segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Lucilo da Costa Pinto


Lucilo da Costa Pinto
Por Osmário Santos

Lucilo da Costa Pinto nasceu a 23 de setembro de 1913, em Olinda, Pernambuco. É filho de Ricardo José da Costa Pinto e Alice Barreto da Costa Pinto.

Estudou Medicina em Recife e casou já doutorando com Célia Albuquerque. Por problemas políticos, vivendo a época da ditadura de Vargas, já formado, sentia a constante presença da polícia na sua vida. Meu pai tinha consultório na rua da Aurora. Fui para lá, eu recém-formado e a polícia estava na porta me vigiando. Ia para casa e a polícia na esquina.

Não foi possível sua presença na formatura junto ao grupo de colegas de turma, nem pôde fazer parte do quadro. Recebeu o diploma na secretaria da faculdade, tempos depois, pois estava preso na época. Abandonou sua terra, fugindo das perseguições do Interventor Federal em Pernambuco, Agamenon Magalhães. Percebendo que ia levar uma vida insustentável, sem poder fazer nada, aceitou o convite do professor Joaquim Sobral, que mandou a Recife um emissário para procurar um professor de Química. Chegou em Aracaju em 1939.

Tendo oito filhos do seu casamento com Célia Albuquerque da Costa Pinto, já falecida, trouxe na época, além da bagagem, a mulher e três filhos: Rosa, Carlos e Marcos Túlio, recém-nascido. Como precisava sair urgentemente de Pernambuco, ficou muito satisfeito com o emprego de professor do Atheneu, recebendo 165.000 réis. Depois passaram para 300.000 réis, melhoraram. Foi nomeado professor de Química e ensinava pré-Engenharia e pré-Medicina Química. Era a presença no Atheneu de um professor do mais alto gabarito. Chegou a ensinar diversas matérias. Ensinei Química no Colégio Tobias Barreto e no antigo Colégio das Freiras. Como professor do segundo grau, Costa Pinto lembra fatos importantes da sua vida.

Meu concurso em 1945 foi uma coisa que me marcou profundamente. Fui enfrentar a banca examinadora para catedrático do Atheneu. Como estávamos na época da guerra, a luz era cortada. Eu escrevi minha tese com dois candeeiros de querosene. Não tive dinheiro para imprimir e mimeografei. Tinha que dar dez volumes ao Atheneu e dinheiro que é bom nada... Então, o professor Acrísio Cruz me disse: ‘Olha! Eu trabalho numa secretaria que tem um mimeógrafo. Você que mimeografar?’ Fiz 50 exemplares do meu trabalho intitulado ‘Contribuição ao Estudo da Fisiologia do Timo’ (uma glândula de secreção interna). Foram oito meses de pesquisa para garantir meu ingresso no concurso e enfrentar a temida banca julgadora.

Costa Pinto lembra dos professores que enfrentou na banca: Oscar Nascimento, que foi um dos maiores didatas de Sergipe; professor Alfredo Montes, Dr. Clóvis Conceição e Dr. Garcia Moreno.

Da época do seu contato com os alunos do Atheneu, lembra um episódio que envolveu a polícia e os estudantes. Houve uma das greves feitas pelos alunos e eu, com o meu espírito de político, fiquei do lado dos meninos. Era Interventor Federal o general Maynard Gomes, que mandou cercar o Atheneu pela cavalaria da polícia. Eu achei uma afronta fazer isso com os estudantes secundaristas que estavam liderados pelo Tertuliano Azevedo, hoje figura política de atuação em Sergipe.

O Tertuliano estava à frente da estudantada, quando percebi que os investigadores já estavam pulando o muro do Atheneu de revólver na mão. Eu, então, saí com o professor Abdias e fomos ao palácio fazer o nosso protesto ao Interventor. Ele nos atendeu e nos disse que não tinha autorizado. Mandou chamar o chefe da polícia e ordenou a retirada da cavalaria imediatamente. Voltei com o professor Abdias e prometemos que iríamos trabalhar para acabar a manifestação. No Atheneu, o professor Abdias fez uma preleção e tudo foi resolvido a contento. Isso foi para mim um fato histórico e marcante na minha vida.

Em 1941, montou o seu consultório. Subloquei um consultório com o Dr. Garcia Moreno no edifício defronte dos Correios e Telégrafos. No prédio, havia alguns consultórios, o de Dr. Manoel Cardoso, dentista recém-formado; Dr. Paulo Faro, também recém-formado, Dr. Garcia Moreno e o meu.

Costa Pinto já tinha dois anos em Aracaju e trabalhava, até então, somente como professor do Atheneu. Seu ingresso na Medicina em Sergipe foi de suma importância, pois Aracaju já necessitava de um especialista em Urologia. Não havia urologista com curso de especialidade em Aracaju. Passei dezessete anos sem ter concorrente e não tenho um tostão ganho em Medicina. Costa Pinto diz isso, sem nenhuma queixa.

A Medicina, naquela época, era, na verdade, uma supremacia de sacerdócio. Um ganha pão. O dinheiro era secundário. O exemplo do Dr. Augusto Leite, o fundador da Medicina em Sergipe. Foi um grande cirurgião e morreu pobre. Não tinha nada. Tinha uma aposentadoria do Hospital Cirurgia que dava um conto de réis por mês. Ele tinha bens de família, mas ganho em Medicina, nada! Tinha uma conta financeira ridícula e quase todos os médicos, como o D. Juliano Simões, morreram pobre. Fez uma casinha, depois de não sei quantos anos de especialidade. Em geral, os médicos que tinham posses eram os que tinham heranças; já eram ricos. Mas os que se formaram pobres, morreram pobres. Eram um sacerdócio, mesmo!

Uma medicina onde inicialmente o médico atendia ao paciente, para depois receber o seu honorário e, quando podia receber... Um paciente chegava e dizia: “Olha, doutor, eu quero saber a sua conta, pois o dinheirinho que trouxe só deu para pagar o hospital. O seu depois mando”. Quanto pagou de hospital? “Paguei um conto e quinhentos”. Depois você me manda quinhentos mil réis... Olha que era um bom dinheiro pois sustentava a família com trezentos mil réis. E quando recebia? Mas o lado do médico humanista tinha sua compensação: recebia muitos presentes, principalmente os famosos capões do interior, bons...

Era uma maneira de o paciente manifestar a sua gratidão dentro de suas posses. Era muito melhor assim, a gente se sentia muito mais confortado e realizado, quando tratava um pobre e um mês, dois, um ano depois, vinha com um capão de presente. A gente não ganhava o dinheiro, mas recebia uma gratidão eterna. Eu conheço, hoje, gente em Aracaju que operei há quarenta anos atrás e, quando me encontra na rua, é uma festa.

Não se compara as condições de um centro cirúrgico do passado com as de hoje. Hoje, a medicina dispõe de aparelhos sofisticados de anestesia, mas a gente tinha um tal aparelho ombretano, uma máscara pesadíssima que colocava no rosto do paciente. Não tinha balão de oxigênio, não tinha nada. Quando o doente ficava um pouco arroxeado com pouco oxigênio, o anestesista suspendia o aparelho para o doente respirar o ar atmosférico.

O Dr. Costa Pinto conta um dos momentos cruciais em sua profissão. Eu operei a próstata do pai de um colega meu. Foi a maior próstata que tirei no Estado de Sergipe, enorme. Aplicamos todos os recursos disponíveis da Medicina. Então, o doente começou a perder sangue, e tome sangue, tome sangue e a pressão baixando e a coisa ficou séria. Ao meu lado estava o Dr. José Augusto Barreto, cardiologista, recém-formado, que atendeu o meu convite para transfusão, e o cirurgião Fernando Sampaio, já falecido. Uma equipe boa, que formei para me ajudar nessa operação. Lutamos de nove horas da manhã até às três horas da madrugada do dia seguinte. Como o doente estava como morto, eu então cheguei junto da irmã Clara e disse: “Irmã, eu estou cansado e vou deixar o atestado de óbito assinado”. Ela então disse: “Doutor, o senhor quer se antecipar a Deus? Se o homem não morrer, doutor?” Para mim, foi uma lição. Fui para casa. Naquele tempo, morava na rua Siriri. Sete horas da manhã o meu enfermeiro, o Moreira, bateu à porta. Quando abri, estava o enfermeiro e o filho mais velho do paciente, que era bancário do Banco do Brasil e os dois rindo. Eu disse: O que foi que houve? Meu pai mandou chamar. Quer saber se pode tomar um mingau.

A política já estava presente em sua vida, pois seu pai era político. Quando chegou em Aracaju, já trouxe a carta de apresentação de um amigo de Recife que conhecia Walter Franco, irmão do Dr. Augusto Franco.

Tinha um banco aqui na rua da Frente, o Banco Indústria e Comércio. O Walter Franco, o Zezé Franco, os três irmãos, se não me engano. Então, fui ao banco, apresentar a carta. Por coincidência, no momento, estava no banco o Dr. Leandro Maciel. Quando entreguei a carta ao Walter, depois de ler, ele disse: ‘Leandro, aqui está um pernambucano, médico, veio para ensinar no Atheneu’. Pois bem, o Dr. Leandro logo fez o convite para eu ir a sua casa. Como o homem era o chefe político de oposição do Estado, eu fiquei com ele até a Revolução de 1964 que acabou com os partidos.

