quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Ariosvaldo Figueiredo (1923 - 2008)

  Foto: Jorge Henrique

Publicado em 15/01/2002.

Ariosvaldo Figueiredo.
Por Osmário Santos.

Ariosvaldo Figueiredo Santos nasceu na cidade de Malhador a 28 de novembro de 1923. Seus pais: Alcides Melo Santos e Maria de Lourdes Figueiredo Santos.

O Sr. Alcides era um homem de origem humilde, homem de muita luta que chegou a ser proprietário rural, dono de alambique e de beneficiamento de algodão. Dele, o filho herdou o espírito progressista, sempre acreditando no amanhã, não nos privilégios e privilegiados, mas no direito, na justiça, e na liberdade. De Maria de Lourdes, mulher muito justa, tipo de senhora dona de casa bem à moda antiga, aprendeu desde cedo a conviver com liberdade justiça.

Chegado o momento dos estudos, passou a ser aluno do Colégio Tobias Barreto. Seus pais resolveram morar em Aracaju devido à preocupação com a educação de seus seis filhos.

Com o professor José de Alencar Cardoso, o primeiro contato com os livros. Também recebeu aulas, nessa fase inicial dos estudos, das professoras Estelita, Briolangia e Mariinha. Estudou por dez nos no Colégio Tobias Barreto em dois expedientes. De Alencar Cardoso, comenta: “Era um homem que apresentava uma ferocidade por fora, talvez para esconder a generosidade do interior.

Uma época de Tobias, onde conviveu diariamente com mestres que marcaram uma das fases áureas da educação em Sergipe. Presta homenagem aos nomes dos professores Figueiredo, que ensinava Geografia e História, Artur Fortes e Abdias Bezerra. Uma geração de mestres que não eram apenas competentes, mas pessoas sérias.

Chegando até o quinto ano, último ano que existia no Colégio Tobias Barreto, necessitava fazer os dois anos do curso complementar, conforme legislação educacional da época. Foi, portanto, estudar no Colégio Atheneu.

Estando no Atheneu, estourou a Segunda Guerra Mundial, fonte perene de altas discussões políticas pelos estudantes. A atividade política do estudante cresceu. Não é por acaso que, em 1937, na ditadura de Getúlio, nasceu a UNE. Foi a fase áurea da UNE, porque não havia uma luta partidária, havia uma luta política.

Aliás, na minha geração, fui muito infeliz. Na minha adolescência, nós nascemos e crescemos na ditadura de Getúlio, implantada em 1937 e, na maturidade, conhecemos a ditadura de 1964.

Após muita participação na política estudantil ao lado dos colegas do Atheneu, com o término do curso complementar, foi fazer curso superior na Bahia. Fez vestibular em Salvador, passou em Agronomia e, surpreso, recebeu a notícia de que a faculdade em que ia estudar tinha sido transferida para Cruz das Almas.

Não cursou de imediato. Antes de ir a Salvador, fez um ano de CPOR no 28º Batalhão de Caçadores. Aproveitou e fez mais um outro ano do curso no Exército em Salvador. Quando terminou o curso do Exército, depois de fazer um estágio em Ilhéus, recebeu promoção militar. “Eu sou 2º tenente”.

Do lado do Exército, só tem a comentar, como lado negativo, a tomada de posição em 1964, quando foi contra o povo.

A gente tem que esquecer o que aconteceu em 1964, porque não interessa dividir a sociedade brasileira e vou dizer mais: as grandes causas deste país não nasceram dos sindicatos, nasceram nos quartéis. A criação da Petrobras nasceu nos quartéis. A luta com as oligarquias no Brasil foram feitas pelos militares em 1922, 1924, e em 1926 e pela própria revolução de 1930. Agora, o que aconteceu em 1964, por culpa também da esquerda, incompetente e leviana, é que jogaram os militares na direita. Eles não têm essa tradição no Brasil, não. Aí é que está o equívoco. Foi a maior tragédia, porque a esquerda jogou os militares na direita, que passou a conspirar nos quartéis. Certos esquerdistas incompetentes ficaram desejando criar um Exército popular no Brasil.

Deixando o Exército, foi estudar em Cruz das Almas, saindo entre 1948 e 1949 e veio exercer a profissão em Sergipe. Chegando por aqui, não conseguiu emprego dizendo que isso foi por causa de ser o Brasil, inclusive Sergipe, um condomínio dividido entre PSD e UDN. “Eu não era nem PSD nem UDN, sobrei”.

Desses partidos políticos, complementando o PR, disse que eles encheram Sergipe de sangue, de brigas, perseguições, mortes, até chegarem a 1964, quando todos se juntaram e fizeram a ARENA.

Como o pai era amigo de um sergipano que morava em Minas e que era o presidente da UDN daquela cidade, um advogado e professor chamado Alberto Deodato, conseguiu espaço para início de profissão. O secretário de Alberto Deodato era Francelino Pereira.

Em Minas, passou 10 anos como funcionário da Secretaria de Agricultura do Estado. Por considerar o afeto o lado mais bonito da vida, com a morte do pai, veio para Sergipe, a fim de estar junto com os irmãos. Chegando aqui, estando o Banco do Nordeste em fase de instalação, passou em concurso, obtendo o primeiro lugar, com direito a escolher a agência em que queria trabalhar. Optou por Aracaju, sendo o primeiro fiscal orientador do Banco do Nordeste.

Quando estava no auge da carreira bancária, fez um plano de reclassificação de cargos para todo o banco e foi vitorioso. Como castigo, recebeu do presidente do banco transferência para ir trabalhar na cidade de Natal. Revoltado com tal situação, pegou o avião e foi até a sede do banco na cidade de Fortaleza.

Quem me transferiu, Olavo Galvão, tinha acabado de sair, e estava entrando Raul Barbosa, que foi até governador do Ceará em 1950. Quando cheguei, o Dr. Raul Barbosa tinha tomado posse na véspera. Me recebeu muito bem e logo me disse que já estava sabendo da minha história. Me recomendou ir para Natal, prometendo que, passados 30 dias, me colocaria de volta a Aracaju. Já que ele não podia desfazer o ato, fui para a máquina e pedi exoneração do banco.

Chegando em Aracaju, aceitou o convite do ex-colega de Cruz das Almas, Engenheiro Agrônomo Passos Porto, para trabalhar com ele no Ministério da Agricultura em Sergipe, cargo para o qual tinha sido recém-nomeado.

Passado um bom tempo, foi colocado à disposição do Colégio Agrícola Benjamim Constant, como professor. Ensinou de oito a nove anos sobre técnicas agrícolas, dizendo que sempre se sentiu bem em sala de aula.

Em 1955, marcou presença na Gazeta Socialista, fundada por Orlando Dantas. Da equipe básica da Gazeta Socialista, cita os nomes de Tertuliano Azevedo, Hildebrando de Souza Lima e Orlando Dantas.

Já tinha, deste o tempo de estudante de Agronomia, desenvolvido trabalho jornalístico como articulista, experiência que lhe valeu a conquista de espaço na Gazeta de Orlando. Juntando a isso, uma sintonia com a linha de pensamento de Orlando Dantas. “Tanto que, nós tivemos uma convivência de quase trinta anos”.

Na Gazeta, Ariosvaldo desenvolveu um trabalho jornalístico polêmico, tendo penetrado em problemas até então deixados de lado pela imprensa de Sergipe: o problema do negro em Sergipe, o problema da mulher, o problema das minorias. “Sempre fui e sou naturalmente polêmico”.

Escreveu, diariamente, por mais de dez anos, sempre incomodando a sociedade sergipana, que sempre foi uma sociedade conservadora e reacionária.

