sábado, 31 de agosto de 2013

Maria Rita Soares de Andrade (1904 - 1999).


Maria Rita Soares de Andrade (1904 - 1999).
Por Maria Lígia Madureira Pina.

Natural de Aracaju, filha de José Soares de Andrade e Filomena Soares de Andrade. Fez o curso primário no Grupo Escolar “General Siqueira de Meneses”, onde foi colega de Leyda Regis, outra figura marcante da cultura sergipana. Fez o Curso Secundário no Atheneu Pedro II (atual Atheneu Sergipense), onde foi excelente aluna, como afirma sua colega de curso, outro destaque do magistério sergipano, Marieta Teles de Meneses.
Visitei a Dra. Maria Rita em sua residência, no bairro Santa Teresa, no Rio de Janeiro. Telefonei-lhe antes, pedindo uma entrevista e, sem mesmo me conhecer, convidou-me para almoçar, no sábado, em sua companhia. O casarão estava repleto de visitas: parentes, amigos que costumam espairecer, usufruindo da companhia, da prosa deleitante da anfitriã. Passamos o dia conversando, interrogando-a sobre a sua vida profissional, sua luta para estudar e a Campanha Feminista da qual participou ativamente ao lado das doutoras Bertha Lutz, Carmem Portinho, no Rio e Cezartina Regis, em Sergipe. De entrevistadora, passei também a ser entrevistada, pois a Dra. Maria Rita estava interessada em saber tudo sobre o movimento cultural sergipano.
Maria Rita – A Estudante de Direito – Contou-me que, após ser aprovada no Exame de Madureza, foi estudar em Salvador, isto em 1923. Três anos antes de se formar começou a exercer a advocacia, tendo conseguido, para esse fim, “provisão”, tanto em Sergipe como na Bahia. Em Sergipe trabalhou com os doutores Leonardo Leite e Oscar Prata e, na Bahia, com Ernesto Paiva e Gerson Faria. Considera este fato muito gratificante, por dois motivos: adquiriu muita prática profissional, antes mesmo de se formar e, segundo, pôde manter os estudos na faculdade.

Maria Rita – A Advogada – Formada em 1929, exerceu a profissão aqui em Sergipe, mudando-se, posteriormente (década de 30), para o Rio de Janeiro, onde se radicou. Perguntada sobre o que mais lhe gratificou como advogada, respondeu: “Conseguir neutralizar as perseguições políticas. Tanto que hoje atuo neste ramo”. Disse que as causas mais interessantes ocorreram no Exército e no Clube da Aeronáutica: “Uma delas foi a defesa do Coronel Antônio Carlos de Andrade Serpa, perseguido pelo Marechal Lott. Impetrei, também, vários mandados de segurança e “habeas corpus”.
Sobre o rumoroso caso do Dr. Carlos Firpo, assim se expressou: “Defendi o Sr. Nicola Mandarino porque sabia ser ele um chefe de família exemplar. Nunca acreditei que ele tivesse culpa no assassinato do Dr. Carlos Firpo. E, felizmente, tivemos sorte”...

Maria Rita – A Juíza Federal – “O cargo de Juíza Federal me veio como consequência da minha atuação na advocacia”.Como Juíza Federal foi encarregada de sindicar possível corrupção do Governo de Juscelino Kubitschek, no advento da Revolução de 1964, tendo a coragem e a honestidade de, no seu relatório, dizer nada haver encontrado que o denunciasse como corruptor. Quem construiu uma cidade como Brasília, levando material de avião, não pode ter roubado.

Maria Rita – A Líder Feminista – “Convivi com a Dra. Bertha Lutz, fundadora da Federação Brasileira para o Progresso Feminino, em 1922, quando retornou do Congresso Feminino, nos Estados Unidos, em 1922. Naquele tempo tudo era muito fechado à mulher. Convivi também com a Dra. Carmem Portinho, engenheira da Prefeitura do Rio de Janeiro, que fundou a União Universitária, em 1929. Foi Carmem Portinho quem me incentivou a fundar uma secção da Federação para o Progresso Feminino, em Sergipe. Procurei Cezartina Regis, uma figura exponencial nos meios sociais de Sergipe. Ela se impunha não apenas como farmacêutica, mas em vários campos da cultura sergipana. Trabalhamos juntas. O movimento iniciante contava com poucas e tímidas adesões em Sergipe, que sempre foi refratário às reuniões! Lembro-me que até mesmo os membros da Ordem dos Advogados não se reuniam, oficialmente. Encontrávamos-nos nos cartórios, nos cafés ou conversávamos pelo telefone. Por isso, não houve movimento congregado, feminista. Cezartina era a alma da Federação. Mesmo assim, conseguimos lançar o nome da professora Quintina Diniz à deputada estadual pelo PSD. São Paulo elegeu Carlota Queiroz, líder da restauração da democracia. Ela era “pombo-correio” dos líderes democratas paulistas. Bertha Lutz foi a responsável pelo direito feminino ao voto, através da Federação. Antes mesmo de 1934 Bertha Lutz conseguiu com o Dr. Lafayete participação da mulher nas eleições de 1929, no Rio Grande Norte. O Dr. José Augusto Medeiros foi eleito com o voto feminino.
Interrogada por que a mulher não progrediu muito na política, afirmou: “Isto é uma consequência do progresso profissional. De modo geral, a mulher gosta da estabilidade. Realizada profissionalmente, seu futuro está assegurado e os cargos políticos são instáveis. E mais, a mulher não toma o partido da mulher. Não tem espírito de grupo, como legítima defesa. Se o tivesse, apoiaria as candidatas a cargos políticos, independente dos partidos”.

Maria Rita – A Redatora – Lançou em Sergipe a Revista Renovação.
Para que se conheça mais da vida desta mulher extraordinária transcrevemos artigos publicados pelo Jornal do Brasil de 06/05/1977 e de 09/04/1984 e do jornal A Tarde.
Advogada diz que Itamarati impede acesso da mulher ao posto máximo da carreira
“Eu gostaria, antes de morrer, de ver uma mulher no Supremo Tribunal Federal”. Esse desejo foi anunciado pela advogada Maria Rita Soares de Andrade, de 73 anos, perante a Comissão Parlamentar de Inquérito do Senado, encarregada de investigar a discriminação existente contra a mulher no Brasil.
A advogada reclamou uma maior participação feminina nos postos-chaves da política brasileira, criticando especificamente o Itamarati pela discriminação que o órgão vem praticando contra as mulheres, impedidas de atingirem o ápice da carreira diplomática.

SACRIFÍCIO E RENÚNCIA

A Sra. Maria Rita Soares iniciou seu depoimento assinalando, com bom-humor, que a CPI estava “transgredindo” a Constituição, pois pela lei qualquer pessoa com mais de 70 anos de idade é considerada incapaz, E, em seguida, passou a fazer um histórico das conquistas da mulher brasileira através dos tempos. A primeira vez que uma mulher obteve um título de eleitor foi em 1885, em Porto Alegre, e a segunda em 1917, mas ambas “não conseguiram nem votar nem serem votadas”. A primeira parlamentar foi a médica Carlota Pereira de Queiroz, na Constituinte de 1934, e a primeira prefeita foi a Sra. Alzira Soreano. Lembrou as lutas da líder feminista Bertha Lutz, ressaltando que “nada foi dado até hoje à mulher de mão-beijada. Cada conquista significou uma batalha”.
A derrogação do Artigo 6º do Código Civil, que fazia da mulher casada “relativamente incapaz”, as prisões femininas e o direito ao voto foram exemplos de conquistas citados pela advogada.
Ela destacou também a atuação feminina nos movimentos e nas lutas da história brasileira, relembrando a figura de Carlota Pereira Queiroz no movimento paulista de 1932.
– Durante os movimentos, quando tudo é sacrifício, renúncia, os homens compreendem que sem as mulheres não conseguem nada. Depois, eles se esquecem disto – comentou.
A Sra. Maria Rita recordou ainda que, na única vez em que uma mulher assumiu o Poder no Brasil “foi para fazer do Poder um instrumento de justiça. A Princesa Isabel que aboliu a escravatura”.
A jurista lembrou ainda que antigamente a discriminação contra a mulher era muito maior, a começar pelas próprias universidades que não permitiam o ingresso de mulheres. A carta de alforria das mulheres brasileiras, em sua opinião, foi justamente a abertura das universidades. Ela lembrou, a propósito, que a primeira médica brasileira teve de se formar no estrangeiro.
Hoje, o panorama mudou. Nas profissões liberais, o êxito das mulheres, segundo disse, é “absoluto”.
– Temos maior número de mulheres exercendo profissões liberais que os próprios Estados Unidos. Talvez tenhamos o maior número do mundo – afirmou. A mulher tem tido êxito: no trabalho individual e na reformulação da vida social, mas em termos de participação política, só tem tido fracassos – assinalou – indagando em seguida: “Será que a mulher brasileira é menos capaz que as mulheres de outros países?”
Para reforçar seus argumentos, a, conferencista leu os resultados de uma pesquisa que elaborou a pedido da Unesco, demonstrando que no Brasil “é quase igual o número mulheres e de homens como força de trabalho”. Sendo que depois dos 70 anos, há maior número de mulheres que de homens trabalhando.
Ela se referiu também à desconfiança existente no Judiciário e no Executivo em relação às mulheres, advertindo que “enquanto o Brasil fizer essa discriminação, continuará dando com a cabeça sem encontrar o seu caminho”.
Quanto ao Itamarati, especificamente, a jurista fez um histórico, dizendo que até o ano de 1918 era formalmente proibido o acesso de mulheres à carreira diplomática, para ressaltar no final que a discriminação “existiu e ainda existe. As mulheres do Itamarati vão até o posto de conselheiro, mas daí não passam para as Embaixadas”.

