quinta-feira, 19 de março de 2015

Aracaju 150 anos + 3

Catedral Metropolitana em 1907 (foto)

Infonet - Blog Luíz A. Barreto - 20/03/2008.

Aracaju 150 anos + 3.
Por Luíz Antônio Barreto.

Aracaju, no dizer do eminente e saudoso professor Fernando Porto, foi uma vitória da geografia. Áreas baixas, alagadas, inóspitas à vida humana, que sequer pouparam o Presidente da Província – Dr. INÁCIO JOAQUIM BARBOSA -, que fundou a cidade e a fez capital por uma mesma Resolução, a de nº 413, de 17 de março de 1855, foram transformadas num canteiro de obras, graças a atuação de engenheiros militares, servindo à Província, a começar por Pirro, que morava, de alguns anos, na Barra dos Coqueiros, e conhecia os problemas principais da Província.

Em 1855 Aracaju era uma região dividida em poucas partes: Tramanday, para o sul, fixava os limites na área da atual Praia 13 de Julho; Olaria, equivalente hoje ao centro, banhada pelo rio Sergipe, e cercada de dunas, a oeste; e Massaranduba e Santo Antonio, ao norte, regiões distintas, uma, junto ao rio Sergipe, tomou, mais tarde, dois nomes: Praia do Tecido, em alusão à Fábrica Sergipe Industrial, e Chica Chaves, zona de chácaras, a outra, mais antiga, tinha núcleo na colina de Santo Antonio, onde uma igrejinha existia desde o século XVIII. Tais partes garantiram, em 150 anos + 3, os limites do desenvolvimento urbano da cidade.

A economia da Província indicava que a riqueza açucareira estava concentrada na produção dos engenhos dos vales dos rios Cotinguiba e Sergipe, exigindo um porto para movimentar as cargas de exportação do açúcar e de importação dos gêneros necessários ao abastecimento da população sergipana. A Alfândega, repartição que anotava o movimento econômico provincial, já estava as margens do estuário do rio Sergipe, antecipando os fatos. Aracaju, então, é também uma vitória da economia, como atestaria a sua capacidade de adaptação aos ciclos produtivos.

Embora a Resolução da mudança da capital estabelecesse que núcleo fundante da nova cidade fosse o Povoado do Santo Antonio, os engenheiros que projetaram Aracaju, chefiados pelo capitão Sebastião Basílio Pirro, escolheram a área da Olaria para traçar praças e ruas, construir todos os equipamentos necessários ao ordenamento da vida urbana, estabelecendo os espaços para as repartições públicas, igrejas, casario residencial, prédios comerciais, enfim edificar um burgos que nascia destinada a servir de ponto de convergência de toda a Província. Um conjunto de obras fundamentais deu a Aracaju uma planta, construções militares e civis, praças e ruas em quadras simétricas, com feição de um tabuleiro de jogo de dama ou de xadrez, fontes, moradias, serviços públicos, fazendo florescer um planejamento urbanístico, ainda hoje considerado no planejamento das administrações.

Nos primeiros anos as obras de Aracaju eram custeadas pelo Império, com a participação, gradual, da Província. Com a Proclamação da República, em 1889, o Estado passou a arcar com a maior responsabilidade das obras públicas, contando com o apoio financeiro do Governo da União e com o esforço da Intendência Municipal.

A atual praça Fausto Cardoso, que já teve os nomes de Praça do Mercado, Praça do Palácio, Praça da República) serviu de peão de ordenamento para o levantamento da planta de construção da cidade de Aracaju. A idéia era, partindo da margem do rio Sergipe, traçar 10 quadras com trechos de 100 a 110 metros, nos três sentidos: norte, oeste e sul. E assim foi feito, salvo em direção oeste, por causa dos morros e dunas de areia, comuns e que foram, à época, intransponíveis. O exemplo foi o Morro do Bonfim, que esperou 100 anos, de 1855 a 1955, para ser desmontado, permitindo o agenciamento de uma área central.

A primeira das obras foi o Palácio provisório, construída na esquina da praça com a rua da Aurora, atual avenida Rio Branco, e que além de servir de sede do Governo provincial foi transformado, poucos anos depois, para servir de Paço Imperial e hospedar o Imperador Pedro II, a Imperatriz e comitiva, que visitaram Aracaju em janeiro de 1860. O imponente edifício ficou incorporado à cidade e conhecido como a sede da Delegacia Fiscal, repartição federal.