Eu sobrevivi com os problemas de Sergipe por causa de Orlando Dantas. Com o tempo, é que eu fui perceber essas coisas. Como eu tinha total liberdade na Gazeta, eu era um cara, modéstia a parte, lido por todas as classes, lido por todo mundo, mesmo os que não concordavam. As idéias originais eram colocadas em minha coluna e Orlando as escrevia no editorial. Não ficava um problema de Sergipe que não fosse discutido. E qual era a nossa divisa? A luta pelo desenvolvimento, a luta contra a violência e a luta contra a corrupção. Orlando doutrinou, Orlando fez escola. Quem primeiro discutiu, em Sergipe, o problema de planejamento regional foi Orlando e eu, antes da SUDENE. Não foi José Aloísio de Campos. Isso que dizem de Aloísio de Campos é a pessoa que está pagando os empregos recebidos. Ele não era nem um economista formado. Era um economista por força de lei. Contador esforçado, tudo certo. Burocrata, tudo certo. Mas dizer que ele criou, nada disso ele criou. Entre 1923 e 1926, Orlando já escrevia sobre problemas econômicas e sociais.

Foi escolhido por unanimidade, paraninfo da 1ª turma de técnicos agrícolas de Sergipe, fato que gerou o cancelamento da formatura. Desgostoso com isso, deixou o Colégio Agrícola de lado.

Recebendo Seixas Dórea, candidato a governo, o apoio de Orlando Dantas, Ariosvaldo não concordou com a posição do amigo. A fim de evitar uma briga por problemas políticos, resolveu partir de Aracaju, indo morar no Rio de Janeiro, para fazer o curso no Instituto Superior de Estudos Brasileiros, o ISEB, considerado a grande trincheira de renovação cultura e política do país.

Nomeado por Armando Rollemberg, trabalhou como responsável da Superintendência da Reforma Agrária no Estado de Sergipe, cargo que lhe deu bastante dor de cabeça.

Tanto que eu tive ameaça de morte, na época. Disseram que eu era comunista, era agitador, que estava abrindo as pernas. Tudo montado por meia dúzia de picaretas. Na área política, essa campanha sórdida era dirigida pelo Rosendo Ribeiro e José Raimundo. Também são figuras horrendas.

Com o Golpe de 64, foi preso, perdendo todos os empregos. Quando veio o AI 5, o primeiro visado era a Gazeta.

Então, nós, eu e Orlando Dantas, que até o dia do golpe éramos democratas e sempre fomos democratas, nunca comunista, isso era público e notório, tornamo-nos comunistas e fomos para a cadeia. Orlando chegou a ir ao quartel e eu já estava preso.

Ariosvaldo passou três meses preso e fez a surpreendente revelação de que, durante o período em que esteve preso, nunca foi ouvido em nenhum interrogatório. “Só me ouviram, depois que eu saí da cadeia”.

Antes de ter sido preso, já tinha feito o curso superior de Direito, na Faculdade de Direito de Aracaju, período em que presidiu o diretório acadêmico da faculdade. Também foi presidente do diretório da Faculdade de Agronomia em Cruz das Almas.

Sem poder exercer funções públicas no período do golpe, foi advogar e teve bastante tempo para desenvolver seus trabalhos de pesquisas e literatura. Uma fase de muitas produções, que lhe possibilitou publicar vários livros. Livro sobre o índio, sobre o problema nacional do potássio e o primeiro livro sobre o negro em Sergipe.

Convidado para ensinar Sociologia na Faculdade de Ciências Econômicas, passou a ocupar suas noites dando aulas. Com a Criação da Universidade Federal de Sergipe, que incorporou todas as escolas de nível superior, Ariosvaldo passou a ser professor da UFS. Faz questão de dizer que não saiu da universidade por problema de aposentadoria, e sim por ter pedido exoneração.

Até o pessoal da Universidade deveria ter dito que tinha pedido exoneração e isso eu pedi, pela falta de caráter de muitos professores, pelo baixo nível de muitos alunos. Eu não vou sair de minha casa para me aborrecer. Aí foi quando eu percebi a gravidade da crise brasileira, que chegou até a universidade. O que tem aí é uma caricatura. Isso não é uma universidade. Ela é primária e inidônia, mistificadora, quando deveria ser o centro cultural do Estado. É por isso que nenhum governador deu atenção à universidade, porque ela não se preza, não tem dignidade. É cabide de emprego de muitos, negócios de outros. As exceções você conta nos dedos.

A fim de justificar tanta demora para tal descoberta, pois só saiu da universidade no ano passado, declarou: “eu sou muito generoso”. Depois complementou:

Honestamente se eu contrariei alguém, eu fiz involuntariamente. Eu escrevi durante mais de dez anos, diariamente, nunca fiz um artigo contra ninguém. É de minha formação. Então muita gente, que eu sempre tratei com atenção e respeito, eu fui perceber depois que eram canalhas. Daí porque eu digo sobre a minha generosidade. Fique certo, é até uma lei da psicologia e vale até como advertência. Tem muita gente que não tem um terço daquilo que a gente fez. Elas não existem, elas existem na imagem que a gente construiu. Pelo que eu vi, eu não perco a fé no ser, porque eu acredito no ser humano. E como dizia o grande escritor Romen Holand, eu sou capaz de pensar só no meio de todos e de pensar só contra todos.

Em 1964 foi preso como comunista, afirmando que nunca foi e, em 1980, foi convidado por Albano Franco para ser seu assessor na CNI.

E como é que um empresário, presidente da CNI, vai convidar um comunista para ser assessor? Claro que não! Me convidou, porque eu conheci Albano como estudante e, ainda hoje, não concordo com ele, politicamente, mas me dou com ele como pessoa humana. É preciso distinguir as coisas.

Comenta que Albano Franco foi quem primeiro, no Brasil, liderou a crítica da política econômica financeira da ditadura num discurso no qual teve sua participação.

Nunca se sentiu só na vida, dizendo que tudo isso são coisas qualitativas.

A sintonia do pensar, do querer, da solidariedade, do melhor, o contrário do que está aí hoje. Eu sou o oposto. Eu sou a luz, eu sou a construção. E hoje ainda tem gente que pensa assim, embora seja uma minoria. É como amizade. Você sabe que a amizade é um problema qualitativo. A gente conhece muita gente, mas quer bem a poucos.

Candidatou-se a deputado federal em 1986 para ser deputado constituinte, por achar que poderia prestar um grande serviço ao seu Estado e até ao país. Não foi eleito e queixa-se: “Nenhum político cresce sem grupo”.

Sobre a mentalidade política de Sergipe:

Houve um atraso de mil por cento, acontecendo um retrocesso escandaloso. Ninguém mais conservador do que Leite Neto, mas ele tinha espírito público, ele acreditava no povo. Ele tinha interesse em servir ao seu Estado. Armando Rollemberg, um homem conservador, mas um homem sério, que tem espírito público. Eles não se elegiam para ganhar dinheiro, para fazer política com empreiteiras. Hoje só se cuida disso. Não há liderança séria em Sergipe. Isso aí é um caos. Ninguém precisa ser cientista político, cientista social, para saber que esses homens não vão fazer bem a Sergipe. Não há condições.

É o único escritor sergipano que vende o que publica.

Nunca nenhum órgão público financiou meus livros e olha que eu já vendi uma cacetada (sic). Sou o escritor mais lido , mesmo os que não gostam de mim. Já publiquei 16 livros.

É da Academia Sergipana de Letras e conta por que aceitou usar o fardão:

É porque a academia me esculhambava constantemente. Eu era comuna, eu era vermelho e disso eu fazia uma farra. Então eu raciocinei, se ela dizia isso comigo sem eu nunca ter feito nada contra ela, chegou a hora de ela engolir o vômito. Tomei posse, e até logo. E você vê que ela vem caindo. Elege pessoas que não têm obras publicadas.

Do casamento:

Eu nunca gostei de casar, porque eu acho o fim, não agüento, não tenho saco. Eu tenho amigas, vem aqui, passa oito dias. Primeiro eu tenho recurso financeiro, posso fazer isso. Mando a passagem ela vem o dia que quiser, volta e até logo. Outra coisa: nunca quis uma mulher dependente de mim, porque toda dependência é escravizadora. Eu acho fundamental, para a mulher, ter seu emprego, sua independência financeira e sua independência de amar a quem quiser. Amar sim, e não se prostituir. Porque hoje a mulher está se prostituindo. Toda essa estrutura que está aí é contra a mulher, viu? É para prostituir a mulher, não é liberdade não. Observe toda liberdade que tem aí. Eu lembro o caso de uma aluna minha de 18 anos, que eu pergunto pela colega, cadê fulana? Está grávida? Grávida? Não sabe nem usar o corpo? Não estão sabendo serem livres, ninguém rompe isso sem cultura. Taí a crise existencial de muita gente. Se não me engano foi Pio XI, um homem extremamente conservador, que dizia: ‘O dinheiro é uma beleza quando é o nosso escravo, mas é uma tragédia quando é nosso senhor’. Se a gente comanda a vida, a vida nos dá em troca muita coisa. E não está comandando. É a crise da sociedade brasileira.

