quarta-feira, 31 de julho de 2013

O Centenário de Doutor Machado


Infonet - Blog - Luíz A. Barreto - 23/03/2012.

O centenário de Machado de Souza.
Por Luíz Antônio Barreto.

Sergipe é rico de biografias de homens e mulheres que dedicaram as suas vidas ao serviço dos seus semelhantes, tomando profissões que realçaram a solidariedade. Médicos e professores foram, em grande número, aqueles que desbravaram o interior sergipano, deitando raízes que ainda hoje podem ser identificadas, saudosamente, como lembranças dos tempos idos. Não há quem guarde, de experiência própria, a gratidão e o afeto a tantos médicos e professores que marcaram a vida comunitária, tanto na Capital, como e principalmente no interior, onde a prestação de serviços essenciais é, ainda hoje, retardatária. Um terceiro agente desses contatos, o padre, também tem seu quinhão de reconhecimento e de aplauso, pela constante presença, como orientador espiritual. O sentimento da população, frente a cada médico, cada professor e cada padre é, sempre, de gratidão.

José Machado de Souza, nascido em Aracaju há exatos 100 anos (nasceu em 22 de janeiro de 1912), é uma dessas referências que a população sergipana não esquece, mas, ao contrário, guarda no coração, como um tributo de agradecimento pela sua dedicação . As crianças sergipanas, notadamente as de Aracaju, tiveram um médico humanista, dedicado, que se tornou num exemplo e uma referência na história da Medicina em Sergipe. Machado de Souza tornou-se um símbolo, citado, procurado, como uma palavra confortadora nas horas angustiantes da doença. Grande médico, formado em 1934, dedicou-se pela vida inteira, a socorrer a infância desamparada, doente, carente de socorro e de amor. Seu nome correu a cidade, estava na boca das mães, como um alívio para o sofrimento humano. Voz forte, mão firme, dominando a ciência e atualizado os modos de curar, Machado de Souza foi, em vida, uma unanimidade, que permanece depois de sua morte (março de 1997), como um exemplo a ser seguido.

José Machado de Souza não viveu apenas como médico. Atuou com alguns dos seus colegas para viabilizar a criação da Faculdade de Medicina, concorrendo para a fundação da Universidade Federal de Sergipe, instalada no velho Hospital de Cirurgia, central de debates médicos, responsável pelas conquistas e vitórias que marcam a trajetória da obra de Augusto Leite e seus colaboradores. Machado de Souza estava atento ao esforço por conquistar uma mais atualizada ciência e dotar os equipamentos de saúde das condições adequadas à prestação dos serviços. No campo da Medicina, portanto, Machado de Souza cumpriu também com uma colaboração qualificada, que avoluma o seu currículo de médico e de mestre. Os profissionais da área da saúde têm, ainda hoje, 15 anos depois de sua morte, respeito e veneração pelo homem e pelo cidadão, pelo clínico e pelo articulador, como se viu na solenidade promovida pela Academia Sergipana de Medicina e outras entidades.

Em 1954, José Machado de Souza aceitou compor a chapa da União Democrática Nacional – UDN -, para o Governo do Estado. Ele foi o candidato a Vice-governador, e seu amigo e correligionário Leandro Maciel o candidato a Governador. Vitoriosos, unidos, quebraram a hegemonia da coligação PSD-PR, vitoriosa desde a redemocratização de 1946, sob a liderança de Francisco Leite Neto. José Machado de Souza desdobrou-se para não deixar de atender à clientela e sforçou-se para levar o Governo a promover melhoramentos na precária rede de atendimento médico. A experiência não pareceu convincente ao homem acostumado com o contato direto com as mães e os pais das crianças ao seu cuidado. Nunca mais ele compôs chapas e disputou eleições. Voltou-se, com toda ênfase, à clínica, construindo uma imagem imortal de competência e dedicação, como se fosse, como disse Manoel Cabral Machado, “um sacerdote da infância sergipana.”É esta, ainda hoje, a sensação deixada pela biografia de pediatra.

Quando seu amigo Augusto Franco chegou ao Governo do Estado, em 1979, José Machado de Souza foi convidado a ser o Secretário de Estado da Saúde. Simples como sempre foi, aceitou o convite e imprimiu no Governo um ritmo e inspirou uma disposição que mereceram aplausos de todos os sergipanos, independentemente da opção partidária. O que se viu foi o estilo firme, decidido, rápido, na montagem de uma estrutura melhor, capaz de cumprir com seus objetivos e suas obrigações. A presença de Machado de Souza no Governo foi um momento grandioso, que elevou a responsabilidade da SES, na ampliação da capacidade prestadora da máquina pública, à população desejosa e esperançosa de bons governantes. O nome de José Machado de Souza vai, com certeza, ecoar pelo tempo afora, como um símbolo sergipano de competência e responsabilidade. Um livreto, organizado por Lúcio Prado Dias, guardará para o futuro as demonstrações de apreço pela biografia de José Machado de Souza.

Foto reproduzida do site: linux.alfamaweb.com.br/
Texto reproduzido do site: infonet.com.br/luisantoniobarreto

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, em 30 de julho de 2013.

sábado, 27 de julho de 2013

Aracaju Vista do Alto



Aracaju Vista do Alto.
Por Luiz Antônio Barreto.

Em julho de 1923, quando o Almirante Protógenes Guimarães, comandante da Defesa Aérea do Litoral, à frente dos hidro-aviões que fizeram o raid Rio-Aracaju, os aracajuanos tiveram a primeira oportunidade...
 Em julho de 1923, quando o Almirante Protógenes Guimarães, comandante da Defesa Aérea do Litoral, à frente dos  hidro-aviões que fizeram o raid Rio-Aracaju, os aracajuanos tiveram a primeira oportunidade de ver a cidade do alto, com seu traçado moderno, de quadras simétricas, correndo rapidamente para ocupar os espaços arenosos e pantanosos do centro para o norte, para o oeste e para o sul. Os aviões do raid, que deslizaram pelo estuário do rio Sergipe, vieram equipados com maquinário para fazer fotos e filmar a visita. Vários grupos, de homens e mulheres, sobrevoaram a cidade, gostaram de tudo o que viram e guardaram fotos tiradas por Kfuri. O médico Carlos Menezes, um dos passageiros dos vôos turísticos, guardou um conjunto de fotos aéreas, que testemunham aquele momento lúdico da cidade. A empresa cinematográfica Belmonte Filmes ficou encarregada das imagens em movimento, cobrindo o programa do raid. As cenas filmadas em Aracaju foram mostradas ao presidente Graccho Cardoso e outros convidados, na sede do Automóvel Clube, no Rio de Janeiro.