O Palácio do Governo, a Assembléia Legislativa e a Ponte do Imperador foram obras fundamentais na mesma praça. O Palácio, concluído na década seguinte e reformado em 1920, a Assembléia, edificada nos terrenos inicialmente destinados à Igreja Matriz, e a Ponte do Imperador, construída para ser o ancoradouro da visita imperial a Sergipe continuam, com algumas alterações, testemunhando o projeto de construção da cidade, como ícones referenciais.

Para o norte, três quadras surgiram entre as praças Fausto Cardoso e General Valadão (que antes chamou-se Praça da Cadeia e depois Praça 24 de Outubro), fazendo florescer a rua da Aurora, beirando o rio Sergipe e as ruas Laranjeiras e São Cristóvão, transversais que cresceram em direção oeste, abrigando casas comerciais e residências. Na praça General Valadão foram construídas a Cadeia Pública, hoje Palácio Serigy, sede da Secretaria da Saúde, e o Quartel da guarnição federal, que demolido cedeu terreno para as obras do Hotel Paláce de Aracaju, concluídas em 1962, e do Edifício Estado de Sergipe, inaugurado em 1969.

A primeira igreja da capital sergipana foi a Casa de Oração São Salvador, construída na rua do mesmo nome, atual rua de Laranjeiras, na esquina com a rua do Barão (Barão de Maroim- João Gomes de Melo), depois Japaratuba e desde 1930 rua João Pessoa. Mandada construir por Inácio Barbosa, mas inaugurada pelo Presidente Salvador Correia de Sá e Benevides,que lhe deu o nome, a Casa de Oração serviu de Matriz por alguns anos, até a edificação da Matriz, hoje Catedral, na praça que hoje leva o nome do seu ex-vigário, o Monsenhor Olímpio Campos.Ao visitar Aracaju, Dom Pedro II fez um périplo de visita às muitas obras, demorando-se em ouvir relato sobre cada uma delas.

Na praça Olímpio Campos foi construída, também, a sede do Tribunal de Relação do Estado de Sergipe, terminada em 1894 e inaugurado em 1895, e que agora, nominado Palácio Silvio Romero, serve de sede ao Memorial do Poder Judiciário. Convém fixar que em tais locais houve aterros e florestamentos, que se prolongam ainda hoje, em outras áreas para onde a cidade cresceu.

Para o sul, pela mesma rua da Aurora, surgiram algumas edificações essenciais, como o Quartel da Polícia, onde mais tarde o Presidente Graqccho Cardoso construiu o prédfio do Ateneu Pedro II, o Hospital de Caridade, e a Escola de Aprendizes Marinheiros, que décadas depois foi convertida em Capitania dos Portos. A Fundição, os clubes Sergipe e Cotinguiba, e o Depósito de Inflamáveis (onde está hoje o Iate Clube de Aracaju), além de outras construções, levaram Aracaju ao sul.

Na virada do século, iluminada a gás, ainda dependendo das fontes para o seu abastecimento, Aracaju começa a ser pavimentada, em suas ruas centrais, ganha um Teatro, o Carlos Gomes, situado na antiga rua Japaratuba (João Pessoa), transformado em Cine Teatro Rio Branco, e deixa de lado projetos de outras construções, com os quais sonhou nos seus primeiros cinqüenta anos de vida.

Aracaju recebeu diversos melhoramentos, que contribuíram para tornar-se uma cidade mais bonita, dinamizando a sua vida social. Os serviços de transporte fluvial ligando a capital a Laranjeiras, Riachuelo, Maroim e Santo Amaro, o transporte urbano, com os bondes à tração animal, percorrendo as ruas da cidade desde 1908, e a partir de 1926 bondes elétricos, unindo o centro aos bairros Industrial, Santo Antonio e Cirurgia, os trens, com sua estação na avenida Coelho e Campos, ligando Aracaju a Salvador em 1913, seguindo para Propriá, a partir de 1915, a Escola Normal, construída nos padrões mais modernos da pedagogia, contando com um Grupo Escolar anexo, o primeiro a ser construído na capital sergipana, a luz elétrica, iluminando as ruas, a partir de 1913.

O Governo de Siqueira Menezes, velho republicano, general de Canudos, aumentou o número de obras fundamentais, como o Horto Florestal, grupos escolares, um deles transformado no Quartel de Polícia, à rua Itabaiana, o prédio da Biblioteca Pública, atual Câmara de Vereadores, e foi seguido por outras administrações empreendedoras, especialmente a de Graccho Cardoso, responsável pela construção de grupos escolares, do Instituto de Química, do Instituto Pareiras Horta, da Penitenciária Modelo, do Mercado Modelo, ou Antonio Franco, da Intendência (Prefeitura) Municipal, da Caixa d´Água, dentre outros.