Foram mais de vinte anos com a UDN. Costa Pinto conseguiu uma suplência na Assembléia Legislativa e, por alguns meses, chegou a ser deputado estadual. Foi candidato a prefeito da capital pela UDN e perdeu para Godofredo Diniz.

Sendo contra a ditadura, ingressou no MDB. Foi um dos seus fundadores em Sergipe com ficha de inscrição de número nove. Foi vereador de Aracaju pelo partido por nove anos e meio. Participou de memoráveis campanhas e resolveu deixar a política. Acabou a ditadura e eu, então, não queria mais saber de política. Afastei-me de tudo, pois sempre fiz política por idealismo e não com interesse.

Um dos comícios mais interessantes foi o realizado em Propriá. Certa feita em Propriá, num comício, o povo estava de braços cruzados. O povo de lá é duro para comício. Falaram onze oradores. Um amigo, que era contrário, da ARENA, disse-me: “Muitos discursos e o povo sem bater palmas. Eu não falei ainda. Costa, eu reconheço que você é um bom orador popular, mas vou apostar uma garrafa de whisky como você não arranca as palmas do povo de Propriá”. E eu apostei. Saí e fui para casa onde estava hospedado. Lá, tinha na parede uma espada. Perguntei à filha do dono da casa de quem era a espada. Foi do meu avô que era Guarda Nacional. Pedi a espada e uma toalha de banho e prometi trazer logo de volta. Quando subi no caminhão que era o palanque, Oviêdo me disse: “que armada Costa Pinto está aprontando? O que é esse negócio enrolado na toalha?” Eu, calado. Quando chegou a minha vez, uma hora da manhã, para encerrar o comício, o locutor Jaime Araújo passou o microfone. Pedi para ele segurá-lo, peguei a espada e apontei para o povo e gritei: Eis o símbolo da revolução que nos tortura. Foi um delírio.

Costa Pinto atuou na Educação, na Medicina e na Política, além de trabalhar na Igreja Católica. Chegou a ser o orador, em nome do clero sergipano, para saudar o bispo D. Fernando Gomes na sua chegada, para tomar posse na Diocese de Aracaju. É um pai de grande dedicação aos filhos, netos e bisnetos.

Sou um homem realizado. Até com os meus fracassos. Caio, levanto-me, vou adiante. Não deixo de comprar uma coisa para guardar dinheiro. Não sou daquele tipo de pessoa que vê um queijo, tem vontade de comer e guarda o dinheiro. Quem guarda com fome, o rato come, não é?

Lucilo da Costa Pinto faleceu em 01 de fevereiro de 1995.

Texto publicado no Jornal da Cidade em 30/09/2013.
Foto e texto reproduzidos do site: osmario.com.br

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 30 de setembro de 2013.

O Centenário de Costa Pinto

Lucilo da Costa Pinto na Faculdade de Medicina (foto).

Infonet - Blog de Lúcio Prado - 27/09/2013.

Discurso pronunciado pelo acadêmico Lúcio Antonio Prado Dias *

O Centenário de Costa Pinto
Grande médico, professor, intelectual, político e líder católico.

No local onde o Recife nasceu, justamente na cabeceira da ponte construída pelo conde Maurício de Nassau, existia o Arco da Conceição, que era o portão de entrada da cidade. O Arco foi demolido em 1913, por exigências do trânsito. Recife começava a se modernizar.

Uma alternativa, até o final do século XIX, de chegar, por exemplo, a Olinda era pegar um pequeno barco que transportava as pessoas da pequena faixa de terra que ligava a praia próxima ao Forte Brum com a vilarejo chamado de Santo Amaro das Salinas.

Em Olinda, residia e trabalhava o médico Ricardo José da Costa Pinto, atuando como ginecologista e obstetra no hospital da cidade, praticando ainda a psiquiatria no consultório. Talvez isso explique a grande e variada biblioteca que possuía em casa. Com paixão incomensurável pela leitura, fazia dela o seu predileto lazer. Casado com Alice Barreto da Costa Pinto, tiveram o casal 16 filhos. O primogênito recebeu o nome de Lucilo.

Lucilo da Costa Pinto nasce, pois, em 23 de setembro do ano da demolição do Arco da Conceição, 1913, em Olinda, mais especificamente na rua Matheus Ferreira, número 13. Vem ao mundo no período em que Recife começava a sua modernização, início do século XX, como estava acontecendo em outras cidades brasileiras.
Desde pequeno Lucilo convive com os livros de medicina e de literatura em geral, fartos na biblioteca de sua casa. Ouve narrações de casos clínicos, de doenças e do dia a dia dos hospitais, contadas pelo pai. Ali mesmo, no recesso do lar, aprende as primeiras letras.

Em seguida, é matriculado no grupo escolar João Barbalho, situado à Rua do Hospício, no Parque 13 de maio, até concluir o curso primário. Nessa mesma escola, anos depois, estuda a jovem e depois grande escritora, Clarice Lispector. Ainda no grupo escolar João Barbalho, é colega de turma de Mauro Mota, que viria a se destacar na intelectualidade pernambucana, como poeta, escritor e educador, como membro da Academia de Letras de Pernambuco e da Academia Brasileira de Letras. Apaixonado pela leitura e sempre estimulado pelo pai, com apenas dez anos de idade, Costa Pinto já havia lido “Os Lusíadas”, a obra prima de Camões, e recitava seus versos a todo o momento.

Findo o curso primário, Costa Pinto segue para o Colégio Marista do Recife, situado na Avenida Conde da Boa Vista, onde faz o curso ginasial, de 1924 a 1928. De 1929 a 1931 faz o curso científico no Ginásio Pernambucano, situado na Rua da Aurora. Em 1932 é aprovado para o curso de Medicina da Faculdade do Recife, na época localizada no Derby.

A primeira tentativa de criação de uma faculdade de medicina em Pernambuco ocorrera no século XIX, em 1895, mas somente em 1914, a Congregação da Faculdade de Farmácia, da qual fazia parte um grupo de professores médicos, decidira aprovar, por unanimidade, a sua criação.

Em 1915, o Dr. Octávio de Freitas escolhido, por aquela Congregação, também por unanimidade, Diretor da Faculdade de Farmácia, conclama seus colegas a escolherem os futuros professores da Faculdade de Medicina e assim, em abril de 1915, é instalada a 1ª Congregação da nova Faculdade de Medicina.

Em 4 de maio de 1920, realiza-se a 2ª Congregação da Faculdade de Medicina do Recife, que aprova a ata da reunião de 5 de abril de 1915, data reconhecida como a da fundação da Faculdade de Medicina de Recife. A primeira turma forma-se em 1925. A Faculdade de Medicina do Recife funciona no prédio da Faculdade de Farmácia de 1920 a 1927, localizada na Rua do Sebo, hoje Barão de São Borja. Em abril de 1927, a Faculdade de Medicina do Recife passa a funcionar no Derby, hoje sede do Memorial da Medicina, e que abriga a Academia de Medicina de Pernambuco, o Museu Médico, a Sobrames Pernambuco e outras entidades culturais relacionadas à Medicina.

Em 1928, a faculdade é equiparada às demais faculdades oficiais do Brasil, mas só em agosto de 1946 viria a ser incorporada à Universidade do Recife. Em 1949, é federalizada e passa a integrar a Universidade do Recife, com o então nome Faculdade de Medicina da Universidade do Recife, continuando a funcionar com sede no prédio do Derby com as cadeiras básicas e nos Hospitais Pedro II, Santo Amaro, Hospital Infantil Manoel Almeida, Hospital da Tamarineira, Hospital do Centenário e Maternidade do Derby, com as cadeiras clínicas.

Em 1934, como estudante do segundo ano de medicina, Costa Pinto conquista o seu primeiro emprego. Recebe convite para trabalhar como datilógrafo no Ginásio Pernambucano, sendo nomeado pelo Dr. Carlos de Lima Cavalcante, então Interventor do Estado. Em 1936, ainda cursando a faculdade, é nomeado professor assistente de Química da Escola Normal de Pernambuco, professor de Química Orgânica da escola Normal Pinto Junior e nesse mesmo ano, ainda na faculdade, casa-se com Célia Bastos de Albuquerque, descendente de família europeia, a mãe, Hortencia Guerrér, era francesa e o pai, Manoel Bastos de Albuquerque, pernambucano, descendente de portugueses. Do casamento de Lucilo e Célia nasce oito filhos, Rosa Maria, em 1937, Carlos Gilberto, em 1939, Marcos Túlio, em 1940, Vera Maria, em 1942, estes nascidos em Recife, Paulo Roberto, em 1944, Sonia Maria, em 1947, Célia Maria, em 1950 e Lucia Maria, em 1954, estes últimos em Aracaju.

Com destacada militância na política estudantil, é vítima de forte perseguição a partir de 1937, com a instalação da ditadura de Vargas – o Estado Novo. Começam as perseguições políticas do novo interventor Agamenon Magalhães. Costa Pinto é demitido dos seus empregos e cargos. São tempos difíceis, ainda estudante, desempregado, casado, com família para sustentar. As perseguições aos comunistas e integralistas são implacáveis.