Em maio de 1930, a empresa de Loeser & Cia, representante da Sindicato Condor, trouxe um hidro-avião para Aracaju, para uma demonstração. Era um avião Jangadeiro, que voou aproximadamente 30 minutos, com muitos convidados em sua cabine de passageiros. Um deles assim descreve o passeio sobre Aracaju:

 “As oito horas e cinco minutos da manhã de domingo último já nos encontrávamos confortavelmente sentados na espaçosa cabine do Jangadeiro, um dos mais possantes hidro-aviões do Sindicat Condor. Dentro de instantes fez-se ouvir um rápido apito, ordem para início da decolagem, e não tardou que aos nossos olhos aparecesse, vista do alto, a nossa  formosa Aracaju. Cortando os ares em rumo de Atlântico, a certa altura o Jangadeiro retornou e na direção sul-norte, correndo paralelamente a cidade, fez que a víssemos na variedade admirável de seus quadros, no irrepreensível de sua disposição, nos tons mais diversos dos seus jardins, e de seus parques, no vermelho vivo dos seus telhados, dos quais disse um dia Xavier Pinheiro, ‘que de tão limpos pareciam que nunca foram maculados pelo pó’. Logo após, chegou a vez da ilha fronteira (Ilha de Santa Luzia, atual cidade de Barra dos Coqueiros), que atravessamos bem alto, de oeste para leste: os seus imensos coqueirais davam a impressão de rasteiros arbustos e os vários caminhos que internamente a recortam eram como estreitíssimas carreiras de formigas”.

Ainda que o registro, publicado na edição de O Liberal, de 6 de maio de 1930, não esteja assinado, é possível que tenha sido de autoria do professor Artur Fortes, Diretor do jornal, ou de outro componente da redação, pois o jornal agradeceu a  Loeser & Cia, ainda sob a direção de Carlos Loeser, pelo “vôo de recreio” do Jangadeiro.

O Graf Zepelin, o grande dirigível alemão, cruzou o céu de Aracaju muitas vezes. O  Comandante, Eckner teve oportunidade de expressar sua opinião sobre a cidade, conforme depoimentos de viajantes sergipanos. Oto Prazeres publicou, na edição de 12 de fevereiro de 1932, no Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro, um diálogo travado, a bordo do Zepelin, entre o seu  Comandante e um oficial da Marinha brasileira. Conta Oto Prazeres:

“ Numa das suas viagens ao Brasil, comandando o Graf Zepelin, Eckner passou  por cima de várias capitais dos Estados brasileiros. Dessas capitais a que mais impressionou o hábil comandante foi Aracaju. Eis ali, disse  ele, uma cidade que, vê-se logo, foi traçada por um moderno urbanista, conhecedor profundo do assunto. Um oficial da Marinha brasileira, passageiro do dirigível, contestou  a afirmativa, dizendo que Aracaju era uma das capitais dos Estados brasileiros mais genuinamente nacionais. Tudo que ali existe foi devido à imaginação e ao trabalho dos sergipanos, natos ou adotivos. Pois olhe – replicou Eckner, ainda com um grande ar de dúvida – eu não vi ainda na América do Sul uma cidade que seguisse tanto e tão bem as linhas que são o resultado dos últimos estudos urbanos. Daqui desta altura em que estamos, é que podemos bem avaliar quanto o seu traçado foi bem inspirado. Eu juraria que se tratava de obra de um urbanista consumado e não de simples inspiração de filhos da terra, os quais, certamente, jamais estudaram questões urbanas, nos seus últimos detalhes.”

Oto Prazeres, que no seu artigo evoca Aracaju do seu tempo de menino (1887), termina dizendo que “Aracaju de hoje (1932) é uma das mais belas, embora pouco conhecidas cidades do Brasil, com as suas ruas bem traçadas, calçadas com cuidado a paralelepípedos, iluminada a luz elétrica, com bondes modernos, também elétricos, esgotos e água. As suas ruas estão sempre limpas, bem tratadas e há uma avenida beira rio que empresta  novos encantos à cidade, já de si muito bonita.”

“Sultana dos Mares”, “Lindíssima Cidade”, foram expressões que deram a Aracaju um lugar destacado entre as cidades brasileiras. O Comandante Eckner estava certo, a beleza de Aracaju saiu da prancheta dos engenheiros militares, a frente deles Basílio Pirro, engenheiro contratado pela Província, morador da Barra dos Coqueiros, onde nasceu um filho do mesmo nome, também militar, igualmente de biografia consagrada.

Aos 150 anos, Aracaju continua atraindo os olhares entusiasmados dos visitantes e turistas. E assim tem sido festejada, continuamente, sua história.

Fonte: "Pesquise - Pesquisa de Sergipe / InfoNet".
Contatos, dúvidas ou sugestões de temas: institutotobiasbarreto@infonet.com.br.

Fotos e texto reproduzidos do site: infonet.com.br/luisantoniobarreto

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, em 9 de junho de 2013.

Não a Volta, Um Primeiro Retorno


Garimpado por Antonio Corrêa Sobrinho nos arquivos da Gazeta de Sergipe, um texto de Luiz Antonio Barreto aos 27 anos.
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Não a Volta, Um Primeiro Retorno.
Por Luiz Antônio Barreto.

Antes era aqui: a mesma paisagem verde. Tardes nas praças sentado no banco do povo, noites na galeria Álvaro Santos; o mesmo papo. Um dia se deu a arribação, e eu montei o grande cavalo branco voador e desci. Muita mistificação na cabeça, muita vontade de aparecer no lugar grande, e, acima de todos os pesos, uma imensa carga para sustentar. Vaguei por empresas de notícias e escritórios de advocacia; sobrevivi algum tempo. Depois foi o Instituto Nacional do Livro, a Assessoria Cultural. Muitos planos, muitos trabalhos, muitas viagens pelo Brasil, muito viver entre as gentes das várias regiões, muita gente conhecida dos meus olhos, muitos cursos e muitas conferências; era o começo.

Depois de um ano e pouco de trabalho, saí. Fui, por conta e risco de Antônio Simões dos Reis, sergipano de boa raça, promovido a editor. Fiz planos, juntei gente comigo: Fausto Cunha, Assis Brasil, Flávio Moreira da Costa, Fernando Py, e publiquei duas dezenas de bons livros. Larguei tudo, entreguei a distribuição da editora à “Civilização Brasileira” e os destinos de edição a Fausto Cunha, e fiz o meu primeiro retorno. A Universidade foi a casa que me abrigou. Saí menino e voltei de terno, com a responsabilidade do que fazer pendendo sobre os meus ombros. Não demorarei, ficarei só o tempo de criar.

Não terei tempo de sentar nos bancos das praças, mesmo estando dentro da paisagem verde. Os amigos se espalharam e com eles as ideias. Não os meninos, as ideias dos meninos estão borbulhando em muitas cabeças novas. Aqui estou presente, com 27 anos feitos e talvez vividos, com o corpo magro e o nariz denunciando uma presença judia embora eu seja a favor dos árabes na luta do Oriente Médio, e com os olhos perdidos na saída da barra: esperança de partir de novo.