De amor e sexo: “Eu não amo dentro dos modelos. Sexo é fundamental só que o sexo não vai aonde o amor chega. A maioria trepa (sic), não ama “.

Texto reproduzido do site: osmario.com.br

Postagem originária da página do Facebook/Minha Terra é SERGIPE, de 30 de janeiro/2014.

O 100 Anos de Josias Passos


ACESE comemora os 100 anos de Josias Passos

A Associação Comercial e Empresarial de Sergipe tem a honra de homenagear o empresário Josias Passos pelos seus 100 anos de vida, nesta terça-feira (28). Com espírito visionário, Josias Passos dedicou a vida ao setor empresarial, iniciando a carreira aos 15 anos, na cidade de Ribeirópolis. Empreendedor, Josias Passos investiu no comércio setorizado que atendia aos ramos de armarinho, perfumaria, ferragem, armas e munições, além de explosivos e importados.

Instalada na Avenida Otoniel Dória, a empresa Josias Passos e Filho Ltda, conhecida como JG (Jotagê), foi a fonte de renda que consagrou a família do Sr. Josias ao longo dos anos. Ao todo, são cinco filhos, 16 netos, dos quais 13 estão formados, e seis bisnetos.

Além de empresário, Sr. Josias foi Secretário e Tesoureiro da Prefeitura de Ribeirópolis e Agente de Estatística, tendo chefiado o recenseamento daquele município no ano de 1940. Foi também correspondente do Jornal do Convento de São Francisco na Bahia e na década de 60, fez parte do grupo de empresários que fundou a TV Sergipe.

Militante, Sr. Josias Passos presidiu a ACESE de 1975 a 1978, período histórico em que a Associação, assim como a economia local, enfrentava problemas, sendo um dos ex-presidentes que soergueram a centenária entidade empresarial, apostando sempre no desenvolvimento econômico do Estado.

Cargo de muito prestígio na época, Josias Passos exerceu com orgulho a função e até os dias de hoje, marca presença em todos os eventos da Associação.

A ACESE realizará uma justa homenagem na tarde desta terça-feira (28), às 16h na sede da entidade onde receberá o aniversariante, familiares, diretores, conselheiros e a imprensa sergipana.

Para os ex-presidentes da ACESE, Jorge Santana e Lauro Vasconcelos, Sr. Josias é considerado um ícone do comércio sergipano.

"Josias Passos é um ícone do comércio sergipano, marcando época com sua Casas JG. Mas, visionário, ele foi além e liderou a implantação da primeira emissora de TV de Sergipe. Celebrar seu centenário é motivo de júbilo para toda a classe empresarial sergipana.", disse Jorge.

" Comerciante muito atuante, de visão e que investiu em vários setores na sua época. Sempre valorizou e teve atuação marcante no associativismo porque sabia que sozinho não chegamos a lugar nenhum.Sem dúvida nenhuma um ícone do empresariado Sergipano.Parabéns pelos seus 100 anos de vida bem vividos e com grandes contribuições para o desenvolvimento e crescimento do setor empresarial Sergipano.", afirma Vasconcelos.

Segundo o presidente da ACESE, Alexandre Porto, comemorar a data é um momento de grande orgulho para a entidade.

"É motivador ver um homem como Josias Passos, manter-se presente em todos os eventos e participando ativamente das nossas atividades. Tenho muito orgulho de presidir a ACESE durante o seu centenário e poder comemorar com todos os diretores e conselheiros esse momento único. Josias Passos presidiu nossa Associação justamente em 1975, ano em que, por uma feliz coincidência, eu nascia e quis o destino que eu fosse o presidente na comemoração dos seus 100 anos.", finalizou Porto.

Enviado pela assessoria, por Larissa Souza.

Foto e texto reproduzidos do site: universopolitico.com

Postagem originária da página do Facebook/Minha Terra é SERGIPE, de 29 de janeiro/2014.

sábado, 25 de janeiro de 2014

Lembrança de Outros "Pré-Cajus"



Lembrança de Outros "Pré-Cajus".
Por Lygia Maynard.

Lembrança de outros "Pré-Cajus", quando a nossa casa era a concentração de uma turma de jovens, pelos idos de 1996, mais ou menos. Guilherme Maynard e Simone Maynard tinham um círculo de amigos-primos e a animação era estimulada por um delicioso cachorro-quente antes de saírem em busca do bloco, cujos abadás eram comprados com o sacrifício alegre minha e de Armando Maynard que os apoiávamos na diversão sadia. Depois que eles debandavam, por assim dizer, íamos - eu, Armando, Luiza Macedo e Edson Alves Macedo Filho ( irmã e cunhado) - ver a passagem dos foliões e, de longe, observá-los com os olhos guardiões do amor paternal. E assim, noite a noite, a alegria em vê-los felizes, mesclava-se à preocupação e ansiedade em tê-los em casa sãos e salvos. Agora é esperar os netos crescerem mais para começar tudo de novo, junto com os agora pais.

Fotos e texto reproduzidos do Facebook/Linha do Tempo/Lygia Prudente.

Postagem originária da página do Facebook/Minha Terra é SERGIPE, de 25 de janeiro/2014.

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

João Mello (1921 - 2010).


Publicado por Destaque Comunicação, em 06 de janeiro de 2010.

João Mello (1921 - 2010).

João Lourenço de Paiva Mello nasceu na Bahia, em 24 de janeiro de 1921. Aos três anos de idade, mudou-se com a família para Boquim-SE. Ainda jovem, se destacou no cenário musical de Sergipe e, aos 19 anos, a convite do cantor Silvio Caldas, João mudou para o Rio de janeiro, onde se destacou como músico, compositor, cantor e produtor musical.

O artista teve músicas gravadas por grandes intérpretes, como Sérgio Mendes, e por 12 anos trabalhou na Companhia Brasileira de Discos, que representava a Phillips, Polydor e Fontana. No final da década de 70, João Mello trabalhou como produtor na Som Livre. Foi também o produtor da trilha sonora da primeira novela gravada em cores no Brasil, "O Bem Amado".

Em 2005, João Mello escreve com o irmão Raymundo Mello o livro "João Ventura - Cidadão de Aracaju". A obra traz um relado sobre a vida do artista, do cenário artístico e radiofônico de Aracaju nas décadas de 40 e 50 e ainda sobre a vida política de Aracaju entre 1945 e 1955.

Sobre as revelações e colaborações de amigos para o livro, o sempre modesto e generoso João comentou: "Apesar de conhecer o potencial de cada um, não esperava ser tão importante para eles a ponto de ter em seus escritos revelações sobre a minha carreira que até comoveram-me".

João Mello era casado com Lygia Mello e pai de Lenora e Sérgio.

Foto e texto reproduzidos do site: destaquenoticias.com.br

Postagem originário da página do Facebook/Minha Terra é SERGIPE, de 20 de janeiro/2014.

sábado, 18 de janeiro de 2014

O dente da preguiça gigante, encontrado em Poço Redondo

 O dente da preguiça gigante foi encontrado em um depósito em Poço Redondo (Sergipe) formado por uma depressão natural que abriga sedimentos carregados pela água da chuva. 
(foto: Mário Dantas).

 Reconstituição da paisagem de Sergipe há 40 mil anos, com diversos representantes da megafauna que viviam na região, entre eles, a preguiça gigante.
 (arte: Marcelo e Tânia Viana; concepção: Mário Dantas).

