa Pau D’ Alho e Josepha Ferreira Costa.

Curso primário

Concluído em Ribeirópolis, em escola isolada, quer dizer: escola pública estadual, cuja professora Valdice Carvalho Santos, fazia uso de métodos de ensino hoje fora de moda. “Ensinou-me subsídios de gramática portuguesa de que ainda me sirvo para orientar meus alunos, tanto como fiz na universidade, como os cursos de pré-vestibulares. Tudo isso porque a gramática de uma língua não é assim mutável durante uma vida e, como se sabe, a língua é dos elementos constituintes da vida social o mais reacionário. Portanto, o que aprendi em criança ainda é novo.

Curso médio

“ Houve um período e ligação entre o primário e o ginásio. Estudei no Colégio Jackson de Figueiredo, onde vim a estudar na 5ª série primária. Isso em 1947.Viajamos juntos no mesmo ônibus, José Sebastião, hoje do Pio Décimo e eu. Matriculamo-nos ambos no Jackson. Tomamos rumos diversos: ele na Escola Técnica de Comércio de Sergipe, eu, Colégio Estadual de Sergipe, o antigo Atheneu na Av.Ivo do Prado. Fiz no Atheneu a 1ª série e, a partir da 2ª ginasial até o 3º científico, estudei interno no Colégio Tobias Barreto”.

Curso superior

“ Fiz vestibular para letras neolatinas – português, latim, espanhol e Italiano, na Faculdade Católica de Sergipe, que funcionava à noite, no Colégio Nossa Senhora de Lourdes, cuja entrada para nós, era pela rua Itabaianinha. Lá cursei o 1º e 2º ano, fincando devedor de latim e espanhol, cadeiras que me reprovaram, dado que a cobrança dos conhecimentos exigia o método onde tudo era decorado. Concluir o curso na rua Campos, onde hoje funciona o Ipês”.

Curso paralelo

“ Enquanto cursava a Faculdade de Filosofia, seguia estudos na Aliança Francesa com Madame Rolland ( Monique Rollnad) , que foi a primeira professora da Aliança Francesa em Aracaju e que funcionava numa casa que não mais existe, avenida Ivo do Prado, 14, que hoje, cedeu espaço para a construção da Assembléia Legislativa. Por causa dos estudos de francês na Aliança, tornei-me professor de francês em Aracaju, chegando a ser professor catedrático de francês do Instituto de Educação Rui Barbosa, nomeado pelo governador Leandro Maciel, por intermédio do pedido de Francisco Modesto dos Passos, hoje ainda muito conhecido como deputado estadual. A princípio o pedido de Chico Passou causou estranheza ao governador. Um lugar de professor de Francês no Estado para a um rapaz de Ribeirópolis, chegava a provocar risos, pois no interior não existem cursos de língua estrangeira. Tudo depois se esclareceu com a interferência do Dr. Heribaldo Dantas Vieira através ainda, do seu sobrinho Hugo Vieira, que era o meu colega de Aliança Francesa”.
“ Em 1959 ganhei do governo francês uma bolsa de viagem com tudo pago na França, onde passei 45 dias, estada essa que muito me valeu no sentido cultural. Quando o poder público gasta dinheiro com bolsa de estudo está fazendo investimentos com lucros certos no futuro”.

Atividade profissional

“ Sempre fui professor e isso desde o começo. Desde quando comecei a trabalhar. Cito por ordem cronológica os estabelecimentos onde ensinei: Colégio Tobias Barreto, Escola Técnica de Comércio de Sergipe, Ginásio Pio Décimo, Colégio do Salvador ( ainda hoje o melhor colégio do Estado, onde o modelo de ensino perfeito até hoje se mantém até hoje. Basta dizer que os meus alunos de francês e analisavam sintaticamente Estância de os Lusíadas de Camões. Mais ainda: na primeira série ginasial, hoje, 5ª série, o exame oral de francês era feito dialogando em francês com os pequenos e as pequenas de 11 anos de idade”.

“Outros estabelecimentos: Colégio Patrocínio de São José, Instituto de Educação Rui Barbosa, Colégio Estadual de Sergipe ( Atheneu Sergipense),Colégio Estadual Castelo Branco, quando comecei a ver o descaso que se pode conceder ao ensino. Quero dizer: funcionar um colégio sem o mínimo compromisso de responsabilidade para que alguém aprendesse qualquer coisa e por aí vai”.

Sociedade de Cultura Artística

“ Comecei a colaborar na Sociedade de Cultura Artística de Sergipe –SCAS, ao lado da presidência de José Carlos Teixeira e daí, anos depois, fui presidente da SCAS por três períodos, época em que, com a absoluta orientação de José Carlos, foi construído o edifício sede da SCAS. Ainda me lembro da voz embargada de José Carlos durante seu discurso de inauguração do prédio. É que ele sempre amou a Cultura Artística e sempre esperava que o povo inteiro se cultivasse no teatro, na música, e nas artes plásticas. Hoje percebo que uma vida, mesmo longa, é muito curta para ter esse prazer”.