Aqui estou presente e de pé, não mais poeta, não mais compositor, não mais artista, só um cidadão começando a estudar e a aprender as coisas do povo. Aqui estou de terno, mas humilde, caminhando por entre as cidades que conheci e vivi, por entre fileiras de homens que identifico a cada um com um gesto ou com o silêncio dos meus lábios. Aqui estou com a coragem de querer ser, ao mesmo tempo, palavra e diálogo, verdade e esperança, certeza e fé; adormecer todas as mentiras e as ilusões.

Acordar com o peito cheio de liberdade, sair correndo pela relva limpa depois da colheita, atravessar os rios e destruir as fronteiras, oferecer uma flor à primeira pessoa que passar pelo meu caminho, e caminhar até me perder, tombando ou caindo nos braços mais fortes da mulher amada e companheira, ou da ¬¬terra: lugar do último retorno; a volta definitiva. Já estou presente e qualificado.

Demorarei pouco. Mais de um ano. E partirei de novo, descendo a estrada, seguindo querendo a cidade (que não é tão grande como eu pensava quando fui pela primeira vez), abençoado e tudo.

Gazeta de Sergipe – 11/02/1971.


Texto e foto reproduzidos do Facebook/Linha do Tempo/Amaral Cavalcante.

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, em 22 de julho de 2013.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Comentário de Clara Angélica Porto no Facebook/MTéSERGIPE


Santos Mendonça faz parte das minhas mais lindas recordações. Quando eu era bem menina ainda, e fazia parte dos seus programas de auditório quando em vez, levada por Aglaé, sempre a pedido dele, eu adorava participar. Uma certa vez, acho que já escrevi aqui sobre algo que escreveu o Armando Maynard, participei de um concursinho de contos no programa de auditório dele da Rádio Liberdade, na Rua Itabaianinha (grande programa, ele trazia, inclusive, grandes cantores nacionais), e ganhei. Mendonça lia os contos e ficamos duas finalistas, eu e uma menina mineira, chamada Célia Otoni. Mendonça leu mais uma vez e a platéia aplaudia. No final, ganhei eu, com uma historinha emocionante de duas menininhas gêmeas que eram órfãs, 'não tinham nem pai, nem mãe...' Como tinha participado de uma pequena dramatização de Natal, vim com a camisolinha longa cor de rosa (era a menina que acordava para ver Papai Noel), receber o prêmio, debaixo dos aplausos da platéia (tinha 7 anos). Mendonça me recebeu com tanto carinho (nunca esqueço esse momento), ele era um homem lindo, uma espécie de herói para mim, como meu pai. Lembro que ficou acocorado para me dar o prêmio, notas estalando de novas que ele pessoalmente pegava no Banco do Brasil, aquele cheiro de dinheiro novo no ar e eu, toda encabulada, as mãozinhas pra trás... ele ia contando alto e, quando me deu metade do dinheiro, perguntou: "Posso ficar com o resto"? Eu disse: "Pode..." Ele sorriu, me abraçou e botou no braço e me deu o resto do dinheiro: "Não seja boba, é todo seu". Parecia tanto dinheiro... Foi nesse programa de Mendonça que nasceu a ideia do programa Gato de Botas, com as pequenas dramatizações que Aglaé levava para os programas dele. Depois, Dom Távora fundou a rádio Cultura, na Ação Católica da rua de Propriá com Simão Dias, e nasceu o programa que ficaria vários anos no ar. Foi quando Mendonça começou a fazer o Calendário, um programa que marcou Sergipe, a maior audiência, acredito, da história do rádio sergipano. Ainda hoje toca na minha memória a música do programa e escuto a voz de Santos Mendonça, um apresentador sem igual, nunca vi ninguém como ele, nem no Rio, nem em S. Paulo. Lembro que foi o Calendário, fazendo jornalismo investigativo espetacular, quem levou a polícia a desvendar o horrendo crime de La Conga, um (sapateiro?) que matou uma criancinha, acredito que no Bairro América (era tão criança que teria que pesquisar detalhes). A mulher de La Conga, Edite, que era gaga, tinha sido nossa empregada por uma semana e mamãe botou para fora porque havia roubado uns cortes de linho inglês que mamãe havia comprado no Rio para fazer ternos para papai. Pouco tempo depois, olha lá, a Edite no Calendário, toda gaga e Mendonça, se divertindo e seríssimo, tudo ao mesmo tempo, uma águia de inteligência, colhendo informações para a polícia. O estado inteiro de Sergipe, às 8 horas da noite, depois da Hora do Brasil, parava defronte ao rádio, acompanhando o crime. Santos Mendonça foi um ícone da comunicação de Sergipe, um homem belo, inteligente, à frente de seu tempo. Depois, já semi-esquecido, abriu uma loja de discos, "Cantinho da Música", onde o bom gosto musical que tinha trazia os melhores discos para a população, na rua de Laranjeiras. Passava lá sempre para dar-lhe um abraço, jogar uma conversinha fora, já ficando mocinha. Ele era sempre farto em carinho, palavras de afeto e reconhecimento. Era Santos Mendonça, um dos maiores comunicadores que Sergipe já produziu, um dos maiores nomes do rádio sergipano, sem dúvida o maior na especialidade dele. Obrigada, Graziela, por esse momento quando a memória me levou a uma era quando Aracaju era um jardim florido de arte e cultura e do qual eu menina, era uma florzinha brotando daquelas pessoas maravilhosas do quilate de Aglaé Fontes, Santos Mendonça, Ribeirinho (Sodré. Júnior), Clodoaldo de Alencar Filho, Hugo Costa, Raimundo Luiz, Hunald Alencar, Carmelita Fontes, Gizelda de Moraes, até hoje meus mitos, meus amores, parte das minhas mais belas recordações.

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, em 9 de julho de 2013.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Mais um Encontro Cultural de Laranjeiras (2012)




Publicado no Blog cronistas-se, em 12 de janeiro de 2012.

Mais um Encontro Cultural de Laranjeiras.
Por: Emanuel Araújo

Há alguns dias era noite de Natal, menos ainda estávamos na virada do Ano Novo. E 2012 já está se encaminhando. Como o tempo corre depressa. (esse déspota terrível!) E chegou mais um Encontro Cultural de Laranjeiras. Fiz esse texto pra ajudar a gente, leitor amigo, a respeito de coisas que pensei recentemente.

"Laranjeiras, Sergipe tem saudades de ti."

Parece uma loucura falar de folclore, de cultura popular num contexto em que a força da tradição cada vez mais se esfarela. A tentação atual é exorcizar a lembrança das experiências e o valores das gerações que já passaram. Porque é que Laranjeiras insiste ? Porque não se rende as modas importadas de outros cantos ? Porque ainda inventa de falar em sergipanidade ? São algumas perguntas que aparecem, leitora amiga, principalmente quando a gente se dá conta de que nossos costumes, nossos hábitos agora passam a tratar do passado como um trambolho velho, um zero a esquerda.

