quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Djalma: o seresteiro de Aracaju



Publicado originalmente no site Osmário Santos, em 26/05/2008.

Djalma: o seresteiro de Aracaju.
Por Osmário Santos.

Djalma Silva Oliveira nasceu a 26 de maio de 1942, na cidade de Boquim, Estado de Sergipe. Seus pais: Emístocles Souza de Oliveira e Maria da Glória Silva Oliveira.

O pai foi barbeiro e músico, tocava saxofone. Dele herdou, além da veia musical, a honestidade e o amor à música. “Era uma pessoa séria e de palavra”. Sua mãe era dedicada à casa, não tinha estudo, mas lia muito. “Era católica, sempre muito carinhosa e dela herdei o carinho e amor que ela dava a seus filhos”.

Da infância até os 18 anos, vive em sua querida Boquim, onde estuda o primário e o ginásio, na Escola Santa Teresinha. Não chega a concluir o 4º ano ginasial, deixando de lado os livros para a escola da vida. “Eu era moleque e jogava bola. Meu pai se desgostou porque perdi o ano e me colocou para trabalhar”.

Djalma em sua infância e juventude jogou muita bola com os amigos e aprendeu a tocar sax e violão.

Seu primeiro emprego foi tesoureiro da Prefeitura de Boquim nos anos 60. O prefeito da época, Jacomíldes Barreto, arranjou-lhe o emprego quando tinha seus 18 anos. Não dura muito tempo no trabalho em vista da sua convocação para servir o Exército Brasileiro por ter chegado na idade de atender o Alistamento Militar.

Parte para Aracaju e passa a fazer parte da tropa do Batalhão Campo Grande – 28º Batalhão de Caçadores. “Eu era magrinho e amarelo e lá meu número era 166. Aprendi a ter disciplina e a lavar panela. Areava os panelões direitinho. Também paguei muito mico. Apresentava-me ao oficial e depois de prestar a devida continência logo dizia que estava ali presente para atender seu chamado, tal como tinha sido comunicado por um colega mais adiantando. Nada disso era verdade” (risos e mais risos).

Ao término do rapazote e já preparado pela boa formação militar recebida no Batalhão Campo Grande que muito reconhece, decide morar em Aracaju na casa de seu irmão Dermeval Souza, músico e sargento da polícia. É a partir daí onde começa suas noitadas musicais. Seu irmão lhe dá enorme apoio. Djalma se arrisca e passa a sobreviver somente da música.

A música permeia sua vida desde a infância por influência de seu pai tocando saxofone. Entretanto, seu primeiro contato com os instrumentos aconteceu de 14 a 15 anos de idade. O pai tocava em seus dois saxofones músicas brasileiras antigas. Entusiasmado pelo som musical e pelas letras das músicas, sempre estava a pegar em um dos sax para tentar soprar. Esforço fazia até demais, até que vibrou quando conseguiu um som estridente. “Daí por diante passei a ter mais gosto e me esforçar muito mais. Para tanto ficava atento às mãos e à maneira do meu pai tocar o instrumento e segui em frente”.

Sua primeira apresentação pública foi em um baile em Boquim, com presença de toda sociedade local. Uma noite que até hoje povoa sua mente. “Edvaldo Medeiros, irmão do maestro Medeiros, tocava cavaquinho e tinha um grupo na época. Nós éramos amigos e ele, percebendo meu valor artístico, me deu espaço no seu grupo musical, que estava em seus primeiros momentos”.

Com a música, Djalma, já tocando violão ainda jovem, conquistava muitas garotas com sua seresta. “As garotas chegavam a abrir as janelas para me escutar, mas não mais que isso. Mas eu tinha medo de jogarem uma lata de água na cabeça da gente” (risos).

Em sua época para sobreviver de música, o seu irmão Dermeval propiciou oportunidade a tocar e cantar nos famosos cabarés de Aracaju, a exemplo do Miramar e Xangai. A estréia aconteceu no Miramar, em noite de grande movimento. “Cantava e tocava boleros, samba-canção, samba, músicas de Nelson Gonçalves, Orlando Silva e nisso foram muitos anos de trabalho”.

Sempre buscando melhorar sua aprendizagem musical, dedicou muito do seu tempo longe da noite para decorar letras e a toca.

Já enturmado no meio artístico sergipano, passa a tocar em Nino e seu conjunto que marcou época em Aracaju, mas antes, junto com Edidelson Andrade e Gravatinha, formam o Trio Aliança, onde seus integrantes tocavam e cantavam. Começaram tocando em circos mambembe e viajando pelas cidades do interior sergipano. “Sentíamos que estávamos agradando pois muitos eram os aplausos que recebíamos. No entanto, não soava bem aos nos nossos ouvidos quando éramos anunciados para a platéia. Respeitável público, o circo... tem o prazer e apresentar o Trio Aliançaaaaa! Sendo assim, resolvemos mudar o nome, pois não combinava com o perfil dos componentes. Daí passamos para Trio Atalaia e deu certo”.