Em 10 de dezembro de 1938, com 23 anos, Lucilo da Costa Pinto forma-se médico, mas não participa da solenidade festiva ocorrida no Teatro Santa Isabel, local tradicional das formaturas de medicina desde 1925 por se encontrar preso na Casa de Detenção de Pernambuco, lugar onde permanece por aproximadamente seis meses. Somente vem a receber o diploma em meados de 1939. Começa então a clinicar na Rua da Aurora, no centro de Recife, compartilhando o consultório do pai. Somente a clínica, porém, não lhe dá as condições mínimas para o sustento da família. Enquanto isso, as perseguições continuavam, mesmo sendo o Dr. Ricardo Costa Pinto muito respeitado nos círculos políticos de Recife, com passagem na Assembleia Legislativa de Pernambuco como deputado estadual. As coisas continuavam difíceis para o jovem médico Lucilo. Sem emprego fixo, com a prole aumentando, as dificuldades eram crescentes. Não havia mais espaço para Costa Pinto em Pernambuco.

Em 1939, atendendo convite do professor Joaquim Sobral, que dirigia o Colégio Atheneu Sergipense, transfere-se para Aracaju para administrar aulas de Química, deixando para trás, temporariamente, com o coração partido, a sua querida esposa Célia, grávida do terceiro filho. Ela ficaria na casa dos pais por um determinado tempo até que o esposo se estabelecesse profissionalmente. Costa Pinto instala-se na pensão de Dona Rosa, localizada na Rua da Frente, na Avenida Rio Branco e começa a ensinar no Atheneu.

Em 1940, mais estabelecido, autoriza a vinda de Célia e dos filhos para Aracaju e desta cidade nunca mais irá sair. A família fica também instalada na pensão de Dona Rosa e lá permanece por quase um ano. Depois consegue alugar uma casa na Av. Barão de Maruim, na esquina com a Rua Vila Cristina. Morava na casa vizinha o Dr. Souto, médico militar que trabalhava no Hospital Santa Isabel e do qual Costa Pinto se torna um grande amigo.

Aracaju, na década de 40, possui pouquíssimos médicos, a maioria generalistas e alguns cirurgiões gerais. Não havia ainda um urologista especializado. Cirurgiões faziam procedimentos urológicos como atos cirúrgicos gerais. É nessa condição que Costa Pinto ingressa no Hospital Santa Isabel, levado pelo Dr. Souto e, posteriormente, atendendo convite do Dr. Augusto Leite, no Hospital Cirurgia. Em 1941 começa a clinicar, dividindo o consultório com o Dr. Garcia Moreno e posteriormente monta consultório próprio no centro da cidade, no Edifício Aliança, na esquina de Itabaianinha com a Rua Laranjeiras. Anos depois transfere o consultório para um imóvel alugado na Rua Geru.

Continua nosso homenageado lecionando química, agora também no Colégio Tobias Barreto do professor Zezinho e no Colégio Nossa Senhora de Lourdes, conhecido como Colégio das Freiras, na Rua José do Prado Franco. Leciona também física e ciências naturais no Atheneu. Destaca-se no magistério. Passa a ensinar Ciências Naturais também no Seminário Menor da Diocese de Aracaju.
O ano de 1942 coloca o Brasil e particularmente Sergipe na mira dos canhões de Hitler. Navios mercantes são torpedeados no litoral da Bahia e de Sergipe e finalmente a ditadura de Vargas declara guerra ao Eixo. Todos são convocados para o esforço da guerra. Costa Pinto é o primeiro médico civil a se apresentar no 28º Batalhão de Caçadores e é destacado para patrulhar o litoral sergipano, inicialmente como tenente e depois como capitão Dr. Costa Pinto. No último ano da guerra, em 1945, defende a tese “Contribuição ao Estudo da Fisiologia do Timo”, perante uma rigorosíssima banca examinadora e se torna Professor Catedrático de Ciências Naturais do Colégio Atheneu Sergipense.

Em entrevista concedida ao jornalista Osmário Santos e publicada pelo Jornal da Cidade em 29 de outubro de 1990, Costa Pinto relembra essa fase: “ O concurso que fiz em 1945 foi uma coisa que me marcou profundamente. Fui enfrentar a banca examinadora para catedrático do Atheneu. Como estávamos na época da guerra, a luz era cortada. Eu escrevi minha tese com dois candeeiros de querosene. Levei oito meses de pesquisa. Depois não tive dinheiro para imprimir e mimeografei. Tinha que dar dez volumes ao Atheneu e dinheiro que é bom, nada! Então o professor Acrísio Cruz me disse: Olha, eu trabalho numa secretaria que tem um mimeógrafo. Você quer mimeografar? Fiz 50 exemplares do meu trabalho. Para garantir o meu ingresso por concurso tive que me submeter à temida banca examinadora.

A temida banca examinadora a que se refere Costa Pinto era formada pelos médicos Oscar Nascimento, Clóvis Conceição e Garcia Moreno, todos patronos deste sodalício, além do professor Alfredo Montes. Não imaginava o nosso homenageado que muitos anos depois viria a ser patrono dessa mesma academia que hoje lhe reverencia. Patrono da cadeira 26 da Academia Sergipana de Medicina em 1994, que tem como fundador o Dr. Cleovansóstenes Aguiar.

Em 1946, Costa Pinto é nomeado médico do Departamento de Saúde do Estado de Sergipe pelo Dr. Walter Cardoso, que comandava o órgão e é destacado para coordenar o serviço de controle das doenças sexualmente transmissíveis e nesse mesmo ano é destacado para representar o estado em um congresso de Medicina Preventiva em Buenos Aires. Decide então aproveitar a oportunidade e faz pós-graduação em cirurgia urológica na capital argentina. Retornando a Aracaju, torna-se o primeiro especialista em cirurgia urológica de Sergipe, permanecendo nessa condição durante 17 anos.

Em 1947, atuando como médico sanitarista assume a secretaria municipal de saúde, atendendo convite do prefeito Marcos Ferreira de Jesus.
Lucilo da Costa Pinto foi um importante e destacado pensador cristão e militante da Ação Católica e da LUC – Liga Universitária Católica - ao lado do Monsenhor Luciano José Cabral Duarte, Antonio Garcia, Cabral Machado, Silvério Fontes, José Amado do Nascimento, Luiz Rabelo Leite, entre outros. Coloca assim a sua intelectualidade, religiosidade e fé a serviço da religião, contribuindo com estudos sobre os salmos bíblicos e o Santo Sudário.

O movimento da Ação Católica encantou o médico Costa Pinto. Desenvolvida através de cinco movimentos principais, todos juventudes cristãs, a Ação Católica começou na Bélgica com o Monsenhor Cardjin, que fez as suas primeiras experiências com a Juventude Operária Católica e que logo se espalhou pela França e Canadá. Propugnava a formação na ação, utilizando o método “ver-julgar-agir”, que corresponde a estudo, diagnóstico e tratamento na metodologia do Serviço Social. Em Sergipe, desenvolveu-se, entre outras, a LUC – Liga Universitária Católica, formada por profissionais com curso superior. Foi iniciada em 1945, no tempo de Dom José Thomaz tendo Dom Avelar Brandão como o seu principal animador. Depois, ficou sobre o comando de Don Fernando Gomes e a assistência eclesiástica do padre Luciano Cabral Duarte, após regressar de seus estudos na Europa.

A empolgação com a Ação Católica pode ser sentida pela declaração do padre Luciano Cabral Duarte em artigo publicado em A Cruzada em 1950. Para ele, a AC vem: Restaurar. Reacender as chamas mortas. Selar de novo os antigos e sacrossantos compromissos perjurados. Fazer os cristãos viverem de tal modo que a sua vida, para os outros homens, seja uma coisa inexplicável sem Deus. Apontar aos homens a velha e amiga estrada abandonada, a que conduz à Casa Paterna. Ensinar que não se é cristão por se haver perdido, mas por se haver achado. Reafirmar a cada passo, a cada solicitação do mal, a cada tropeço nas escarpas da vida, reafirmar com São Paulo esta coisa formidável:” Eu sei em quem acreditei”. É isto a Ação Católica. Somente isto. Tudo isto.

Designado pela Diocese de Aracaju, Costa Pinto torna-se orador oficial em nome do clero sergipano no discurso de boas vindas ao Bispo Dom Fernando Gomes, em sua chegada a Aracaju, onde assumiria a Diocese. Milhares de pessoas se aglomeraram na Praça Olímpio Campos, para a Missa solene a céu aberto, de ação de graças pelo novo Bispo.

Reconhecido por suas qualidades docentes e grande dedicação ao ensino, além de ser portador de uma didática excelente, recebe convite para ser professor da Faculdade de Filosofia, lecionando a disciplina de antropologia. A Faculdade Católica de Filosofia, fundada em 20 de setembro de 1950, no Colégio Nossa Senhora de Lourdes teve sua aula inaugural ministrada em 11 de março de 1951 pelo padre Luciano José Cabral Duarte. O Dr. Costa Pinto compõe o seu primeiro Conselho Técnico Administrativo, ao lado de Gonçalo Rollemberg Leite, Felte Bezerra, José Barreto Fontes, padre Euvaldo Andrade e Manoel Ribeiro.
Em seguida, com a inauguração da Faculdade de Serviço Social, em 27 de março de 1954, que nasce sob inspiração do Bispo Dom Fernando Gomes e o trabalho árduo de Albertina Brasil Santos para a sua implantação, o Dr. Costa Pinto passa a integrar o corpo docente da instituição.