Faça essas perguntas a Seu Deca (do Cacumbi), ao Mestre Zé Rolinha (da Chegança), ao Mestre Sales (do São Gonçalo do Amarante), a Dona Nadir (do Samba de Pareia), a Bilina (das Taireiras). Eles não vão arrumar nem palavra bonita, nem discurso arrumado. Vão falar com a simplicidade. Por isso, com autoridade. Talvez seja o cumprimento da profecia de Jesus Cristo, Deus se esconde aos soberbos e dá sua graça aos humildes. Laranjeiras sabe respeitar sua história. Sabe de onde veio. Foi do horror da escravidão. Ah... se a gente pudesse ir até um tronco de açoite, ou a um canavial e ver um negro ser judiado e perguntasse a ele do que tinha mais saudade. E, certamente, ele diria da saudade louca que os pretos guardavam de sua terra África. E por isso cantavam, batucavam, dançavam.

Todos os anos, na primeira semana de janeiro, aquelas velhas calçadas de pedra-sabão se arrepiam diante dos cortejos. É como se o passado se fizesse presente. Lembrança que o tempo não apagou. A cidade serve de cenário para o espetáculo ao ar livre. Contam-nos a glória de tempos passados monumentos e altares. Laranjeiras das lutas abolicionistas e da propaganda republicana. Laranjeiras, arrodeada de colinas, parece um ninho de onde as Águias da Inteligência decolaram seus vôos. Não existe melhor cenário para expressar nós sergipanos. A proliferação de engenhos favoreceu um enorme vigor econômico. O número de escravos superava a de brancos. A força catequizadora dos descendentes de europeus não foi capaz de apagar os valores afro daquela gente.

Não compreendo uma sociedade que pretende ser o 'país do futuro' e ainda resiste a valorizar sua história. Os Encontros Culturais de Laranjeiras, prestes a completar 40 anos, são um sinal, um farol para nossa sergipanidade. Se a gente for fiel ao que aprendemos, ao que vimos e ouvimos daqueles que nos precederam nossa identidade vai estar garantida. Não se trata uma apologia a uma cultura ancestral, uma teoria fria, uma realidade extinta. É defesa. Principalmente para uma época em que tudo vai se homogeneizando. Claro que ninguém precisa deixar de tomar coca-cola, usar facebook ou escutar Michel Teló. Afinal, nós também fazemos história, mesmo que não nos demos conta.

E quem não gostou do que leu, paciência!

Fotos e texto reproduzidos do blog: cronistas-se.blogspot.com.br/2012.

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, em 21 de julho de 2013.

sábado, 20 de julho de 2013

A pisada de Lampião em Sergipe - Capela

 O telegrafista Zózimo Lima.

  Cine Capela, foto: cortesia de Sérgio Dantas.


**Postagem original feita por Kiko Monteiro em seu Blog lampiaoaceso.blogspot.com.br, em 14/03/2010.

A pisada de Lampião em Sergipe

Capela

A literatura cangaceirista narra, com uma grande riqueza de detalhes, a visita de Lampião á cidade de Capela, distando esse município, apenas 70 kms de Aracaju, capital do estado de Sergipe. A visita indesejável ocorreu no dia 25 de novembro de 1929.

Após visitar e fazer escaramuças na cidade sergipana de Nossa Senhora das Dores/SE, o rei vesgo do cangaço, se apropriou de alguns poucos veículos existentes nesse lugarejo, e junto com sua malta, algo em torno de 15 cangaceiros, se dirigiu á cidade de Capela.

Ao se aproximar dessa última urbe, o rei do cangaço mandou emissário ao então intendente (cargo de Prefeito), Sr. Antão Correia Andrade, conhecido por "Correinha", com o seguinte recado:

" Diga ao major Correinha (irmão do Chefe de Polícia/SE - Dr. Heribaldo Dantas Vieira) que se quizé qui eu entre em paz venha até aqui, se não vié eu entro com bala e a rapaziada ".

Em seguida, partiu o emissário, voltando em companhia do intendente. Após confabulações com seu interlocutor, Lampião entrou na cidade de Capela/SE, por volta das 20:00 hs, antes, porém, mandou cortar os fios de comunicação. Os cangaceiros do estado-maior de Virgulino: Moderno, Ezequiel, Arvoredo, Volta Seca, Mourão, Gavião, Zé Baiano e outros valentes, tomaram posição, em pontos estratégicos.

Lampião foi até o " Cinema Municipal de Capela ", acompanhado de alguns cabras, e do intendente. Ao chegarem no local, foi grande o alarido, tendo os espectadores sido dominados pelo pavor, impossibilitados de fugir. Na ocasião estava sendo exibido o filme "Anjo da Rua ", com a atriz Janet Gaynor.

A projeção foi interrompida. O rei do cangão advertiu a todos que não corressem. Era um cinema simples, com banda de música que tocava no intervalo. Os músicos tocaram com beiços trêmulos, uma valsa triste e desafinada.

Na sala de projeção, avista-se o telegrafista Zózimo Lima*, e previne-lhe de que não dê notícia de sua entrada na cidade, sob pena de ser sangrado. Do cinema, Lampião sempre acompanhado do intendente, e do telegrafista Zózimo foi até a estação da estrada de ferro, utilizando 3 automóveis, dos 4 tomados em Nossa Senhora da Dores.

Com a chegada do trem, os passageiros começaram a saltar, calmos. Ao saberem da presença do Rei do Cangaço, o desembarque se transformou numa debandada. Um soldado que vinha de Aracaju, foi abordado por Lampião, que arrebatou-lhe o fuzil, tirou as balas e disse que ele tinha sorte, pois se fosse da polícia baiana, o sangraria, ali mesmo.

Como contribuição, o caolho do cangaço estabeleceu que a cidade contribuiria com a importância de 20 contos de réis. O prefeito, no em tando, salientou que os habitantes de Capela eram pobres, se achavam desprevenidos, estavam atravessando três anos de seca. Nisso, foi atendido, tendo a importância sido reduzida para 06 contos de réis. O próprio chefe de polícia (delegado), Pedro Rocha quem fez a coleta entre os que dispunham de posse. Entregue ao cangaceiro Moderno, esse colocou o montante no bolso, sem contar.

O chefe do cangaço deu ordens a seus subordinados para que andassem livremente pela cidade, mas que ficassem atentos ao apito para a retirada estratégica. Na loja do comerciante Jackson Alves de Carvalho, Lampião adquiriu Roupas, capa de borracha e uma pistola parabellum, sendo dito o seguinte:

"Eu carrego comigo três coisas: coragem, dinheiro e bala..."

Por onde andavam os cangaceiros eram acompanhados de uma grande legião de admiradores, encantados com as histórias de suas façanhas e vestimentas esquisitas.
Por seu turno, o padre José Cabral esteve com os delinquentes que a ele se curvaram pedindo benção. Foram aconselhados a deixarem aquela vida.
Lampião recebeu das mãos do comerciante Jackson Alves Carvalho, com dedicatória, o livro "Vida de Cristo".