A nova performance chega com um novo repertório, incluindo músicas de compositores sergipanos, entre eles Antônio Vilela, que presenteou o grupo com a sua canção Atalaia, que tanto sucesso fez no anos 60 e 70 em Aracaju. Com a chegada da rádio Atalaia, a música ganhou um bom reforço na sua divulgação e sempre com a voz do Trio Atalaia.

Djalma conta que tem muita saudade desse tempo, diante da constante presença do seu grupo nas emissoras de rádio e nos clubes sociais não só de Aracaju, como nas cidades do interior, como Propriá, Estância e outras. Emociona-se ao voltar ao passado diante das memoráveis apresentações nos clubes sociais que na época movimentavam a sociedade sergipana com boas programações. Sempre estava a cantar e a tocar na Associação Atlética, Iate Clube, Vasco, Cotinguiba, AABB e outros.

Ainda com o Trio Atalaia, a inesquecível viagem a São Paulo, quando os sergipanos se apresentaram no Programa Replay, de Ana Maria Braga, na extinta Tupi.

Muitos anos se passaram com o saudoso Trio Atalaia e por conta do salutar saudosismo Djalma não esquece de contar a apresentação que o trio fez na noite de São Paulo, precisamente na Boate Igrejinha, que era o point da época da capital paulista. Registra que significou muito essa apresentação as meninas sergipanas do Grupo Moendas. Lina e irmãs.

De sua passagem por Nino e seu conjunto, boas recordações dos companheiros de trabalho. Do Nino no órgão, Duda no baixo, Agnaldo na bateria, Djalma na guitarra e voz, e Carlos Augusto maestro no piano. Registra que a agenda de Nino e seu conjunto sempre estava cheio de compromissos musicais. “Tinha vez que chegávamos a tocar três festas num mesmo dia. Festa de formatura era com Nino e até mesmo as festas de São João na época de Alencar Filho na Atlética eram animadas pelo Nino e seu conjunto. Também tocamos na boate da Iara, nas festas de 15 anos, até que Nino resolveu ir para a Bahia e o grupo se desfez, deixando saudades”.

Faz rasgados elogios à voz de Edidelson Andrade, parceiro de muitos anos nos trios Aliança e Atalaia.

O Djalma seresteiro começa a entrar em ação. Em 1963 toca no Bar e Restaurante 315, do inesquecível Augusto Cabral e que abrigava na noite os boêmios e artistas de Aracaju, diante da sua boa comida e música ao vivo de voz e violão, e isso todos os dias. O bar funcionava em frente à antiga rodoviária.

Djalma diz que tocou muito nas noites de final de semana no Hotel Beira Mar em sua fase gloriosa, que reunia o melhor da sociedade sergipana em sua área na proximidade da piscina. Já cantou com Carnera e Antônio Teles, seu grande companheiro de noitadas. A seresta é a sua marca. Já tocou em tudo que é bar e cantou na noite de Aracaju. Passou pelo antigo Vaqueiro, pela Boate Segredo, da Atlética. Também tocou no Cacique Chá, no clube da Fugase, no Cantuá e haja lugar. Todos locais para apreciação da boa música do seresteiro Djalma.
Em muitos carnavais Djalma deu o ar da graça tocando saxofone e cantando as marchas dos velhos tempos. Nos tempos áureos do bar e restaurante Iemanjá, presença de Djalma.

Diz que o advogado José Augusto Lobão, seu amigo, tinha uma casa de seresta e Djalma também compartilha com sua veia artística. Posteriormente assume a casa de seresta, que a partir daí passar e ser chamada de Djalma e que resistiu a muitos anos. Registra que sua maior lembrança como seresteiro é ter feito parte do Trio Atalaia.

Djalma passa um bom tempo parado e sem tocar. Diante dos encontros da vida, eis que aparece o amigo, conhecido como professor Ludwing, e Jorge, para um empurrãozinho, e hoje está com um show marcado: “A Volta do Boêmio”, que vai acontecer no próximo dia 30, a partir das 22h, no BNB na Atalaia. Será um show-baile. Além de Djalma, Suzana Walois e convidados e mais a banda Hit Parade.

Djalma casou-se com Edilma Andrade e pela segunda vez com Ruth. É pai de Djalma, Denise, Edilene, Djanice e Railson.

Sente-se realizado como músico e diz: “Se houver outra vida, que acredito que sim, quero ser músico novamente”. Seu grande sonho é gravar um DVD. Encerra seu depoimento para a história da música em Sergipe em clima de emoção. “Eu digo que viver de música é ser um herói e com muita fé em Deus”.

Texto reproduzido do site: usuarioweb.infonet.com.br/~osmario

Postagem originária do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 10 de fevereiro de 2016.

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