Além de ser bastante liso, o que sugere que foi aplainado, o dente estudado é marcado por sulcos paralelos situados na sua ponta e nas suas laterais, como mostram os detalhes da figura.
 (foto: Mário Dantas).
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Coluna/Caçadores de fósseis/Publicado em 10/06/2012.

O dente da preguiça gigante.

Fóssil encontrado em Sergipe traz evidência direta da interação entre a nossa espécie e esses animais. A descoberta, tema da coluna deste mês de Alexander Kellner, suscita questões sobre como se comprova a alteração de um material pela ação humana e quando essa megafauna se extinguiu.

Por: Alexander Kellner

Quando recebi de Mário Dantas (Universidade Federal de Minas Gerais) o trabalho que ele publicou com outros colegas no periódico Quaternary International sobre um dente de uma preguiça gigante extinta modificado pela ação humana, logo imaginei que esse assunto seria bem interessante para a coluna Caçadores de fósseis. Quantas vezes se tem a chance de discutir a interação entre animais extintos há milhares de anos e as primeiras levas da nossa espécie que chegaram à América do Sul?

No entanto, logo percebi que a problemática é bem maior do que eu supunha. Não apenas por suscitar a questão de como se comprova que um dente ou algum fóssil foi realmente manuseado pelo homem há milênios, mas também por envolver temas complexos, como até quando viveram os integrantes de algumas espécies extintas.

Poço Redondo.

O exemplar pesquisado por Mário Dantas e colegas foi coletado em 2010 na fazenda São José, situada no município de Poço Redondo, em Sergipe. O depósito é do tipo tanque, uma depressão natural formada por processos físicos e erosão química a partir de fraturas preexistentes na região.

Os sedimentos que preenchem esse tipo de depressão foram carreados devido a chuvas que, quando bem intensas, geravam um fluxo de água que também podia transportar restos de animais mortos presentes nos arredores da depressão. Aliás, justamente nesse tipo de depósito encontra-se grande parte dos fósseis atribuídos à chamada megafauna, que vivia em diferentes regiões do nosso planeta, particularmente durante o Pleistoceno (entre 1,8 milhão e 11,5 mil anos atrás).

Apenas para relembrar, a megafauna é composta por animais geralmente de grande proporção que conviveram com a espécie humana e se extinguiram ao final da última era do gelo, entre 12 mil e 10 mil anos atrás. Entre os grupos mais famosos se destacam os mamutes, as preguiças gigantes e os tatus de grandes dimensões.

Processos naturais ou ação humana?

Entre os diversos fósseis coletados em Poço Redondo, um chamou bastante a atenção dos pesquisadores: um dente. Ao se depararem com esse exemplar, Mário e colegas notaram que ele estava incompleto, sem, no entanto, apresentar uma quebra natural, que poderia ter resultado de diversos processos físicos antes mesmo da preservação do material.

Quebras poderiam ter ocorrido, por exemplo, durante o transporte do dente para dentro do tanque. Porém, quando isso acontece, as partes quebradas exibem uma superfície bem característica, bastante irregular, sem apresentar qualquer ranhura ou estrutura orientada.

Ou então o dente poderia ter sofrido a ação de pisoteamento, devido ao confinamento de animais em uma pequena área. Sem espaço e com mortes ocorrendo, eles acabam pisando nas carcaças. Tal situação pode ser observada hoje em dia nas savanas africanas em períodos de seca, quando a fauna local acaba se concentrando perto de corpos d’água, com muitos indivíduos e pouco espaço. Esse tipo de quebra também exibe marcas características: ranhuras sem qualquer direção preferencial.

O dente de Poço Redondo, ao contrário, é marcado por sulcos paralelos situados na sua ponta e nas suas laterais. Além disso, todo o dente é bastante liso, o que sugere que foi aplainado, algo incompatível com um processo natural. Por último, foram encontrados junto com esse exemplar artefatos líticos, o que é evidência direta da ação humana.

Uma das questões intrigantes que Mario e seus colegas tiveram que desvendar é a qual espécie o dente pertencia. Apesar de o fóssil estar incompleto, os pesquisadores puderam identificar camadas com cimento, ortodentina e ortodentina modificada. A análise dessas camadas mostrou que o dente pertence ao grupo Megatheriidae, formado pelas preguiças gigantes.

Das duas espécies de preguiça gigante existentes em solo brasileiro, Megatherium americanum foi registrada apenas na região Sul do país, enquanto Eremotherium laurillardi tem distribuição em todo o território nacional, incluindo o Nordeste. Logo, não é preciso pensar muito nos motivos que levaram aos autores a atribuir o material encontrado a Eremotherium laurillardi...

Mas a descoberta ainda tem outras implicações...

Idade do fóssil.

Ao pesquisar sobre artefatos líticos encontrados no estado de Sergipe, os registros mais antigos são atribuídos à cultura Canindé. Com base em datações realizadas por meio do método do Carbono 14, foi estabelecido que essa cultura estava desenvolvida entre 8.950 e 5.570 anos atrás – idade estimada também para o dente.

Diante desses dados, Mário e colegas chegaram a duas alternativas. Ou a espécie de preguiça gigante viveu até o Holoceno (que se estende de 11,5 mil anos atrás aos dias atuais) e interagia com a população humana existente naquele tempo, ou então a chegada da espécie humana à América do Sul é mais antiga do que se supõe, devendo ter ocorrido há cerca de 15 mil anos – idade já proposta por alguns autores, mas não aceita pela maioria dos pesquisadores.

Sem querer me aprofundar nessa questão (que poderia ser o tema de outra coluna), o período exato da chegada da espécie humana à América do Sul tem sido foco de uma discussão intensa. As evidências físicas diretas são representadas por um crânio encontrado em Lagoa Santa (Minas Gerais). Esse exemplar, ao qual se deu o nome informal de Luzia e que se encontra exposto no Museu Nacional/UFRJ, teve sua idade determinada entre 11 mil e 11,5 mil anos.

Resta, agora, que os pesquisadores deem prosseguimento a essa escavação na região de Poço Redondo, em Sergipe. Se a burocracia deixar, eles certamente farão diversas novas descobertas, que podem elucidar essa interessante questão que é a interação entre a nossa espécie e a megafauna.

Obrigado ao Mário pelo envio do trabalho.

Alexander Kellner
Museu Nacional/UFRJ
Academia Brasileira de Ciências.

Foto e texto reproduzidos do site: cienciahoje.uol.com.br

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 15 de janeiro de 2014.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

“[...] Senhor Silveira, não me morra!”.

Jornalistas brasileiros que cobriram a Segunda Guerra Mundial.
Joel Silveira é o segundo -sentado - a partir da esquerda.

Publicado por LagartoNet.com, em 31 de março de 2010.

“[...] Senhor Silveira, não me morra!”.
Por Euler Ferreira.

Durante a Segunda Guerra Mundial o jornalista Joel Silveira trabalhava para os Diários Associados, no Rio de Janeiro. Na época, ele confidenciou a amigos que estava decidido a se inscrever para atuar como correspondente de guerra junto aos soldados da Força Expedicionária Brasileira que estavam sendo embarcados para a Itália.

Quando a notícia se tornou pública o Ministro da Guerra, General Eurico Gaspar Dutra, demonstrou insatisfação com a ideia de ter Joel na guerra porque entendia que o jovem jornalista era comunista.

O notável jornalista sergipano demonstrou contrariedade com a manifestação do General Dutra, mas em momento algum recuou de seu desejo em cobrir a guerra.
Ao conversar a respeito com Assis Chateaubriand, dono dos Diários Associados, a primeira reação não foi nada positiva, porque Chateau não achava legal “mandar esse menino de Sergipe para a guerra”, conforme já tinha confidenciado a amigos.
Mas, como naquela época eram poucos os jornalistas decididos a aceitar tal missão, Chateau acabou por entender que Joel Silveira tinha tudo para realizar um grande trabalho na Itália. Ato seguinte, conseguiu do Presidente Getúlio Vargas a autorização que Joel tanto desejava, contrariando o temido DIP/Departamento de Imprensa e Propaganda – órgão criado durante a ditadura do Estado Novo – e, também, o Ministério da Guerra.