Na década de 1930 surgiram outras obras fundamentais, como o prédio da Biblioteca Pública, na praça Fausto Cardoso, onde está sediado o Arquivo Público, o do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, onde foi instalada a Rádio Difusora, a Ponte sobre o rio Poxim, todas na gestão de Eronídes de Carvalho.

O Mercado Thales Ferraz, o Instituto de Tecnologia e Pesquisas de Sergipe, o novo prédio do Colégio Ateneu, a abertura da rua de Laranjeiras, unindo o centro de Aracaju ao bairro Siqueira Campos, a abertura da estrada Aracaju –Atalaia, pelo Raposo (Sementeira), ampliaram a cidade, sendo obras de grande valor, executadas pelo governador José Rollemberg Leite, que administrou o Estado de 1947 a 1951, auxiliado pelo prefeito Marcos Ferreira de Jesus.

O Parque de Exposições, o Conjunto residencial Agamenom Magalhães e o Auditório (Teatro) do Colégio Estadual Ateneu Sergipense, foram obras do Governo Arnaldo Garcez, que dotaram Aracaju de equipamentos necessários ao seu progresso como capital.

A cidade toma ares europeus, com os bangalôs construídos em várias ruas, pelo engenheiro alemão Altenech. Hotéis, bares, restaurantes, sorveterias, casas de espetáculos, dinamizam a vida social da capital sergipana. Ruas movimentadas, porto visitado, regularmente, por navios nacionais e estrangeiros, trens indo e vindo, aviões aportando nos flutuantes do rio Sergipe, ou na pista de barro do Campo de Aviação, marinetes e ônibus facilitando o contato das populações interioranas, davam atestado de êxito ao projeto de construção de Aracaju, ao completar 100 anos. (continua).

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Infonet Blog Luíz A. Barreto - 28/03/2008.

Aracaju 150 anos + 3 (II)
Por Luíz Antônio Barreto.

O desmonte do Morro do Bonfim, imensa duna que sobreviveu um século no meio da planta de Pirro, fornecendo areia para os aterros da capital, foi a mais importante obra pública do ano do Centenário. O Governador Leandro Maciel repetiu outros governantes do Estado, que terminaram deixando grandes contribuições na modernização da cidade de Inácio Barbosa. Além de construir o novo prédio da Escola Normal – Instituto de Educação Rui Barbosa -, de construir a estrada de acesso asfáltico à cidade, pela atual Avenida Osvaldo Aracaju, Leandro Maciel fez a estrada Aracaju-Atalaia, a Ponte Presidente Juscelino, sobre o rio Poxim, a estrada Atalaia-Aeroporto, asfaltada, que permitiu a instalação do Aeroporto Santa Maria, inaugurado em janeiro de 1958, em substituição ao Campo de Aviação, e abriu, ainda, a estrada Atalaia-Mosqueiro.

Sem o Morro do Bonfim e com acesso ao mar, Aracaju deu um salto na consolidação do seu projeto de cidade planejada. O centro foi convenientemente agenciado e serviu ao comércio, recebendo obras de vulto como a Estação Rodoviária, construída no Governo Luiz Garcia. A Atalaia passou a ser uma área, atraente, de expansão urbana, consolidada duas décadas depois, com o projeto do Bairro Coroa do Meio, que recebeu nova Ponte, a Godofredo Diniz, sobre o rio Poxim. Aracaju deixava de ser uma cidade apenas ribeirinha, para ganhar e incorporar o mar, para onde levou toda uma estrutura de lazer e entretenimento. Prédios imponentes, públicos como o Edifício Walter Franco, o Hotel Pálace de Aracaju, particulares como os edifícios São Carlos, na Praça Fausto Cardoso e Atalaia, na Avenida Ivo do Prado. Antes de terminar a década de 1960, Aracaju ganhou o edifício Estado de Sergipe, de 27 andares, e o Estádio Lourival Baptista, o Baptistão.