Luta de Maria Rita já dura meio século

Filha de operários sergipanos, 73 anos, Maria Rita formou-se em Direito na Universidade Federal da Bahia, no ano de 1926. Foi a terceira mulher, na história do Estado da Bahia, a conseguir a façanha. A sua turma na faculdade era composta exclusivamente de homens.
Concluído o curso, voltou para Sergipe onde exerceu a Procuradoria-Geral do Estado. Foi professora da Universidade do Brasil, por concurso, e Juíza Federal no antigo Estado da Guanabara, entre 1968 e 1972, quando se aposentou. Atualmente dirige um conceituado escritório de advocacia localizado na Rua da Quitanda, no Rio de Janeiro.
Como advogada – e também como jornalista, profissão que exerceu até 1967 – Maria Rita se destacou por sua luta em defesa dos direitos das mulheres, ao lado da líder feminista Bertha Lutz. Nesta luta, ganhou nome nacional, chegando a ocupar a vice-presidência do 2º Congresso Feminista do Brasil, realizado em 1930.
Na CPI da mulher, ela falou de improviso citando pessoas, datas e narrando acontecimentos relacionados com a história da liberação da mulher brasileira com uma precisão que impressionou a todos (três senadores e três deputados, alguns jornalistas e curiosos) que assistiram ao seu depoimento.
Ao final da palestra, quando o senador Heitor Dias (Arena-BA) afirmou que não havia mais discriminação contra a mulher, tanto que o homem geralmente a coloca “num altar”, Maria Rita interrompeu-o com um sonoro “discordo”.
Na hora dos cumprimentos, ela teria oportunidade de esclarecer ao senador baiano que “é justamente esta história de colocar a mulher num altar, que vem nos desgraçando”.

Dra. Maria Rita Soares de Andrade, Jurista

Sergipana, filha de pais humildes (Manuel José Soares de Andrade e D. Filomena) que, no entanto, conseguiram um respeitado lugar ao sol, a Dra. Maria Rita Soares de Andrade, aracajuense, fez o curso primário no Grupo Gal. Siqueira de Menezes, o secundário no Atheneu Sergipense e em 1922 foi aprovada no vestibular da Faculdade de Direito, hoje da UFBa, sendo a única moça da instituição em seu tempo.
Foram professores seus alguns nomes como os de Virgillio de Lemos, Homero Pires, Filinto Bastos, Bernardino de Souza Marques dos Reis, Prisco Paraíso, Carneiro da Rocha, Rodrigues Dórea, Garcez Fróes – todos eles etiquetando ruas e avenidas de Salvador, o que daria ideia da eminência do ateniense conjunto de professores pensadores da época.
Entre seus colegas de turma estão os Drs. Mário Felix Dias, Tancredo Teixeira, Otaviano Moniz Barreto, João Seabra Veloso, José Vicente Tourinho, Aníbal Sampaio e João Caldas Conte.
Infelizmente, não se podem alinhar muitos elementos do curriculum vitae da Dra. Maria Rita: são quatro folhas datilografadas. Baste-nos, porém, a menção de ter sido professora de Literatura no Atheneu Sergipense, Juíza de Direito da Guanabara, depois Juíza Federal (cargo em que se aposentou) e professora da (antiga) Universidade do Brasil – tudo por concurso. Foi advogada de nomes como Otávio Mangabeira, Armando Sales de Oliveira, Almirantes Amorim do Valle e Pena Boto, Café Filho, Osvaldo Cordeiro de Farias, Mal. Ademar de Queiroz, Castelo Branco e Brig. Eduardo Gomes – entre alguns.
A relação de cargos e funções exercida, congressos e conferências a que compareceu (e ofereceu teses aprovadas) e trabalhos publicados é assombrosa.
Como se tudo isso fosse pouco, a Dra. Maria Rita foi indicada, pelo Ministério das Relações Exteriores, em lista tríplice (que encabeça), juntamente com a poetisa Maria S. Albuquerque e a Sra. Leda Collor de Melo, para substituir a Dra. Bertha Lutz na Comissão Interamericana de Mulheres, Organização dos Estados Americanos (OEA).

Mulheres, mirai-a e mirai-vos nela.

Maria Rita Soares de Andrade – Uma Feminista Convicta Sempre Cercada de Amigos e Trabalho

"Teve vatapá, caruru, frigideiras de aratu e de caranguejo, sem falar em peru cortado em fatias e doces em quantidade para encher compoteiras e mais compoteiras. Os vestígios da festa que comemorou os 80 anos da juíza sergipana Maria Rita Soares de Andrade, advogada que já na década de 20 impunha sua presença como mulher e jurista, podem ser detectados com facilidade no pátio do casarão de Santa Teresa, onde ela mora em companhia de pelo menos mais dez pessoas, entre parentes e empregados.
– Aqui em casa ninguém morre de solidão – ela garante, coerente, sólida, convivendo até hoje com “a miséria humana em todos os sentidos”, que é como ela define a Advocacia. E extraindo dessa convivência sua força.
Corbeilles de rosas meio fenecidas, copos de papel e uma mesa farta, esbanjando as sobras da comemoração, falam da noite em que ela recebeu os muitos amigos, entre eles o advogado Sobral Pinto e Milton Santos Magarão, responsável pela missa rezada na mesma terça-feira, na igreja do Mosteiro de São Bento. Por toda a parte, nos restos de festa, coleção de barro organizada e por isso mesmo fazendo contraste, um pouco da maneira de Maria Rita administrar sua vida. Sem apego às aparências, mas atenta a tudo.
Feminista convicta, “vanguardeira”, desde os tempos de Aracaju que a viu recém-formada e dona de uma revista chamada Renovação, Maria Rita Soares de Andrade veio para o Rio com 34 anos, na esteira do noivo, o poeta João Passos Cabral. No bolso, trazia apresentação do presidente da Ordem dos Advogados de sua terra, para vários advogados atuantes na capital. Não usou nenhuma. Preferiu lecionar, no Colégio Pedro II e no Colégio da Universidade do Brasil. E pouco depois, abrir um escritório com “outras duas Marias”: Maria Luiza Bittencourt e Maria Alexandrina Ferreira Chaves, na rua da Quitanda. “Clínica geral” em Advocacia, porque “especialidade é uma coisa monótona que só serve para dar segurança (a quem é inseguro) e clientela certa”. Maria Rita tem, porém, suas preferências:
– Eu gostava muito de crimes políticos, um setor que anda agora meio pobre – diz. Irônica, sagaz, Maria Rita trabalhou na defesa dos “meninos da Aeronáutica”, que organizaram o movimento de Aragarças. Defendeu o Almirante Amorim do Vale e o então Tenente-Coronel Antonio Carlos de Andrade Serpa, acusados de resistir ao General Lott. Mergulhou nas prisões da ditadura de Vargas para conseguir habeas-corpus para clientes que jamais lhe pagariam honorários.
–– Nunca ganhei honorários por causas políticas. O que fiz foi feito por idealismo.
Entusiasta da condição feminina, Maria Rita Soares de Andrade confessa que se sente satisfeita ao ver, hoje, o Fórum “enfeitado” por mulheres. Uma das primeiras advogadas de Aracaju e do Rio, ela colaborou muitos anos com o Jornal do Brasil, não hesitando em expor suas posições políticas. Udenista radical, que combateu Getúlio toda vida, não milita mais, mas tem opiniões firmadas sobre as mudanças que as leis e a política do país vêm sofrendo. Lamenta a descaracterização do mandado de segurança e do habeas-corpus. Lamenta a supressão de eleições diretas.
– Mas não acho que as eleições diretas sejam panaceias para todos os nossos males. Elas serviriam para educar o povo, que só no exercício do voto pode aprender. Mas enquanto não acabarem com currais eleitorais, que extraviam urnas ou as substituem, a eleição direta não vai adiantar nada.
Sentada à sua escrivaninha de trabalho, instalada num escritório em que livros e pastas se amontoam, velados por uma estátua da Justiça vendada e segurando a espada, mas sem balança, Maria Rita é objetiva. Conseguiu colocar a primeira mulher no Itamarati: Sandra Cordeiro de Mello. Conseguiu, na vida pessoal, sublimar a morte de Passos Cabral, um homem a quem se dedicou tão integralmente que não pôde substituí-lo. Aos 80 anos, seu telefone continua tocando sem parar. Juíza aposentada, exercendo funções de advogada, atende a quem a solicita, voz mansa, pensamento firme. Fala pouco sobre seus tempos mais difíceis, em que o dinheiro era pouco, confessa que hoje ainda teria coragem de bancar outra revista como aquela Renovação, da década de 30. E resume as vitórias femininas numa, que julga principal:
– O acesso à Universidade. De lá as mulheres tiveram acesso às profissões liberais e, consequentemente, independência econômica e a possibilidade de interferir no momento atual. A universidade foi mais importante do que a conquista do voto feminino".
________________________________
Do Livro: "A Mulher na História", de Maria Lígia Madureira Pina.