Cerca das 23:00 horas, Lampião desejou telefonar para o chefe de polícia da capital (Aracaju), Sr. Heribaldo Vieira. A ligação não pôde ser completada, em face da hora.

Lampião desejou conhecer o "brega" (cabaré) de Capela, pois essa cidade gozava da fama de ter mulheres decaídas bonitas em abundância. Ele foi recebido pela prostituta " Enedina ", a quem obsequiou, após o " coito", com 70 mil réis. Enquanto vadiava, dois cangaceiros davam guarda á entrada e saída do lupanar.

No salão de bilhar (jogo) situado na Praça do Mercado, o Rei vesgo do Cangaço, deixou, em uma das paredes, o seguinte aviso:

Capela - 25-11-29
Salvi. Eu cap.m Virgolino Ferreira
Lampeão
deixo Esta Lca. para o officiá qui parçar
Em minha perceguição, apois tenho Gosto que
Voceis me persigam. Descupe as letra qui sou
Um bandido como voceis me chama pois eu não
Mereço, Bandido E voceis que andam roubando
e deflorando as famia aleia porem eu não tenho
este costume todos me desculpe a gente a quem odiar ?
Aceite Lças. do meu irmão Ezequiel Vulto Ponto Fino e
do meu cunhado Virginho Vulgo Moderno

Por volta das 03 horas da madrugada, Lampião convocou os demais cangaceiros, com três silvos de apito, tendo deixado Capela, nas mesmas viaturas em que haviam chegado. No caminho, trocaram os automóveis por cavalos. A polícia sergipana, na capital, havia sido avisada, mas não conseguiu chegar a Capela, senão às 07 hs da manhã do dia seguinte.
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Um abraço a todos.
IVANILDO SILVEIRA
Colecionador do cangaço
Natal/RN
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 **Imagens e texto reproduzidos do blog: lampiaoaceso.blogspot.com.br

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, em 16 de julho de 2013.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Hotel Palace de Aracaju




Publicado originalmente em, 14 de julho de 2013.

O Titanic de Aracaju.
Por Paulo Lima.

Os aracajuanos que foram ao Teatro Atheneu ontem à noite tiveram a oportunidade de fazer um pequeno mergulho na história recente de sua cidade. A exibição do documentário “Hotel Palace” trouxe à tona a lembrança de um símbolo da hotelaria nordestina.

Construído em 1962, o Palace viveu momentos de grandeza. Por suas dependências passaram personalidades nacionais e internacionais. A seleção brasileira tri-campeã de futebol de 1970 hospedou-se lá. Artistas como Roberto Carlos e Juca Chaves deixaram ali seus registros.

O hotel, contudo, não resistiu ao surgimento de novos empreendimentos, mais modernos, situados em áreas nobres de Aracaju. Tudo que restou dos tempos de grandeza e glamour foi uma estrutura de quase ruína.

O documentário dirigido pelos cineastas André Aragão e Isaac Dourado obtém êxito ao mostrar esse arco de fausto e decadência. Combinando entrevistas, rico material fotográfico e encenações, o filme proporciona momentos que tocam a fina camada da memória, sobretudo para aqueles que cresceram tendo no hotel um elemento permanente da paisagem da infância.

No off de abertura, um entrevistado observa que, em apenas 49 anos, o hotel saiu da glória para o esquecimento. As imagens do interior do hotel, flagrantes plangentes de abandono, e as festanças que o movimentaram ao longo de algumas décadas, transmitem bem esse sentimento de decadência. Em suas dependências está gravada a crônica das mudanças políticas e econômicas que transformaram Aracaju, como a chegada da Petrobras e a instalação das plataformas de prospecção de petróleo.

Na apresentação que fez momentos antes da projeção, Isaac Dourado explicou as razões que levaram ele e o parceiro ao tema do filme. Como filhos de ex-funcionários do hotel, cresceram tendo o velho Palace como lar e cenário de suas estripulias. Isaac comparou o histórico do hotel ao Titanic, o navio mais poderoso de sua época que, no entanto, acabou no fundo do mar.

Não se sabe o que será feito do que restou do hotel. Mas, independentemente do que venha a ocorrer, sua história ganha registro definitivo com esse documentário.

Foto e texto reproduzidos da Linha do Tempo/Facebook/Paulo Lima.

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, em 17 de julho de 2013.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Para este grupo Minha Terra é Sergipe, que eu respeito e sigo:


Para este grupo Minha Terra é Sergipe, que eu respeito e sigo:

Amigos

Acho que inicio agora as inquietações do meu aguardado ancionato. Sempre quis ser o ancião da polis, coberto de tardias honras e respeitosa comiseração, para poder transgredir, retomar o tom que me fez bonito, kkk! Um ancião imputável.
Penso como seria espetacular minha entrada em cadeira de rodas numa solenidade careta, gritando palavras de ordem. Como reagiriam os bam-bam-bans da ordem estabelecida ao meu consentido surto de anarquia cidadã, como me seria bom estar defendendo a vida das amebas, ainda íntegro e perene.

E se não for assim, não será, qual é o problema?

Aos sessenta e sete é uma boa hora de volver, aproveitar na louça do banquete a gordura que ficou na cozinha da festa, o vinho que sobrou em taças mal bebidas. Voltar à embriaguês, para que os meus demônios inda me corrompam e façam arder em mim o fogaréu da vida.

Dos meus demônios, o da vaidade, cintilante e vesgo, morreu de inanição. O da soberba não resistiu a tabula rasa da realidade e se estuporou, empanzinado de estrelas. A inveja nunca dormiu comigo, só o cão da luxúria, exuberante e belo, logrou vencer minha cidadela. Ele me cercou de falanges lindas e, ainda agora, promete-me grandes prazeres, incômodas quimeras. A luxúria é o meu demônio querido, cotidiano, ele mora aqui na velha camarinha, um cão danado entre os meus lençóis.

Conto 67 anos e os meus demônios estão exaustos.
Espero que os próximos anos me sejam ricos em saciedade. Que a madureza me traga conforto além da proficuidade amorosa, o gozo do amor confortável sem o prazer fugidio das conquistas fortuitas.
Cada dia me dedico a reencontrar, com mais cinismo e muita abnegação, o centro das minhas convicções juvenis. Porque não? Ora! Enquanto eu estiver buscando combater o alvoroço da minha inadequação, estarei reinventando uma personalidade definitiva onde acomodar a novidade que busco, busco, mas não consigo ser.
Então, meus amigos, cuidem bem de mim. O meus demônios são eternos e eu, poeta envelhecido no deserto das palavras, pelo amor de vocês pretendo sobreviver à desimportância. Só isto já me basta.

Escolho arder para sempre no fogaréu da poesia.

Beijos e amores,

Amaral Cavalcante.

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, em 11 de Julho de 2013.

