segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

A vida de Júlio Prado Vasconcelos

Imagem para ilustração de artigo, postada pelo Grupo do Facebook/MTéSERGIPE.
Prédio da Loja de Julio Prado, na Rua Santa Rosa.
Foto reproduzida do site:misscheck-in.com

Publicado originalmente pelo site Osmário Santos, 21/12/2002

A vida de Júlio Prado Vasconcelos
Patrimônio do comércio de Sergipe...

Osmário Santos/Da equipe JC.

Júlio Prado Vasconcelos, nasceu em 23 de abril de 1908, na cidade de Riachuelo/SE. Seus pais: João Batista Vasconcelos e Mariana Prado Vasconcelos. O pai era proprietário da Fazenda Carretão, uma pequena propriedade que tinha metade da terra fraca, pouco gado e uma plantação de cana, não muito grande. Conseguiu manter seus 12 filhos através de transações comerciais. Conta o filho que grande parte dos seus negócios era da venda de escravos. “Quando veio a Abolição ele perdeu muito dinheiro”. Quando Júlio tinha um ano e seis meses de idade, o pai morreu, assumindo o comando da fazenda um dos tios. Sua mãe passou a morar dentro da cidade, criando os filhos com dificuldade, através de renda da Fazenda. “Uma mulher que nasceu no sertão, boa cabeça, leitura admirável, muita raça, que compreendia tudo, sendo muito inteligente”. Na cidade de Riachuelo, Júlio Prado teve os momentos de uma infância de menino pobre.

Com oito anos de idade tomou a iniciativa de ajudar no comércio o irmão Etelvino Prado Vasconcelos, que tinha um armazém de secos e molhados, localizado na praça da feira de Riachuelo. Estudando pela manhã trabalhando pela tarde, o menino Júlio não teve tempo para desfrutar das brincadeiras da infância. Já rapaz, teve intenção de ir para o Rio de Janeiro, sem compromisso, em busca de aventura. Os irmãos Etelvino, Zeca e Reizinho eram proprietários de lojas em Riachuelo. Com Reizinho, Júlio conquistou o primeiro emprego remunerado. Com Etelvino, deu muito duro, chegando até a trabalhar na padaria que o irmão tinha em Riachuelo. “Me levantava às quatro da manhã, para bater forno. Gostava de fazer pão”.

No dia em que o irmão Etelvino deixava Riachuelo para fazer compras em Aracaju, Júlio fazia a festa, comendo goiabada do estoque da loja. Comia até se fartar e depois escondia as latas das goiabadas consumidas no forro da padaria. “Comia com Zeca, meu irmão. Era uma goiabada danada de gostosa. Ficava melhor com uns goles de gasosa”.
Como os negócios prosperaram, o irmão Etelvino resolveu investir na capital do Estado, montando um armazém de secos e molhados na rua de São Cristóvão, esquina com Beco do Açúcar (Travessa Municipal) e convidou Júlio para participar desse novo empreendimento, mas desta vez com remuneração.

Júlio Prado Vasconcelos chega a Aracaju no ano de 1927. Com pouco mais de um ano, montava seu primeiro estabelecimento comercial na rua de Santa Rosa, próximo da José do Prado Franco. Era chegada a vez de usar o capital que sua mãe tinha destinado para que todos os filhos pudessem montar seus negócios. O capital passou por todos os filhos. Um se estabelecia e, quando podia, passava para o outro. Eu fui o último que peguei. Quando o repórter perguntou: para quem passou o capital? Respondeu: já não tinha mais a quem passar (risos).

Com o nome de Armazém Prado, fundado no ano de 1928, vendendo secos e molhados, iniciava uma nova vida, atuando no comércio por conta própria, vendendo no atacado e varejo, pois, segundo ele, um agüenta o outro. Vendeu por muitos anos fiado, tendo como garantia apenas o nome do cliente num caderninho. Não tinha duplicata nem promissória e o compromisso era honrado no dia estabelecido. Muitos fregueses pagavam por semana, aproveitando a oportunidade para aumentar a conta. “Não cobrava juros e o conto de réis era respeitado”.

No início da vida de empresário, solteiro, participou de boas noitadas. Acompanhou toda a construção do Vaticano, cabaré que marcou época em Aracaju. “Quando cheguei na rua de Santa Rosa, José da Silva Ribeiro estava construindo o Vaticano. A intenção dele era fazer funcionar ali um hotel. A parte de baixo foi alugada por diversas pessoas, para lojas. Já em cima, não deu para alugar para hotel. Os salões bonitos foram alugados para cabaré. Era uma coisa de classe. Tinha conjunto musical e as lindíssimas mulheres vinham de fora. Vinham de trem e de navio, um verdadeiro luxo”.

Na oportunidade em que José da Silva Ribeiro trocou o prédio do Vaticano por algumas propriedades de João Cardoso do Nascimento (pai de João Cardoso ex-reitor da UFS), em Ilhéus/BA, as lojas do prédio do Vaticano foram vendidas aos inquilinos. O armazém de Júlio Prado, próspero, já estava na esquina de Santa Rosa com Beco dos Cocos, justamente no prédio do Vaticano, o melhor ponto comercial.

O período da Segunda Guerra, foi comercialmente bem aproveitado. Não só para ele, como para os demais comerciantes. “Tudo que comprava vendia”. No ano de 1958 sofreu um grande abalo, quando seu estabelecimento comercial foi destruído por um incêndio de grandes, iniciado na rua da Frente em uma outra firma que trabalhava com explosivos. “Estava em casa almoçando, quando Leite, do Banco Mercantil me telefonou, dizendo que estava tendo um incêndio na rua de Santa Rosa e que parecia que minha casa estava no meio. Então, saí e fui ver. Cheguei lá, vi muita destruição, mas parecia que o fogo tinha acalmado. Voltei em casa e disse: felizmente, minha loja escapou. Quando acabei de dizer isso, o rádio anunciou: acaba de cair o prédio do Sr. Júlio Vasconcelos. Nem precisa falar do grande susto que levei”.

O amigo José Calumby Barreto, cede um imóvel de sua propriedade na rua Santa Rosa para Júlio Vasconcelos retomar suas atividades comerciais. Com seis meses de luta, sem atrasar por um dia uma duplicata dos seus fornecedores, consegue reerguer seu estabelecimento, graças ao dinheiro de clientes de vendas a prazo, economias de 30 anos e o prêmio do seguro equivalente à metade do estoque que tinha no dia do sinistro.

Dos amigos do comércio sergipano, lembra os nomes de Constâncio Vieira, José Barreto, Benildes Araújo, Antônio Calumby Barreto, Mamede Paes Mendonça e João Carlos Mendonça. Com 66 anos de comércio nunca tirou férias, a não ser um dia em que resolveu tirar folga para saborear caldo de cana na fazenda de um amigo.

Na sua passagem pelo comércio de Aracaju, o registro de sua participação no Café Império. “O finado João Ouro tinha uma torrefação, mas não estava podendo mantê-la. Comprei a torrefação e resolvi adquirir um prédio na José do Prado Franco, para refinar açúcar e torrar café. Aí fundei o Café Império”.

Depois de uma intensa flertada numa terça-feira gorda de Carnaval, em plena rua João Pessoa, conquistou sua querida Marieta, indo ao altar em 7 de setembro de 1936. Do casamento, sete filhos: Gilda, Alba, Maurício, Raimundo (falecido), Marcos, José e Lica. É avô de treze netos e solta o riso, quando diz que tem três bisnetos.

Texto reproduzido do site: usuarioweb.infonet.com.br/~osmario

Postagem originária do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 30 de janeiro de 2016.

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