Chamado a comparecer ao escritório do chefe, Joel recebeu a notícia que aguardava com enorme expectativa… quer dizer, não bem uma notícia, mas uma ordem:

- O senhor vai para a guerra, mas não me morra, senhor Silveira, não me morra! Repórter é para mandar notícias, não para morrer!

Corria o ano de 1944, Joel Silveira tinha 26 anos.

JOEL SILVEIRA (15/03/2010).

Em cem artigos, reportagens e publicações que li a respeito do jornalista Joel Silveira, noventa registram que ele – o notável repórter brasileiro na segunda guerra mundial – teria nascido em Lagarto. Ao noticiar a morte do magnífico jornalista sergipano – tido por muitos como o maior repórter brasileiro – a Folha de São Paulo informa textualmente “…Silveira tinha mais de 60 anos de carreira no jornalismo. Nascido em 1918 na cidade de Lagarto (SE)”.

Dezenas e dezenas de outros jornais e sites – como o da Associação Brasileira de Imprensa – também deixaram o registro que Joel era filho de Lagarto. Eu cresci achando que ele era meu conterrâneo do Lagarto.

A primeira vez que eu tive contato com Joel foi no ano de 1984, quando ele, convidado pelo então governador Antônio Carlos Valadares, ocupou o cargo de Secretário de Estado da Cultura. Repórter da TV Sergipe, tinha entrevista agendada com ele. Cumprida a parte oficial da visita, eu, de uma vez por todas, precisava passar tudo a limpo. Após me identificar papa-jaca de quatro costados, perguntei:

- Joel, você nasceu em Lagarto?
- Não, bem que eu gostaria, pois minha família é lagartense. Na verdade, eu nasci aqui em Aracaju.

A verdade mexeu com o meu lado bairrista. Ao sentir isso, ele me deu uma colher de chá:

- Ora, não esquenta. Fui gerado no Lagarto e nasci na Rua Lagarto… só que em Aracaju”.

Joel me deu um abraço e ficamos entendidos.

Foto e texto reproduzidos do site: lagartonet.com

Postagem originária da página do Facebook/Minha Terra é SERGIPE, de 15 de janeiro/2014.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Operação Cajueiro vai render um documentário

  Milton Coelho.
 Foto: arquivo de Osmário Santos/Infonet.

Wellington Mangueira.
 Foto: arquivo jornal Gazeta de Sergipe.

Jornaldacidade.Net, em 15/01/2014.

Operação Cajueiro vai render um documentário.

Vítima de toda a sorte de torturas e suplícios infligidos pelos militares, Milton foi obrigado a tatear o mundo pelo resto de seus dias, mas a cegueira derivada dos abusos não o jogou nas sombras.

Por: JornaldaCidade.

Sob os confetes e serpentinas do Carnaval de 1976, milhares de vozes abafadas. A Operação Cajueiro, manifestação mais pungente do autoritarismo que manchou o território sergipano durante os anos de chumbo, consta entre as muitas páginas subtraídas à história brasileira, um livro pontuado por silêncio e dúvida. Segundo Fábio Rogério, Vaneide Dias e Werden Tavares, produtores e diretores do curta-metragem Operação Cajueiro, um carnaval de torturas (ainda em fase de finalização), a sombra que pesa sobre o episódio constrange a memória local e fragiliza a noção de liberdade vigente.

Para Vaneide, a mácula da Operação Cajueiro deveria fazer parte da afirmação do indivíduo sergipano. “Depois de conversar com tanta gente que pagou por suas convicções com a própria carne fica muito fácil perceber que a minha geração não tem uma dimensão muito justa do que significa governar o próprio destino, a partir das certezas que cada um carrega. Os sergipanos então torturados pelos militares eram jovens, com a idade de meus amigos, e foram silenciados na base da violência. Essa é uma história que tem de ser revelada”, diz ela.

O documentário financiado pelo Edital de Apoio a Produção de Obras Audiovisuais de Curta Metragem da Secretaria de Estado da Cultura (Secult/SE) passa essa história a limpo e localiza o triste episódio no tempo, sem esquecer os desdobramentos que o fazem tão importante nos dias de hoje. Para tanto, os diretores procuraram os homens sangrados pela experiência. Gente como Milton Coelho, ex-militante do PCB, que foi mantido preso no quartel do 28º Batalhão de Caçadores da Polícia Militar durante 50 dias. Vítima de toda a sorte de torturas e suplícios infligidos pelos militares, Milton foi obrigado a tatear o mundo pelo resto de seus dias, mas a cegueira derivada dos abusos não o jogou nas sombras.

“Eu sou partidário de que é preciso identificar todas as ocorrências. É preciso identificar todos os que participaram daquelas atrocidades para que as novas gerações sejam municiadas e não permitam que tudo se repita”, disse ele.

Segundo o diretor Fábio Rogério, não poderia haver momento mais oportuno para a realização do documentário. “Nos últimos anos, diversos encontros e seminários em lembraram a criação da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça. Familiares, ex-presos políticos e organizações da Sociedade Civil estão empenhadas para trazer os abusos criminosos da ditadura à tona. Não se trata apenas de homenagear/indenizar familiares de mortos e desaparecidos, perseguidos, presos, demitidos, torturados e exilados. Mas de alertar a sociedade brasileira para que as barbáries perpetradas não se repitam”, garantiu.

Para Werden, a construção do filme tem ar de dever histórico a ser cumprido. “A missão do realizador é buscar uma forma através da junção de imagens e som que comunique a sua verdade com o mundo. O momento político atual com essas manifestações e toda a tentativa de se entender pede uma reflexão maior sobre o passado de luta, pra que se caia nem no discurso reacionário nem no discurso anacrônico. A gente não pode aceitar que a nossa geração não conheça algo com tanto conteúdo quanto a Operação Cajueiro”, considerou o diretor

Operação Cajueiro.

O endurecimento do regime militar instaurado pelo golpe de 64 não tardaria a fazer as primeiras vítimas. As covas abertas a partir de 1975, contudo, tinham objetivo definido. A ordem era dizimar o proscrito Partido Comunista Brasileiro (PCB) e acabar com a influência exercida em diversos órgãos da sociedade e do Estado.

Em fevereiro do ano seguinte, véspera de Carnaval, ocorreu em Aracaju e Operação Cajueiro. Uma força especial oriunda da Bahia, sob as ordens do general linha-dura Adyr Fiúza de Castro, comandante da 6ª Região Militar, sediada em Salvador, prendeu arbitrariamente 25 sergipanos, processou 18 deles, além de processar também o então Deputado Estadual e atual Governador de Sergipe Jackson Barreto, à época, filiado ao MDB mas ligado ao PCB.

O documentário Operação Cajueiro, Um Carnaval de Torturas, um protesto contra a umidade dos porões onde a historia permanece encarcerada, ouviu os presos políticos da operação, entre eles, Antônio José de Góis, Wellington Mangueira, Delmo Naziazeno, Rosalvo Alexandre e Milton Coelho.

Texto reproduzido do site: jornaldacidade.net

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 15 de janeiro de 2014.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Os 85 anos do Peixe Zé

Foto: Jorge Henrique.

Publicado no Blog Historiando, em 26 de abril de 2012.

Os 85 anos do Peixe Zé
Por Juliana Fabrícia Oliveira Nascimento[1]

Zé Peixe é para a História de Sergipe uma personalidade popular reconhecido internacionalmente, orgulho para sergipanos e brasileiros. José Martins Ribeiro Nunes conhecido como Zé Peixe, é filho de Vectúria Martins e Nicanor Ribeiro Nunes. Uma família com cinco filhos, José e Rita são os que apresentam extraordinário desempenho nas águas e desde criança atraiam a preocupação dos pais diante do desejo em adentrar nas águas do Rio Sergipe. Sempre residindo na Rua da Frente – Avenida Ivo do Prado – José atravessava a rua e se lançava nas águas. Tamanho era o seu desempenho que fazia a travessia Aracaju/Barra dos Coqueiros/Atalaia Nova/Pomonga. José Martins Ribeiro Nunes nasceu em 05 de janeiro de 1927 e em 2012 comemorou os seus 85º anos de idade[2].

