quinta-feira, 23 de abril de 2015

Memória de Post da página do Facebook/GrupoMTéSERGIPE

Amaral Cavalcante.

(Crônica antiga, com intervenções de Marcelo Déda e Jozailto Lima)

O jornalista Zeca Déda

. Ele publicou no seu jornal “A Semana” o meu primeiro poema, “Elegia a Cristina”, dedicado a uma menina fatalmente morta pelo irmão que brincava com uma espingarda. Doloroso poema juvenil meio que plagiado dos grandes sonetistas que nutriam minha incipiente criatividade, numa antologia de cabeceira. Era a coletânia “Os mais Belos poemas de Amor” organizada por J.G. de Araújo Jorge que me fora presenteada, aos 16 anos, por mamãe Corina. Foi o meu primeiro sucesso literário.

O jornal “A semana” saía aos sábados. Cândida Candhão, arauto das fofocas municipais, chegou lá em casa de manhã com o jornal já recortado, transtornada e tilintando os berloques de ouro 14 nos peitões descomunais: - minha fia, que coisa linda! E toca a declamar pra Corina o trágico soneto que o filho dela, eu, tinha publicado no jornal, sobre a morte da menina, filha do prefeito Nelson Pinto.

Candhão viciou-me no aplauso e me consagrou poeta na freguesia de Simão Dias.

Mas pensa que foi fácil publicar no “A Semana”? Não com o casmurro Zeca Déda. Tinha oficina e escritório na Rua do Comércio, onde se abriam três portas. Minto! Uma delas, a do seu birô de chefe político estava sempre fechada. Quem quisesse entrar que arrodeasse. Lá dentro, um mundo incompreensível, mas fascinante: caixas tipográficas, a monstruosa prensa em seus claps claps , uma temerária guilhotina encostada na parede frontal e papéis, papéis derramados pelo chão. Eu costumava chegar de mansinho, moleque invisível, e ali ficava sem ser percebido, vendo aquele homem de faina diferente - o terno cáqui manchado de tinta - a comandar as doidas engrenagens. Não me via, nem nunca conversava comigo.
Um dia cheguei com o poema manuscrito e ele me disse:
- Vou publicar

Conquistar a aprovação daquele monstro sagrado, foi , para o menino encabulado que eu era, o maior incentivo que eu já encontrai na vida, afinal, o jornalista Zeca Déda era a maior expressão de cultura e dignidade intelectual da minha cidade.

O Grêmio Estudantil “Padre Mário Reis” do Ginásio Carvalho Neto, promoveu um Júri Simulado sobre Calabar e o Dr. Zeca Déda, indicou o filho, Arthur Oscar, recém formado bacharel, como seu opositor na tribuna. Era o velho rábula debicando da Academia.

Zeca Déda acusava o réu com brilhante e convincente oratória, justificada na história oficial, aqueles argumentos de traição à Coroa portuguesa dos compêndios escolares, enquanto Arthur Oscar defendia a opção política do Réu pela colonização holandesa.
Durou dois dias este embate entre aqueles titãns da oratória, mas Arthur tornou-se logo o ídolo da meninada descrente da história colegial e Calabar foi absolvido!

Eventos como este fizeram de Simão Dias um celeiro de inteligência.

Amaral Cavalcante- 2008

ADENDO:

Relendo “Retrato Diverso”, livro do poeta Jozailto Lima publicado em 2004, achei o poema “Litania Para um Avô Alheio”tratando do velho Zeca Déda, e bem melhor do que eu.
O danado do Jozailto recorreu à poesia – esta linguagem divina que eu persigo tanto – para revelar o avô cheirando a mato, o taciturno sertanejo que caçava tatus, conduzido por artes da política aos vórtices do poder, em Aracaju, onde fez história como Deputado Estadual.
É ler pra crer.

Litania para um avô alheio
Jozailto Lima
P/Marcelo Déda

Aracaju era longe, o fim do mundo.
Distância para Rural e Homens Grandes
Ousados, destemidos, capazes de enfrentar
Os dias, a fúria da lama e das tempestades.
Aracaju era longe, uma trilha para tropas e tropeiros.
Aracaju era uma marca na ansiedade da infância.

Aracaju era coisa pro avô enorme, sisudo,
Vindo da mata adentro de Paripiranga,
Que desafiava o pensamento, as montarias,
Que domava palavras, amava os livros, limava linotipos
E enfileirava informações do mundo vasto e distante.
Aracaju era coisa pro avô.
Que lavrava madeira e esculpia o universo em xilogravuras
Que envergava chapéu de feltro, capa preta
Era farto em afetos, na palavra, no nó do compromisso
Mas que escasseava em sorrisos e cumprimentos estranhos
-“Oh dona Martinha. Eu lhe dei boa tarde? Então desconsidere”-

Aracaju era uma coisa pro avô-coragem
Aracaju era coisa pro avô que se perdia
No mato ermo, na flora esconsa, na caça demorada
Que abatia os veados e destranhava os tatus
Num tempo em que abater veados e tatus
Não tinha correlação nenhuma com o politicamente incorreto.