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, em 5 de maio de 2012.

O "Doublé" de Médico e Poeta Marcelo Ribeiro


Publicado no Blog cronicadacidade.blogspot, em 13 de abril de 2012.


O "Doublé" de Médico e Poeta Marcelo Ribeiro.

Por Luiz Santana.
Hoje, já que me encontro sozinho e posso pensar, resolvi fazer uma crônica sobre o meu médico particular, Dr. Marcelo Ribeiro, que, nas horas vagas é um poeta de "boa cepa", " viajando" pelas entranhas do ser humano, desnudando os assuntos, traçando perfis de pessoas, de coisas, em seu linguajar, criando termos, vocábulos, inventando um novocabulário, com a licença poética que só é permitida aos grandes escritores, como o padre Antonio Vieira, que usou " me melem", Camões, e, entre nós, Drumond, Bandeira e muitos outros.

Antes de conhecer o médico/poeta, fui aluno de seu pai, Dr. José da Silva Ribeiro, mestre do direito penal, na vetusta Faculdade Federal de Direito de Sergipe. Nessa época, década de 60, o menino Marcelo, de calças curtas, jogava bola no campo Alberto Azevedo, atrás de sua casa e rezando e comungando no Salesiano.

Um dos seus irmãos, o Wagner, uma das inteligências maiores de nossa Barbosópolis, também escritor, foi meu colega no Dep. de Direito da UFS, ministrando Direito Processual do Trabalho.
Ambos hoje pertencentes à Academia Sergipana de Letras, presidida pelo meu colega do Dep. de Direito Dr. José Anderson Nascimento e tendo como decano, assim me parece, o professor José Amado do Nascimento.

Bem, mas voltemos ao médico. Tive um problemazinho auditivo (cerumen) e visito Dr. Marcelo, fato ocorrido no dia 11.04.2012. Chego ao seu consultório às 13 horas e a sala já está cheia de pacientes. A atendente me diz que eu sou o 14º. a ser atendido. Tudo bem. Me sento ( e não sou poeta para ter a chamada licença poética), mas estou bem acompanhado, em uma das cadeiras do consultório e vejo na mesa da atendente vários livros. Por curiosidade vou vê-los e lá estão livros escritos pelo poeta. Debruço-me sobre os compêndios e escolho o primeiro para ler. Título: "Algum Poema Conciso". Prefácio de Léo A. Mittaraquis e "orelha" do também poeta Vieira Neto.

O prefaciador analisa com acuidade e sabedoria os poemas insertos no livro, fala do "ato solitário de criar" do poeta ,no primeiro poema "Fragmentos" e conclui " testemunho minha gratidão para com o vate". E Vieira Neto escreve", mais adiante, no poema "Eclipse", dedicado ao irmão Wagner Ribeiro, o bardo mostra sua capacidade de invenção verbal: " Acontece/anoitecer-me/em pleno dia/e sombrio aguardar/ficar manhã". Brilhante, segundo Vieira Neto. A imagem é muito profunda, própria dos poetas de alma limpa, mas os vates nunca se encontram na escuridão e sim na claridade meridiana.Em "Sedução" Marcelo compara a lua a uma mulher, que cobre-se de nuvens e, como a mulher, depois desnuda-se.

O poeta vive, em seus poemas, o dia-a-dia de nossa cidade, de nosso Estado, de nosso País, do Mundo; penetra no âmago da sociedade; vê coisas que os pobres mortais não vislumbram. A sua alma está inquieta, quer descobrir, quer ver.

Texto reproduzido do blog: cronicadacidade.blogspot.com.br

Publicado originalmente na página do Facebook/MTéSERGIPE, em 28 de abril de 2012.

Ismar Barreto (1953 – 2006)


Ismar Barreto.
Por André Nogueira

O Estado de Sergipe lamenta-se por ter perdido o grande compositor e músico: Ismar Barreto e procura lembrar e reconhecer o seu grande trabalho feito para a cidade de Aracaju. Foi bastante influenciado por grandes pessoas, como Luiz Gonzaga, Chico Buarque, Jackson do Pandeiro e Dominguinhos (estes dois últimos, seus amigos), a sua marca registrada era a irreverência, o sarcasmo.

Ismar Barreto Dória nasceu no dia 1º de outubro de 1953, na cidade de Aracaju (SE) e faleceu no dia 02 de junho pela manhã, no Hospital de Cirurgia, vítima de um câncer com o qual lutava há quase um ano. Amava tanto essa cidade que a homenageou com a canção "Viver Aracaju".

Iniciou-se na música no ano de 1967, em Brasília, e, desde 1970, vinha participando de festivais por todo o Brasil. Seu trabalho se caracterizava tanto por uma forte dose de humor satírico, resvalando em verdadeiras crônicas do cotidiano, como por letras românticas e de cunho altamente social. Além do duplo sentido, a malemolência e a picardia, tradicionais na música popular nordestina, também eram o seu forte. Mesmo com apenas dois CDs gravados, Ismar produziu um enorme repertório, do qual algumas canções são bastante conhecidas em sua terra.

Viver Aracaju
 (...)
comer muito siri
andar de pé no chão
descer a Laranjeiras
entrar no calçadão
ir para Pirambu
beber lá no Dedé
pegar uns aratu
tirar bicho de pé
voltar pra Aracaju
tomar um murici, então
à noite eu vou lá no Fan’s
tomar chopp com o Pascoal
papo vai papo vem
fofocar não faz mal
(...)
e quando o dia raiar
vou ver a vida nascer
te amo, Aracaju
resolvi te viver!

Ismar projetou-se, nacionalmente, através do festival Canta Nordeste, tendo sido o vencedor de duas de suas edições: em 1993, com "Côco da Capsulana" e, em 1994, com "Salada Tupiniquim". Ele possuía parcerias com Antônio Carlos & Jocafi, Xangai, Dominguinhos, Paulo Diniz, Eliezer Setton e Zinho.

