domingo, 23 de agosto de 2015

Folclore sergipano II



Folclore sergipano II
Por Luiz Antônio Barreto

Em 1977, quando a então Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro, dirigida por Bráulio do Nascimento, promoveu a pesquisa do Atlas Folclórico do Brasil o Estado de Sergipe foi o que mais apresentou grupos folclóricos sobreviventes: 220. Eram bandas de Zabumba, grupos de São Gonçalo, Reisado, Guerreiro, Cacumbí, Taieira, Maracatu, Pastoril, Candomblé ou Xangô, Chegança, Bacamarteiros, Samba de Coco, Samba de Aboio, Batucada, Pisa Pólvora, Batalhões, Parafusos, Cangaceiros, dentre muitos outros.

Os 220 grupos, que davam a Sergipe a condição de maior reserva folclórica do Brasil, estavam espalhados por quase todo o Estado e se apresentavam em períodos de festas, ou cumprindo promessas, como as Zabumbas quando acompanham procissão pedindo chuva, ou os grupos ligados ao calendário litúrgico, como os de Laranjeiras e os de Japaratuba.

Laranjeiras é, por excelência, a terra do folclore, com manifestações ligadas ao Catolicismo e aos cultos negros. Na Festa de Reis os grupos participam da Missa e da Procissão de São Benedito, desfilando pelas ruas sinuosas da cidade. Alguns grupos são do povoado Mussuca, onde parece estar a maior concentração, e de onde saem, todos os anos, o grupo do São Gonçalo, formado por homens, que vestem calças compridas cobertas com saiotes e com camisas cobertas de fitas, e o grupo do Samba de Parelha, com suas quadras, seus estribilhos e sua dança de coco. Outros grupos, de outros povoados, se somam aos de Laranjeiras para participarem da festa tradicional, uma das mais antigas de Sergipe.

Vários pesquisadores e escritores fizeram o registro do folclore laranjeirense, dentro do contexto sergipano, como Beatriz Góes Dantas, que a partir do estudo que fez da Taieira, ainda dirigida por Bilina, ampliou sua interpretação das danças ligadas ao ciclo de festas católicas de Laranjeiras. A professora estudou o São Gonçalo e a Chegança, à época comandada por Oscar, e que era um dos mais organizados grupos folclóricos do Estado. Beatriz Góes Dantas estudou a contribuição indígena, negra, e em seus livros estão os mais importantes registros antropológicos sergipanos.

Outro autor que tem dedicado parte de sua obra ao folclore é Jackson da Silva Lima, que publicou um volume de romances – O Romanceiro em Sergipe – e organizou uma extensa bibliografia folclórica, resgatando autores e títulos referenciais do folclore sergipano. Paulo Carvalho – Neto, recentemente falecido, é outro autor importante, cuja obra foi ampliada com suas participações nos Encontros Culturais de Laranjeiras. Carvalho Déda, de Simão Dias, autor de Brefaias e Burundangas do Folclore Sergipano, recentemente reeditado, é outro estudioso importante, cuja contribuição amplia bastante o conhecimento dos fatos folclóricos no Estado.

Autores como Felte Bezerra, Aglaé Fontes de Alencar, Núbia Marques, contribuíram para que a bibliografia sergipana de folclore ganhasse títulos importantes, que revelam a beleza e a variedade das danças, dos folguedos e da literatura oral. Outros aspectos da cultura popular, como a culinária e o artesanato, ganham também seus pesquisadores e intérpretes.

Desde 1976 que é realizado em Laranjeiras, durante o período da festa de Reis, o Encontro Cultural de Laranjeiras. O Encontro, que tem como tripé a pesquisa, o estudo e a divulgação do folclore, tem reunido especialistas de todo o País e alguns do exterior, todos interessados nas temáticas que anualmente são eleitas para estudo. Um levantamento feito por Bráulio do Nascimento, por ocasião dos 20 anos de Encontro, constatou-se que grande número de pesquisadores deram à bibliografia brasileira do folclore mais de 300 títulos novos, resultantes de conferências, comunicações, debates, e outras participações.

Assim como é possível reconhecer a contribuição que os Encontros Culturais de Laranjeiras têm dado ao Brasil, com sua bibliografia própria, se poderá dizer que Laranjeiras hoje é uma Escola de Folclore, reconhecida e respeitada por estudiosos e instituições ligadas à cultura popular do Brasil.

Os Encontros expõem e debatem temas folclóricos, com a mais absoluta liberdade de expressão, permitindo mudança nos conceitos e no entendimento do fato folclórico, e por isso mesmo renovando o aprendizado. Para aprofundar ainda mais os estudos foi criada a Jornada de Estudos da Cultura Medieval, convidando à participação especialistas dos Estados Unidos, da Itália, da Espanha, de Portugal, da França, e de várias partes do Brasil. Tanto os Encontros, como as Jornadas, tiveram parte do material editado em Anais.

O Artesanato, a Literatura de Cordel, a Medicina Popular, a Culinária, os Jogos Infantis, o Conto Popular, a Arte e a Educação, o Folclore Negro, a Música, a Dança e os Folguedos, foram alguns dos temas discutidos em Laranjeiras, enquanto era mostrado o folclore dos grupos, em cortejo pelas ruas e em apresentações especiais. Lambe Sujo e Caboclinhos, Taieira, com Maria de Lourdes, recentemente falecida, Reisado de Lalinha, com ela e depois dela encantar-se, Chegança, de Oscar e depois dele ter partido para a eternidade, o Cacumbi, e outros grupos locais deram as boas vindas para que Sergipe todo mostrasse a riqueza do seu folclore.

Texto reproduzido do site: sulanca.com/pesquisa
Foto reproduzida do site: palacioolimpiocampos.se.gov.br

Postagem originária da página do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 16 de agosto de 2015.

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