Aracaju, uma pradaria do avô que distribuía tinta e papel
E premiava com afagos às cabeças netos que produzissem
O desenho e a caricatura mais exata na desaproximação.
Toda esta distância, toda a ansiedade de Aracaju encurtava
Na seda azul do papel e no cheiro da maçã que ainda
Hoje inunda toda Simão Dias e esta infância que insiste
Em não passar, como aquele avô vindo das matas
Paripiranguenses com o sobrenome dos Carvalhos.

Hoje Aracaju é tão perto, tão âmago do mundo,
Como aquele avô alheio que tantos trazem dentro de si.

Rerpáros de Marcelo Déda:

Rua Joviniano de Carvalho, também conhecida como Rua do Comércio, aquela que começava nos oitões do Cine Brasil e do Banco do Nordeste e terminava na Rua da Feira, na esquina guardada, de um lado pela gentil agiotagem de Elisa Montalvão e, do outro, pelos panos da loja de tecidos do seu Inocêncio, pai de Lauro, advogado que gostava de política e admirava meninos... A mesma do cartório do tio Sininho, onde Dadinha reinava entre certidões e processos. A rua do escritório de Dorinha, da funerária de seu Tota e da farmácia de Dr. Aguiar.
A famosa artéria onde, ao lado do escritório de Papai Zeca (era assim que os netos o chamavam), estava instalada uma das mais misteriosas casas da minha vida, a tenda de Tio João Déda, repleta de selas, arreios, rebenques e gibões; cheia de salas misteriosas onde o couro fedia e a cola de sapateiro impregnava o ambiente. Martelos, pregos, facas amoladíssimas e outros misteriosos apetrechos faziam companhia à figura hierática de do tio João - sempre vestido em mescla azul ou uniforme caqui, dono de malhada, montador cuja perícia na condução dos chamados "cavalos-de-passada", enchiam meus olhos de admiração.

Mesma rua onde fazia negócios com relógios e jóias o único estrangeiro de Simão Dias, o italiano Cezário, onde minha tia Didi comprou, em longuíssimas prestações, o meu primeiro relógio. Também nela a loja "Três Américas", magazin sortido de um tudo, pertencente ao seu Cícero Guerra, de balcões envidraçados e uma gravura, quase um pôster, pendurado em estratégica posição, reproduzindo todas as bandeiras do continente americano, cravadas no globo terrestre sob a consigna - As três Américas, unidas, vencerão!

Perto do escritório do velho Zeca, o "bunker" do PSD, partido que abrigava os seus correligionários sob as espirais de fumo holandês produzidas pelo cachimbo de Dr. Celso. No centro, pendurado às vigas do telhado, pendia um jacaré empalhado, réptil que traduzia no seu nome o batismo singular e endêmico dos partidários do Barão do Mercador (a maldade dos crocodilos liderados pelos Valadares, preferia chamá-lo de "Pavão" do Mercador).
Ainda, neste milagroso logradouro o armarinho de Edileuza, cujo nome me esqueço, onde comprava brinquedos e o bar do seu Abel, famoso alfaiate e também prefeito, que deputado ao meu lado nos anos 80, cuja tenda - era assim que se chamavam os estúdios e oficinas no meu tempo simãodiense - funcionava nos fundos.

E - como posso me esquecer? - nessa mesma rua, o açougue, construído nos anos 30, na operosa administração de Zeca Déda como Interventor da Cidade de Simão Dias. Pertinho dali, no mesmo lado da rua, o bar Vezúvio, pertencente a Nadinho, de comida farta e cheirosa trazida pela sua esposa, anjo de beleza rara que impunha respeito aos fregueses e ao lado dos filhos deixava claro que o ambiente era familiar. No mesmo local, antes, funcionara um frigorífico que me entusiasmava pela inovação mercadológica: peixes em amplos freezers - pertencia a Netônio de Quincas.

Pronto! É vocé puxar o fio que o novelo da minha infância se atira embriagado nos braços da minha memória de quase velho...

Marcelo Déda.

Postagem originária da página do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 21 de abril de 2015.

Orlando Dantas e D. Dulce

"Momento saudade: minha avó Dulce com o meu avô Orlando Dantas,
 que neste mes de abril completou 33 anos de morto". (Paulo Roberto Dantas Brandão).
Foto/Legenda reproduzidas do Facebook/Paulo Roberto Dantas Brandão.

Postagem originária da página do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 23 de abril de 2015.

Morre Durval Calazans


Morre Durval Calazans, ex-presidente do Banese e da Caixa Econômica Federal de Sergipe.
Pai de Max Calasans e tio de Pascoal Maynard, Fatima Maynard Santana e Joao Carlos Costa Maynard, todos membros do Grupo MTéSERGIPE.
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Infonet - Cidade - Noticias - 21/04/2015.

