Publicado originalmente no Facebook/Lucio Prado Dias, em
11/03/2015.
Carta para Dr. Hyder.
Por Lúcio Prado Dias.
Aracaju, 10 de março de 2015.
Querido professor, confrade e amigo!
“Há um instinto de imortalidade na santidade. Aquele que
vive com Deus sabe que viverá para sempre” ( Dom Estevão Bittencourt ).
A Academia Sergipana de Medicina curva-se diante do seu
corpo inerte e seu pavilhão posta-se aos seus pés, em sinal de gratidão e
respeito.Rejubila-se com o seu espírito que agora habita os tabernáculos do
Senhor! Por entender a posição da Medicina na comunidade, você se tornou um
líder de sua classe e um modelo de médico.
Como médico pediatra, ao lado de Machado e Paulo Carvalho,
você foi um dos tripés da nossa Faculdade de Medicina tanto na sua fundação,
quando lecionou por quase dois anos sem nada receber pecuniariamente e depois
por longos anos com dedicação até a aposentadoria. Exerceu funções públicas com
responsabilidade, probidade e zelo.
A sua recordação da Gruta do Boqueirão, em Lavras da
Mangabeira, no Ceará, sua terra natal, encheu-nos de emoção quando o visitamos
na semana passada, na companhia dos confrades José Hamilton Maciel Silva,
Antônio Samarone, Anselmo Mariano Fontes e Geodete Batista, esses dois últimos
colegas de especialidade. Já acometido da insidiosa enfermidade, você nos
recebeu afetuosamente, denotando um humor e raciocínio apurados, apesar do
abatimento físico, ao lado da companheira de toda a vida, a sua querida Rosa.
Estávamos naquele momento diante de um homem de origem
humilde que, superando todas as dificuldades, constituiu uma sólida família em
terras sergipanas e atingiu os píndaros da glória profissional, como pediatra,
professor pioneiro da Faculdade de Medicina, empreendedor vitorioso, gestor
engajado, que na condição de chefe do Departamento de Saúde de Aracaju criou,
na década de 60, o primeiro centro de reidratação venosa do Nordeste
brasileiro, sendo também um dos fundadores da Sociedade Sergipana de Pediatria
e da Academia Sergipana de Medicina, da qual foi presidente, de 2001 a 2003 e
um dos seus mais atuantes membros.
Sentimo-nos gratificados em ver você presente, calmo, de bem
com a vida e a emoção que contagiou a todos naquele momento só não foi maior
que a minha, em particular, pela oportunidade e o privilégio que tive de
conviver com você, em torno da nossa Academia de Medicina, a “Casa de Gileno”,
a sua Casa, Dr. Hyder,
Sei muita coisa de sua história, que você estudou Medicina
na Bahia, formando-se em 1951. Que seu irmão Hugo, mais velho, já estabelecido
em Aracaju como obstetra, puxa você para Aracaju, dois anos após a sua formatura.
No Hospital Cirurgia, dividiu o atendimento das crianças com José Machado de
Souza. Como professor pioneiro de pediatria, ensinou os seus conceitos de
atenção à criança e, fato inusitado, incentivou também os seus alunos a
economizar água, evitando desperdícios do precioso líquido, talvez por conhecer
como ninguém as agruras de sua terra de origem, na luta contra a seca, como bem
lembrou Antônio Samarone.
Que mais poderia desejar um homem, na face da terra, do que
ter uma sólida família e o reconhecimento e admiração de seus colegas,
ex-alunos, amigos e confrades, pelas realizações e conquistas? Muito pouco, Dr.
Hyder!
Gostaria que você transmitisse algumas palavras à sua
querida esposa, Rosa Queiroz Gurgel. Diga-lhe que, ao seu lado, ela foi um personagem
ativo no trabalho diuturno na saúde pública e privada, construindo a dois uma
história de realizações, superando com sabedoria e resignação os momentos
adversos que encontraram pelo caminho. Soube muito bem conviver todos esses
anos com a força da união, dedicados um ao outro com afeto, respeito e amor.
Souberam mais. Souberam transmitir aos filhos bons ensinamentos de educação,
ética e forte personalidade.
Diz uma das lendas que corria nas Lavras da Mangabeira, que
se o menino de calças curtas conseguisse, de fora da Gruta do Boqueirão,
cutucar com longa vara a mesa e derrubar toda aquela riqueza, assustava-se ao
ver que, em poucos minutos, tudo estava novamente composto. Assim é a vida.
Quantas baixelas de ouro e de prata não derrubamos pela vida e que depois foram
se recompondo?
Dedico a você, para encerrar essas mal traçadas linhas, as
palavras do poeta José de Góis Duarte, dirigidas postumamente a Dr. Augusto
Leite, patrono da cadeira três, que você ocupou na nossa Academia desde a sua
fundação, em 1994.
" Sublime missão de todo dar-se no exercício pleno da
bondade; a prática do Bem, da Caridade; ao amor espontâneo - fruto d'alma -
lenitivo sem par que a dor alheia acalma”. Afirma: "Este não morrerá! Este
não morrerá, pois que não morre quem de todo se dá, quando socorre ou a quem
fere a dor, nos caminhos do mundo".
Hyder Gurgel, repouse em paz!
PS - Um dia a gente se encontra!
Texto e imagem reproduzidos do Facebook/Lucio Prado Dias.
Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 12 de março de 2015.
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