Nos anos 50, Costa Pinto também participa ativamente do conselho editorial do jornal A Cruzada, ao lado do então Monsenhor Luciano José Cabral Duarte, Cabral Machado, Silvério Fontes, Antonio Garcia e José Amado Nascimento. A Cruzada foi um semanário de orientação católica que circulou em Sergipe durante boa parte do século XX. Criado em 1919 pelo primeiro bispo diocesano, D. José Thomaz Gomes da Silva. Com a JUC e a Faculdade de Filosofia compunha a tríade acadêmica e religiosa colocada como meta pelo bispo Dom Fernando. Em Sergipe, muitos leigos e padres despontaram para as letras através das páginas de A Cruzada. Entre os colaboradores mais assíduos do jornal , na época, aparecem Paulo Machado, Santos Mendonça, Garcia Moreno, Santos Souza, Goes Duarte, Garcia Rosa, Leyda Régis, Antonio Conde Dias, Passos Cabral, José Amado Nascimento, entre outros.

Foi membro atuante do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe desde julho de 1950, quando também passa a atuar como médico no Instituto do Açúcar e do Álcool. Em sua integração com a sociedade integra o Lions Clube de Aracaju e funda, ao lado de combativos companheiros, o Iate Clube de Aracaju, do qual foi Comodoro. Torna-se sócio da Associação Atlética de Sergipe, da qual também foi presidente. Alargando os horizontes culturais participa da fundação da Aliança Francesa no Estado.
Em janeiro de 1961, graças ao estoicismo e árduo combate de Antonio Garcia Filho, é fundada e instalada a Faculdade de Medicina de Sergipe e Costa Pinto, ao lado de Garcia, é uma dos mais entusiasmados pioneiros, tornando-se o primeiro professor da disciplina de urologia, disciplina esta que começaria a ser aplicada a partir de 1964.

Atuando mais decisivamente no Hospital Cirurgia, nas décadas de 50 e 60, foi diretor do Pronto Socorro desse nosocômio por longos nove anos. Passou a integrar o Centro de Estudos do HC desde a sua implantação, no inicio dos anos 50. Autor de diversos trabalhos científicos, publicou diversos trabalhos em revistas científicas, notadamente na Revista “Boletim do Centro de Estudos do Hospital de Cirurgia”, do qual foi editor. Entre as suas publicações, destacamos “Calculose e Carcinoma Vesical”, “Próstata Gigante”, “Carcinoma Prostático” e “Um Caso de Retenção Urinária”.

Para o médico Marcelo Marinho Barreto, que foi o primeiro monitor da disciplina de urologia de nossa faculdade e acompanhou de perto o Dr. Costa Pinto, um dos seus mais destacados trabalhos publicados, pelo ineditismo, foi o denominado “Carcinoma Prostático com Esquistossomose dos Testículos”, que contou com a participação do anátomopatologista do Hospital de Cirurgia, o Dr. Konrad Schmitt. Nesse trabalho, os autores apresentam o primeiro caso da esquistossomose genital masculina no Hospital de Cirurgia, evidenciada casualmente em exame anatomopatológico dos elementos espermatogênicos de um paciente que sofrera orquidectomia sub-capsular bilateral, devido a carcinoma prostático. Na verdade era um caso nunca relatado na literatura médica.

Para Marcelo, Costa Pinto era uma figura admirável, um professor de uma didática ímpar, bem humorado, contador de casos e histórias pitorescas para os alunos, mas rigoroso e exigente com os seus alunos. Diz Marcelo: “Conheci o professor Costa Pinto quando ele operou o avô da minha esposa, o Dr. Lauro Hora. Criamos uma amizade muito forte a partir desta ocasião. Comecei então a acompanhá-lo no serviço de urologia tornando-me seu assistente a partir de 1971. Posteriormente, fui o primeiro aluno a realizar a prova para monitor da cadeira de urologia, sendo aprovado em primeiro lugar. Dr. Costa Pinto era dono de uma didática fabulosa e de uma experiência muito grande na vida profissional, tendo a facilidade de transmitir seus conhecimentos com simplicidade e elegância”.

Desde estudante no Recife, Costa Pinto participa ativamente da vida política, sempre como um líder de oposição. Combate o Estado Novo ainda em Pernambuco. Em Sergipe, liga-se de imediato à UDN, à época um partido de oposição, atendendo convite de Leandro Maciel, que conhecera através de uma apresentação feita pelo senador Walter Franco, a quem entregara uma carta de recomendação enviada por um amigo de seu pai em Recife.

Para o historiador e professor Jorge Carvalho do Nascimento, o médico Lucilo da Costa Pinto sempre foi um nome muito respeitado em Sergipe. Na constituinte de 1946 não conseguiu eleger-se, mas a condição de suplente lhe garantiu ocupar uma cadeira na Assembleia Legislativa. Sua atuação independente desagradou as principais lideranças partidárias, fazendo com que ele retornasse à condição de suplente. Nas eleições de 1962 para a prefeitura de Aracaju, recebe a indicação da UDN para concorrer, mas não logra êxito. Vence a disputa o Dr. Godofredo Diniz. Em campanha acirrada, com os dois lados em disputa intensa, o seu jingle de campanha, dizia:

"Costa Pinto, prefeito de Aracaju, Paulo Silva para ser vereador, Nairson deputado estadual, João Machado federal, a UDN já ganhou".

Na sua campanha, Costa Pinto destaca como prioridades para a cidade, a sua pavimentação, arborização, urbanização, construção de escolas, postos médicos, prontos-socorros e saneamento básico. E diz: "Hipoteco minha confiança no eleitorado. Prefeito, darei o melhor do meu talento e das minhas energias pelo bem estar do povo aracajuano", em texto contido no seu material da campanha.
Aracaju não ganha o prefeito que precisava, mas continua a contar com o médico humanitário, que não desiste da luta política. Tinha disposição para trilhar os mais difíceis caminhos sem nenhuma hesitação. Como o pássaro, nas palavras do médico, professor e membro desta Academia, também um poeta de rara sensibilidade:
A certeza do apoio invisível confere ao pássaro a incrível coragem de se arremessar contra o abismo.

Permanece na União Democrática Nacional até a sua extinção, com o golpe de 1964 e participa ativamente da fundação do MDB com ficha de inscrição número nove. Como dissemos anteriormente, tinha uma vocação pelas siglas da oposição. Algumas lideranças políticas ligadas à antiga UDN assumiram posição pendular, oscilando entre os antigos correligionários e a possibilidade de assumir a postura oposicionista e partir para o enfrentamento da ditadura. Não foi o caso de Costa Pinto e de outros, como Umberto Mandarino, Eraldo Lemos, Edson Mendes de Oliveira. Como o pássaro ressaltado no poema de Garcia, eles assumiram o projeto liderado por José Carlos Teixeira.

O MDB foi abrigo também para militantes de outras siglas partidárias, notadamente do PCB e oriundos dos movimentos estudantis. Nesse diapasão, nomes como o de Jackson Barreto, José Augusto Gama, Benedito Figueiredo, Wellington Mangueira, entre outros, foram importantes para dar consistência ao programa do partido.

Podemos dizer que Jackson Barreto e José Carlos Teixeira foram lideranças fortes e importantes no MDB, com objetivos convergentes, mas com estratégias distintas. Duas pessoas diferentes que deram vida e encarnaram o projeto do Movimento Democrático Brasileiro. Singulares.

Em 1966, a oposição encontrou grande dificuldade para lançar um nome para o Senado. Ninguém aceitava a indicação. José Carlos Teixeira então convenceu o seu pai, o empresário Oviedo Teixeira, a aceitar a candidatura. Mesmo assim, não se encontrava um nome para suplente. O médico Lucilo da Costa Pinto teve o seu nome lançado, na última hora, depois que várias personalidades recusaram a indicação. A dificuldade foi enorme para compor a chapa. Segundo José Carlos Teixeira, todas as pessoas lembradas para a suplência ficavam muito honradas, mas declinavam. “Lembramos do nome de Lucilo Costa Pinto, médico, professor de prestígio. Mas ele estava viajando, estava no Rio de Janeiro e chegou a Aracaju, na véspera do encerramento do prazo de prorrogação. Fomos todos aguardá-lo na Rodoviária Luiz Garcia. Para surpresa geral, ele aceitou. Alívio!

A candidatura de Oviedo Teixeira foi uma necessidade que se impôs ao partido, uma vez que o nome natural para disputar a vaga de senador, o de José Carlos Teixeira, ficava impossibilitado uma vez que ele não contava ainda com a idade mínima de 35 anos, exigido pela Constituição.