Clara Angélica Porto, em página do Facebook/MTéSERGIPE

Casa na Rua Itabaiana, onde por muito tempo funcionou o SAMDU.
Foto: acervo João Manoel/skyscrapercity.com

De postagem feita por Clara Angélica Porto, na página do Facebook/MTéSERGIPE.*

Antigamente, e não tão antigamente assim, o sistema de saúde pública era muito bom. Antes do golpe militar (não foi ditadura, foi GOLPE), nossa saúde e educação pública eram maravilhosos. Lembro ainda criança, quando um de nós ficávamos doentes, papai chamava a SAMDU, minutos depois chegava o carro branco com o médico, os melhores da cidade, vinham Dr. Francisco Rollemberg, Dr. Veloso, Dra. Elcy Rollemberg, e por aí vai. Vinham, examinavam, davam logo o remédio que traziam e deixavam a receita. Lembro de mamãe, elegante, segurando uma pequena bandeja de prata com água gelada para o médico e o enfermeiro, e segurando uma toalha bordada limpíssima exclusivamente para uso do médico. A toalha fazia partes daqueles conjuntos alvíssimos e bordados, guardados para visitas ilustres e ocasiões especiais. Tudo tinha tanta classe... não havia aquele sentido de saúde pública porque não tem dinheiro. Era o sentido do médico assistindo quem precisava de assistência, algo nobre e honrado. Os médicos mais amigos, tipo dr. Francisco, aceitavam o docinho de batata ou leite, ou banana de rodinha, ou o suco de mangaba ou genipapo. Quando saíam nós, ou com catapora ou sarampo, ou a tal gripe asiática, já nos sentíamos melhor, deitadinhos nos lençóis alvos limpíssimos com cheiro de alfazema, que mamãe fazia questão de friccionar com algodão nas nossas costinhas, para aliviar a febre.

O Atheneu era a melhor escola de Aracaju, com professores do nível de Glorita Portugal, Maria da Glória Monteiro, Hunald Alencar, Leão Magno Brasil, Fernandinho Maynard, Ofenísia Freire, Maria Thétis Nunes, e por aí vai... Os maiores expoentes da política e das profissões liberais em geral, os maiores intelectuais e juristas, os maiores professores de Aracaju e de Sergipe, foram alunos do velho Atheneu.

Aí veio o golpe militar. Acabou a SAMDU, acabou a liberdade de expressão, acabou a Educação pública e gratuita de alta qualidade e ainda, achando pouco, mandaram construir os campus universitários nos arredores das cidades, para diminuir a convivência da população com as cabeças pensantes; para minimizar influências; para estimular a alienação ampla, total e irrestrita.

O golpe militar do Brasil levou a nação brasileira a 20 anos de atraso. Vamos nos aprofundar nas questões do momento, procurar entender melhor o que se passa não só no Brasil, como globalmente, entender com crítica distanciada o papel das poderosas nações do planeta, o do Brasil e o nosso.

Não é só de bom senso que precisamos, de gosto de sangue na boca, de gás; precisamos de luta e bom senso com conhecimento (pelo menos algum) de causa. Não podemos acreditar em tudo o que lemos na internet; ao lermos algo, temos que pesquisar a veracidade, antes de deixarmos que nos influencie, que nos tome de um fôlego, porque pode nos deixar sem fôlego.

Vamos remexer nossas próprias cabeças, fazer um redemoinho de perguntas e procurar respostas e, sobretudo, não vamos deixar morrer a esperança, nem deixar de acreditar.

"É preciso estar atento e forte".

*Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, em 9 de Julho de 2013.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

O Barbudo cismou - "Agora, só vou andar de bata!".

O Barbudo cismou

- Agora, só vou andar de bata!

Hippie da costela oca, deslumbrado com as ondas do mar e com os peixinhos do céu, Henrique Barbudo, divinal proprietário do Bar Barbudo’s, no calçadão da Atalaia, era o guru do pedaço. O seu bar, na década de setenta, era uma espécie de repositório da inteligência contracultural, local de benfazejas incursões ao psicodelismo em voga, portal de liberdades essenciais à plena formação intelectual de todos nós. O Bar Barbudo’s nos agregava, amorosos e revolucionários.

Até porque ostentava um grande cabedal de cheques sem fundos espetados num inconveniente quadro de avisos, onde se divulgava a velhaquice reinante. No Bar Barbudo’s era comum beber-se sem um puto no bolso e sair-se bem, como afirmação de invejável bandidagem. Também, com o dono do estabelecimento cheio de maconha até a tampa, o que nos restava fazer? Tome-lhe devo, que amigo é pra essas coisas.

Henrique, no Barbudo’s, era o grão mestre de certa geração 80, zuadenta e amorosa, que fazia do seu bar a trincheira da liberdade lisérgica onde se misturavam a cidade careta e os malucos de então, numa zoada infernal, num embate sacro, ritual, de inteligência e caretice. Afinal, era no Barbudo’s onde neguinho podia cheirar o sobaco capiloso da paquera para depois (quem sabe?), levá-la a catar conchinhas na praia. Dai pra zodiacais trepadas por traz das dunas, era três nuvens só.
O amor livre era o nosso Ato Institucional.
No Barbudo’s imperava a nossa peculiar revolução de costumes gradual, bonitinha, mas debaixo de sete capas.

Henrique casou com uma morena de olhos lindos, em cerimônia hippie na beira da praia, coroado com trançadas margaridas e bata rebordada, com uma mulher linda de grandes olhos claros, siderais, depois de nos fazer acreditar que a achara boiando na espuma do mar da Atalaia, numa plena maré lunar. Era o mais feliz de todos nós.

- Agora, só vou andar de bata, e das grandes, que é pra esculhambar, anunciou Henrique e nós, os seus incautos amigos, achamos linda a viagem do maluco.
Deu para só andar de bata sobre sunga mínima, cada uma mais bonita, e jurou que jamais usaria outra veste, enquanto vida tivesse.

Pois bem. Um dia foi Henrique de kafta longo e florido tratar, no Banco do Estado, de visitar suas parcas economias. Não deu certo: barrado por um segurança pela inconveniência das vestes, armou o maior barraco.
Que a sociedade capitalista era uma bosta, que Che Guevara não morreu, que a revolução socialista já vinha dobrando os contrafortes do Iate Club e (sabe do que mais?) que ele portava um cheque devolvido, assinado pelo bam-ban-bam do Banco e que diante disso ele passava a ser, naquele momento, não um Hippie de Kafta, mas o próprio armagedom da história, um homem bomba capaz de explodir a honra daquela instituição bancária.

Juntou gente, a notícia se espalhou pelo calçadão e coube a nós - a mim e a Fernando Sávio - depois de um esbaforido “Vamos lá, meu irmão, que o maluco endoidou de vez”, a tarefa de explicar aos guardas que aquilo era moda, que em Woodstock todo mundo se vestia assim... mas não adiantou.

O que valeu mesmo foi a o velho chavão:-“Deixa pra lá meu irmão, o homem é conhecido do governador!”