Morre Durval Calazans ex-presidente do Banese
Durval Calazans é tio do jornalista Pascoal Maynard

Faleceu em sua residência nesta terça-feira, dia 21, aos 87 anos, José Durval Freire Calazans. Durval Calazans já foi presidente do Banco do Estado de Sergipe (Banese) e superintendente da Caixa Econômica Federal. Durval Calazans é tio do jornalista Pascoal Maynard.

O corpo está sendo velado na OSAF da Rua Itaporanga e segundo familiares, o sepultamento acontece às 16h no Cemitério Santa Isabel, centro da capital.

Por Aisla Vasconcelos.
Foto: Arquivo Infonet.

Texto e imagem reproduzidos do site: infonet.com.br/cidade

Postagem originária da página do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 21 de abril de 2015.

terça-feira, 14 de abril de 2015

A Parada Que Parou


Publicado originalmente no Facebook/Fan Page/Petrônio Gomes.

A Parada Que Parou.
Por Petrônio Gomes.

Quando para cá voltamos, nossos filhos primeiros eram pequeninos, naquela idade em que sempre aparecem maravilhosos em qualquer fotografia. Olhar velhos retratos é, para mim, uma alegria e, ao mesmo tempo, uma prova difícil para o meu temperamento, que me faz rir e chorar por dentro, muitas vezes sem que ninguém perceba.

Em uma dessas fotografias, aparece nosso primeiro filho, Ricardo, hoje nos braços de Deus, por ocasião de uma festividade no Jardim de Infância. Não posso ouvir falar em “Jardim de Infância” sem que me venha à mente o nosso Jardim, fundado pelo General Maynard, um gracioso conjunto de chalés em pleno coração da cidade, com área para o recreio e salas para os “estudos” da petizada...

Um Jardim de Infância é, na verdade, o colégio mais importante para os nossos filhos. Lá se ensina a matéria mais difícil, aquela de que iremos precisar até o fim dos nossos dias, e que nos é ensinada através dos brinquedos e dos abraços de mãe, o equipamento profissional de todas as suas professoras. Essa matéria chama-se "convivência" e o aproveitamento deverá sair através das brincadeiras, das brigas infantis, da paciência de quem está também começando a ensinar a partir da raiz de cada alma.

Era a diretora do Jardim a saudosa “Bebé Tiúba”, a quem entregamos o cuidado de nossos dois primeiros filhos. E foi no dia da Independência, 7 de Setembro de 1957, que Bebé ganhou o espaço da manhã para exibir o patriotismo dos seus pequeninos alunos, pois nesse tempo o desfile dos meninos do Jardim de Infância costumava abrir as comemorações do dia da Pátria.

Muito cedo, antes das oito horas, já havia a luta começado. Dezenas e dezenas de mamães, dezenas de professoras, unidas e solidárias pelo trabalho insano, haviam conseguido reunir a meninada na rua de Pacatuba. A banda da Polícia Militar, submetida aos mais drásticos dos sofrimentos, esperava, com paciência indescritível, a ordem de atacar o dobrado militar.

Bebé arranjou um carneiro, não sei de onde, e fez dele a mascote da parada do Jardim, que era conduzido por um pirralho que nada entendia de Independência nem da razão pela qual fora designado a introduzir o desfile do Jardim.

Poucos minutos antes da parada, ainda havia garotos chorando, garotos pedindo merenda, garotos querendo voltar para casa. As mães iam e vinham, as professoras iam e voltavam, os soldados da banda enxugavam o suor do rosto, finalmente, puseram-se em marcha. A banda da Polícia Militar atacou o “Cisne Branco”, em compasso consentâneo com os passos infantis e com a ajuda displicente do carneiro, todo fantasiado de verde e amarelo, que comandava o pelotão principal.

As crianças saíram do Jardim, seguidas pelas mães, que também desfilavam nas calçadas, de um lado para o outro, ansiosas, trazendo sacolas de merendas, de roupas para a troca de emergência, olhos fitos nos respectivos pimpolhos. Desceram pela rua de Pacatuba e seguiram para a Praça Fausto Cardoso, para a grande exibição junto ao palanque do Dr. Leandro Maciel, o então governador do Estado.

O carneiro seguia de cabeça baixa, resignado, com suas fitas auriverdes no pescoço felpudo. Mas assim que alcançaram a praça Fausto Cardoso, aconteceu o inevitável. Ora, o carneiro estava habituado a comer a grama verde da praça Camerino, exatamente àquela hora da manhã. Quando ele olhou para a direita e avistou o relvado da praça Fausto Cardoso, muito mais verde, muito mais apetitoso, ele baixou a cabeça e sem se lembrar da data magna da pátria, marchou para a direita, em direção ao suculento prato que estava à vista, obrigando o pirralho que o conduzia a correr também. Os garotos do primeiro pelotão, todos de bicicleta, acompanharam o carneiro, enquanto as mamães e as professoras atiravam os braços para os céus e Bebé Tiúba, aflita, não sabia a quem pedir desculpas pelo fracasso de sua participação nos festejos de nossa Independência...