O seu codinome “Peixe” foi atribuído pelo Comandante Aldo Sá Brito de Souza em 1938, que o observava da Capitania dos Portos de Sergipe próximo a sua casa. O nome por si só já denuncia a capacidade de Zé Peixe com o mar. Desde então, quando havia necessidade o mesmo era chamado para prestar o seu auxílio. Em 1947 passou no concurso da Marinha do Brasil e ficou prestando serviços na Capitania. Desempenhou com louvor a função de Prático que tem como dever orientar os navios até o Porto e deste para o Oceano[3].

O normal é fazer isso dispondo de um barco de apoio. Contudo, Zé dispensava o mesmo e direcionava os navios a nada. Na volta à terra firme pulava de volta n’água e seguia a nada o seu trajeto. Essa sua particularidade que desafia os limites humanos quando se pensa no esforço físico e, principalmente, na imensidão do mar, tornaram Zé Peixe uma dos mais conhecidos Práticos do Brasil, aparecendo também nos noticiários de outros países[4]. O percurso de travessia e a altura com que pulava nos faltam o ar só em pensar! Mas, não para o saudável e ágil Zé Peixe que se sente a vontade com as águas.

Homem com o coração simples possuiu uma boa educação por parte dos seus pais sendo a sua mãe catedrática de matemática na Escola Normal e o seu pai funcionário público do primeiro escalão. Dedicou a sua vida ao trabalho, visto que este contempla aquilo que mais lhe dá prazer e vitalidade, nadar. Tamanha é a sua intimidade com a natureza que conhece as especificidades do mar e desvenda seus segredos[5]. E esse conhecimento não serviu somente para cumprir a sua obrigação de Prático. Zé Peixe recebeu inúmeras condecorações em agradecimento aos seus feitos heroicos no mar, quando salvou pessoas em situação de perigo. Um exemplo foi o incêndio do navio Mercury em alto-mar vindo da plataforma da Petrobras com funcionário[6].

Além dos limites sergipanos, Zé Peixe ficou conhecido na Rede Globo sendo entrevistado por Glória Maria, aparecendo no Fantástico. Participou do Programa do Jô Soares[7]. E seu nome foi mencionado no filme Sargento Getúlio. Uma TV Alemã também tomou conhecido de Zé. É mais que justo registrarmos esse extraordinário personagem da nossa história e cultura popular. Ufa!! Realmente as façanhas desse homem são para tirar o fôlego de qualquer um!

No dia 26 de abril de 2012 registra-se a sua morte, que mesmo sendo a certeza de todos nós não deixa de abalar e entristecer os corações de sergipanos. Com 85 anos fez muito por Sergipe e ficou registrado na sua história. Cabe a nós no presente reconhecer os seus méritos e deixar viver na memória aquele que ‘navegou’ no imaginário popular sergipano.

REFERÊNCIAS:
AMIGOS DA ARTE. Zé Peixe: uma vida no mar. SERCORE Artes Gráficas LTDA: Aracaju, dez. 2000. (Col. O livro dos Danados).
 BINDO, Marcia. Zé Peixe. VIDA SIMPLES PRA QUEM QUER VIVER MAIS E MELHOR. Disponível em: http://vidasimples.abril.com.br/subhomes/gente/gente_235467.shtml.

[1] Graduada em História Licenciatura Plena pela Universidade Tiradentes. Pós Graduada em Ensino de História: Novas Abordagens pela Faculdade São Luís de França.
[2] AMIGOS DA ARTE. Zé Peixe: uma vida no mar. SERCORE Artes Gráficas LTDA: Aracaju, dez. 2000. (Col. O livro dos Danados).
[3] IDEM
[4] IDEM. BINDO, Marcia. Zé Peixe. VIDA SIMPLES PRA QUEM QUER VIVER MAIS E MELHOR. Disponível em: http://vidasimples.abril.com.br/subhomes/gente/gente_235467.shtml.
[5] IDEM.
[6] AMIGOS DA ARTE. Zé Peixe: uma vida no mar. SERCORE Artes Gráficas LTDA: Aracaju, dez. 2000. (Col. O livro dos Danados). Pág. 25
[7] AMIGOS DA ARTE. Zé Peixe: uma vida no mar. SERCORE Artes Gráficas LTDA: Aracaju, dez. 2000. (Col. O livro dos Danados).
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 Texto reproduzido do blog: junascimentohistoriando.blogspot

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 13 de janeiro de 2014.

Zé Peixe: o folclórico prático do Brasil


Republicado no JC em 30/04/2012. Osmário - Memórias de SE.

Zé Peixe: o folclórico prático do Brasil.
Por Osmário Santos.

Sergipano que faz do mar de Aracaju a sua vida, tipo popular conhecido por todos, ele é um dos mais eficientes práticos do Brasil. Aos 63 anos, continua em plena atividade no trabalho de levar e trazer navios até o porto, evitando pedras, bancos de areia e outras armadilhas do canal, um conhecedor profundo dos acidentes hidrográficos da área.

É conhecido, reverenciado e festejado por marinheiros de todo o país que o conhecem pela sua maneira de trabalhar. Faz tudo nadando. Cumprida a missão de levar a embarcação até a bóiamarítima, no fim do rio, o Zé dá um espetacular mergulho de cabeça e inicia sua volta à terra firme, nadando 6 quilômetros.

Recebeu a medalha do Mérito Serigy, concedida pela Prefeitura de Aracaju, na administração Cleovansóstenes de Aguiar, pelos seus relevantes serviços prestados à comunidade. Possui a medalha e o diploma de Amigo da Marinha. Na administração municipal de José Carlos Teixeira, no governo João Alves Filho, foi construído um posto de salvavidas na Atalaia que recebeu o seu nome, registrado numa bonita placa de bronze. Possui inúmeros documentos que comprovam seus grandes feitos de homem do mar. Muitas vidas foram salvas pela sua coragem e habilidade na água. Por ocasião dos seus 36 anos de vida de trabalho no mar, conforme registro oficial da associação dos práticos, no ano de 1985, a Marinha do Brasil o homenageou com a medalha do Mérito Tamandaré. A condecoração foi por ocasião da comemoração pelo 120º aniversário da Batalha Naval do Riachuelo, na sede do II Distrito Naval em Salvador. A Marinha justificou a homenagem por considerar Zé Peixe o prático que conduz com segurança os navios que demandam ou deixam o porto de Aracaju, afirmando que esse sergipano humilde contribui eficazmente para o cumprimento da missão da Marinha em Sergipe.

Zé Peixe foi tema de matéria na imprensa nacional e até internacional. Foi matéria na Veja, edição de 17 de dezembro de 1976. Na revista Esportes e Náutica de número 11 e outros jornais. Mas é difícil convencê-lo a prestar um depoimento. Depois de alguns dias de muita insistência, ele falou coisas interessantes. É o perfil pelo próprio incrível velho do mar.

Em alto mar.

Este foi o título da reportagem publicada na revista Veja. A seguir, uma parte da matéria, que registra momentos importantes da vida do sergipano que encara com grande seriedade o seu trabalho: “Já se tornou uma tradição. Quando há troca de comando na Capitania dos Portos de Aracaju, entre a fila de autoridades a serem apresentadas ao novo titular do posto está o segundo condutor motorista e mestre de pequena cabotagem José Martins Ribeiro. Trata-se, mais simplesmente, do ‘Zé Peixe’, um dos três integrantes da Corporação dos Práticos de Sergipe – emérito nadador, e, por isso mesmo, permanentemente requisitado para guiar os navios que se atrevam a enfrentar a traiçoeira Barra de Aracaju. E seu trabalho é de uma comovente solidão: a Corporação dos Práticos é tão mal equipada que não conta sequer com uma lancha para levar o prático até os navios. ‘Para que lancha?’, pergunta, porém, Zé Peixe. ‘Eu sei nadar.’”

Espores e náutica.