Foi imediatamente liberado.

Amaral Cavalcante

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, em 6 de julho de 2013.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Faça-se justiça


Faça-se justiça

A gestão de Jorge Carvalho do Nascimento na Segrase merece o reconhecimento de todos nós, principalmente os que lidamos com a produção intelectual, literária ou científica.

Cumpridas as principais tarefas colocadas pelo governador Marcelo Déda ao designá-lo para o cargo de presidente do órgão, que foram as de fazer com que o Diário Oficial fosse publicado diariamente e transformar sua publicação em modo digital, via internet, Jorge Carvalho tratou de avançar na modernização da velha Segrase, ordenando a ação da Editora, criada na gestão anterior de Luiz Eduardo Oliva, com a instalação de um Conselho Editorial e a ampliação do seu portfolio de livros publicados. Disponível a todos os que desejem publicar suas obras, a Edise (Editora Diário Oficial do Estado de Sergipe) filiada a instituições congêneres em âmbito internacional, já pode colocar em importantes catálogos de venda e circulação os livros sergipanos. Já se encontra em experimentação a edição dos livros publicados pela Edise em e-books, alcançando assim a última fronteira da difusão no mercado editorial.

A publicação da revista Cumbuca, intrinsecamente ligada à atualidade da cena cultural sergipana e à divulgação da nossa memória, vem preencher uma lacuna insuportável em nosso cenário. Tratada com esmero gráfico e cuidados editoriais, a revista Cumbuca considera-se inclusiva e pretende independer das limitações corporativas de quaisquer grupos estabelecidos. Em Cumbuca, só cabe a pluralidade.

Convém acrescentar, por alvissareiro e significativo, que a Edise estará relançando, nos próximos dias, a Obra Completa do pensador sergipano Tobias Barreto, organizada por Luiz Antonio Barreto e apresentada pelo nosso governador, o intelectual Marcelo Déda, um feito de repercussão nacional que, certamente, contribuirá com a colocação da sergipanidade em merecida evidência.

Ao gestor Jorge Carvalho do Nascimento, os meus respeitos.

Amaral Cavalcante

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, em 1 de Julho de 2013.

terça-feira, 2 de julho de 2013

"Falta sensibilidade na expansão de Aracaju"


Publicado pelo Portal f5news, em 15/09/2012.

"Falta sensibilidade na expansão de Aracaju"

Arquiteta mostra que patrimônio histórico da capital está se perdendo
Por Fernanda Araujo

O centro de Aracaju (SE) e o bairro São José são lugares onde basicamente se concentra a maior parte dos patrimônios históricos da capital. Porém, o crescimento imobiliário desenfreado vem destruindo boa parte dessa história. Preciosidades como o Cine Rio Branco e a Associação Atlética de Sergipe foram perdidas. Casarões antigos têm sido demolidos para empreendimentos imobiliários, na construção de estacionamentos, lojas, prédios e etc. Tudo em favor da chamada modernidade urbana.

A arquiteta e urbanistaTainá Sousa, professora do Curso de Arquitetura da Universidade Tiradentes, defende a necessidade de a população ser mais crítica e exigente e que todos estejam engajados no processo de evitar as demolições. Ela fala ao F5 News sobre o crescimento imobiliário e a importância da preservação dos patrimônios históricos.

F5 News – Quais os lados positivos e negativos do crescimento imobiliário em Aracaju?

Tainá Sousa – O crescimento deve existir, em qualquer cidade - até porque espaços urbanos são dinâmicos e feitos para serem alterados, renovados e expandidos. Porém, o que se vê em Aracaju é uma total falta de sensibilidade ao se promover essa expansão. O interesse que prevalece é dos agentes imobiliários (construtoras, incorporadoras, e até imobiliárias) que têm como único objetivo lucrar com a comercialização do solo urbano. Porém, existem leis que regem esse crescimento da cidade para que ele não ocorra de maneira insustentável e garanta a preservação de bens de interesse histórico e cultura, assim como espaços naturais que merecem proteção ambiental. O que precisa ser feito é exigir o cumprimento dessas leis, de maneira que se permita a promoção da expansão imobiliária, sem prejuízo aos elementos que compõem a paisagem urbana da cidade e que faz parte do imaginário histórico, cultural e ambiental de seus habitantes.

F5 News – A história vai se perdendo ao longo dos anos por conta desse crescimento e das demolições?

Tainá – Sim! O que se percebe é uma total descaracterização do espaço edificado da cidade ao longo desses 157 anos. Poucos são os edifícios particulares que ainda se mantém de pé para contar nossa história, sobrando basicamente aqueles de propriedade pública, mas que, por falta de políticas públicas de preservação, estão em péssima situação.

F5 News – Casas, museus, clubes, cinemas, colégios. Quanto já se foi perdido por conta das demolições?

Tainá – Vários exemplares da nossa arquitetura já foram demolidos. Desde residências ao Cine Rio Branco, citando a Associação Atlética de Sergipe, o Colégio das freiras sacramentinas Nossa Senhora de Lourdes, entre outros.

F5 News – Em sua carta de repúdio ao processo de demolições do Patrimônio Histórico de Aracaju, no dia 14 de maio deste ano, você fala em falta de identidade e desvalorização cultural. Você realmente acredita que “nossa sociedade sergipana não está apta a receber e conservar o patrimônio edificado por nossos ancestrais”?

Tainá – A sociedade sergipana de hoje em dia realmente não está apta! Talvez os mais antigos, sintam muito por essa onda de demolições, mas acredito que mais por saudosismo dos velhos tempos do que pela consciência de que a preservação é necessária para transferir a importância da nossa história e cultura para as gerações que se seguem. Falta educação, interesse pelo que é daqui - e isso é muito citado pelos artistas da terra - e comprometimento do poder público em preservar nossa história.

F5 News – Já dizem que o sergipano gosta de valorizar as novidades. Como a sociedade pode ser mais atuante na manutenção do velho em detrimento do novo?

Tainá – Acho que a questão não é deixar de construir o novo para manter o velho. Essa discussão vai muito mais além dessa simples colocação, mas a cidade tem muitas áreas para crescer, e mesmo no Centro e adjacências, onde se concentra a maior quantidade de imóveis antigos, a adaptação desses imóveis para novos usos é totalmente viável e possível, precisando que a população seja mais crítica e exigente e que todos estejam engajados no processo. O poder público, especialmente a Prefeitura Municipal, deve aplicar os instrumentos previstos no Plano Diretor e que podem "forçar" o uso de um imóvel abandonado, com o objetivo de fazê-lo cumprir sua função social. E ainda através de políticas de incentivo à recuperação e restauração desses imóveis, a mesma Prefeitura pode reduzir IPTU para aqueles imóveis que forem restaurados, criar linhas de crédito para viabilizar as obras, entre outras questões. Os proprietários devem ser levados a entender a importância dos edifícios históricos e se posicionarem de maneira a preferir adaptar seu uso (comércio, habitação, etc.) ao imóvel preexistente. E nesse ponto eu quero responsabilizar diretamente os profissionais da área - Arquitetos e Urbanistas - que devem promover esse convencimento de que é possível usar o imóvel fazendo apenas algumas alterações. Podem ser usados diversos argumentos como, usufruir da imponência comum nessas edificações para dar destaque ao novo uso, economia durante a obra, já que serão evitados custos com demolições e reconstruções, entre outros fatores. Já a população de um modo geral deve ser os olhos e ouvidos da cidade. Se vir uma demolição sendo iniciada, reclama na Emurb, no MPE, joga nas redes sociais, enfim. Talvez não dê para resolver aquele caso específico, mas faz com que as pessoas comecem a refletir sobre o assunto e dessa forma a sociedade começa a se conscientizar.