Na capital, a campanha foi coordenada e comandada por Costa Pinto enquanto Oviedo assumiu a coordenação da campanha no interior. O primeiro comício foi realizado em Propriá, organizado pelo médico Octávio Penalva, patrono da cadeira 30 deste sodalício, em 24 de setembro de 1966. Discursaram, além de Penalva, o candidato ao Senado Oviedo Teixeira, o suplente Costa Pinto, os candidatos a deputado federal José Carlos Teixeira e Ariosto Amado e mais alguns candidatos a deputado estadual. Sobre este comício, Costa Pinto, irreverente, lembrou um fato interessante ao jornalista Osmário Santos: “Neste comício, o povo estava de braços cruzados. O povo de lá é duro pra comício. Falaram onze oradores. Um amigo, que era do partido contrário, da Arena, disse-me: muitos discursos e o povo não bate palma. Costa, eu sei que você é um bom orador popular, mas aposto uma garrafa de uísque como você não arranca as palmas do povo de Propriá. E eu apostei. Saí rapidamente de lá e fui à casa onde estava hospedado, próximo ao palanque. Lá tinha na parede uma espada. Perguntei à filha do dono da casa de quem era a espada. Foi do meu avô que era da Guarda Nacional, disse ela. Peguei a espada e uma toalha e prometi trazê-los de volta. Quando subi no caminhão, que era o palanque. Oviedo me disse: Que armada está aprontando, Costa? O que é esse negócio enrolado na toalha? Eu, calado. Quando chegou a minha vez, pra encerrar o comício, o locutor Jaime Araújo passou o microfone. Pedi pra ele segurá-lo peguei a espada e apontei para o povo e gritei: eis o símbolo da revolução que nos tortura. Foi um delírio geral.”

Nas eleições de 1970, o MDB voltou a ter grande dificuldade para compor chapa ao Senado e mais uma vez Oviedo Teixeira foi o candidato e somente em 1974 conseguiu eleger surpreendentemente Gilvan Rocha, numa eleição memorável onde o médico consegue derrotar de um só golpe dois grandes caciques da política sergipana, os ex-governadores Leandro Maciel e Arnaldo Rollemberg Garcez.

Em 1976 o MDB realiza convenção municipal, numa sessão comandada pelo presidente do Diretório Municipal do partido, Lucilo da Costa Pinto. Ficam definidos 51 candidatos. Eleitos: Antonio Mesquita, Arnóbio Patrício de Melo, Francisco Leite Neto, Genelício Barreto, Gidenal Ferreira, João Alves da Silva, Jonas Amaral, José Batalha de Góes, Reinado Moura, Soares Pinto e Lucilo da Costa Pinto, sendo o terceiro candidato mais votado.

O MDB, com a ampla maioria que formou, conseguiu eleger Costa Pinto presidente da Casa em fevereiro de 1977. Nesse período, o partido demonstrou grande maturidade política e sob a liderança de Costa Pinto, fez oposição dura, porém ética ao prefeito da capital e, apesar de sua numerosa base no parlamento, foi capaz por diversas oportunidades de aprovar projetos de interesse da cidade, oriundos do executivo.

Em 27 de março de 1980, organizado em 42 diretórios nos municípios sergipanos, é instalado em Sergipe o PMDB – Partido do Movimento Democrático Brasileiro, com as presenças do deputado Ulisses Guimarães e do senador Teotônio Vilela, em solenidade que acontece na Assembleia Legislativa. Em jantar oferecido aos visitantes no Restaurante Adega do Antonio, faz uso da palavra o médico Lucilo da Costa Pinto.
Durante a sua passagem pela passagem pela casa legislativa, Costa Pinto manteve-se fiel aos princípios da honestidade, simplicidade e justiça, valores próprios do seu caráter e de sua educação. Aos poucos o tempo vai se encarregando de afastá-lo da vida político-partidária. Ele permanece com suas atividades médicas no Hospital Cirurgia e no consultório particular agora localizado na Rua Geru, em casa alugada para esse fim.

Em 1983, aos 70 anos, pela força da compulsória aposentadoria, afasta-se das atividades profissionais e permanece ministrando esporadicamente aulas na faculdade, já não operava e dedicava as suas horas de lazer nos cuidados com a sua criação de periquitos australianos, uma paixão adquirida para suprir o seu ócio criativo.

Em 1988 sofre com a morte da querida esposa Célia de isquemia cerebral. Outro duro golpe vem com a morte do filho Marcos Túlio, em 18 de dezembro de 1994. Costa Pinto, fumante contumaz, começa a apresentar sinais de doença obstrutiva crônica e vem a falecer em 1º de fevereiro de 1995, em Aracaju/SE, com 81 anos, sendo sepultado no Cemitério Santa Isabel. Em 30 de junho de 2004, a família sofre a perda de Carlos Gilberto, segundo filho de Costa Pinto e Célia.

Para seus filhos, Lucilo da Costa Pinto, “foi um grande médico, intelectual, político, cristão, homem do povo e acima de tudo um grande pai. Em sua trajetória de vida, deixou exemplos a serem seguidos. Seu legado nos enche de orgulho e muito nos honra ter vivido e convivido ao seu lado. Hoje temos certeza em afirmar que fomos agraciados e abençoados com sua presença entre nós. Obrigado, Costinha, por tudo”, esse o relato feito por seus filhos.

Para mim, em particular, foi desafiador falar sobre uma pessoa que conheci por volta de 1976, quando fui seu aluno de urologia no curso de Medicina. Naquela oportunidade, pude perceber o fascínio que ele exercia sobre os estudantes. Mas pouco convivi com o querido professor. Por isso não sei dizer-lhes que forças me levaram a aceitar o desafio de buscar no passado a história do velho professor. Era uma força estranha que me impulsionava de forma incontrolável a procurar caminhos, portas e fontes. Por isso, não poderia deixar de agradecer aos filhos de Dr. Costa Pinto, em especial a Rosa, com quem tive a honra e o prazer de trabalhar no Projeto Rondon, ela na condição de diretoria executiva da instituição, na década de 70, pelas informações fundamentais. Aos historiadores Jorge Carvalho e Antonio Samarone, pelo apoio nos assuntos políticos, à Sra. Carmem Duarte, diretora do Instituto Dom Luciano José Cabral Duarte, ao jornalista Osmário Santos, autor de Memórias de Políticos de Sergipe no século XX, ao médico urologista Marcelo Marinho Barreto e finalmente aos membros da Academia Sergipana de Medicina e em especial ao nosso presidente Fedro Portugal, pela escolha do meu nome para essa dignificante tarefa.

Muitas coisas poderiam ser acrescentadas a respeito do nosso saudoso Lucilo da Costa Pinto, sobre a sua pessoa e as suas realizações. Mas foi o melhor que pude. Nos versos da poetisa paranaense Helena Kolody há uma bela imagem que pode ser aplicada à trajetória de vida do Dr. Lucilo da Costa Pinto.

Deus dá a todos uma estrela, uns fazem da estrela um sol. Outros, nem conseguem vê-la.
Para encerrar, gostaria de homenageá-lo como também a sua família, com o poema de Ivan Petrovitch:
Feliz é o homem
que sabe trocar
a superficialidade
pela essência das coisas.
Na leveza do existir
não se deixa influenciar
pelas aparências.
Sabe que o valor do vôo
não é medido pela decolagem
velocidade
muito menos, pelo itinerário.
O valor do voo

* (Discurso pronunciado pelo acadêmico Lúcio Antonio Prado Dias, por ocasião da celebração do Centenário de Nascimento do Dr. Lucilo da Costa Pinto, patrono da cadeira 26 .da Academia Sergipana de Medicina, em sessão solene ocorrida em 25 de setembro de 2013, no auditório da Sociedade Médica de Sergipe).

Foto e texto reproduzido do site: infonet.com.br/lucioprado

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 30 de setembro de 2013.

Epaminondas Silva de Andrade Lima (1935 - 2013)


 Infonet - Política - Noticias - 28/09/2013.

(...) Trajetória de vida

Epaminondas Silva de Andrade Lima, filho do também Desembargador João Bosco de Andrade Lima e Dulce Silva de Andrade Lima, nasceu no dia seis de novembro de 1935, no município de Estância, e bacharelou-se pela Faculdade de Direito da Universidade Federal de Pernambuco, em 1958.

Epaminondas Silva de Andrade Lima assumiu, em fevereiro de 1955, ainda como estudante de Direito o posto de Promotor Público da Comarca de São Cristóvão, atuando em seguida na Comarca de Lagarto (1955). Quatro anos depois da sua colação de grau em Direito foi aprovado em concurso público e nomeado Promotor de Justiça da Comarca de Riachão do Dantas, em julho de 1962. A partir daquele mesmo ano exerceu as funções de membro do Conselho Penitenciário do Estado de Sergipe.

A carreira de magistrado teve início em maio de 1963, quando tomou posse como Juiz de Direito de Primeira Entrância da Comarca de Arauá. Homem de fortes convicções religiosas, ele buscou sempre, do ponto de vista filosófico, associar a sua prática de magistrado, aplicando a lei e observando os fundamentos do Cristianismo, conforme declarou em entrevista que concedeu à revista Judiciarium, em fevereiro de 1997:

"Não sou um homem pessimista ou derrotista, mesmo porque sou cristão e acredito na ressurreição de Jesus Cristo. Acredito nas pessoas, nas instituições. Espero dos primeiros a contribuição para podermos, juntos viabilizar as segundas. A democracia, regime político que nos abriga deve ser inerente também ao Poder Judiciário."

