domingo, 28 de agosto de 2016

Morre aos 76 anos, José Enaldo Menezes, o 'padre dos pobres'


Morre aos 76 anos, José Enaldo Menezes, o 'padre dos pobres'.

Padre Enaldo, promovia a mais de 40 anos, o "Banquete Para os Pobres".

Uma festa para pessoas em situação de extrema pobreza.

Postagem originária do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 16 de agosto de 2016.

Morre aos 76 anos, José Enaldo Menezes, o 'padre dos pobres'.

Foto: Reprodução/TV Sergipe.


Publicado originalmente no site do G1 SE., em 16/08/2016.

Morre aos 76 anos, José Enaldo Menezes, o 'padre dos pobres'.

Corpo está sendo velado na Osaf e será enterrado na Colina da Saudade.
Filho adotivo e irmã do padre o encontraram morto na cama.

Do G1 SE.

O corpo do padre José Enaldo Menezes Resende está sendo velado na manhã desta terça-feira (16) no Osaf na Rua Itaporanga, 436, no Centro de Aracaju (SE). Conhecido como ‘Padre dos Pobres’, ele tinha 76 anos de idade e foi ordenado sacerdote há 48 anos. Por volta das 10h, o cortejo seguirá para o sepultamento no Cemitério Colina da Saudade.

O religioso desenvolvia trabalhos sociais, inclusive o ‘Banquete do Senhor’ que teve mais de 70 edições. Na ocasião, donativos arrecadados eram entregues a pessoas que vivem em condições precárias.

De acordo com o filho adotivo, Clésio Menezes, ele e o padre estiveram juntos no Dia dos Pais. “Ligo para ele todos os dias às 18h e na segunda-feira (15) ele não atendeu. Liguei novamente e ele não atendeu. Fiquei preocupado e fui com a minha tia até a casa dele. Os cadeados e portas estavam fechados e precisamos de ajuda para abrir. Quando entramos, já o encontramos morto na cama”, lembra.

Segundo a irmã do religioso, Alaíde Menezes de Rezende, a possibilidade é que o padre Enaldo tenha morrido dormindo na madrugada de segunda-feira. Ele tinha diabetes e tinha pressão alta.

Texto e imagem reproduzidos do site: g1.globo.com/se/sergipe

Publicação originária do Facebook/GrupoMTéSERGIPE. de 16 de agosto de 2016.

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Eu me recordo...de Aracaju...

Imagem para ilustração post, publicada por MTéSERGIPE.
Botos no Rio Sergipe, na foto de Thiago Paulino.
Galeria de T_Paulino/Site: flickr.com/photos/t_paulino

Publicado originalmente no Facebook/Nestor Amazonas.

Eu me recordo...de Aracaju...
Por Nestor Amazonas.

Eu me recordo de uma tarde sentar na varanda da CRASE e perder a noção do tempo vendo botos perseguirem tainhas num balé fantástico...
Eu me lembro de um tempo em que pegar carona ao lado do Cotinguiba para a Atalaia era mais divertido que a própria praia...
Eu me lembro que ficar horas no Mini-Golfe, sem fazer nada a não ser jogar conversa fora era uma atração inquestionável para a galera da época...
Eu me lembro de que sentar no muro da Catedral era o melhor posto de observação para olhar as moças que passavam...
Eu me lembro de tempo em que fincamos bandeira e tomamos posse do Parque Teófilo Dantas como sede da nossa turma, a Turma do Parque...
Eu me lembro que ir ao Bar do Pinto era a nossa única salvação para a matar a larica da alta madrugada...
Eu me lembro que nossa maior diversão na noite era fazer o circuito do Beco dos Côcos, Miramar e Xanghai e terminar tomando vitamina sentado no meio-fio do Bar do Meio.
Eu me lembro que o Bar do China era nosso ponto de encontro, nosso “esquenta” para a noite de festas e farras.
Eu me lembro que o desfile entre a Catedral e a Sorveteria Yara era obrigatório para quem queria namorar com as moças da fina sociedade da época.
Eu me lembro do sagrado ritual de na volta das festas ir comer o Passaport – o sanduba da madrugada.
Eu me lembro de obter cultura “por osmose” na Galeria Álvaro Santos, filando drinks e salgadinhos dos coquetéis das vernissagens.
Eu me lembro da luz difusa do 315 iluminando nossas almas famintas de tudo, a macarronada trôpega e barata dava prá dividir por três...
Eu me recordo...de Aracaju, a minha Aracaju de então.

