sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Às Mestras com Carinho


Post Scriptum.

Às Mestras com Carinho.
Por Clóvis Barbosa*

Nesta foto de alguns anos atrás, no corredor da Reitoria, estou ladeado por duas grandes mestras que dignificaram a educação em Sergipe: Glorita Portugal e Ofenísia Freire. Elas já nos deixaram, mas tenho por ambas o maior apreço, impagável gratidão e muita saudade. Glorita foi minha professora de francês no Colégio Estadual de Sergipe e examinadora na prova oral de francês no vestibular de direito a que me submeti na Universidade Federal de Sergipe. Meiga, atenciosa, tinha um jeito gostoso de estimular os alunos a conhecer a literatura e gramática francesas. Ela ficou encantada quando certa vez levei pra ela um texto de Montaigne, onde ele fazia a defesa dos índios canibais brasileiros.

Montaigne, o grande autor de Ensaios e observador crítico e irônico da comédia humana, baixava o sarrafo nos espanhóis que tentavam justificar a escravidão dos índios em função da prática do canibalismo. A apologia de Montaigne aos canibais, portanto, era uma reação à política dos espanhóis na América. Sobre Ofenísia, tínhamos duas identificações: a de termos nascido em Estância e a de militar no Partido Comunista Brasileiro. Ela a partir do fim da década de 1940, eu na década de 60 a 80. Não cheguei a ser seu aluno, mas como dizia Luiz Antônio Barreto, não precisava sê-lo, pois existe um sentimento incontido de admiração, de homens e mulheres, diante da excelência da professora. Fui seu vizinho de sala na Reitoria da UFS durante muitos anos. Eu como procurador, ela como revisora de textos. Conversávamos muito e sempre lhe pedia que desse uma olhada nas minhas defesas nos processos de interesse da instituição. Ela tinha um respeito grandioso pelo pensamento exposto, mas nunca deixava de explicar a formatação de uma estrutura que levasse o texto à fluência, à clareza e um estilo. Certa vez, entramos em rota de colisão sobre quem seria o maior poeta português. Eu, um pessoano fervoroso, ela uma admiradora de Camões, notadamente da obra Os Luzíadas. Chegamos a um acordo: ambos tínhamos um bom gosto poético. O pouco do que sei no campo da escrita devo a Ofenísia. Obrigado, meninas, por tudo que fizeram pela educação em Sergipe!

*Clóvis Barbosa - Blogueiro e Conselheiro do TCE-SE.

Texto e imagem reproduzidos do site: primeiramao.blog.br

Postagem originária do Facebook/GrupoMTéSERGIPE. de  4 de fevereiro de 2016.

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