Salada Tupiniquim

(...) Quando Pero Vaz de Caminha escreveu
Que aqui plantando tudo dá
Muita gente na Europa até deu
Vontade de se mudar pra cá
(...) E quem veio de lá pode ver
A Madonna dançando chen-nhen-nhen
Rolling Stones garçom em Olinda
Michael Jackson na Febem de Belém
Príncipe Charles catando caranguejo
Lady Di descascando aratu
Gorbachev enfermeiro em João Pessoa
Mike Tyson porteiro do Olodum
Maradona chofer em Maceió
E o Rambo gari em Aracaju (...)

No ano passado, virou "garoto propaganda" dos Projetos São Cristóvão, Cidade Seresta e do Chorinho, em Laranjeiras, e diariamente era visto na TV executando o jingle de sua autoria que era um de seus pontos fortes.

"Apesar de criar vários jingles, não eram registrados como de sua autoria. Acabando sua identidade não sendo conhecida. As pessoas não imaginam que muitas das músicas de propaganda que cantarolam, foram feitas por mim. Recebo diariamente pedidos para fazer jingles para os mais diferentes seguimentos, embora dentro da própria classe artística, esse meu trabalho não seja valorizado", disse. Numa entrevista concedida ao Jornal da Cidade em novembro do ano passado, revelou que poucos conheciam os jingles de sua autoria.

Ele realmente possuía o dom para compor músicas. Por dia, Ismar Barreto chegava a fazer uma média de 20 composições, numa única "sentada". A facilidade, segundo ele, em produzir compulsivamente, vinha de uma força divina. "Pego o violão, começo a dedilhar e, de repente, a música já está pronta. Não sei explicar ao certo como chego tão rápido ao resultado final, mas acredito ser uma dádiva de Deus", explicou.

Por ter gravado tantas canções engraçadas, verdadeiras paródias, Barreto ficou conhecido como o Rei do Brega e a alcunha se consolidou, com o lançamento de Tremendamente Sacana, disco com dez faixas que se notabilizou com a canção "O Porteiro de Cabaré". Outras canções conhecidas do público eram Papai Noel Boiola" e "O Vaqueiro Viadão".

Ismar Barreto foi, é e sempre será personagem legítimo deste estado; música, voz e verso do povo que habita a faixa de terra entre os rios Real e São Francisco, um povo que ele soube retratar tão bem através de sua música. Com certeza, deixará saudades no coração de todos, principalmente, dos seus familiares e amigos. Obrigado Ismar...

Texto reproduzido do site: visitearacaju.com.br

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, em 29 de agosto de 2013.

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Gilton Machado Rezende (1937 - 2012)


Morre o Médico Gilton Machado Rezende *

Morreu na manha deste domingo (30), o médico Gilton Machado Rezende, aos 75 anos idade. Gilton Rezende morreu no hospital Primavera onde estava internado.

O corpo de Gilton Rezende não foi velado e nem sepultado por conta de um desejo que ele deixou em um documento que foi aberto pela família, logo após a sua morte.

O médico através de documento, pediu que a família não realizasse o velório e nem o enterro. O pedido de Gilton Machado Rezende era para que o seu corpo fosse doado para um hospital para que servisse para pesquisa e estudos.

A família do médico acatou o pedido e no domingo mesmo fez a doação de seu corpo.

As informações são do programa Liberdade sem Censura

* Reproduzido da publicação do site faxaju.com.br em 01.10.2012.
..........................................

GILTON MACHADO RESENDE

Nasceu em 27 de junho de 1937, em Aracaju/SE, filho de João Rezende e Maria de Lourdes Machado Rezende. Quando criança, em decorrência de uma queda, teve traumatismo abdominal e ruptura do baço, sendo operado de urgência pelo Dr. Augusto Leite, que lhe retirou o órgão lesionado, constituindo-se na primeira esplenectomia realizada em Sergipe, por volta de 1945. Formou-se pela Faculdade de Medicina da Bahia em 1962. Atuou inicialmente nas áreas de ginecologia e obstetrícia em Salvador, realizando partos na Maternidade Tsila Balbino e em domicílios, optando depois e definitivamente pela clínica médica, especialidade que o projetou profissionalmente, tornando-se uma referência. Regressou a Aracaju três anos após formado. Atuou no Hospital de Cirurgia e trabalhou no Departamento de Estradas e Rodagens e no DNOCS. Foi professor da disciplina de clínica médica na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Sergipe durante 28 anos. Membro do Conselho Regional de Medicina de Sergipe de 1974 a 1984, do qual foi presidente. Dirigiu o Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da UFS, Conselheiro da CEME e Secretário de Estado da Saúde de Sergipe. Implantou as enfermarias de clínica médica do Hospital Universitário. Aposentou-se de suas atividades profissionais na década de 1990, passando a atuar com destaque no Lions Clube Aracaju Centro. Reside atualmente em Aracaju". **

** Fonte: inux.alfamaweb.com.br/asm/dicionariomedico

- Foto de Dr. Gilton (no centro de terno) reproduzida do mural/álbum de Luiz Eduardo Oliva/Facebook.

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, em 1 de outubro de 2012.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Para Lilian, imaginação é a palavra de ordem



Publicado em empautaufs, em 25/11/2009.

Para Lilian, imaginação é a palavra de ordem.
Por Morgana Brota/EmpautaUFS

Seus livros e roteiros atraem jovens e adultos, mas são especialmente as crianças que mais se encantam com os seus trabalhos. São roupas que falam, pratos da mesa que conversam e tempos verbais que ganham vida. Dessa forma, Lilian como professora, roteirista e escritora consegue transmitir para os seus leitores e telespectadores sua paixão pela Língua Portuguesa.

Natural de Aracaju-SE, Lilian Rocha é pedagoga, radialista e autora de vários projetos educativos, peças teatrais, roteiros para a TV e a quarta dos seis filhos de Maria Noemi Gomes e do escritor Petrônio Gomes, de quem herdou a paixão por escrever.

Teve sua estréia na literatura em 2004 com o livro infanto-juvenil “Deu a louca no meu Guarda-roupa”, obra que lhe rendeu o prêmio Banese de Literatura e que em 2007 tomou vida nos palcos, sendo adaptada ao teatro. Desde então ela não parou mais, em 2006 publicou “O bilhete”, livro que conta suas experiências em sala de aula, em 2007 publicou “O chá das oito”, seu segundo livro infanto-juvenil que em 2007 também ganhou uma versão para teatro e em 2008 lançou o seu primeiro livro da coleção Língua Solta, o “Rasgando o Verbo”.

Mãe de cinco filhos, Lilian Rocha, 51 anos, esbanja simpatia e bom humor. Trabalha numa sala decorada com incontáveis lembranças dadas por pessoas que já foram seus alunos ou que simplesmente admiram seus trabalhos.

EmpautaUFS: Você sempre quis escrever um livro?

Lilian Rocha: Eu sempre gostei de escrever, mas nunca pensei em escrever um livro.

EmpautaUFS: E como surgiu a paixão por escrever?

Lilian Rocha: Na minha adolescência eu fui passar umas férias em Salvador. Eu tenho uma prima que mora lá e ela era cheia de amigos. Então ela me apresentou uma grande quantidade de gente. Eu passei um mês e meio lá e foi uma maravilha, mudou minha cabeça completamente. Eu já escrevia muito pra ela, cartas de vinte, trinta, quarenta páginas. Mas eram cartas, uma coisa muito intima, era como se fosse um diário. Naquele tempo não tinha e-mail, o telefone era caro então pra conversar tinha que ser por carta mesmo. Quando eu voltei de Salvador eu comecei a escrever pra todo mundo, porque todo mundo via a nossa correspondência e queria se corresponder também. Daí eu tinha que responder a essa montanha de gente e praticamente todo dia eu estava escrevendo carta. Eu tinha uma estante com tudo catalogado com os nomes dos meus correspondentes. Manter essas correspondências me exigia muito tempo porque as cartas eram grandes e eu não sei escrever pouco. Hoje, olhando pra trás eu vejo que foi maravilhosa essa experiência, talvez tudo que eu sei de português eu pratiquei escrevendo. Toda a minha vontade de escrever nasceu das cartas.

EmpautaUFS: Então o gosto por escrever sempre existiu?