Nos anos seguintes foram abertas avenidas estruturantes e construídas obras que podem ser consideradas fundamentais para manter, sob o ordenamento original, o crescimento da cidade. A zona sul foi a que mais cresceu, a partir do Bairros São José, Grageru e 13 de Julho. Novamente seria preciso aterrar velhos mangues e córregos, para a abertura de ruas e a edificação de casas e prédios de apartamentos. Paralelamente a obras públicas, como o Ginásio de Esportes Constâncio Vieira, a Biblioteca Epifânio Dória, ambos na continuação da Rua Vila Cristina, surgiram centenas de casas, a partir do Conjunto João Alves, e dezenas de edifícios de apartamentos, que se tornaram conhecidos como “Norcolândia.” A nova Avenida Francisco Porto (Saneamento) encheu-se de casas e de prédios e sua continuação, Avenida Gonçalo Rollemberg (Nova Saneamento) levou, na direção oeste, um grupo enorme de condomínios de apartamentos. Na região do Bairro São José proliferaram as clínicas e pequenos hospitais, consultórios, lojas, dinamizando o crescimento, sempre mantido o bom gosto das construções.

Por qualquer ângulo que seja vista e para qualquer direção que o olhar seja lançado, Aracaju cresceu mantendo exemplares de uma arquitetura eclética, que chama a atenção dos estudiosos. Da zona norte, onde estão as moradias mais simples, para a zona oeste, onde o Bairro Siqueira Campos funciona com vida própria e expande sua influência para outras áreas, o ritmo de construção aponta para um tipo novo de moradia, o de dois e até três pavimentos, melhoria física que permite maior conforto, mantendo as famílias reunidas. Para a zona sul, por todos os caminhos, Aracaju atravessou o bairro de Atalaia e encostou suas construções, principalmente condomínios, nos rios que antes banhavam a zona rural da capital. Robalo, São José, Gameleira, Areia Branca, Terra Dura, Arrozal, Aloques, eram povoados que foram incorporados ao crescimento urbano da cidade, ao lado do mar, onde a Rodovia José Sarney pontifica como um caminho turístico para o sul, até a foz do rio Vaza-Barrís, que em breve ligará com o município de Itaporanga, a fronteira que falta para garantir o futuro da capital sergipana.

A visão de 2005, que incorpora avanços fantásticos, atesta a capacidade de crescer de uma cidade que tanto mais velha fica, mais bonita se apresenta aos olhos de todos, dos de casa e dos que chegam, atraídos pela riqueza cultural que o turismo promove. O Bairro Jardins é o melhor exemplo, pois reúne tudo o que se pode afirmar de Aracaju: beleza, classe média forte, bom gosto na moradia, convivência civilizada. É evidente que a cidade continua com problemas sérios, antigos, desafiando as autoridades. É certo que a capacidade de investimentos, responsável pela construção da Ponte Construtor João Alves, ligando Aracaju e Barra dos Coqueiros e ao Porto, a Pirambu e daí em diante, ou pela construção do Viaduto Jornalista Carvalho Deda, que são duas obras que enchem os olhos de todos, não tem seqüência em outras ações, como a de pavimentação da Atalaia, o asfaltamento das ruas movimentadas do Bairro Siqueira Campos e outras obras de saneamento, embelezamento e florestamento, que desde 1855 são necessárias e essenciais à sobrevivência de Aracaju, não mais como um projeto de engenharia, mas como uma bela e bem realizada realidade, produto do sonho, da competência, do empenho e do trabalho de todos os sergipanos.

O futuro já chegou e causa preocupações. O caso mais grave é o do trânsito, onde a peleja diária dos motoristas, motociclistas e ciclistas em tráfego pesado, ruas estreitas, além de vícios e privilégios que complicam a solução dos problemas. O doublé de médico e político Antonio Samarone, estudioso das condições sanitárias de Aracaju, tem tocado em cada um dos problemas, e tentado ordenar o trânsito, pela SMTT, de forma a tornar menos estressante a locomoção pela cidade. Há ganhos visíveis nas suas ações, mas há obstáculos, de várias etiologias, dificultando o trabalho do professor Samarone, como, por exemplo, a contínua entrada de novos carros, em grande quantidade mensal, para circularem no mesmo traçado e nas mesmas e acanhadas ruas de Pirro e de outros, continuadas com as mesmas dimensões, ao longo da história de 153 anos. E mais: a falta de áreas e prédios de estacionamentos, a saturação de certas zonas, onde o transporte coletivo concorre para o caos, como no centro comercial da cidade, e a falta de vias de escoamento rápido, do centro para os bairros e para as áreas de expansão residencial, nos municípios de Nossa Senhora do Socorro e São Cristóvão, e de equipamentos, como viadutos, pontes, vias expressas, e formas alternativas de transporte de massa.

Texto e imagem reproduzidos do site: infonet.com.br/luisantoniobarreto

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 15 de março de 2015.

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