Um ano depois de haver iniciado a sua atuação como magistrado, trabalhou na Comarca de São Cristóvão (1964), onde foi promovido a Juiz de Direito de Segunda Entrância. No ano de 1974 foi removido para a Comarca de Aracaju, onde atuou na

Terceira Vara Criminal, na Nona Vara Cível (1980) e na Sétima Vara Cível (1984).
A posse no cargo de Desembargador do Tribunal de Justiça do Estado de Sergipe ocorreu em 1989. Dois anos depois, em 1991, ele foi eleito Vice-Presidente do Poder Judiciário. Presidiu o Judiciário sergipano no biênio 1997-1999 e também foi Presidente do Tribunal Regional Eleitoral (2001).

Fonte: Ascom TJSE.
Foto: César de Oliveira.

Imagem e texto reproduzidos do site: infonet.com.br/politica

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 30 de setembro de 2013.

sábado, 28 de setembro de 2013

Rosa Faria

Rosa Faria

"...Quero morrer ocupando minhas mãos. Em uma delas, levarei o terço que é a minha profissão de fé; na outra, levo o pincel, meu eterno e inseparável companheiro, e, lá de cima, eu ainda quero pintar". (Rosa Faria).

Editado em 03/04/99

Rosa Moreira Faria nasceu no dia 28 de abril, na cidade de Capela. Filha de João Guilherme Faria e Arminda Moreira Faria, sua avó Rosa Moreira Frião, era filha de portugueses e, por sinal, o pai de sua avó Joaquim Carneiro Frião, foi o primeiro secretário da Associação Comercial de Sergipe.

Na cidade de Capela fez seus estudos primários e secundário. O primeiro no grupo Escolar Coelho e Campos, o segundo no Colégio Imaculada Conceição onde recebeu o diploma de normalista e o prêmio de uma cadeira por ter sido classificada em primeiro lugar em todo o curso no ano de 1941.

Em relação a sua cidade natal, para Rosa Faria, Capela sempre foi uma cidade de muita vida onde os filhos zelavam pela cidade. Sua avó contribuía muito pelo civismo, pelo patriotismo. Seu pai era um grande artista e dava um grande sentido à vida da cidade de Capela.

Rosa Faria, no ano de 1942 iniciou sua vida pública no povoado de Boa Vista, no município de Capela, na ocasião o secretário de educação era Dr. José Rollemberg Leite, de quem ela muito aprendeu para a vida profissional.

Em 45, a professora foi removida para o grupo Escolar Coelho e Campos, na cidade de Capela. No mesmo ano fez o curso de aperfeiçoamento para professores primários no departamento de educação, na capital do Estado. No ano de l946 foi removida para o grupo Barão de Maruim, em Aracaju. No mesmo ano no mês de setembro, foi requisitada para o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), através do Dr. José Rollemberg Leite.

No ano de l950, no Rio de Janeiro, fez curso de artes plásticas, no Departamento Nacional do Serviço de Aprendizagem Industrial, no período de l8 meses, sendo classificada em primeiro lugar. Ainda no Rio de Janeiro fez curso de extensão universitária sobre psicologia do adolescente, na universidade do Brasil. Em l952 fez curso de desenho - registro n.D-l6399, com autorização de lecionar desenho em todo território Nacional. Em l953, ministrou em Petrolina, curso Nacional para jovens de Artes Aplicadas. No ano de l955, concorreu a um concurso de pintura, promovido pela prefeitura de Aracaju, para apresentação de uma tela a óleo, com assunto alusivo ao 1o Centenário de Aracaju como capital, recebendo o prêmio por ser classificada em primeiro lugar, depois em 56, curso didático pela Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe. Rosa foi professora, artista, pesquisadora, telegrafista, jornalista, taquígrafa e poetisa. Suas primeiras telas expostas ao público foram doadas ao acervo da Associação Sergipana de Imprensa, da qual foi uma das sócias fundadoras.

Em 17 de março de l968, foi fundado o Museu de Arte e História Rosa Faria. Seu museu era único em Aracaju e ela o construiu sem ajuda de ninguém, de orgão nenhum. Eram suas economias, sua pequena aposentadoria, distribuídas entre mais de mil peças de azulejos, porcelanas (alguns bordados de ouro), telas, pincéis e molduras.

Por seu trabalho, recebeu diversas comendas de Honra ao Mérito, da prefeitura de Aracaju, medalha Amigo da Marinha como reconhecimento aos serviços prestados em favor da Marinha do Brasil e de igual forma pelo Exército que gravou com sua orquestra o hino que ela escreveu para o 4o Centenário do Inicio da Civilização de Sergipe.

No dia primeiro de maio de l997 faleceu Rosa Faria, vítima de uma aneurisma cerebral, que acometeu no dia de seu aniversário, 28 de abril e a deixou na UTI por 03 dias.

Rosa faleceu sem deixar orientação do que deveria ser feito do Museu. Carmelita sua irmã, não teria condições para manter funcionando o Museu, ela e os amigos entendiam que Rosa não gostaria de deixar simplesmente para o governo, fosse ele municipal ou estadual. Eles nunca a ajudaram em vida a manter o Museu, nem demonstravam entender a necessidade do Estado cultivar para seus filhos o que existe registrado em suas obras. Como não era de bajular qualquer um, ao contrário, era franca e muito positiva em mostrar as mazelas das autoridades quanto à cultura e principalmente cobrar o cuidado com a nossa história, atraía para si, mais críticas que apoio.

No dia l4 de julho de l997, foi assinado no Museu de Arte e História Rosa Faria um contrato de transferência do acervo daquele museu para o Memorial de Sergipe, órgão implantado pela Universidade Tiradentes -UNIT, após um mês de conversação entre os interessados. Na ocasião foi estabelecido em contrato, entre o reitor Jubert Uchôa de Mendonça, pela UNIT, e a irmã e herdeira da falecida Rosa Moreira Faria, Maria Carmelita Moreira Faria.

O documento foi feito em cartório e acompanhado pela advogada Cáscia Freire de Barros, também relações públicas do Museu, que estabelecia compromissos com cláusulas de obrigatoriedade por parte da UNIT.

Além de peças constituídas de quadros, pratos de porcelana, azulejos, e documentos históricos, registros de tudo que Rosa imprimiu com sua arte, existem mais de mil livros, encadernados com capa dura, um apanhado de algumas obras que Rosa mandou imprimir e cujo título "Sergipe passo a passo pela sua história" simboliza pela sua importância.

A Gráfica J. Andrade foi testemunha do esforço de Rosa para publicar este livro, um verdadeiro álbum da história de Sergipe. Ela esperava que todas as escolas de Sergipe pudessem ter em suas bibliotecas, pelo menos um exemplar para conhecimento dos alunos. O governo do Estado não demonstrou interesse até o dia de sua morte. O governo municipal idem.

Suas obras, mais que peças de arte, contam a história de nossa terra.

Texto disponibilizado pelo Memorial de Sergipe
Av. Beira Mar, 626 - Praia 13 de Julho Tel: (079) 211-3579
Aracaju - Sergipe – Brasil.

Texto: reproduzido do site cidadedearacaju.com.br
Foto: reproduzida do blog academialiterariadevida.blogspot

Postagem originária do Facebook/MTéSERGIPE, de 28 de setembro de 2013.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

O jornalista e contista Célio Nunes


Publicação de 6 de novembro de 2009.

O jornalista e contista Célio Nunes
Por GILFRANCISCO*

Foi durante a realização do V Fórum de Poesia, em outubro de 1993, onde apresentei uma comunicação sobre Vladimir Maiakóvski (1893-1930), que conheci pessoalmente Célio Nunes, apresentado pelo jornalista Paulo Afonso Cardoso da Silva, época em que era diretor de redação do extinto Jornal da Manhã (hoje Correio de Sergipe), cujas páginas abrigou o suplemento cultural Arte & Palavra (1990-1993), por ele idealizado.

Célio Nunes da Silva nasceu a 11 de outubro de 1938 em Aracaju, filho de José Nunes da Silva e Júlia Canna Brasil e Silva, fez seus estudos nesta capital, primeiramente no grupo General Valadão e depois no colégio Atheneu Sergipense. Seu pai, operário gráfico, de jornais e da Escola Industrial (antiga Escola Técnica), foi lider classista, desde á década de 20, ligado ao movimento comunista e ao Centro Operário Sergipano, onde fervia todo o movimento operário sindical, inclusive com passeatas, greves e edições de jornais. Por isso foi preso em 1935, pelo Interventor Eronides de Carvalho, voltando a ser processado pelo golpe militar de 1964.

Aos 22 anos de idade foi residir na Bahia, em Salvador e em Itabuna, região Sul, onde morou por mais de uma década, exercendo o jornalismo profissional - foi repórter, redator e correspondente no Sul da Bahia dos jornais: Tribuna da Bahia, Jornal da Bahia e A Tarde;- trabalhou em jornais de Itabuna e Ilhéus - e exerceu funções públicas no Estado da Bahia, entre as quais Diretor da Divisão de Cultura da Prefeitura de Itabuna e Diretor da Câmara Municipal de Itabuna. Célio Nunes participou ativamente do movimento cultural do Sul da Bahia, inclusive do movimento de Teatro Amador. Teve publicados trabalhos literários, principalmente, contos, em jornais, revistas e coletâneas na Bahia: Conto 2, Itabuna, 1967 e Moderno Conto da Região Cacaueira (org.) Telmo Padilha (1930-1997), 1978.