Mas o que se seguiu foi a risada do governador do Estado, lá do alto da sacada, aplaudindo a desibinição maravilhosa dos meninos, num espetáculo de doce espontaneidade, que conseguiu quebrar o frio protocolo e trazer à tona o que de mais puro existe em todos os corações.

Foi a “parada” mais saborosa, mais patriótica que já vi na minha vida. Só não sei, até hoje, de onde veio aquele carneiro, que preferiu o verde verdadeiro da grama dos jardins ao verde das fitas que lhe amarraram ao pescoço...

Foto e texto reproduzidos do Facebook/Fan Page/Petrônio Gomes.

Postagem originária da página do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 13 de abril de 2015.

Homenagem a Zelita Correia

"Zelita Correia, advogada, promotora de justiça, militante histórica da liberdade em Sergipe. Um mulher muito acima do seu tempo, solidária, ativa, carregando sempre as bandeiras da cidadania. Minhas homenagens e o meu eterno respeito". (Antônio Samarone).

Foto e Legenda: Antônio Samarone.
Reproduzidas do Facebook/Linha do Tempo/Antonio Samarone.

Postagem originária da página do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 11 de abril de 2015.

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Homenagem ao jornalista e escritor João Oliva

"Aos 92 anos, um dos dois decanos da imprensa sergipana (o outro é José Eugênio de Jesus) e imortal da Academia Sergipana de Letras o velho jornalista João Oliva continua na ativa, revendo sua longa produção, escrevendo, e ainda cheio de projetos. E, naturalmente ensinando-nos sempre. Meu pai e meu mestre, na sua biblioteca e gabinete de trabalho lê textos que escreveu ha quase meio século e que, no entanto, mantém-se atuais nas idéias e criticas". (Luiz Eduardo Oliva).

Foto e Legenda: Luiz Eduardo Oliva.
Reproduzidas do Facebook/Linha do Tempo/Luiz Eduardo Oliva.

Postagem originária da página do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 11 de abril de 2015.

sábado, 11 de abril de 2015

Sergival e as coisas do caçuá

Foto: Márcio Garcez

Infonet - Blog Luíz A. Barreto - 22/08/2005.

Sergival e as coisas do caçuá.
Por Luíz Antônio Barreto.

O folclore, marcado pela tradição universal, apropriada e ambientada para dar visibilidade geográfica as comunidades subalternas, contraponto das classes dominantes, tem sido lembrado nestes dias que antecederam e procederam ao 22 de agosto, data simbólica, desde que apareceu pela primeira vez, na segunda metade do século XIX, significando cultura do povo. O conceito não ia além da tradução das palavras folk, como povo, e lore, como sabedoria, mas as coletas e edições tinham, aquele tempo, já muitos títulos.

A velha poesia de tradição oral da Escócia, da Inglaterra e da Alemanha ganharam antologias, publicadas como testemunho de velhas tradições, mantidas entre os povos de origem e disseminadas para outros povos, a partir da expansão cartográfica que as viagens dos mareantes espanhóis e portugueses empreenderam para a descoberta do Novo Mundo. Coube aos irmâos Grimm transformarem as poesias populares em prosa, em contos ou estórias que ganharam o mundo, universalizadas na memória dos povos.

Gonçalo Fernandes Trancoso com seus Contos e Estórias de Proveito e Exemplo, livro de 1575, pode ser considerado um dos autores pioneiros das tradições narrativas em língua portuguesa e no Brasil seu nome passou a significar todo o universo popular, ainda que as estórias de sua autoria não tenham ficado no repertório social do Brasil. Celso de Magalhães e Silvio Romero (Lagarto, 1851 – Rio de Janeiro, 1914) na década de 1870, iniciaram as primeiras coletas das tradições brasileiras. Magalhães pesquisou os romances do Maranhão, enquanto Silvio Romero ampliou o horizonte das suas pesquisas, coletando romances, cantos, contos, folhetos de cordel, folguedos, danças, que estão em sua vasta bibliografia. Não havia, contudo, conceito claro do que era folclore. A pesquisa precedeu, em muito, a formulação teórica que destacou, na história da cultura brasileira, o vasto campo das tradições populares e das manifestações de cultura popular dos próprios brasileiros.