Com reportagem de Walterson Sardenberg Sobrinhoe fotos de MituoShiguihara, a revista Esportes e Náutica dedicou quatro páginas contando as grandes façanhas de Zé Peixe. Uma parte interessante do trabalho: “Ele é, sem dúvida, um tipo excêntrico: há quarenta anos não usa sapatos. Nisso é irredutível – e não abre exceção nem mesmo para as sandálias de dedo. Recorre à água doce somente para matar a sede. Banho, ele só toma de mar – no que, aliás, dispensa o sabonete. Tais esquisitices, de qualquer maneira, só fizeram aumentar a fama daquele que é tido por muitos como o mais eficiente – e surpreendente! – prático do país: Zé Peixe, um homem franzino de pouca conversa, mas capaz de façanhas homéricas dentro do oceano. Seu nome – aliás, seu apelido — já ultrapassou há muito a Barra do canal de Aracaju, onde já trabalha desde 1947”.

Zé é capaz de deixar qualquer navegante estupefato. Seu cotidiano daria um filme de aventuras. Para começar, ele não tem barco próprio. Por isso, para ir buscar os navios lá fora, pega uma carona em alguma embarcação de Petrobras. A 6 quilômetros da costa, na chamada Boca da Barra, desce. Ou melhor, salta. Dali, nada até uma bóia de sinalização, onde, paciente, senta e espera até que o navio chegue. ‘Já passei dias inteiros ali’, conta, sem emoção, como se o fato de alguém ficar empoleirado numa bóia em alto-mar fosse a coisa mais natural do mundo. Quando o navio aparece, Zé é içado a bordo e assume a pilotagem até o porto de Aracaju. Incrível? Nem tanto. O mais sensacional é o processo inverso, quando Zé Peixe sai para tirar os navios do porto. Nessas ocasiões, práticos convencionais costumam recorrer a um barco de apoio. Afinal, precisam de uma condução para retornar à terra firme. Zé segue com o navio e na mesma Boca da Barra, ao terminar o seu serviço, avisa que ‘descerá’ da embarcação. Como? Mergulhando. Com genial perícia, o sexagenário pula de alturas muitas vezes superiores a 12 metros, deixando atônitos os capitães dos navios. ‘Se sei que outro navio está prestes a chegar, fico esperando na bóia’, conta. ‘Caso contrário, volto nadando mesmo’. Há alguns meses, por exemplo, ele assombrou a dourada juventude da cidade, frequentadora das noites alegres dos bares da moda da Praia de Atalaia – 23 quilômetros da Boca da Barra. Garotões e gatinhas não podiam crer no que viam: de repente, no meio da noite, um ancião saiu do mar encrespado, sabe-se lá vindo de onde, e correu pela areia em direção à avenida, vestindo apenas um surrado calção. Ali, sacou uns trocados de dentro da única vestimenta e tomou o primeiro ônibus que passou. Ninguém entendeu nada.”

Modesta casa.

Ele mora numa casa modesta, pintada de azul e branco,na avenida Ivo do Prado, que escapou de uma possível demolição, na corrida e no avanço imobiliário da cidade, que não dá trégua às coisas antigas. Foi o amor à casa dos pais, fragmento da antiga Rua da Frente, belo postal de Aracaju. A rua dos passeios, dos namoros, da boa brisa, de um tempo de um rio sem poluição.No teto que abriga Zé Peixe, é possível encontrar o verdadeiro calor humano, num ambiente de simplicidade, sem luxo, que cheira a mar e a antiguidade. Zé Peixe não se desfaz dos móveis que foram dos seus pais e, no seu quarto, uma peça enorme, muita madeira e detalhes nas aplicações: “Foi a cama em que nasci”, diz com orgulho.

Início de vida.

José Martins Ribeiro Nunes nasceu no dia 5 de janeiro de 1927, sendo seus pais Nicanor Ribeiro Nunes e Vetúria Martins Ribeiro Nunes, que tiveram seis filhos. Hoje, vivos: José, Antônio e Rita. Seu pai participou do governo Maynard Gomes, em todas as suas fases, ocupando importantes cargos como: secretário Geral do Estado e membro do Conselho Administrativo. Sua mãe, sendo professora, ensinou na Escola Normal. José Martins não era chegado aos estudos. Sua grande fascinação sempre foi o mar. Desde pequeno, tomava banho no rio Sergipe, dava seus bonitos saltos de cabeça da ponte da Marinha e longas braçadas. Aprendeu a nadar “como o meu sobrinho Kiko, o Thiago, que leva jeito para a natação. A gente criado aí no rio aprende sem sentir. Ninguém me ensinou.”

Logo, os pais colocaram o garoto nadador para fazer o primário. “Foi no Colégio Nossa Senhora da Conceição, que funcionava no oitão do antigo prédio da Assembleia, com a professora Glorinha Chaves.” Depois foi fazer o ginásio no Colégio Jackson de Figueiredo. Guardo boas lembranças das professoras Rute Dias de Oliveira e Maria Odete Mesquita, além dos diretores, Benedito e Judite”. Passou pelo Atheneu num curto período, porque “não queria nada com os estudos e levei bilhete azul. Lá só ficava quem estudava mesmo.” Matriculou-se no Tobias Barreto do professor Alcebíades, deixando os estudos no 2º ano científico.

Todos os dias, como faz até hoje, o Zé tomava banho no rio Sergipe. O pessoal que tomava banho nas proximidades da ponte da Marinha dava um grande incentivo ao menino. Seu estilo de nadar, seu comportamento na água, chamava a atenção de todos, e por isso recebeu o apelido de Zé Peixe. “Foi no ano de 1937 que o capitão dos Portos, Aldo Sousa Sá Brito, me batizou com esse apelido. Tinha dez anos e já atravessava o rio Sergipe na maior tranquilidade.” Durante a 2ª Guerra Mundial, Zé Peixe, não ficava em casa, como os demais meninos. “Acompanhava a praticagem da Capitania, com a lancha, comandante Jair.”

Conta um episódio marcante: “Numa noite, dois aviões Catalina apareceram. Um pousou no rio Sergipe e não teve nada e o outro, que pousou no campo, caiu. Tinha um automóvel clareando a pista. Naquele tempo, o campo de aviação era pequeno e na hora que o avião foi pousar, desceu em cima do automóvel. Eram dois aviões americanos anfíbios que patrulhavam a costa. Dormiam no estuário. Nesse dia, houve um atraso e chegaram de noite. Quando vi o avião entrar na água, peguei meu pequeno barco e fui ver o que estava acontecendo. Fui o primeiro a chegar. Ninguém nunca tinha visto um avião pousar no mar de noite. A Rua da Frente estava cheia”.
Zé Peixe ainda lembra do tempo em que os aviões de carreira desciam no estuário do rio Sergipe. “Tinha uma bóia bem enfrente à rua Maruim e, com o progresso, fizeram um flutuante de cimento armado. Era a casinha do avião que a gente chamava, o aeroporto de Aracaju.”

Um herói.

É prático mais por amor à profissão. Pelo que faz ganha pouco. “No mês de maio, tirei 16 mil; junho, 20 mil; e julho, 15 mil. Se não fosse a minha aposentadoria, estava ruim. A aposentadoria é melhor que o trabalho. É a praticagem mais barata do Brasil e isso, por causa de tabelamento. Espero, que o atual capitão dos Portos, consiga melhorar essas taxas, pois está muito interessado no assunto.”
Também pode ser considerado um herói pela quantidade de vidas que já salvou. “Já perdi a conta das pessoas que salvei. Desde menino que salvo gente. Antigamente, aos domingos, quando não tinha salva vidas na Atalaia Velha, eu aparecia e ficava lá por minha conta.” Se o Zé contasse as histórias dos salvamentos, só caberiam mesmo num livro.