Em 1972 retornou a Sergipe, trabalhando na impressa e no serviço público. Foi incluído nas antologias, Contos e Contistas Sergipanos (org.) Núbia Marques (1929-1999 ), 1972; e Prosa Sergipana (org.) José Olyntho e Márcia Maria, 1992. Em 1980, publica Trajetória para a Ilha dos Encantados, Aracaju, Edições Desencanto, 94 pp., em que reúne contos produzidos entre 1965 e fim dos anos setenta, segundo ele, “ Elaborados em várias épocas, não sei se apresentam algo característico/individual que permaneça implícito na minha saga no mundo da ficção. Desde cedo que escrevo, coloco na gaveta, retomo idéias, grande parte de trabalhos abandono, renego, rasgo, perco, outra parte guardo como significação apenas de um momento, lado afetivo/sentimental; a angústia existencial, os caminhos e descaminhos, o pré-auto-jugamento, são obstáculos na decisão de divulgar o que às vezes considero sem significação”.

Naquele tempo de dispersão e oportunismo, o contista Célio Nunes é um dos que reagiram e optaram pela transgressão da linguagem, com um espírito requintado, carregado pelo fetiche da arte de narrar. Com a publicação de Réquiem para José Eleutério (abas de Léo A. Mittaraquis), Aracaju, Funcaju, 224 pp, 2000, Célio Nunes parece assumir, de uma vez por todas, a magia de transformar palavras em imagens, imagens em vivências capazes de impressionar profundamente o leitor. Não é preciso avançar muito em sua leitura para que a essência da obra se revele. Os contos de Réquiem para José Eleutério (quinze contos e uma novela), possuem uma homogeneidade de concepção que os situa numa mesma pauta e num mesmo ritmo de realização formal.

Célio Nunes, finalmente, retoma a sua trilha, na perplexidade da sua caminhada entre desencontros, mistérios e indagações, com a determinação única de contar histórias e com a convicção de que não está sozinho, pois necessita dividir suas angústias, desilusões e ilusões. Tendo como matéria-prima, o dia-a-dia, Célio Nunes o transforma em seus contos de maneira magistral, extraindo do cotidiano o humor, o drama, a ironia, o lirismo, a luta, o sonho humano, o brilho das ilusões, o agudo, mistério dos encontros e os caminhos que se cruzam e entrecruzam.

O contista Célio Nunes, como uma energia da natureza, cuja voz é a própria matéria germinal do universo, consegue em seus contos ilustrar com clareza seu pensamento, procedendo por um preciso esquema de montagem, para chegar à demonstração do que é ser um bom contista, entregando ao leitor uma valiosa contribuição na leitura daquilo que acontece. Como ficcionista, Célio Nunes nos dá mostras de profundo conhecimento da matéria e de incomum e lúcida capacidade de penetração, quanto a forma, ao processo da narrativa e à construção de idéias.

Escritor singular tanto na inventividade quanto na armação plástica de cada conto, Célio Nunes utiliza-se de uma linguagem enxuta, estilizada, incensurável que sobrevem como uma resultante desse fluxo poético que valoriza definitivamente sua narrativa. Apesar de todos seus vaivéns, e ainda com todas suas contradições, é um dos poucos nomes mais significativos, tanto por sua qualidade própria, como por sua influência, no conto das últimas décadas nas letras sergipanas, embora mantendo-se relativamente à margem desse processo. Por isso sua contribuição é mais difícil de reconhecer, o que não implica seja menos poderosa e atuante ao longo dos anos.
Outro aspecto que destaca o contista Célio Nunes é que está sempre de olhos bem abertos, fala dos intricados caminhos das relações humanas; as palavras têm a generosidade e o desespero de se darem a ver, a sentir, tudo aqui e agora, em perfeita sintonia com a visualidade do nosso tempo.

É preciso remarcar ainda a presença de uma linguagem amadurecida e forte, a boa capacidade de fabulação, que dão a esperança de que Célio Nunes tenha mais coisas para nos oferecer. Em 2005, publicou mais outro de contos; O Diário de W. J. e outras histórias. O conjunto de sua obra foi saudado pela crítica especializada, comprovando o talento deste que é hoje um dos mais importantes autores sergipanos. Como cronista literário, através da coluna "De 7 Em 7", atuou no jornal semanário, Cinform, entre os anos de 2005 e 2006.

Microcontos

Levado pelos amigos Paulo Afonso Cardoso e Wagner Ribeiro que insistiam na publicação do livro Microcontos, Célio Nunes, juntamente com o filho e também jornalista Claudio Nunes, procurou o diretor-presidente da Segrase - Serviços Gráficos de Sergipe, Luiz Eduardo Oliva, para viabilizar a edição através da Editora do Diário Oficial. Acertada a parceria e iniciada a editoração, fomos surpreendidos com a morte súbita do autor.

Experimentalista de grande humor e criatividade literária, Célio Nunes é o autor de reconhecida literariedade. Em Microcontos, demonstra mais uma vez seu talento de contista, exibindo uma técnica narrativa muito moderna, numa ficção altamente criativa, para atingir a técnica mais apurada do contador de casos, escrevendo em estilo desenvolto e preciso. Cada conto de Célio Nunes é uma metáfora do real, parte sempre da realidade concreta e a transfigura: partindo de um simples episódio, constrói o seu micromundo ficcional, captando pedaços de vida, aspectos escondidos da realidade, um olhar quase oculto, um rosto, um segredo, um silêncio.

Em Microcontos, o contista megulha em si mesma, numa sondagem da próprio intimidade, uma literatura composta numa linguagem abrandada e doce, como se desejasse penetrar no interior das coisas. Nesse mais recente trabalho procurou a transcedência - o lugar de todos os tempos, fora do tempo, o único espaço que escapa à morte. Nestes anos de atividade intelectual Célio Nunes publicou. além dos quatro livros de contos, centenas de artigos literários, cuja a diversidade e engajamento formam as duas características que mais ressaltam em sua obra. Como poucos deu a sua obra um caráter empenhador procurando sempre atribuir-lhe uma função, seja do ponto de vista político, seja do ponto de vista estético cultural. Assim, Célio Nunes firmou sua fama de excelente contista. Sobre o livro, diz Plinio Aguiar "o que o escritor sergipano Célio Nunes chama de mocrocontos configura-se como um texto com poucas linhas, dosado com alta densidade ficcional e, como característica peculiar de sua prosa, enveredando pelo insólito, buscando surpreender sempre o leitor".

Falecimento

O jornalista e contista Célio Nunes morreu no final da manhã de 13 de agosto de 2009 em sua residência, à rua Carlos Burlamarqui, vítima de infarto agudo do miocárdio, aos 72 anos. Seu corpo foi velado na Osaf e o sepultamento realizado às 10 horas do dia seguinte no cemitério Santa Isabel. Simples, amigo de todos e amante da cultura sergipana, Célio Nunes iniciou-se no jornalismo nos fins dos anos 50, no seminário Folha Popular, órgão do Partido Comunista. Integrante da União da Juventude Comunista e do PCB, em 1959 vai para Salvador para concretizar o sonho de ser jornalista. Trabalha no Jornal da Bahia, depois na Tribuna da Bahia,mas fixa residência durante 13 anos em Itabuna, onde residia seu irmão, o poeta e também jornalista, Hélio Nunes, proprietário de uma pequena gráfica, onde editava o Jornal de Notícias. Além de desempenhar suas funções de jornalista no Diário de Itabuna e nos tablóides Desfile, Flâmula e SB Informações & Negócios. Em Ilhéus, teve passagem pelo Diário da Tarde e Correio de Ilhéus, dedicou-se a atividades culturais na região: diretor da Secretaria da Câmara de Itabuna e diretor do Departamento de Cultural da Prefeitura. Em 1964 durante o regime militar, ainda residindo em Itabuna foi preso pelo Exército por apoiar as Ligas Camponesas na invasão à cidade de Belmonte.

Retornando a Salvador em 1972, cursa os primeiros semestres do curso de jornalismo da Universidade Federal da Bahia – UFBA, registrado como jornalista profissional conforme lei de regulamentação de 1971, abandona o curso. Retornando a Aracaju, foi assessor de imprensa do antigo Condese e depois da Secretaria de Planejamento onde se aposentou. Trabalhou ainda na Gazeta de Sergipe (redator), Jornal da Cidade (redator e editor); e no Jornal da Manhã (redator, editor e diretor geral), onde criou o suplemento cultural Arte & Palavras que marcou sua passagem no cenário literário, divulgando poetas e escritores sergipanos, que não dispunham de maiores espaços nos jornais diários.

Fundador do Sindicato dos Jornalistas de Sergipe, do qual foi presidente por suas vezes; membro da direção da Federação Nacional dos Jornalistas; Presidente da ASI – Associação Sergipana de Imprensa; chefe da Assessoria de Comunicação da UFS; Membro do Conselho Estadual de Cultura; Diretor-Presidente da Segrase – Serviços Gráficos de Sergipe. Publicou quatro livros de contos: Contos (1963); Trajetória para a Ilha dos Encantados (1980); Réquiem para José Eleutério (2000); O Diário de J.W. E outras Histórias (2005).