Outro sergipano, João Ribeiro (Laranjeiras, 1860 – Rio de Janeiro, 1934) ministrou um Curso de Folclore, em 1913, na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro e estabeleceu fundamentos teóricos e um conceito que permaneceu válido por algumas décadas. Para o mestre Folclore é a concepção do mundo e da vida, pelo povo. Antonio Gramsci, anos depois, ampliou o conceito, identificando o povo como classes subalternas, instrumentais, em oposição às classes oficiais, dominantes, hegemônicas. A discussão tomou outro rumo apenas em 1951, quando da realização do I Congresso Brasileiro de Folclore, ao ensejo do Centenário de Nascimento de Sílvio Romero. Os congressistas entenderam que o povo tinha modos próprios de sentir e de agir, que deveriam ser considerados como essenciais às suas criações culturais. O Congresso de 1954 em Buenos Aires, que contou com representação brasileira, consolidou o entendimento, orientando autores como Luiz da Câmara Cascudo, para quem o folclore tinha como características o anonimato, a oralidade, a persistência e a antigüidade, Renato Almeida, que apontava a espontaneidade como característica e Edison Carneiro, que chamou a atenção para a dinâmica dos fatos folclóricos.

Faltou dizer que mestres universitários e executivos da ONU, através do Instituto Brasileiro de Educação, Ciência e Cultura (IBECC), tinham o folclore na conta de um antídoto para as guerras e que poderia servir de mediação entre as comunidades nacionais e internacionais. Por isto mesmo foi criada a Comissão Nacional de Folclore, junto ao IBECC, animando as festas e promovendo as tradições nacionais no Brasil, ramificadndo a CNF com as Comissões estaduais, que reuniam estudiosos e militantes da causa da tradição cultural. A parte referente a criação própria, com história e geografia nossas, ficava sem pesquisa e sem interpretação. Os pesquisadores andavam muito em busca de um texto de romance, de conto, de qualquer cantiga, mas não davam bolas para aquilo que o povo, diariamente, criava, fazendo da própria vida o enredo para suas criações. A cultura popular, diferentemente do folclore, carece ainda de ampla coleta e identificação, para que seu repertório possa também sobreviver, ao lado do grande acervo de tradições. Alguns artistas, como Antonio Nóbrega, fazem esforços para que folclore e cultura popular tinturem suas artes, dando vida e alma ao que é feito em nome da cultura.

Vários outros, no passado, como Jararaca, Manezinho Araújo, Augusto Calheiros, recolheram emboladas, diretamente da voz do povo, e com elas fizeram grande sucesso. Luiz Gonzaga, o maior dos artistas brasileiros, pela genuinidade, tem cheiro e tudo o mais da gente brasileira do Nordeste.

Sergival fez nome entre os artistas sergipanos quando ainda era percussionista e parceiro de Sena, formando uma dupla de sucesso em Aracaju. Passando a cuidar da carreira solo percorreu, sem pressa, os caminhos que o levaram ao popular, sem descuidar, contudo, da formação intelectual, indo buscar na Academia Sergipana de Letras, como integrante do MAC – Movimento de Apoio Acadêmico Antonio Garcia Filho, uma ilustração intelectual.

Tomando o caçuá das feiras, vestindo-se como os brincantes, soltando a voz que poucos conheciam, Sergival começou a aparecer, sempre ao lado de músicos, artistas populares, dando forma a uma performance bem ao gosto do povo. A fórmula deu certo e consagrou o artista, que canta, toca pandeiro e outros instrumentos, dança, recita, revisita a saga popular com fidelidade de expressão.

O CD Sergival e as coisas do caçuá é bem um mostruário, partilhado com outros artistas da sergipanidade, como Léo Mittaráquis, Ismar Barreto, João Silva Franco, o João Sapateiro, Antonio Carlos du Aracaju e os Aboiadores de Porto da Folha, Mingo Santana, Marcos Guedes, Mestre Sabau, que pega na fonte o eixo estético da lúdica sergipana, tornando-o, no melhor estilo, expressões legítimas da arte e da cultura. Sergival conta, ainda, com a genialidade de Dominguinhos, adornando os motivos do CD.

Sergival e as coisas do caçuá é um pedaço sincero e surpreendente da arte e da cultura de Sergipe e do povo sergipano. Uma nova estrada que vale a pena seguir, como exercício de linguagem, identificada com o lastro popular que marca a vida do povo.

Texto e foto reproduzidos do site: infonet.com.br/luisantoniobarreto

Fonte "Pesquise - Pesquisa de Sergipe / InfoNet".
Contatos: institutotobiasbarreto@infonet.com.br.

Postagem originária da página do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 9 de Abril de 2015.

João Pires Wynne


Infonet - Blog Luíz A. Barreto - 05/09/2005.

João Pires Wynne.
Por Luiz Antônio Barreto.

Descendente de uma autoridade consular estabelecida em Maruim, João Pires Wynne nasceu em Riachuelo em 5 de setembro de 1905. Jornalista, poeta, participou intensamente da vida cultural sergipana, assinando a ata de fundação da Academia Sergipana de Letras, em 1º de julho de 1929, ocupando a cadeira cujo patrono é o poeta João Pereira Barreto.