Lilian Rocha: Sempre. Até pra terminar com namorado tinha que ser por carta. Pra mim era mais fácil, eu conseguia me expressar melhor escrevendo.

EmpautaUFS: Você gosta de ler? Quais são os seus autores favoritos?

Lilian Rocha: Eu gosto de ler tanto quanto escrever. Se você entrevistar vários escritores vai ver que cada um tem seu estilo de escrever e esse estilo de escrever foi normalmente fruto de alguma coisa que leu. O meu estilo, por exemplo, de achar que as coisas têm vida são frutos da minha imaginação e de coisas que eu li. Minha cabeça sempre foi muito fantasiosa e eu sempre alimentei muito isso. Além dos contos de fada que me estimularam muito quando criança, autores como Monteiro Lobato também me estimularam muito. Eu adoro Monteiro Lobato, eu acho que ele é o rei da imaginação. Também gosto muito de Maurício de Souza, apesar de ele não fazer livros, só revistinhas. Eu acho que ele é o grande continuador de Monteiro Lobato. E os clássicos: Amo, amo, amo de paixão Machado de Assis, eu sempre disse isso em sala de aula. A partir de um livro que eu li, Dom Casmurro, me apaixonei tremendamente por ele. Pena que ele morreu sem eu ter conhecido, eu ia ficar batendo na porta dele pra conseguir um autografo. (risos). Não são as histórias deles que são diferentes, são histórias comuns, mas ele tem uma maneira incomum de contar. Ele tem um estilo completamente diferente e um português que eu bebo. O português dele é o máximo. Gosto muito de Rubem Braga como educador. Gosto de Luís Fernando Veríssimo em termos de humor e de Fernando Sabino em termos de crônica. Eu não tenho um estilo favorito, eu adoro livro de guerra.

EmpautaUFS: Você pretende se dedicar exclusivamente ao publico infantil?

Lilian Rocha: Não, porque na verdade, eu não tenho um estilo definido de literatura. O primeiro livro nasceu infantil por circunstância, por causa do prêmio Banese. Havia 3 categorias: contos, poemas e literatura infanto-juvenil. Por falta de contos e por não saber escrever poemas, resolvi me inscrever nessa última categoria. Por sorte minha, as crianças gostaram da minha história e eu resolvi fazer mais um nessa linha, ‘O Chá das Oito’. Mas já escrevi outras coisas que não são infantis, como ‘O Bilhete’ e o mais recente, ‘Antes da Escuridão’. Portanto, não tenho um estilo definido, simplesmente gosto de escrever e acredito que meus livros podem ser lidos por qualquer pessoa.

EmpautaUFS: Como surgiu a idéia de escrever o livro “Antes da escuridão”?

Lilian Rocha: Esse livro não nasceu da ideia de escrevê-lo. Tinha voltado do oftalmologista, com notícias nada animadoras e estava muito, muito triste. Quando estou assim, tenho que escrever pra ‘gastar’ minha tristeza. Fui colocando pra fora o que estava sentindo e percebi que, no final, eu já estava bem mais calma. Eu tinha conseguido até fazer graça com minhas desgraças! Isso me animou e eu resolvi fazer uma retrospectiva, em forma de diário, pra contar a ’trajetória de luta’ do meu olho esquerdo, o grande personagem dessa história e a quem eu dedico esse livro.

EmpautaUFS: Como você divulga seu trabalho? Há dificuldades? Quais são os incentivos?

Lilian Rocha: Essa talvez seja a maior dificuldade de um escritor. Como não tenho uma editora, fica comigo também essa parte de divulgação e distribuição. Coloco meus livros debaixo do braço e vou pessoalmente visitando as escolas. Isso requer tempo, mas vale a pena, pois a receptividade que encontro nas escolas é muito grande.

Nos últimos tempos, também tenho contado com a ajuda valiosa de amigos jornalistas que têm divulgado bastante o meu trabalho. A eles, serei sempre grata.

EmpautaUFS: Quando começa a escrever você sabe mais ou menos qual vai ser o começo, meio e fim ou tudo vai surgindo ao longo da escrita?

Lilian Rocha: Quando escrevo, só tenho um comecinho da história e mais nada. Mas à medida que vou escrevendo, a história vai fluindo naturalmente, como se estivesse pronta e acabada dentro de mim. Muitas vezes, enquanto estou escrevendo, fico rindo sozinha dos meus próprios personagens, como se eles tivessem vida própria, é muito interessante. Por isso que o ato de escrever é um ato solitário. Precisamos estar sozinhos, para ouvir-lhes a voz, ouvir o que eles têm pra nos dizer. Por isso, jamais me sinto só, pois há vários personagens morando dentro de mim.

EmpautaUFS: Quando costuma escrever?

Lilian Rocha: Quando ligo o computador. Como isso acontece todos os dias, então eu escrevo todos os dias. Escrevo quando estou feliz, triste, preocupada, ansiosa, confusa… Escrever, pra mim, é a minha terapia, o meu trabalho e o meu lazer. Tenho necessidade de escrever, tanto quanto tenho de comer ou de dormir. Por isso, sempre encontro uma brechinha dentro da minha falta de tempo.

EmpautaUFS: Já existe um novo projeto?

Lilian Rocha: Sim, estou sempre cheia de projetos. Já estou com outro livro pronto, “A conquista da Oração”, que vai ser lançado no comecinho de dezembro. É o segundo volume da minha coleção paradidática de português, chamada ‘Língua Solta’, mais um projeto contemplado pelo BNB de Cultura.
Já tenho pronto também o terceiro volume dessa coleção que pretendo lançar no próximo ano, mais dois infantis começados e até os primeiros esboços de um futuro romance, quem sabe?

EmpautaUFS: Dos livros que escreveu qual é o favorito?

Lilian Rocha: Eu não saberia dizer. Livros são como filhos, não há um predileto. Cada um ocupa um espaço próprio, representa um momento especial de nossa vida.
Há livros que foram mais trabalhosos, como esses paradidáticos. Muito mais que livros de ficção, eles ensinam português. E pra isso, os diálogos são mais pensados, mais elaborados. Gosto muito deles, da forma divertida que criei pra ensinar português. Mas isso não quer dizer que sejam eles os meus preferidos. Cada um deles tem um pouco de mim.

EmpautaUFS: De onde vem a inspiração para os seus livros?

Lilian Rocha: Do meu dia-a-dia. Normalmente as minhas histórias têm como pano de fundo uma família grande, cheia de irmãos e parentes. Deve ser a influência de minha própria família. Meus pais tiveram 6 filhos, meu marido vem de uma família de 6 filhos, eu e meu irmão mais velho tivemos 5 filhos, enfim, sou cercada por uma família enorme, muito unida, que me enche de orgulho. E numa família grande, tudo acontece, é muito divertido.

EmpautaUFS: Fale um pouco sobre seu programa de TV.

Lilian Rocha: Como tudo na minha vida, também nasceu por acaso. Fui convidada por Marlene Calumby, pra fazer um programa educativo, envolvendo uma repórter, um ator e eu, uma professora. Dessa estranha mistura, nasceu o ‘Palavrear’, que nada mais era do que uma nova versão de um programa que eu fazia na rádio, em 92. Eu escolhia um tema qualquer e contava a história dele, desde a sua origem até os dias de hoje. Na TV, enquanto eu contava a história, o grande e saudoso ator César Macieira, ia representando os personagens, o que tornava o programa muito mais leve e divertido, sem perder, contudo, a característica de cultural.

EmpautaUFS: Como você define a experiência que teve em sala de aula?

Lilian Rocha: Sala de aula foi um laboratório. Eu comecei com escolas primárias e quando eu me formei, fiz o concurso do estado e passei. Como eu não tinha o curso pedagógico eu fui trabalhar na Escola Normal, ou seja, minha formação como pedagoga só me permitia ensinar as futuras professoras. Então eu pulei do primário para o que hoje seria o Ensino Médio. Apesar de eu gostar de crianças a experiência na escola normal foi ótima. Depois disso eu fui pro Atheneu trabalhar com o Ensino Fundamental II. Quando eu estava na Escola Normal eu criei amizade com Marlene, alguém que me incentivou muito e quando ela foi convidada a ser diretora do Atheneu me convidou para dar aulas de português. Minha paixão era dar aulas de português, mas eu não tinha formação em português. Eu sou formada em pedagogia. Então eu estudava para dar aula e fui criando uma intimidade muito grande com Análise Sintática.