Entre seus heroicos feitos, conta um bem emocionante: “Em 1952, houve um raid Natal versus Rio de Janeiro. A guarnição demorou-se aqui na capital, por causa do mau tempo e, numa tarde, no dia 5 de maio, recebi uma ordem do capitão dos Portos, comandante Antônio Maria Nunes de Souza, para mostrar a barra e as condições do tempo lá fora, para eles viajarem no outro dia, na iole Rio Grande do Norte. Saímos à barra a bordo da lancha Atalaia, pertencente à Associação dos Práticos e, de volta, um vagalhão formou-se pela popa, atravessando pela lancha e virando. Naufragaram aí três potiguares, que foram salvos por mim e minha irmã, Rita, trazendo ela um à praia, e eu, dois, assim: um segurando em meu ombro e o outro puxado por uma tábua, que consegui da lancha. Como prêmio ou reconhecimento desse salvamento, embora tivesse sido suspenso pelo comandante dos Portos por não ter salvo a lancha, o povo do Rio Grande do Norte, pelo avião da FAB, me mandou uma medalha de ouro, com os seguintes dizeres: ‘Raid Natal X Rio de Janeiro da iole Rio Grande do Norte. Gratidão do povo potiguar ao herói do naufrágio de Atalaia, José Martins Ribeiro Nunes, maio 1952”. Os dois irmãos heróis ainda receberam o convite e foram de avião passar 15 dias no Rio Grande do Norte. Foram muitas as homenagens e até foram apresentados ao presidente da República. “Fomos apresentados ao presidente Café Filho, numa matinal na Associação Atlética de Natal, eu e a Rita.”

Kiko, a sua grande alegria de hoje.

No ano de 1956, Zé Peixe casou com Maria Augusta de Oliveira Nunes. “Um conhecimento antigo, de família, desde a infância.” Não teve filhos, estando viúvo há quatro anos. Hoje, sua grande alegria é o seu sobrinho-neto Thiago, o Kiko. Diariamente, toda madrugada, Zé Peixe está no rio Sergipe com o menino. É o seu sucessor. Faz tudo que o tio-avô fazia na infância, com uma grande vantagem: recebe as lições do próprio grande mestre das águas, o incrível Zé Peixe.

Publicado em no JORNAL DA CIDADE em 06 de agosto de 1990.
+ Faleceu em 26 de abril de 2012.

Texto reproduzido do site: jornaldacidade.net
Foto: Arquivo TV Sergipe.

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 13 de janeiro de 2014.

A reinauguração do Palácio e os 80 anos de Walmir Almeida

 Palácio Olímpio Campos.

Walmir Lopes de Almeida.

Publicado pelo Portal Infonet - Blog Luíz A. Barreto, em 20/05/2010.

O símbolo do poder e o seu fotógrafo.
A reinauguração do Palácio e os 80 anos de Walmir Almeida
Por Luíz Antônio Barreto.

Na aventura de construir uma cidade nos alagados do Aracaju, o Presidente da Província Inácio Barbosa (1853-1855) fez de um sítio, onde hoje está o prédio da Assembléia Legislativa, o primeiro Palácio do Governo provincial, onde reuniu os deputados para as providências legais da mudança da capital. Meses depois foi construído o Palácio Provisório, que hospedava os presidentes da Província e, em janeiro de 1860, foi adaptado e melhorado para ser o Paço Imperial, durante a visita de Pedro II a Aracaju e a Sergipe. Com a visita do Imperador surgiu, então, a ideia da construção de um Palácio novo, na mesma praça onde o Poder centralizou-se. Recursos federais, diversas reformas e ampliações, decoração externa e interna, pinturas italianas marcaram a história do símbolo do Poder, denominado de Palácio Olímpio Campos.

Das várias reformas executadas para melhorar o aspecto e a funcionalidade da sede do Poder Executivo, ficaram anotadas as do Presidente Guilherme de Campos (1905-1908), que contou com o artista sergipano Quintino Marques, a do Presidente Pereira Lobo (1918-1922), feita para celebrar o Centenário da Emancipação Política e que contou com artistas e técnicos italianos, a do Governador Leandro Maciel (1955-1959), incorporando os painéis do pintor sergipano Jordão de Oliveira, sobre os ciclos econômicos do Estado, a do Governador Antonio Carlos Valadares, que fez acréscimos e incorporou pinturas novas do artista paulista Eurico Luiz, e, por último, a do Governador Marcelo Deda, reforma ampla e com ela a redefinição do uso do velho Palácio, como um Museu, um Centro Cultural, um Monumento republicano.

A disposição do Governador Marcelo Deda e do Secretário de Estado – Chefe da Casa Civil José de Oliveira Júnior foi exemplar e está destinada a ser incluída no rol das maiores reformas de um monumento público já realizadas em Sergipe. A decisão do Governador e o esforço do Secretário dão a Aracaju, nos 155 anos da capital e a Sergipe, nos 190 anos da Emancipação, um patrimônio físico, arquitetônico, histórico, artístico e agora cultural, como antes nunca houve. Um livro, especialmente preparado, coroará, no correr do ano, o evento da reforma e da reinauguração do Palácio Olímpio Campos, cuja entrega festiva aos novos usuários ocorre neste 21 de maio de 2010. Os exemplos do Governador Marcelo Deda e do Secretário Oliveira Júnior vale como uma ação política em favor da memória e da história de Sergipe.

O Palácio Olímpio Campos contou, em sua história de quase 150 anos, com pessoas fantásticas, que deixaram nome e que podem ser invocadas pelos seus méritos. Walmir Almeida, ou simplesmente Walmir, é um desses casos. Nascido em Riachão do Dantas, em 26 de maio de 1930, entrou pela primeira vez no Palácio Olímpio Campos em 1942, aos 12 anos, para ajudar ao cunhado João Pinheiro de Carvalho, com quem aprendeu a arte da fotografia e a quem substituiu, passando a ser personagem de primeira grandeza na vida palaciana, registrando os fatos, as festas, dores e alegrias do cotidiano do Poder. Inovador, fez fotografias aéreas e criou o Cine-Jornal Atalaia, que na voz de Cid Moreira registrava os fatos ocorridos em Sergipe, levando-os aos cinemas, para exibição antes dos filmes.

Homem da terra, do céu e do mar, Walmir Lopes de Almeida, filho de Francisco Lopes de Almeida e Maria da Silva França, com o casamento Maria França Almeida, trocou Riachão do Dantas pela capital e de tal forma incorporou-se à cidade, que seu nome faz história como fotógrafo, repórter fotográfico, cinegrafista, diversificando as suas atividades profissionais com o serviço público, no Palácio Olímpio Campos, no DNOCS, formando um acervo grandioso que, lamentavelmente, não resistiu ao descaso e a falta de estímulo. Um dia, sem que fosse percebido, o acervo virou chamas, reduzido a cinzas dispersas. O que sobrou, com a assinatura do fotógrafo, constitui, ainda hoje, um registro sem precedentes de uma época que marcava o fim do Estado Novo e das Interventorias, os Governos democráticos, o golpe de 1964 e o novo período de exceção. O retorno à democracia das eleições diretas, em 1982, já não contou com a câmera genial de Walmir Almeida, que no entanto continuou trabalhando, com sua loja especializada na rua Itabaianinha e, depois, na praça Olímpio Campos.

Escoteiro, Rádio Amador, Piloto, inclusive fazendo vôos para tratar coqueluche, Vendedor de aviões, Fotógrafo aéreo, Iatista, um homem de múltiplos instrumentos, uma presença marcante na vida sergipana. Walmir Almeida fez o antigo curso ginasial no Colégio Tobias Barreto (1953), o científico (1956), o curso superior de Economia (1964). Integrou os quadros do Lyons Clube, da Maçonaria, e dedicou parte de sua vida ao Aero Clube de Sergipe, para onde levou seus filhos, iniciando-os na arte de voar. Ao completar 80 anos, andando pelas ruas da cidade, desde a Praia 13 de Julho até a praça Olímpio Campos, Walmir Almeida é um exemplo a ser destacado. E se um título, mais que outros, ele devesse ter, como reconhecimento ao seu trabalho de décadas, seria o de O Fotógrafo do Palácio, complementado com o de O Cinegrafista do Palácio, tarefas que exerceu com maestria.

Seria bom que o Secretário Oliveira Júnior mandasse reunir, no novo Palácio, as fotografias e os jornais cinematográficos de Walmir Almeida, como um tributo ao profissional dedicado ao Palácio, mas como uma reverência à memória sergipana, agora enriquecida com a reinauguração do Palácio Olimpio Campos.

Fotos e texto reproduzidos do site: infonet.com.br/luisantoniobarreto

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 13 de janeiro de 2014.