Texto reproduzido do Facebook/Nestor Amazonas.

Postagem originária do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, 11 de agosto de 2016

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Jairo Andrade ou Velho Jairo



Publicado originalmente no blog Em Pauta UFS, em 13/12/2010.

Jairo Andrade ou Velho Jairo.
Por Antonio Gonçalves.

Jairo de Araújo Andrade, ou apenas Jairo Andrade, também responde pelo nome de “Velho Jairo”, como é conhecido entre os amigos. Nascido em Santo Antonio de Jesus (BA), em 1934, teve cinco filhos. Chegou em Sergipe à passeio em 1969, ocasião em que encontrou o então médico Nestor Piva. Este o convidou para trabalhar na Universidade Federal de Sergipe (UFS), recém fundada, e que necessitava de um fotógrafo para ajudar na realização de exames da Faculdade de Medicina.

Antes de sua chegada à Sergipe, trabalhava na Universidade de São Paulo (USP), quando já participava de movimentos de resistência ao regime militar. Chegando em Sergipe ficou um pouco afastado do movimento por não conhecer ninguém. Porém, em 1974, resolveu voltar a estudar. Passou no vestibular de História e no curso conheceu pessoas que naquele momento estavam iniciando alguma atividade de resistência ao regime militar, lutando pela redemocratização do país.

Por ser o mais idoso da turma, recebeu o carinhoso apelido de “Velho Jairo”. Com o passar do tempo, se integrava cada vez mais com os colegas, ampliando seu círculo de amizades, principalmente nas “farras” que participava junto com os estudantes jovens da UFS, que na época, poderiam ser chamados de seus filhos. Remonta desse período grandes amizades que perduram até hoje.

Rui Belém, Mestre em história pela UFS, atualmente Pró-Reitor de Extensão da mesma instituição, amigo e colega de universidade em 1974, relata: ”Desde aquela época sempre estivemos juntos em lutas constantes, em bares, em movimentos sociais e políticos. Jairo sempre foi atuante, sempre perseguiu a idéia e o compromisso com a transformação social de Sergipe, do Brasil e do mundo. Jairo sempre foi uma pessoa que dizia que a sociedade brasileira precisava ser modificada visando à igualdade social e a democracia”, diz.

O amigo continua o relato: “O Jairo sempre teve essa utopia, sempre foi atuante. Participou de várias ações na organização do Partido dos Trabalhadores desde o primeiro momento. Teve o papel dele, um papel preponderante que era o de fotógrafo do partido. O Velho Jairo é um artista da fotografia. Quando dos movimentos sociais e políticos ele sempre carregava a sua máquina, que era o instrumento que ele utilizava para documentar todos os passos de criação do PT e também dos outros movimentos que aconteciam naquela época, a exemplo do movimento estudantil”.

Como fotógrafo da UFS, registrou momentos marcantes dos primeiros Festivais de Artes de São Cristóvão (FASCs). Nos encontros e eventos em que os amigos participavam, levava sempre a sua máquina fotográfica. Por isso, pode-se afirmar que talvez seja o fotógrafo sergipano, afinal, há muito ele deixou de ser baiano para ser um verdadeiro e grande sergipano, que mais tenha registrado a história de resistência ao regime militar, a fundação do Partido dos Trabalhadores (PT) e os movimentos sociais de reivindicações.

Texto e imagem reproduzidos do blog: empautaufs.wordpress.com


Postagem originária do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 10 de agosto de 2016.

Meio século de prática e ensino do fotojornalismo


Publicado originalmente no site da ABI, em 01/11/2006.

Meio século de prática e ensino do fotojornalismo
Por José Reinaldo Marques.