EmpautaUFS: Conte um pouco sobre a sua experiência na rádio Aperipê.

Lilian Rocha: Marlene foi convidada para ser superintendente da Aperipê e me convidou para trabalhar lá também. Era um trabalho totalmente diferente, lá eu passei 4 anos e eu também comecei sem saber nada de rádio. Ela me entregou o setor de produção educativa. Então transformamos a rádio Aperipê numa rádio educativa, como deveria ser. Eu comecei a inventar um bocado de programas. Já existiam programas na rádio, mas eram só de músicas. Os locutores ficavam falando, mandando abraço… (risos) Então eu comecei a colocar informação, cultura, dicas de saúde e um monte de coisa. Depois criei meu próprio programa. O tempo que eu passei lá foi profissionalmente excelente, desenvolveu muito minha criatividade. O rádio assim como a sala de aula também foi pra mim um grande laboratório. Mas na sala de aula acontece uma coisa interessante, na rádio a gente faz o programa, mas nunca pode medir a quantidade de pessoas que estão ouvindo, na sala de aula o público é presente. O resultado é imediato então tudo que você ensina percebe na hora se eles aprendem, a sintonia é imediata. Na rádio você acha que as pessoas estão ouvindo, mas não tem certeza de nada. Mesmo o IBOPE não tem como medir, o que ele oferece é uma amostragem o real não consegue.

Fotos: Morgana Brota.


Texto e imagens reproduzidos do blog: empautaufs.wordpress.com

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, em 23 de agosto de 2013.

Luiz Garcia, um governante inovador

 Luiz Garcia.

 Estação Rodoviária.

Hotel Pálace. 

Luiz Garcia, um governante inovador.
Por Luiz Antônio Barreto.

Luiz Garcia, filho de Antonio Garcia Sobrinho e de Antonia Garcias, nasceu em Rosário do Catete em 14 de outubro de 1910. Seu pai, alternando atividades comerciais com a de funcionário público, encaminhou os filhos para os estudos, enquanto dava o exemplo político do engajamento, como quando apoiou o movimento tenentista de Augusto Maynard Gomes. Família grande – Luiz, Robério, Antonio, Carlos, José – para citar apenas os homens que saíram de Rosário do Catete e se tornaram advogados, médico, engenheiro -, apenas Robério Garcia não teve formação superior, sacrificando-se, por opção pessoal, para ajudar a que os irmãos obtivessem o grau nas profissões que escolheram.

Luiz Garcia bacharelou-se em Direito e exerceu, plenamente, a advocacia com escritório em Aracaju e no Rio de Janeiro, conciliando com as atividades jornalísticas, intelectuais e políticas. Redigiu vários jornais, demorando-se no Correio de Aracaju, do qual foi Diretor. Foram os seus artigos, alguns deles de crítica literária, discursos, conferências que motivaram os acadêmicos para elegê-lo membro da Academia Sergipana de Letras, ocupando, desde 1942, a Cadeira nº 37 do Sodalício.

Quando da organização dos partidos políticos locais, em 1933/34, ingressou no PSD, ao lado de Leandro Maciel, com quem conviviria sempre, na UDN e na ARENA, disputando muitos mandatos. Foi eleito Deputado Estadual em 1934, participando da elaboração da Constituição de 1935. Em 1945, quando da formação dos partidos nacionais, ingressou na União Democrática Nacional, candidatando-se à Câmara Federal, ficando na 1ª Suplência. Na eleição de janeiro de 1947 foi candidato ao Governo do Estado, enfrentando as candidaturas de José Rollemberg Leite e de Orlando Dantas.

A campanha de governador se transformou numa batalha sem precedentes. A hierarquia da Igreja católica resolveu assumir bandeiras doutrinárias, para evitar que os eleitores votassem em candidatos que fossem a favor do divórcio e do aborto, dentre outras posições, fundou a Liga Eleitoral Católica, entregando a sua direção, em Sergipe, ao advogado e empresário Hélio Ribeiro, de tradicional família de empresários. A LEC fez uma intensa campanha de mobilização do eleitorado católico, e conclamou os políticos e candidatos a que firmassem, de público, compromissos com as teses defendidas pela Igreja. A UDN e seus candidatos, inclusive Luiz Garcia, firmaram com a LEC um protocolo de defesa dos ideais católicos, mas, no curso da campanha, os udenistas romperam o acordo e foram buscar os votos dos comunistas, que participaram, com sigla própria, das eleições. A Liga Eleitoral Católica reagiu, apoiou a candidatura de José Rollemberg Leite, deu sinal verde para Orlando Dantas, e ameaçou de excomunhão os católicos que votassem nos candidatos udenistas.

Conta-se que em Laranjeiras, reduto udenista, o padre Filadelfo Jônatas de Oliveira recebeu a Nota Oficial da Diocese, assinada pelo Bispo Dom José Tomás Gomes da Silva, para que fosse lida na missa dominical da paróquia, repudiando os candidatos da UDN. Como o padre tinha simpatias pelos udenistas, transpôs o texto para o latim e fez a leitura para os fiéis, que não entenderam nada. A radicalização dos católicos levou a um resultado eleitoral consagrador, tornando clara a vitória da LEC elegendo o engenheiro e professor José Rollemberg Leite, do Partido Social Democrático – PSD, governador do Estado, na primeira das eleições diretas, desde 1930.

Luiz Garcia, homem de fé, manteve-se no Catolicismo e nos mandatos de Deputado Federal, quatro ao todo, (1951-1955, 1955-1959, 1967-1971, e 1971-1975 e 1º Suplente de 1979-1983), deu mostras da sua fidelidade religiosa, combatendo os projetos que davam direitos às companheiras e os que estabeleciam o divórcio no Brasil, notadamente as tentativas feitas por Nelson Carneiro. Estão nos Anais da Câmara Federal os discursos memoráveis, em defesa do magistério moral da Igreja. O episódio da eleição de 1947 e as indisposições com a LEC pareceram, sempre, completamente superados.

Em 1958 Luiz Garcia foi eleito Governador do Estado, vencendo a José Rollemberg Leite e sucedendo a Leandro Maciel na chefia do Governo. Instala-se uma administração de grandes inovações e empreendimentos, que modernizaria Sergipe, a começar pela criação do Conselho de Desenvolvimento Econômico de Sergipe (Condese), uma espécie de escola de Governo, priorizando o planejamento e formando quadros para a administração pública, ao tempo em que fixava as grandes linhas da administração. Seguiram-se o Banco de Fomento (atual Banese), a Energipe, o Ipes, a Secretaria de Educação, Cultura e Saúde, confiada ao irmão, o médico e intelectual Antonio Garcia Filho, e obras essenciais como a Estação Rodoviária, construída na Esplanada do Bonfim, o Hotel Palace de Aracaju, no lugar onde havia o Quartel do 28 BC, na praça General Valadão, o Centro de Reabilitação Ninota Garcia, na velha Usina do bairro Industrial, o Salão de Passageiros do Aeroporto de Santa Maria, o Museu Histórico de Sergipe, em São Cristóvão, instalado no prédio do antigo Paço Provincial, e criou a Faculdade de Medicina.

Além da construção de grupos escolares, jardins de infância, postos médicos, estradas, serviços de água e de luz, o Governo Luiz Garcia deu destaque as atividades culturais, criando núcleos, como o de Artes Plásticas, colocando painéis artísticos de Jenner Augusto em obras públicas, como o Hotel Palace e a Estação de Passageiros do Aeroporto de Aracaju, e publicando livros, como forma de valorização da literatura sergipana.

A família de Luiz Garcia, toda ela, construiu biografias notáveis. Robério, como dirigente desportivo, presidente da Federação Sergipana de Futebol, profissionalizou o futebol e foi, ainda, membro destacado do Partido Comunista Brasileiro. Carlos Garcia, jornalista, escritor, advogado, elegeu-se vereador em Aracaju, pela legenda do PCB, e seu cunhado, o médico baiano Armando Domingues foi eleito deputado estadual, na Assembléia Estadual Constituinte de 1947. Carlos Garcia mudou-se para o Rio de Janeiro onde trabalhou no sistema previdenciário e manteve escritório de advocacia. Antonio Garcia Filho, médico, professor, escritor e compositor, foi também vereador em Aracaju, pelo Partido Socialista Brasileiro, presidente da Academia Sergipana de Letras. José Garcia Neto, engenheiro, fez carreira política no Mato Grosso, sendo vice governador daquele Estado. No Governo do seu irmão, dirigiu o Departamento de Estradas de Rodagens em Sergipe.