Continuação de arte

“ Foi sob a minha orientação que se fez o teatro da SCAS, tanto dirigindo peças como interpretando ou escrevendo, além de contratar diretor do sul do país para o trabalho de direção. Assim é que a SCAS montou as seguintes peças: ‘Chuva’de Colton e VClements, ‘Dias Felizes’ de C.A. ‘Puget, Armadilha pra um Homem Só de Robert Thomas’. ‘A Prima Dona de José Maria Monteiro’. ‘ O Pedido de Casamento’ de A. Tchecov. ‘O Banquete de Lúcia Benedetti’. ‘ Natal na Praça’ de Henri Ghéon. ‘O Boi e o Burro no Caminho de Belém’ de Maria Clara Machado.
De minha autoria a SCAS montei ‘ Três de Dez de Mil Novecentos e Tanto. Um Milhão a partir do conto de Maupassant. A Dança de Ouro e Recital Sem Opus’, que me valeu a recepção de três prêmios: Melhor Espetáculo no Festival do Nordeste na Paraíba. Melhor Direção no mesmo festival. Melhor Espetáculo no Festival Nacional de Teatro no Rio de Janeiro”.

“Daí para cá, apesar de não montar peça nenhuma, tenho trabalhos inéditos, como a ‘Casa de Bernada Alba’, de Frederico Garcia Lorca, peça que eu já dirigi ( Não a minha tradução) para a Escola Normal com cenário de Pernambuco de Oliveira e produção da SCAS. Além dessa de Lorca, traduzi ‘Lês Femmes Au Tomabeau de Michel de Ghelderode”.

Do seu lado de escritor

“ Nunca tive a pretensão de ser escritor no sentido lato, pois as minhas manifestações literárias não passaram até hoje de peças teatrais . Não quero esquecer: tenho uma peça inédita que é a ‘Missa’, da qual ainda conservo um cópia devolvida pela censura federal toda cortada de caneta Bic Azul. Uma pena! Uma selvageria tal, que amortece o ânimo de qualquer pessoa que escreva. Ainda havia um recado ( carta de censura) – Dizer ao professor João Costa ou Sr. João Costa, para refazer a peça teatral de encomenda, com torta ou roupa, ou construção de casa.O Negócio é bem outro. Eu não posso retocar o sorriso da “ Gioconda”- de Da Vince”.

Primeiros passos de ator

“ Com Paulo Barreto do Cinema Rio Branco. Fiz uma ponta. Um policial de revólver na mão, vestido de terno branco de linho, chapéu e gravata. Um verdadeiro policial. Depois representei ‘Ladra’ de Silvimo Lopes, peça que lançou Alencarzinho o ex-reitor da UFS, Clodoaldo de Alencar Filho, como artista. Representamos ‘Ladra’ em Aracaju e no Rio de Janeiro no 1º Festival de Teatro Amador no Teatro Dulcina”.

Sempre gostou do teatro

“ Não desanimei quanto ao teatro. O que me falta é amparo financeiro. Os governos consideram o teatro como investimento de última categoria. Sei que diante de um depoimento assim veemente, haverá defensores da causa pública. Sei largamente disso. Dirão: temos feito muita coisa etc, etc”.

Do seu lado poético

“ Dizem que de poeta e louco, todos nós temos um pouco, Já fiz pouco mais de uma dizia de poemas, porque essa é uma tendência natural de quem gosta de literatura”.

Música popular

“ Depende do que se considera música popular. A grosso modo não gosto de cantor ou cantora do Brasil ou de outro país qualquer, salva as honrosas exceções, a exemplo de Carmem Miranda, Nana Mouskouri, Gal Costa, Chico Buarque e tantos mais que não formam fileira dentro da minha predileção.

Presente de grego

“ Quanto a dizerem que eu atirei pela janela um disco popular que me foi dado de presente, quem me conhece jamais me ofereceria um disco popular. Dará, sim, um clássico. Dos meu compositores preferidos: Bach. Beethoven, Haendel, Vivaldi, Mozart, Verdi, Donizetti e Dvorak. A série é bem mais longa, dado que os compositores eruditos são tão bons que permanecem na história da arte para sempre”.

Espetáculos primários

“Sim, acho bonito, quando pessoas que apresentam um espetáculo primário, sem nenhuma qualidade técnico-artística e dizem estar fazendo arte. É bom ingenuidade. Os ingênuos são felizes”.

Aposentadoria

“Já me aposentei da Universidade Federal de Sergipe em abril. Hoje estou dando aulas de português no Curso Unificado. Tanto é bom para o espírito, como para o bolso. As duas coisas se interligam. Isso porque ninguém trabalha por lazer, apesar de eu estar com Benjamin Franklin, quando diz que o homem deve ocupar-se com qualquer atividade, mesmo que não seja rentável”.

Família

“ A minha família é pequena. Assim foi a casa de meus pais. Assim é a minha. Com meus pais dois filhos, um casal. Eu sou o sobrevivente. Da minha, há o casal e três filhos varões. Fernando, com 29 anos, médico, ora em Copenhague. João Carlos, 28 anos, advogado da Petrobras em causas trabalhistas. Rodolfo, 23 anos, no terceiro ano da UFS.

Política

Não, nunca me assentou essa atividade ou posição. No âmbito governamental, fui diretor do Ipes, nomeado pelo governador Seixas Dória, continuando com Celso de Carvalho, sem do demitido a pedido, por Lourival Baptista. Durante esse tempo percebi que eu não seria útil politicamente, pois eu atendia a ricos e pobres, ao contrário de outras opiniões da direção, que barrava benefícios aos pobres e abria as comportas para pessoas ligadas a partidos políticos tais e tais. Como vêm eu estava servindo erradamente, usava de equidade e política não aceitas fazer o bem sem olhar a quem.

Texto reproduzido do site: usuarioweb.infonet.com.br/~osmario

Postagem originária do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 30 de janeiro de 2016.

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