*GILFRANCISCO: Jornalista, professor da Faculdade São Luiz de França e membro do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.

Foto e texto reproduzidos do blog: sergipeeducacaoecultura.blogspot

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 26 de setembro de 2013.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Memória de Post do Terceiro Mês do Grupo MTéSERGIPE


Memória - primeiras postagens, novembro de 2011, alguns meses depois da criação do Grupo "Minha Terra é SERGIPE", que no mês de agosto passado completou 2 anos.




Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 13 de novembro de 2011.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Áurea Zamor de Melo

Áurea Zamor de Melo.

"Áurea de Melo, nasceu na cidade de Aquidabã (Se) em 10 de março de 1912 e ficou conhecida como "Zamor". Ficou tão conhecida assim, que chegou a assinar Áurea Zamor de Melo. Ensinou no Colégio Tobias Barreto, Atheneu, Jackson de Figueirêdo, Pio Décimo e Nossa Senhora de Lourdes. Fez o Curso de Orientação Vocacional em nível superior, também foi Inspetora Federal de Ensino Secundário, aprovada em Concurso Público e aposentou-se como Professora de Português e História da Escola Técnica Federal. Trabalhou no SENAI e no DER, foi colaboradora da Revista Alvorada e publicou vários artigos nos jornais de Aracaju. Foi Presidente da Associação Cristã Feminina e dedicou seu tempo de aposentada à obras assistenciais. Morreu aos 103 anos, em 2010". (JLC).

Foto e texto do site de Jorge Lins de Carvalho/educar-se.com

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, em 12 de setembro de 2012.

Gilberto Amado: conheça sua história!


Publicado no site noticiasaju, em 29.01.2013.

Gilberto Amado: conheça sua história!

O nome que recebe a ponte considerada uma das mais importantes obras estruturantes realizadas nos últimos anos em Sergipe é do escritor polígrafo, jurista, diplomata, jornalista e político brasileiro, Gilberto de Lima Azevedo Souza Ferreira Amado de Faria. Ele nasceu em 1887, em Estância/SE, e faleceu em agosto de 1969, no Rio de Janeiro.

Gilberto Amado foi membro da Academia Brasileira de Letras, na qual foi nomeado em 1963. Vem de uma família de escritores, na qual se incluem seus irmãos Genolino, Gildásio, e Gilson, além se seus primos, os irmãos James e Jorge Amado. Fez os estudos primários em Itaporanga, também no interior de Sergipe. Depois estudou Farmácia na Bahia e diplomou-se pela Faculdade de Direito do Recife.

Após conclusão do bacharelado (Faculdade de Direito do Recife) em 1909, se tornou catedrático de Direito Penal (1911-1930). Em 1910, transferiu-se para o Rio de Janeiro, iniciando a sua colaboração na imprensa, no Jornal do Comercio, com um estudo sobre Luís Delfino. Passou depois a ocupar uma coluna semanal, em O País. Em 1912, realizou sua primeira viagem à Europa, assunto de um de seus livros de memórias.

Política

Em 1915, foi eleito deputado federal por Sergipe. Sua atuação na Câmara se fez sentir, sobretudo, através de discursos que se tornaram famosos, como o que pronunciou na sessão de 11 de Dezembro de 1916 sobre As Instituições Políticas e o Meio Social do Brasil, obra de (1924). Nos últimos anos da República Velha, exerceu mandato no Senado, até encerrar sua carreira política, com a Revolução de 1930. Em 1931, chamou a atenção do país, e especialmente dos revolucionários de 30, vitoriosos, mas indecisos, para problemas de direito político, como os sistemas representativos, a representação proporcional, o sufrágio universal.

Depois de um curso de conferências sobre esses temas, publicou Eleição e representação (1932), de viva atualidade ainda hoje. Por essa época, voltou ao magistério superior, na Faculdade de Direito do Distrito Federal, iniciando um novo e fecundo período em sua vida, de estudos e trabalhos.

Diplomacia

Em 1934, deu início ao que foi, desde então, a sua atividade permanente: a diplomacia. Trabalhou como consultor jurídico do Ministério das Relações Exteriores (1934), em substituição a Clóvis Beviláqua. Exerceu também as funções de embaixador em Santiago (1936), Helsinque (1938-1939), Roma (1939-1942) e Berna (1942-1943).

Desempenhou vários outros cargos diplomáticos, entre os quais os de representante brasileiro na VII Conferência Internacional Americana (Montevidéu, 1923), na Conferência Pan-americana de Buenos Aires (1935) e em várias sessões ordinárias e extraordinárias da Assembléia Geral da ONU, a partir de 1947. A partir de 1948 foi membro (e muitas vezes presidente) da Comissão do Direito Internacional da ONU.

Foto e texto reproduzidos do site: noticiasaju.com.br/

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, em 24 de setembro de 2013.

Professora Lígia Sales (Tia Lígia)


Osmário/Jornal da Cidade/23/09/2013.

Professora Lígia Sales (Tia Lígia)
Uma vida de dedicação ao magistério em Sergipe.

"Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina”. Cora Coralina.

Esta frase resume o porquê de a professora Lígia Sales continuar atuante, em sala de aula, como educadora, mesmo após 80 anos de existência. Ela é mestra, e nesta época que comemora-se o dia dos professores, nada mais oportuno do que uma homenagem justa e sincera a uma professora que enaltece e valoriza a profissão que abraçou ainda adolescente.

Ligia Soares Sales de Campos nasceu na cidade de Estância, Estado de Sergipe, no dia 26 de agosto de 1933, é filha de João da Cruz Sales de Campos e Laura Soares Sales de Campos, ambos falecidos. Tem dois filhos: Maria José Sales e Carlos Augusto de Lima Júnior; três netos: Pedro José Sales, João Neves Sales e Arthur Sales. São seus bisnetos: Juan Pedro, Tadeu, Maria Lígia e Maria Eduarda.

Aos nove anos de idade acompanhou os seus pais para a cidade de Propriá, onde fixaram residência por motivo profissional. Estudou no Educandário Nossa Senhora das Graças, Colégio das Freiras das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição, matriculou-se na Escola Técnica de Comércio de Sergipe, onde concluiu o Curso Normal no ano de 1950. No ano seguinte, assumiu o cargo de Professora Pública Normalista de Jardim de Infância na cidade de Aracaju, onde fixou residência até hoje.

Prestou vestibular no ano de 1972, para a Universidade Federal de Sergipe, concorrendo por vaga no Curso de Licenciatura em Letras Vernáculas. Estudou na Universidade Federal de Sergipe onde concluiu a graduação no Curso de Licenciatura em Letras Vernáculas, no dia 26 de dezembro de 1975.

Na década de 50, começou a lecionar também na Rede privada de Ensino. Nos anos 60, realizou vários cursos na área de Atualização em Educação Física, destacando-se como técnica de Handebol, Volibol e Atletismo. Lecionou em várias escolas públicas estaduais, destacando-se na Escola Normal durante 16 anos como Técnica de Voleibol, Handebol e Ginástica Artística.

Lecionou Educação Física e Recreação no Colégio Patrocínio de São José, no fim da década de 70. Trouxe para Aracaju diversos escritores do primeiro escalão da Literatura Nacional, tais como: Inácio de Loyola Brandão, Lígia Fagundes Teles, Ziraldo, Henfil, Fernando Gabeira, Nelida Pinõn, entre outros.

Graças ao incentivo à Literatura, a professora Lígia Sales ganhou o título de Agente de Cultura de Sergipe. Lecionou nos estabelecimentos particulares de ensino: Colégio Nossa Senhora de Lourdes, Arquidiocesano, Salesiano, Escola Nobre de Sergipe, Sagrado Coração de Jesus, Graccho Cardoso, Colégio Jackson de Figueiredo, Colégio Brasília e Curso e Colégio Visão.

A Tia Lígia, como é conhecida carinhosamente por seus alunos e ex-alunos, atualmente, mesmo com 80 anos de idade, é responsável pelo sucesso nos concursos pré-vestibulares de todo Brasil, dos alunos que estudam no Curso Pré-Vestibular Sala 1, onde leciona há 35 anos e também ministra a disciplina Português para alunos dos 9º ano do Colégio Master, há mais de sete anos.

Tia Lígia é exemplo de competência, responsabilidade, disposição, determinação e amor pela causa educacional, na qual vários colegas se espelham como profissional que engrandece a educação no Estado de Sergipe. Exemplo de filha, mãe, avó, bisavó, professora, mestre, colega, amiga, tia; tia Lígia é um espelho, é um ícone na educação do Estado de Sergipe, é luz, é um exemplo de vida que abraçou e continua a abraçar a causa educacional com carinho e muito amor. Tia Lígia é a mestra que “transfere o que sabe e aprende o que ensina”. Parabéns pelos seus 80 anos.

Imagem e texto reproduzidos do site: jornaldacidade.net/osmario
Foto: Álbum de família.

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, em 24 de setembro de 2013.