segunda-feira, 21 de julho de 2014

Memória de Post do MTéSERGIPE, de 17/07/2014.

Amaral Cavalcante.

(Que me releve este respeitável grupo, tão apolíneo e bem intencionado. mas este é um capítulo indelével da nossa história recente e, como tal, merece ser contado. Infeizmente, se não for por mim, por quem o será?).

De Bar em Bar:

Penetrando na Atlética

A noite começou daquelas. Dos degraus da catedral à Ponte do Imperador andamos, mais ou menos, umas vinte andadas pra lá e pra cá, colocando a cabeça em ordem.

- Vitório caiu! Os “home” fizeram um cerco na Praça da Bandeira, deram baculejo em tudo. Só sobrou uma    merrequinha com Mané Liamba.
- Mas eu tenho! Disse Harolno, catando no bolso uma berlota entrouxada.
- Vamos matar esta coisa que a noite vai ser massa!
Ai já assumia Waltinho, mestre apertador como não havia igual.

Éramos cinco, cada qual mais espalhafatoso. Eu mesmo, um jardim suspenso em tamanco de tábua e coro cru, calça florida de cordãozinho na cintura, bata de voal e farta bigodeira. Cabelo domado num rabo-de-cavalo, finalizado num tufo crespo, duro de conter. Melhorzinho só Evandro, já bancário do Banese, em gabardine e ban-lon. Popó, chinês e querendo mais, sobraçava a sua providencial maleta farmacológica, onde havia de um tudo: desde o xarope Romilar aos mais disputados comprimidos. Estávamos devidamente apetrechados.

Cruzávamos ene vezes a passarela da Sorveteria Iara com a maior cara cínica, imbuídos na sagrada missão de descolar uma coisa - que a noite ia ser massa!

E foi. Primeiro uma talagada de Pitu no Beco do Mijo, depois, uma festa de arrombar: os 15 anos de Maria Odília na Associação Atlética com a banda Los Guaranys e tudo de cima. O poréns é que só havia um convite, e assim mesmo, afanado. Dirigido a Meyre Bareto, por artes e ofícios foi parar nos pertences do seu mano Ismar.

Valeu pros cinco, depois de uma conversinha animada com o porteiro Geraldão, ali no beco.
Geraldo, um avantajado negão conhecido pelas suas malcriações eróticas, calhou que quedava a asa por um de nós. Ora! O que é que tem? Por uma noite massa, até que valeu a pena! Quem foi o encarregado da tramóia eu não digo, nem sob tortura.

Lá dentro, pura nata! Menininhas de longo e saltinhos colegiais, não paravam quietas. Por qualquer motivo atravessavam o salão arrufando os vastos panos em adeusinhos e pivôs. As mães, tilintando no peito berloques de um conto e tanto, gritavam:
- Lucila, se aquieta menina!
Já os pais, dando graças a Deus pela mesa que conseguiram alcançar, disfarçavam rogando praga:
- Tomara que escorregue e caia! Ou vinha, ou o mundo se acabava!

E lá estávamos nós empreitando os garçons, flanando no baile com a alegria peculiar dos penetras, comendo e bebendo sem gastar um puto. De repente, já era meia noite! A orquestra atacou um Danúbio Azul e eis que adentra o salão um bolo de três andares, com um beija-flor periclitando em cima.

Se eu tivesse juízo terminaria aqui esta história, sem falar de Rezende - o que de nós mais costumava aloprar. Não se sabe por que o rapaz não podia misturar gererê com chocolate. Ficava assim meio leso, cheirando o tempo como um perdigueiro e daí, era batata: lá vinha aprontação!

Rezende partiu para o bolo e atacou a primeira camada – um quarto era dele e o resto, dizia o doido, seria nosso. Catei chão e não achei. Waltinho, que explicava para o pai da debutante a cosmologia do Bhagavad Gitâ, só se deu conta depois que anteparou um sopapo nas fuças. E os outros, eu só os vi depois, já apertando outro fino debaixo de um frondoso oiti na Praça Camerino, rindo, não me ocorre de que.

Foi uma noite massa!

Amaral Cavalcante – fevereiro/2009.

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 17 de julho de 2014.

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