Nascido na Bahia em 15 de novembro de 1934 e graduado em Licenciatura Plena em História pela Universidade Federal de Sergipe, Jairo Andrade começou a carreira em 1954, como fotógrafo da Fundação Gonçalo Muniz, respeitado centro de pesquisa científica da Bahia. Passou pelo Centro de Audiovisual de Salvador e pela Faculdade de Farmácia Bioquímica da Universidade de São Paulo, até chegar à UFS, onde trabalhou até se aposentar, em 91:

— Cheguei a Sergipe, em 1969, para montar um setor de Fotografia na UFS, que tinha sido fundada no ano anterior. Esse setor teve a incumbência de dar apoio pedagógico aos professores na produção de slides e na documentação fotográfica de pesquisa nas áreas de medicina, cultura popular e, mais tarde, junto à Assessoria de Comunicação do Gabinete do Reitor, produzindo material de divulgação para a imprensa.

Jairo, no entanto, retornou à Federal de Sergipe anos mais tarde, depois ser instrutor de Fotografia do Senac de 1992 a 1998: prestou concurso e, em 99, passou a dar aulas na UFS como professor substituto de Fotojornalismo. Isto até 2003, quando começou a se dedicar mais a fazer fotos para veículos como o Jornal Cinform:

— Estou há três anos e alguns meses no Cinform, um semanário de grande aceitação em Sergipe e outros estados do Nordeste, que chega às bancas toda segunda-feira pela manhã.

O veterano fotógrafo diz, com modéstia, que não acha que deva ser citado como um dos mais importantes fotógrafos nordestinos, mas é o mais requisitado quando acontece qualquer evento de fotografia na região:

— Não sabia que era citado com referência no fotojornalismo, apesar dos 52 anos de trabalho no meio. Sergipe é um estado pequeno, onde o mercado precisa crescer para o fotojornalismo. Só começou a tomar impulso após a descoberta de petróleo, nos anos 60, e com a vinda da Petrobras, na década seguinte.

Durante os anos 70, Jairo ganhou destaque por sua participação, com o filme “Vadeia Dois-Dois”, no Festival Nacional de Cinema Amador (Fenaca) — realizado entre 1975 e 1983, com apoio do Centro de Cultura e Arte da UFS, em parceria com o MEC e a extinta Embrafilme:

— Sempre gostei de cinema e fui premiado no Festival de Artes de São Cristóvão (capital de Sergipe antes de Aracaju), em 1972. É um filme super-8, que mostra o ritual do candomblé nas festas de São Cosme e Damião, comemorado em Sergipe e na Bahia todo dia 27 de setembro. Ainda tenho inéditos dois filmes, em 16mm, sobre os dois primeiros festivais de São Cristóvão, nos quais eu mostro os principais personagens desses eventos, na data em que eles aconteceram e nos dias atuais.

Ensino.

Quando dava aulas de fotojornalismo na UFS, Jairo diz que sua principal mensagem para os alunos era sobre o comportamento profissional:

— Minha orientação era para que eles fossem éticos, se comportassem como companheiros e procurassem realizar o trabalho com competência.
Com relação à sua participação em concursos, afirma:

— Geralmente entro nesses concursos para incentivar os companheiros iniciantes. Participei de vários salões de fotografia e tenho fotos selecionadas no catálogo da primeira Foto Nordeste, em Fortaleza.

O que lhe dá mais prazer na fotografia é a oportunidade de poder quebrar a monotonia:

— O que me renova e faz com que eu sempre tenha vontade de estar na ativa é a quebra da rotina do dia-a-dia. Há sempre algo novo que temos que fotografar no contato direto com a natureza e com a vida.

Há dois anos, quando completou 50 anos de fotojornalismo, ele foi o grande homenageado da I Mostra Arfoc-SE — Jornalistas da Imagem, organizada pela Associação dos Repórteres-fotográficos e Cinematográficos de Sergipe. Ao discursar na abertura do evento, Márcio Dantas, então Presidente da Arfoc-SE, contou à platéia que “fundar a Associação em Sergipe era um sonho antigo do fotógrafo e sócio número nº 1 Jairo Andrade” — ideal alcançado em 4 de agosto de 2003.

Texto e imagem reproduzidos do site: abi.org.br

Postagem originária do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 10 de agosto de 2016.

SINDIJOR-SE, lamenta morte de Jairo Andrade


Publicado no site Ne Notícias, em 10 de agosto de 2016.