F5 News – Aracaju é realmente uma cidade planejada?

Tainá – Ao meu entendimento, não! Ela teve um projeto de arruamento, onde foi definido o tipo de traçado urbano a ser adotado para a cidade (em forma de xadrez), mas planejamento é muito mais do que isso. Uma cidade planejada, tem princípios teóricos que regulam sua ocupação ao longo do tempo, devem ser feitos estudos sobre tipo de solo existente, áreas de preservação ambiental, entre outros fatores que irão influenciar a expansão com o decorrer do tempo.

F5 News – O que você acha que vai acontecer com as casas antigas no Centro?

Tainá – Não é possível prever, mas de acordo com o que tem sido feito para evitar as demolições e abandonos, a situação só será agravada.

*Tainá Sousa é arquiteta e urbanista. Professora do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Tiradentes e membro do Instituto de Arquitetos do Brasil – Departamento Sergipe.

Fotos: cedidas arquiteta Tainá Sousa.

Texto e imagens reproduzidas do site: f5news.com.br

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, em 2 de Julho de 2013.

Festa do Mastro atrai multidão em Capela




Portal Infonet - Festa do Mastro Capela 2013 - 30 de junho.

Festa do Mastro atrai multidão em Capela
Pessoas de todas as idades percorreram os 10 km tradicionais
Por Jéssica Vieira.

O som dos bacamartes no início da manhã deste domingo, 30, anunciava o início de uma das mais tradicionais comemorações juninas do estado de Sergipe: a Festa do Mastro.

Realizada há mais de 70 anos no município de Capela, a festa reuniu em 2013 uma multidão de crianças, jovens e até mesmo de idosos que percorreram, da Prefeitura Municipal à Praça de São Pedro, 10 km ao som de muita música e, claro, muita lama!

O corretor Stwart Augusto, 26, participa da festa há 13 anos e diz que a motivação lhe foi passada por gerações. “Muitos homens da minha família participaram e participam da festa. Claro que, quando eu era adolescente, tinha mais animação, mais disposição para percorrer o trajeto inteiro do mastro, mas acho que a curtição real da festa vem com o passar dos anos”, disse Stwart.

Curtição mesmo não falta para o funcionário público José Marden, 27, que participa da festa pela quarta vez. Ele conta que, além de ser o melhor São Pedro do país, a festa lhe permite realizar um sonho de infância.

“Sempre quis brincar na lama, mas minha mãe nunca deixou. Aqui, é como se eu estivesse livre para fazer aquilo que nunca me foi permitido. Ninguém liga pra nada, é uma brincadeira de criança realizada por adultos. Só isso!”, explica ele.

Percorrendo a cidade, via-se claramente que não só os adultos estavam entusiasmados com a tradição da festa. A pequena Caroline D’Almeida, 12, veio de Salvador com os pais para conhecer o festejo e, a todo instante, mostrava-se entusiasmada. “Desde bem cedinho estou vendo tudo, acompanhando tudo. Já vi o mastro, os bacamarteiros, os presentes e achei tudo muito bom. Já disse aos meus pais que quero voltar ano que vem. Se desse, queria até ser bacamarteira”, contou a menina.

Encantando turistas

Pela primeira vez em Sergipe, o carioca Sérgio Mota, 67, veio visitar a família da esposa declarou-se absolutamente encantado com os festejos juninos do estado. “Cheguei no dia 20 e estou muito feliz em conhecer as festas de vocês. Aqui, o pessoal é muito animado, divertido, hospitaleiro. Já conheci o Arraial do Povo, o Forró Caju e, sexta (28), vim conhecer Capela. Estou amando e quero voltar mais vezes”, disse.

Mostrando timidamente as anotações dos lugares visitados num guardanapo, a esposa dele, Ianne Torres, disse estar muito contente em poder conhecer um pouco mais do mais tradicional São Pedro Sergipano. “A gente tem notícias dos festejos pelos parentes, mas vendo de perto é tudo muito, muito mais bonito. Não tem comparação”, salienta.

Também vindo do Rio de Janeiro, Jurandir Santiago, elogiou os festejos, a descontração da população na corrida do mastro e lamentou apenas não ter podido, quando estava na capital sergipana, andar na Marinete do Forró. “Vou embora ainda hoje e, infelizmente. não pude andar na marinete, mas Capela me deixou fascinado. Tudo muito organizado e, graças a Deus, sem violência. Brincaram aqui muitos jovens e crianças, o que me deixou muito feliz. Então já estou bem servido, né?!”.

Uma preparação popular

No último dia 30 de maio, feriado de Corpus Christi, uma árvore da mata do Junco Novo (Povoado Lagoa Seca) foi marcada e teve seus galhos retirados para que, no dia posterior, pendurassem os presentes conseguidos pelo grupo folclórico conhecido por Sarandaia.

Na companhia de bacamarteiros, zabumba e pífanos, o grupo saiu às ruas de Capela tradicionalmente às 22h para que toda a cidade pudesse participar daquilo que já é considerado tradição cultural do município sergipano.

No último sábado, 29, um homem vestido de baiana e com um cesto na cabeça saiu da Prefeitura de Capela, às 15h, em direção às casas comerciais da cidade para que os proprietários também pudessem ajudar na doação dos presentes que, geralmente, são bebidas alcoolicas.

Acompanhada de bacamarteiros e muita música em trio elétrico, uma multidão acompanhou o corte da árvore e a amarração dos brindes aos seus galhos, levando o famoso “mastro” à Praça Anderson de Melo, onde recebe uma saudação de bacamartes e é fincado num buraco.

“Depois , erguemos o mastro com cordas e começamos a soltar os busca-pés. Sobe quem aguenta, além do percurso de 10 km, os bacamartes, os fogos e, claro, a bebida, que já pegou desde cedo. Eu sempre tento, mas nunca consigo”, diz aos risos o comerciante Augusto Dias.

Imagem e texto reproduzidos pelo site: infonet.com.br/saojoao/2013

Fotos Arthuro Paganini

Postagem originária da página do FACEBOOK/MTéSERGIPE, em 1 de Julho de 2013.