Parnasiano como Clodoaldo de Alencar e como Freire Ribeiro, Pires Wynne formou com os dois poetas um grupo de resistência ao modernismo de José Maria Fontes, ao engajamento social de José Sampaio e ao orfismo de Santo Souza. Os três, com presenças freqüentes nos jornais e com publicações em livro de suas produções, sobreviveram e conquistaram lugar na história da literatura sergipana.

Durante algum tempo João Pires Wynne viveu fora de Sergipe, colaborando em jornais do Rio de Janeiro e de São Paulo, travando contato com o mundo intelectual daqueles centros. Jackson de Figueiredo, pensador e combatente intelectual sergipano, radicado no Rio de Janeiro, estimulou João Pires Wynne. Voltando a Aracaju militou como advogado, exerceu mandato de vereador e candidatou-se, em 1958, a deputado estadual, pela UDN, partido ao qual servia como espécie de consultor. Era homem de expor suas posições, sem temor de qualquer reação, chegando algumas vezes a provocar seus presumíveis desafetos.

Exerceu a crítica, publicando Castro Alves – síntese da vida e da obra do poeta; Vulto que Fica (sobre Pereira Barreto); Risonhos e Rebeldes; Os rumos filosóficos do pensamento de Fausto Cardoso. Como poeta escreveu Caiacan e Flores da terra e dos céus – sonetos. Incursionou pela pesquisa histórica, publicando Holandeses na Bahia; Um Capítulo da história política e militar do Império; e Novos rumos da história. A partir de 1972 publicou os dois volumes da sua História de Sergipe, na Editora Pongetti, do Rio de Janeiro. A obra, dividida em recortes de tempo entre 1575 e 1930, 1º volume, e 1930-1972, 2º volume, apareceu para ser, como disse o autor, “uma síntese crítica da vida social, econômica e política de Sergipe.”

A História de Sergipe de Pires Wynne tem alguns defeitos, mas tem a qualidade de atualizar as fontes, fazendo o registro dos períodos dos Governadores do Estado, contando com o testemunho do próprio autor, que viveu dois terços do século XX e manteve interesse permanente pelos fatos. Logo após o golpe militar de 1964 Pires Wynne fez conferência neste auditório do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, manifestando sua adesão, revelando, para surpresa dos ouvintes, que na hipótese da vitória do presidente João Goulart, que liderava a sociedade em torno das reformas de base, ele seria em Sergipe a primeira vítima dos comunistas e seus aliados.

Os volumes da História de Sergipe continuam sendo requeridos pelos pesquisadores, sem qualquer preconceito. O pioneirismo dos trabalhos de Pires Wynne e de Acrísio Torres Araújo vence as resistências, permitindo arrolá-los na historiografia sergipana, como contribuições valiosas, que ajudam na compreensão dos fatos. O Centenário de Nascimento de João Pires Wynne justifica a reedição dos dois volumes da História de Sergipe, que contam com mais de 30 anos de publicados.

João Pires Wynne tornou-se figura conhecida da noite aracajuana, com seus óculos pesados, de lentes esverdeadas, parecendo combinar com os ternos escuros, de fazendas grossas, de talhe bem acabado. Viveu como celibatário, apesar de notívago, percorrendo bares e boates, ao lado do amigo Floriano Valente, hoteleiro do Hotel Avenida, na avenida Rio Branco, e cantor. Morando no Hotel Marozzi, na rua de João Pessoa, 320, onde também moraram o desembargador Enock Santiago, Monsenhor Doutor Alberto Bragança de Azevedo, saiu quando o hotel fechou suas portas, em 1965, mudando-se para o novo Hotel Paláce de Aracaju, na praça General Valadão, onde morava quando morreu, em 1974.

Um soneto de Pires Wynne:

Quando na luta já desfalecido
A minha alma se encontra e só me vejo,
Tu me surges, apontas-me a subida,
E falas e me inflamas com teu beijo.

E de novo, na luta, nesta vida,
Entre esperanças mil eu te festejo.
Em pós teus passos sigo-te, querida,
A alma plena de santo e de desejo.

Em pós teus passos – alma delirante,
Os tropeços vencendo vou sozinho,
Cavalheiro, cruzado e bandeirante.

Seguindo vou em busca desse vinho
Que de tão forte e bom mesmo distante
Me embriaga de amor pelo caminho.

Publicado na Revista da Academia
Sergipana de Letras, nº 7, julho de 1935

Texto e imagem reproduzidos do site: infonet.com.br/luisantoniobarreto

Fonte "Pesquise - Pesquisa de Sergipe / InfoNet".
Contatos: institutotobiasbarreto@infonet.com.br.

Postagem originária da página do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 9 de abril de 2015.

As Religiões e a Paz - Arnóbio Patrício de Melo

Foto: Márcio Dantas.
Reproduzida do site: institutomarcelodeda.com.br

Infonet - Blog Luíz A. Barreto - 10/09/2005.

As Religiões e a Paz - Arnóbio Patrício de Melo
Por Luíz Antônio Barreto.