Por SINDIJOR-SE, ascom

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de Sergipe (SINDIJOR-SE) lamenta o falecimento do repórter fotográfico Jairo Andrade, ex-professor da Universidade Federal de Sergipe (UFS). O profissional da fotografia faleceu aos 82 anos.

Apaixonado por fotografia, “Jairo Veio”, como era carinhosamente chamado pelos colegas de profissão, registrou momentos marcantes da história de Sergipe, como os primeiros Festivais de Artes de São Cristóvão, a Resistência ao Regime Militar e a fundação do Partido dos Trabalhadores.

Recentemente o repórter fotográfico recebeu a Medalha do Mérito Cultural, outorgada pelo Governo de Sergipe, através da Secretaria da Cultura, pelos relevantes serviços prestados em prol da cultura sergipana.

Natural de Santo Antônio de Jesus, na Bahia, Jairo Andrade também tinha formação em História pela Universidade Federal de Sergipe.

O corpo está sendo velado no Cemitério Colina da Saudade e o sepultamento acontece nesta quarta-feira, às 10h, no mesmo local.

A Diretoria do SINDIJOR deseja muita força à família do repórter fotográfico para superar este momento de profunda dor.

Texto e imagem reproduzidos do site: nenoticias.com.br

Postagem originária do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 10 de agosto de 2016.

Jairo Andrade morre aos 82 anos

Foto: Divulgação.

Publicado originalmente pelo site do Jornal da Cidade, em 09/08/2016.

Jairo Andrade morre aos 82 anos
Ele sofria da doença de Alzheimer.

Por: JornaldaCidade.Net

Com 82 anos, morreu, na tarde desta terça-feira (9), o repórter fotográfico Jairo Andrade. Reconhecido na área cultural de Sergipe, ele recebeu recentemente a Medalha do Mérito Cultural, pelo trabalho realizado na área.

Jairo estava internado há cerca de 30 dias no Hospital Primavera, em Aracaju. Portador de Alzheimer, seu estado de saúde vinha, a cada dia, ficando mais delicado.

O corpo está sendo velado no Cemitério Colina da Saudade e o sepultamento será realizado nesta quarta-feira (10), às 10h.

Texto e imagem reproduzidos do site: jornaldacidade.net

Postagem originária do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 10 de agosto de 2016.

Homenagem a Jairo de Araújo Andrade (1934 - 2016)



Exposição fotográfica "Sergipe pelas lentes que te vi"


Fotos de Jairo Andrade.
Reproduzidas do blog: progcultblog.blogspot.com.br

Postagem originária do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 10 de agosto de 2016.

domingo, 7 de agosto de 2016

À Mestra, com carinho




Publicado originalmente no Facebook/Fan Page/Lilian Rocha.

À Mestra, com carinho.
Por Lilian Rocha.

Eu tinha 6 anos quando entrei no “Educandário Brasília”. Era esse o nome da minha primeira escola. Nome comprido, que a gente tinha que escrever diariamente no caderno, antes de todos os deveres. Com aspas e tudo. E depois das aspas, vinha uma vírgula e, em seguida, a data por extenso.
Minha escola ficava na Rua da Frente, bem pertinho da Capitania dos Portos e era dirigida por quatro senhoras, também professoras: D. Alaíde, D. Helena, D. Mili e D. Iolanda. Talvez elas nem fossem tão senhoras assim naquele tempo, mas quando se tem 6 anos, qualquer pessoa com mais de 15 já é considerada uma senhora. Ainda mais quando se tem cabelo azul! Isso mesmo, cabelo azul! Duas delas, D. Mili e D. Iolanda, tinham cabelos azuis e isso, pra mim, era um dos mistérios mais indecifráveis do universo, pois quando se tem essa idade, a gente nem imagina que existe uma coisa chamada ‘tintura para cabelos’...

Minha farda era uma saia quadriculada, vermelha e branca, plissada, com suspensórios que se cruzavam atrás. E abotoando a blusa branca, uma gravatinha vermelha,do mesmo tecido da saia.