Casado com Maria Emília Pinto Garcia, Luiz Garcia teve 4 filhos: Fernando, Gilton, Antonio Amândio e Vânia. Antonio Amândio tentou a política e foi candidato a deputado estadual, na eleição de 1974, mas não foi eleito. Gilton Garcia elegeu-se deputado estadual em 1968, deputado federal em 1982 e foi governador do Amapá, nomeado pelo presidente Fernando Collor de Melo. Fernando é Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Amapá. Luiz Garcia, que foi um dos professores fundadores da Faculdade de Direito de Sergipe, morreu em Aracaju, em 11 de agosto de 2001.


Fotos e texto reproduzidos do site: infonet.com.br/luisantoniobarreto

Postagem originária da página do Grupo MTéSERGIPE, em 23 de agosto de 2013.

sábado, 17 de agosto de 2013

Amendoim cozido - coisa de Sergipe




Amendoim cozido - coisa de Sergipe
Por Aglacy Mary

Amendoim é um objeto cheio de segredos. Pra começo de conversa, a gente nunca sabe direito como classificar o danado. Sim, ele é uma planta que tem legume - você deve ter lembrado dos feijões e da ervilha, né? 'PoiZé'. Uma caixinha curiosa que, ao contrário das outras, nasce embaixo da terra e não se abre, por livre vontade, pra liberar suas sementes. Cheio de charme.

Se você quiser conhecê-lo melhor, pode começar cultivando a planta. Espere a flor nascer e se curvar e se enterrar para depois gerar o amendoim. Depois você vai colher e cozinhar as vagens, que guardam os grãos. A experiência vale ainda mais se você tem por perto uma criança sem ideia sobre a origem dessa delícia. Pronto pra cozinhar, posso até dar a receita, que só leva água e sal numa panela, simples até para mim, que quase desconheço o caminho do fogão. Mas acho melhor mesmo indicar o caminho do nosso Mercado Thales Ferraz, que reúne muitas outras curiosidades.

A vantagem de ir ao Thales Ferraz para comprar amendoim cozido - assim, cozido, não se encontra em qualquer canto deste país - está no pacote cultural que você ganha de brinde. Lá você tem também a possibilidade de escolher, entre os vendedores, as vagens mais ou menos secas, que guardam grãos mais ou menos molhadinhos, conforme seu gosto. Desde menina adivinho seu conteúdo só de olhar. Meu pai me flagrava separando, um a um, aqueles de que mais gosto - os que têm o tecido interno da casca na cor marrom escura (visão de raio X) -, pois o grão estará durinho e menos salgado. Depois é só reunir os amigos e ir comendo sem conseguir parar, ou até encontrar juízo fora da desculpa de que o Arachis hypogaea é rico em proteína.

Nas praias sergipanas, é muito comum que as pessoas nos bares sejam abordadas com a oferta de um mundo de amendoins em um grande cesto. "Quantas latas?" - pergunta o vendedor depois de ter deixado umas três vagens bem escolhidas em sua mesa. A iguaria é, em grande parte das vezes, o que se aprecia antes de se fazer qualquer pedido de comida num barzinho. Se você estiver esperando alguém, faça contagens regressivas brincando de comê-la devagarinho, grão a grão, apostando no momento em que sua companhia vai chegar. Esse lado brinquedo do amendoim também se revelava em minha infância, quando fazíamos brincos simplesmente forçando um tantinho de uma das extremidades da casca. Agora era só colocar a pontinha da orelha ali dentro e começar o desfile com um acessório muito singular. Fazia também graciosos barquinhos, que flutuavam sobre a lâmina d'água do rio (banheira de minha irmã) Poxim.

Vixe! Esses flagrantes de infância trazem a minha lembrança a preocupação de minha mãe com a limpeza do amendoim, sobretudo porque eu não conseguia ainda romper a vagem com a pressão dos dedos; então ia tudo à boca, casca e grãos e boa quantidade de sal que a casca retém. A propósito, alguém conhece quem, estando na rua, lave amendoim antes de comer? Talvez minha irmã mais velha.

Em tempos de festejos juninos, o amendoim cozido se espalha pelas ruas de Aracaju. Ele é mais consumido por gente de toda idade do que o juízo de Santo Antônio o é pelas moças casadouras. Eu estou no meio dessa gente, que é capaz de comer mais amendoim do que milho no São João. Anavant, que o Mercado está aberto desde cedo!

Texto e imagens reproduzidos do blog: aglacy.blogspot.com.br

Fotos: Aglacy Mary (Abaís, jan/2010).

Postagem originária do Facebook/MTéSERGIPE, em 15 de agosto de 2013.

Vilermando Orico - 25 anos de sua morte (2009)


Publicação do Blog do Alencar, em 29 de junho de 2009.

Vilermando Orico - 25 anos de sua morte (2009)
Por Clodoaldo de Alencar Filho.

O rádio revitalizou a vida cultural sergipana, ampliando o contato de artistas com o público. Ainda que tenha sido criada como emissora oficial do Estado Novo em Sergipe, com o nome de Rádio Palácio, a Rádio Difusora, instalada no prédio do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, construído no final dos anos de 1930, cumpriu um papel magistral levando ao ar as vozes e os instrumentos que davam trilha sonora à vida da capital sergipana. Vozes que ficaram imortalizadas, como a de João Melo, que além de cantar é, ainda hoje, um exímio violonista, compositor aplaudido e produtor vitorioso no Rio de Janeiro, a de Raimundo Santos, que pode ser ouvida, ainda hoje, cantando o Hino do Clube Esportivo Sergipe, neste ano completando um século de “luta e de glória”, a de Antonio Teles, talvez a mais romântica, a de Dão, dando graça ao samba, a de Floriano Valente, com seu repertório de valsas, dentre muitas outras embaladas pela Rádio Orquestra de Pinduca, pelos Regionais de Eutímio, Honor Gregório, João Argolo, Carnera e tantos outros astros de primeira grandeza, que fizeram a radiofonia dos primeiros tempos e abriram caminho para os artistas da atualidade.

Havia um grupo de meninos: Alexandre Diniz, Vilermando Orico, Adilson Alves, o Gravatinha e Edildécio Andrade, buscando espaço entre os ouvintes, ancorados por programas de auditório apresentados por Santos Mendonça, Aglaé Fontes, Nelson Souza, e outros. Cada um com seu estilo, sua voz identificada facilmente, seu repertório. Dentre eles, Vilermando Orico camava mais a atenção dos ouvintes, porque seu pai, o alagoano sergipanizado José Orico, que montou em casa um estúdio de gravação, acompanhava as exibições do filho, gravando-as diretamente do sistema de som dos velhos receptores Mulard, ABC, para os pesados acetatos, que eram, depois, reproduzidos no rádio. Alexandre Diniz, que gostava de cantar sentado, fez carreira como professor de Geografia na Universidade Federal de Sergipe, destacando-se como um dos expoentes da sua geração. Adilson Alves gravou alguns discos, fez shows, mas, com o passar do tempo e o domínio da TV, na qual teve participação, afastou-se. Edildécio Andrade foi mais longe, pois é o violão e a voz do Trio Irakitan, um dos mais antigos grupos musicais do Brasil.

Vilermando Orico tinha uma voz extensa, de fortes agudos, e cantava quase tudo, incluindo as músicas que fazia, ainda menino, como o “dobrado” Terra da Promissão, dedicada a Aracaju, em 1955, ano do centenário da mudança da capital. Cantava e tocava piano, vestindo-se como um astro de Hollywood, com direito a Fã Clube, como o que foi organizado na avenida Carlos Burlamaqui, sob a direção de Cordélia Alves (Presidente), Isabel Silva (Secretária) e Normélia Alves França (Tesoureira), do qual dá notícia testemunhal o professor Vilder Santos. Menino prodígio, bem vestido, Vilermando Orico fez de sua infância um projeto artístico, sempre contando com a presença forte do seu pai. Passada a fase infantil, Vilermando Orico sofreu com a mudança da voz, como tinha ocorrido com Paulo Molin, do Recife, uma jovem promessa de cantor. Foram longos anos fora do rádio e do estúdio de gravação. Dominando o piano, Vilermando Orico passou a tocar teclado e montou um Trio, com o nome de Nino, e fez enorme sucesso nas tardes de domingo, na Associação Atlética de Sergipe, tocando inclusive bossa nova.