Viveram em Sergipe vários padres ilustres, intelectuais respeitáveis, aclimatados ao ambiente cultural do Estado. Desde os tempos da colonização que jesuítas, carmelitas, franciscanos, procedentes de vários países da Europa deram contribuição ainda hoje lembrada, a começar por Gaspar Lourenço e João Salonio, que catequisaram os indígenas em 1575. De lá para cá, ao longo da história, estabeleceram povoações, deixaram marcas efetivas de suas presenças como pastores e predicadores em São Cristovão, em Japaratuba, em Pacatuba, em Itaporanga, Porto da Folha, Frei Paulo e muitos outros pontos do território sergipano, incorporados ao modo de ser local.

A criação da Diocese, em 1910, que trouxe um bispo nascido no Rio Grande do Norte – Dom José Tomaz Gomes da Silva -, abriu novas perspectivas para o clero, com o funcionamento do Seminário Sagrado Coração de Jesus, formando os chamados “padres de Dom José.” Um deles, alagoano de nascimento, Avelar Brandão Vilela, terminou sua carreira religiosa como Arcebispo da Bahia e Primaz do Brasil. Dom Avelar, ordenado em Aracaju, onde exerceu o sacerdócio e foi influente líder, participando da vida católica e cultural sergipana, pode ser considerado um dos símbolos dessas presenças.

Com a criação da Província Eclesiástica de Sergipe, transformando a Diocese em Arquidiocese e criando as Dioceses de Estância e de Propriá, Sergipe conviveu com D. José Vicente Távora, cearense de família ilustre, aqui amado como se fosse um sergipano. Para Estância veio o cearense Dom Coutinho e para Propriá o mineiro Dom José Brandão de Castro. O Bispo de Propriá tornou-se, por sua luta em favor dos trabalhadores sem terra, dos parceleiros do arroz, dos remanescentes Xocó da Ilha de São Pedro, uma referência dos movimentos sociais, valendo-se da bagagem intelectual para dar ampla dimensão ao seu trabalho pastoral.

Na esteira de outros padres, como o gaúcho Dom Mário de Miranda Vilas Boas e os sergipanos Domingos Fonseca, Carlos Camélio Costa , José Augusto da Rocha Lima e Dom Luciano José Cabral Duarte, Dom Brandão foi eleito para a Academia Sergipana de Letras, pondo em relevo sua obra literária, jornalística, panfletária, dedicada as causas que ardorosamente abraçava.
A Diocese de Propriá atraiu padres estrangeiros, com Gerard e Etiene, em Japaratuba, dentre outros, e frades nordestinos como Frei Enoque Salvador, prefeito, como Gerard Olivier, renovando o clero para as tarefas avolumadas pelas orientações do agiordianamento do Concílio Vaticano II. Uma igreja com opção preferencial pelos pobres, avalizando as lutas das massas fracas e algumas vezes oprimidas, para a sobrevivência digna.

Diversos outros sacerdotes viveram e ainda vivem em Sergipe e dão contribuição sempre louvada. Um deles - Arnóbio Patrício de Melo, pernambucano, sergipanizado em mais de três décadas de participação na vida de Aracaju, tanto como pároco, quanto como professor e como político. Foi vereador à Câmara Municipal de Aracaju por três legislaturas, sempre pelo Partido do Movimento Democrático Brasileiro, participou da administração municipal, uma vez como Diretor de Turismo, outra como Secretário de Educação, e mesmo quando foi afastado do cotidiano da igreja manteve-se fiel ao catolicismo, aos correligionários, como José Carlos Teixeira, aos amigos, e a Sergipe. Não quis mudar, voltar para Pernambuco, onde nasceu, ou para São Paulo onde foi ordenado padre, ou sair daqui para outro lugar qualquer. Resistiu bravamente e se tornou uma unanimidade no respeito e na admiração que os sergipanos, principalmente de Aracaju, lhe devotam.

Rotariano destacado, Arnóbio Patrício de Melo teve uma conferência, que pronunciou em Feira de Santana, na Bahia, publicada com o título de As Religiões e a Paz (Aracaju: Rotary Clube Aracaju Norte, 2003). É um texto de erudição, sem proselitismos, destinado a servir de base à reflexão sobre o fenômeno religioso, que acompanha a história humana. É, também, um texto de força didática, de leitura fácil e agradável, que não visa converter, mas convencer com argumentos que dão à religião funcões especiais, como a de prover a paz.

Quem conheceu o padre Arnóbio Patrício de Melo sabe da sua tolerância, da sua capacidade de argumentação, e das profundas bases de sua consciência moral, como homem de fé, como religioso, desdobradas nos seus trabalhos como professor, político, administrador, homem público. No Conselho Estadual de Educação sua palavra ponderada, sua abertura para a discussão do contraditório, deu oportunidades a que temas polêmicos fluissem e tramitassem calmamente, sem vencedores e sem vencidos.