Fui matriculada no pré-primário, que funcionava na última sala, lá nos fundos do colégio. À medida que íamos avançando de nível, avançávamos ‘geograficamente’ também, uma vez que as turmas mais adiantadas ficavam localizadas nas salas da frente.
Em frente à minha primeira sala, havia um pequenino pátio, com uma árvore no meio e bem no cantinho, um minúsculo banheiro, construído em formato de casinha, com telhado e tudo, que servia apenas às crianças daquela faixa etária. Portanto, quando alguém precisava ir ao banheiro, era instruído a pedir à professora: “Posso ir na casinha?”

Minha primeira professora era linda e tinha um nome difícil, mas que eu nunca esqueci: D. Maria Stael. Nome de estrela, que me marcou pela doçura e despertou em mim a vontade de um dia ser uma professora igual a ela...
Chamávamos todas respeitosamente de ‘dona’, mesmo que fossem jovens, e ainda hoje guardo com carinho o nome de todas essas ‘donas’ que me ensinaram a ler e a escrever: D. Norma, D. Selma, D. Helena e D. Alaíde.

Fazíamos fila do lado direito da escola e de lá mesmo éramos encaminhados para nossas salas. Dificilmente entrávamos pela porta principal da escola, só quando estava chovendo.
Quando entrávamos na sala, lá estava, ocupando os dois lados do quadro, o dever de casa. Tínhamos que copiar depressa, antes que a professora apagasse, pois depois do dever, vinha uma sequência de atividades que tinha que ser cumprida rigorosamente: leitura, ditado, cópia, contas, problemas...
E enquanto estávamos ocupados, copiando qualquer coisa, a professora aproveitava para ‘tomar as lições’. De pé, ao lado dela, tínhamos que responder às perguntas e o que era pior, usando as mesmas palavras do livro. Depois ela nos atribuía uma nota, que por sua vez era colocada, cuidadosamente, num daqueles minúsculos quadradinhos da caderneta.
Tudo valia nota e todas as notas iam para a caderneta que, por sua vez, tinha que voltar assinada pelo pai ou mãe. Por isso, assim que chegávamos, deixávamos sobre nossas carteiras a caderneta, já aberta, para facilitar o trabalho da professora que passava de carteira em carteira, recolhendo-as.

As notas variavam de 10 a 100, equivalentes hoje, de 1 a 10. Menos de 50, a nota era vermelha. Também não havia essa facilidade de arredondar a nota não. Não foram poucas as vezes que tirei 99, só por causa de uma vírgula ou um acento esquecido.
A última nota do dia dizia respeito ao comportamento, que na caderneta se chamava “Ordem”. Era a última coisa que a professora fazia e até hoje eu não sei que critérios ela usava para atribuir aquelas notas, pois depois de uma manhã cheia de atividades, como era possível lembrar o comportamento de cada aluno?...

Eu adorava cópias e ditados, mas detestava questões e problemas. Especialmente aqueles que me pediam pra descobrir qual a idade do vovô, se ele tinha o triplo da idade de Joãozinho que, por sua vez, tinha a metade da idade da titia. Que mania mais feia tinha a professora, querendo saber a idade de todo mundo!

Já o recreio acontecia numa pequena área interna que tinha poucos brinquedos e quase nenhum espaço para correr, mas a gente não se importava. Tratava de se divertir com as brincadeiras que não exigiam espaço, como aquela feita em dupla, só usando os braços. De pé, uma em frente a outra, cruzávamos os braços, batíamos palma e estirávamos as mãos que se encontravam ao mesmo tempo com as mãos da colega. Era uma perfeita ‘coreografia’, só de braços e mãos, acompanhada por uma canção que ajudava a dar ritmo à brincadeira e cujos versos envolviam os cantores da Jovem Guarda, uma verdadeira delícia!

Estudávamos pela manhã e à tarde voltávamos para ‘fazer banca’, expressão genuinamente sergipana, que até hoje não sei bem o que significa, etimologicamente falando. Mas sei muito bem o que significava naquele tempo.
‘Fazer banca’ significava almoçar e voltar para o colégio 1 e meia da tarde para fazer os deveres e estudar as lições para o outro dia. Uma solução prática que os pais encontraram para deixar seus filhos em lugar seguro, enquanto trabalhavam. E que até hoje é usada, sob pseudônimos modernos de ‘aula de reforço’, ou ‘turno integral’.
Fazer banca significava ler em voz alta e em grupo uma mesma leitura duas ou três vezes e morrer de vergonha quando a professora passava pela minha fila e me surpreendia cochilando, diante daquela história sem graça, que todo mundo já sabia o final. Nessa hora, ela levantava a voz e eu tomava um susto danado...