O sucesso de Nino como músico em nada fazia lembrar o menino Vilermando Orico. Aquele tempo estava apenas na memória dos amigos de infância, e no arquivo do pai. Depois do sucesso com o Trio, Nino foi para Salvador, como piano-bar, lá casou e depois dos aplausos resolveu aceitar uma proposta do Hotel 4 Rodas, de São Luiz do Maranhão, onde repetiu suas performances, e mereceu os aplausos dos ouvintes. Um dia, na praia com a família, sentiu dor no peito, tratou-se mas morreu, em junho de 1984, como sabe Vilder Santos, aos 42 anos. A voz, muito antes já calada, ficou na lembrança da família e dos amigos, em velhos e estragados acetatos, ou salvos em fitas de rolo. A parte do músico ficou, certamente, na memória dos casais, de homens e mulheres que o viram tocar nos hotéis de Salvador e de São Luiz.

A morte de Vilermando Orico, há exatos 25 anos, interrompeu uma das mais brilhantes carreiras de artista sergipano. Nascido em Viçosa, Alagoas, vindo com poucos anos para viver em Aracaju, aqui criado e aqui revelado como artista múltiplo, de uma capacidade extraordinária para a música, Vilermando Orico, o Nino, trajou os melhores figurinos para circular, ainda criança, entre todos e demonstrar sua intimidade com o microfone. Aracaju não pode esquecer Vilermando Orico.

Foto e texto reproduzidos do blog: clodoaldoalencar.blogspot.com.br

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, em 15 de agosto de 2013.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

João Pires Wynne [1905-1974]


João Pires Wynne [1905-1974] - Biografia

Descendente de uma autoridade consular, João Pires Wynne nasceu em Riachuelo, Sergipe, a 5 de setembro de 1905, filho de Etelvino Pires de Almeida e de D. Dulce Wynne de Almeida. Estudou, inicialmente, em Riachuelo concluindo o ensino secundário no Colégio Tobias Barreto, em Aracaju. Graduou-se em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito da Bahia. Participou intensamente da vida cultural sergipana, assinando a ata de fundação da Academia Sergipana de Letras, em 1º de julho de 1929, ocupando a cadeira cujo patrono é o poeta João Pereira Barreto.
Sempre militou no jornalismo e em entidades culturais de Sergipe e envolvendo-se com a política e a administração pública. Pires Wynne atuou, na imprensa bandeirante e na fluminense, como comentarista político e critico literário. Grandes nomes da época, como João Ribeiro, Jackson de Figueiredo, Múcio Leão, Afonso Schmidt, Carlos Chiachio, Joaquim Ribeiro, Berilo Neves, Agripino Grieco e muitos outros, despertaram-se para seus escritos, louvando-os. Jackson de Figueiredo afirmou que “Pires Wynne possui o dom da simpatia e a eloquencia intelectual que é coisa bem diversa de simples eloquencia de palavras”. (FIGUEIREDO, J. Orelha. In: WYNNE, P. J. História de Sergipe, 1. Rio de Janeiro: Editora Pongetti, s/d.)
Faleceu em Aracaju, Sergipe, a 7 de agosto de 1974.

Fonte: Nascimento, José Anderson.
Perfis Acadêmicos. Aracaju: Academia Sergipana de Letras, 2012.
Foto: Arquivo pessoal de Ana Lúcia Pereira.

Imagem e texto reproduzidos do blog: pedepapagaio.blogspot.com.br


Bibliografia de J. Pires Wynne

História de Sergipe.

No primeiro volume de “História de Sergipe”, Pires Wynne analisa a vida social, econômica e politica de Sergipe, desde suas origens coloniais até o turbulento ano de 1930, historiando e discutindo, inicialmente, as razões da conquista e da colonização da então capitania de Sergipe del-Rei e seus desdobramentos. Atém-se às lutas pela posse de seu território e às controvérsias e desencontros entre vizinhos, aos abusos dos governadores-gerais, dos vice-reis e dos capitães-mores, à Invasão Holandesa e às questões dos limites. Do regime imperial, avança para o republicano e explora os acontecimentos de 1889 até 1930, focalizando a implantação do novo regime, a política e a administração dos presidentes estaduais.

 

No segundo volume, analisa os acontecimentos posteriores a 1930, enfocando a politica e as realizações governamentais até 1972. É um livro de grande utilidade para aqueles que desejam conhecer as coisas e os homens de Sergipe, seus líderes, seus espíritos desenvoltos, às vezes, apaixonados, suas ideias, fatos e costumes de suas épocas.

Fotos: Marina Lícia

(Livros do acervo do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe).

Postagem originária na página do Facebook/MTéSERGIPE, em 13 de agosto de 2013.

Colonização de Sergipe e Literatura



Infonet - Educação - Especial - 23/08/2012.

Colonização de Sergipe e Literatura
Artigo de Talita Emily Fontes da Silva, graduada em História

Na realidade brasileira, poucos são os historiadores que conseguem aproximar os seus trabalhos do grande público. Essa função de “massificar” os acontecimentos históricos acaba ficando a cargo do Cinema e da Literatura, que moldam a História, com a intenção de transformá-la em algo próximo da realidade das massas.

Quando se fala em Literatura, sabemos que a História serve de fonte de inspiração para o escritor, que tem a liberdade de reconstruir, ou até mesmo reinventar os mais diversos fatos utilizando sua imaginação. São várias as obras baseadas em acontecimentos históricos. Até mesmo indiretamente, grande parte dos livros de Literatura refletem o período no qual foram produzidos, por mais sutil que seja.

Em relação à História da Colonização de Sergipe, mesmo com a existência de obras literárias que relatam os acontecimentos deste período, a desinformação ainda continua a reinar nas terras Del'rey. Infelizmente grande parte da população não tem conhecimento de quantas almas indígenas fora massacradas, quantas culturas foram destruídas, graças a ganância dos colonizadores.

Dois exemplos de livros que tentam fazer o seu papel de “facilitar o acesso” entre a História e o público são “Ibiradiô”, da escritora Gizelda Morais, e “A Fúria da Raça”, da jornalista Ilma Fontes. O primeiro realiza a narrativa utilizando dois focos: um no período colonial, entre os anos de 1575 à 1590; e outro na contemporaneidade, mais precisamente, o inicio da década de 1990 (quando o livro foi escrito). Desta forma, Gizelda Morais apresenta, por um lado, o processo da chamada “Conquista de Sergipe”, ao mesmo tempo em que relata as dificuldades enfrentadas por cineastas para escrever um roteiro sobre este tema.

Já a obra “A Fúria da Raça”, produzida em 1987, foi criada para ser um roteiro cinematográfico. Infelizmente, este projeto nunca saiu do papel, sendo publicado como livro dez anos depois. Não perdeu suas características originais. É dividido em cenas (253 no total), que possuem não só diálogos dos personagens, mas as posições das câmeras, descrições de cenário e figurino, etc. Também se passa entre os anos de 1575 à 1590 e relata desde a chegada dos jesuítas as terras de Del’rey , até a sangrenta guerra justa.

As duas obras possuem um grande valor, ao apresentarem aos seus leitores, de forma clara e competente, um pouco da História da Colonização de Sergipe, mas, infelizmente, são desconhecidas de grande parte da população. Aos responsáveis pela difusão da educação em nosso estado, a missão de apresentar aos demais a nossa História é fundamental, não deixando que esta permaneça em segundo plano.

Talita Emily Fontes da Silva é bolsista PET-História e graduanda em História pela UFS. O artigo integra as colaborações à coluna do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/CNPQ/UFS).

Fotos e texto reproduzidos do site: infonet.com.br/educacao

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, em 13 de agosto de 2013;