Seu livro é uma contribuição de excelência, franca e clara, que fortelece crenças e congrega crentes, de forma ecumênica, consistente, objetiva, afirmando que “a base mais consciente, o ponto de apoio mais sólido da humanidade é a religião.” Ainda que a afirmativa possa gerar divergências de opinião, é com ela que ele dá o fecho de sua fé, evocando os cristãos dos primeiros tempos do cristianismo, diante das perseguições e das dificuldades, cantando e repetindo: “Os homens se agitam, mas Deus os conduz.”

Para elaborar seu texto, o padre Arnóbio Patricío de Melo valeu-se de uma extensa bibliografia, abonando informações históricas, conceitos, tendências, correntes que animam o debate religioso. Trata-se, enfim, de um texto elucidador, que deve ser lido por todos e divulgado como uma contribuição intelectual de um sacerdote que deu a Sergipe o que de melhor sua força, inteligência e consciência política produzem. Sua obra social, na Paróquia de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, do Conjunto Orlando Dantas, ou no bairro José Conrado de Araújo, já é conhecida e reconhecida.

Sua obra de intelectual, da qual As Religiões e a Paz é um belo exemplo, precisa chegar ao uso público, em todas as idades, como reflexo responsável de um velho militante que acredita no que é, no que pensa e no que faz.

Padre Arnóbio Patrício de Melo, nascido em 10 de junho de 1927, em Camucim de São Félix, Pernambuco, morreu em Aracaju, aos 78 anos, na manhã de 8 de setembro de 2005, sendo sepultado na própria igreja que exercia sua papel de vigário e líder de uma pastoral exemplar, a serviço da comunidade à qual dedicou os últimos anos de vida.

Texto reproduzido do site: infonet.com.br/luisantoniobarreto

Postagem originária da página do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 9 de abril de 2015.

Antigo casarão, sede do Museu do Homem Sergipano

Rua Estância, em Aracaju - Sergipe.
Foto reproduzida do blog: blogdojoaophellipe.blogspot.com.br

Postagem originária da página do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 9 de abril de 2015.

quinta-feira, 9 de abril de 2015

Jaime da Line


Jaime da Line

Aquele rapaz baforando num cachimbo o perfume aristocrático de um Half and Half no Bar do Vaqueiro, na Atalaia, década de setenta, era todo elegância e distinção. A fumaça achocolatada impunha-se ao cheiro dos escabeches, às caçarolas de siri mole, ao desodorante vencido dos garçons, e, sobretudo, aos detestáveis Avon da família ao lado.
Puf, puf... que odor classudo o carioca Jaime Costa nos trouxe, em sua primeira noite sergipana!

Fui eu quem o viu e, condoído da sua solidão inaugural, chamei-o para a nossa mesa.
Estávamos com o maestro Sérgio Boto comendo um aristocrático Parmegiane: eu, o imensurável Clinio Carvalho Guimarães com sua natural simpatia, o doce Tabaréu dedilhando nuvens e mais Rezende, dono da segunda voz. Tratava-se do “Quarteto Nossa Senhora do Perpétuo Socorro”, finesse da MPB local, prestigiadíssimo nas tertúlias litero musicais de então.

Jaime não se fez de rogado e atacou de Vinicius num terno vozeirão de seresta chic e, como se não bastasse, emendou com “Casa no Campo” de Sá e Guarabira, revelando-nos, então, sua bem nascida identidade e correto CPF musical. O cabra era dos nossos e isto bastou para que se chegasse.

Ele foi cuidar da vida com altiva responsabilidade, muito trabalho e ativa inteligência, dedicando-se á implantação da modernidade na área da publicidade, onde chegou a comandar uma das principais agências, a Line, com invejável portfólio de prêmios e importantes clientes. Casou-se com Mamália - uma bela mulher com aquele porte heráldico de condessa - sem nunca deixar de dedilhar o seu boêmio violão e de nos deleitar com o seu abençoado vozeirão.

Jaime da Line foi ficando por aqui, para a glória da nossa boemia saudável e a alegria dos que tinham bom gosto musical, colocando-se na história dessa Aracaju como um querido das gentes e cantando, como ninguém, as mais belas canções do nosso tempo.

Jaime sempre bebeu bem, mas só bebia em boas companhias. Sobre ele contam-se histórias fantásticas, umas reais, outras inventadas, e todas elas nascidas do prazer que as suas peripécias etílicas nos causava. Aqui ele moveu a roda da fortuna para cima e para baixo, mas nunca deixou de ser o tocador de “Casa no Campo”, seu primeiro apelido, concedido por nós naquela sua primeira noite sergipana, no saudoso Vaqueiro.

Dia desses eu me encontrei com ele. Ambos desesperadamente sóbrios e ele sem o seu precioso violão.

Mas eita, querido Jaime, que abraço bom!

Amaral Cavalcante – maio/2008.

Postagem originária da página do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 7 de abril de 2015.