Estudei em quase todas as salas e experimentei todas as cores de plástico com as quais forrávamos os livros e cadernos: vermelho, no 1º ano, amarelo no 2º, azul no 3º e verde no quarto. Mudar para outra ‘cor de plástico’, portanto, era tão importante quanto ser promovido num exame de faixa...

Portanto, no dia que eu vi minha mãe forrando meus novos livros e cadernos com plástico azul, senti um frio na barriga. Aquilo significava que eu estava indo para o 3º ano, estudar com D. Helena. E no ano seguinte, haveria de subir aquela escada tão cobiçada que dava no 4º e último ano, pra estudar com D. Alaíde. Ou seja, àquela altura, eu já me sentia, praticamente, uma “adulta”!

A sala de D. Helena ficava no térreo. Era a primeira à direita de quem entrava no colégio. Lembro-me das janelas que se abriam para a rua e do birô que ficava sobre um estrado de madeira. Ela era séria e bastante exigente, sobretudo com o português, sua matéria preferida. Nenhum erro, por menor que fosse, escapava aos seus olhos atentos. E eu gostava disso. De ser desafiada na matéria que eu mais gostava.
Talvez tenha sido isso o que me fez gostar de D. Helena. Saber que tínhamos o mesmo gosto. Ou talvez por ter sido ela quem despertou em mim essa paixão pela língua portuguesa, com todas as suas regras, cópias, ditados e análises morfológicas...

Um dia, eu a surpreendi sozinha na sala de aula, com os olhos cheios d´água, segurando um pacote de provas. Estava triste e inconformada, porque um aluno tinha tirado 7,0. Pra ela, era uma tristeza quando um aluno tirava uma nota baixa.
Eu tinha 8 anos e ela, 50. Confesso que não entendi direito por que uma professora ficava triste, por “ser obrigada” a dar 7,0 a um aluno...
Mas aquela lição silenciosa de justiça, misturada com um carinho sincero e profundo pelos alunos, me marcou profundamente.

Saí do Brasília em 1968, com 10 anos de idade, levando na bagagem algumas coisas que só mais tarde fui entender e lhes dar o devido valor: o amor pela língua portuguesa, o cuidado de reler diversas vezes um texto para não deixar escapar nenhum erro, o orgulho de saber ler um texto em voz alta, com todos os sinais de pontuação bem empregados, o respeito pelos professores e, sobretudo, a vontade de, um dia, também me tornar uma professora. Mas não uma professora qualquer. Queria ser igual a ela.

O tempo passou e eu acabei realizando o meu sonho. Voltei à minha primeira escola, agora como professora, e tive o privilégio de ensinar no 3º ano primário, na mesma sala que tinha sido de D. Helena. Também escrevi o dever no quadro, passei ditado, corrigi cadernos, tomei lições, coloquei notas na caderneta...
Ensinei em diversos colégios e em todos os níveis, desde o pré-escolar até o pré-vestibular. Tive alunos dos mais variados e muitas vezes também chorei em silêncio, quando fui obrigada a punir algum aluno...

Mas nunca consegui ser igual a ela. Capaz de dar, na dose certa, o LIMITE necessário, para sermos sempre respeitados pelos alunos; a JUSTIÇA, para que todos os alunos se sintam iguais e aprendam a respeitar uns aos outros; e o CARINHO, para que as lembranças que porventura venhamos a despertar nos alunos sejam sempre doces e suaves.
Obrigada, D. Helena, por ter sido a minha inspiração como professora; por ter feito de nós os filhos que a senhora não teve e por ter nos amado assim, com tanto cuidado.
Que Deus a abençoe, pelos 100 anos de vida!

(Lilian Rocha - 28.7.16).

Texto e imagens reproduzidos do Facebook/Fan Page/Lilian Rocha.
Postagem originária do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 29 de julho de 2016.