segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Grandes e Pequenos Enterros


Publicado originalmente no Portal Infonet/Blog Luíz A. Barreto, em 10/02/2012*

Grandes e Pequenos Enterros.
O registro da imprensa é implacável, quando reproduz os fatos.
Por Luiz Antônio Barreto.

O registro da imprensa é implacável, quando reproduz os instantes emocionados, que marcam a vida dos sergipanos. E é, ao mesmo tempo, um termômetro, fixando na linha do tempo as imagens dos vultos que desaparecem, deixando vazios que nem sempre são preenchidos no cotidiano das referências sociais. O enterro do Governador SEIXAS DÓRIA suscitou comentários e observações, que ensejam reflexão. Foi um enterro pequeno, considerando a grandeza do morto, a longevidade de sua existência e o tempo entre a doença, a morte e o sepultamento. Um enterro aquém da imagem de uma homem acostumado com as multidões, motivado pelas teses que defendeu, como ninguém, pelo Brasil, principalmente na segunda metade do século XX, século das guerras e das reconstruções democráticas, na dialética política que marcou a história do mundo.

Há registro, nos jornais, que o enterro do desembargador Homero de Oliveira, em 1910, causou emoção em Aracaju. Homero de Oliveira era poeta festejado, jornalista e orador dos mais acatados, descendente da família Oliveira Ribeiro, tradicional em Laranjeiras. Em 1927 um enterro marcou profundamente Aracaju, o do dr. Thales Ferraz, Diretor da Fábrica Sergipe Industrial, levado na mão, desde o Bairro Industrial até o Cemitério dos Cambuís (hoje Cruz Vermelha). Entre os mais velhos foi o maior enterro que a cidade já assistiu: povo nas ruas, comércio fechado, filas e multidões, estiradas desde a fábrica até o jazigo, que hoje, ao que parece, não existe mais. De Thales Ferraz restam poucos.

Celibatário, não deixou filhos,mas tem no Rio de Janeiro, uma sobrinha, Eloida Ferraz, filha de Lizipo Ferras, artista do canto, do piano e das artes plásticas, nascida em Aracaju.

O enterro do médico Carlos Firpo, assassinado em casa, na rua Campos, enquanto dormia. O assassinato provocou uma comoção nunca vista na capital sergipana e o povo, chocado e triste, deu ao Diretor do Hospital Santa Isabel o choro solidário da partilha da dor que se abateu, como tragédia, sobre a família. O comércio, muitas vezes sensível, como demonstração de respeito e de admiração, cerrou suas portas e ajudou a que se formasse, ao longo das ruas por onde passou o féretro, uma plateia emocionada. Outros enterros mereceram dos sergipanos de Aracaju uma presença de centenas e centenas de pessoas, de todas as idades, manifestando o sentimento mais íntimo, e justo, que tem diversos significados. No mundo da política os exemplos não são dos melhores. Quando morreu o Dr. Leandro Maciel, líder de décadas de vida pública, foram poucos os que lhe prestaram honra e homenagem, no saguão do Palácio do Governo.
Em Rosário, onde foi sepultado, também foi pequeno os admiradores e correligionários do velho líder udenista.

SEIXAS DÓRIA, o grande mestre da palavra, do nacionalismo, do patriotismo, teve pouca gente a evocar sua trajetória política, que atravessou toda a segunda metade do século XX. Um público aquém dos seus merecimentos, no velório do Palácio Museu Olímpio Campos e no Cemitério Colina da Saudade. Os que não foram perderam a oportunidade de render justas homenagens ao grande SEIXAS DÓRIA e deixaram de ouvir uma oração impecável, recitada pelo Governador Marcelo Deda, resumindo, com estilo, elegância e precisão, a biografia política do Governador, morto quase aos 95 anos. Talvez a vida longa tenha concorrido para que não chegassem às escolas, as marcas de uma impecável carreira política, a serviço do Estado de Sergipe e do Brasil. As escolas, quase sempre, são desertas de informações sobre Sergipe, sua história, sua literatura, seus vultos, seus homens públicos e isto se constitui numa falta que empobrece o civismo dos sergipanos. Fora da mídia diária, envelhecendo recolhido ao convívio familiar, SEIXAS DÓRIA saiu da cena pública, embora tenha contribuído com o Estado nas últimas décadas, tanto utilizando o seu prestígio junto ao Poder central, em benefício de obras fundamentais ao Estado, como o Porto de Sergipe, quanto presidindo a Fundação Oviedo Teixeira, parceira da Universidade Federal de Sergipe na promoção editorial.

SEIXAS DÓRIA não morreu, calou-se. Seus discursos, entrevistas, palestras, conferências, estão nos anais políticos do Brasil e a qualquer hora podem ser consultados, como repertório admirável que comprova sua participação na vida pública de Sergipe e do País. Sua viúva, que foi companheira sensível e decidida, recortou e guarda, para a posteridade, um arquivo que é fiel reprodução da ação política documentada pelos jornais. Seu neto, que guarda o mesmo nome do avô, já dá passos na direção de organizar uma memória de SEIXAS DÓRIA, que possa ser de uso de estudantes e professores. É preciso, logo, que seja organizado em torno do Governador morto, um centro, um instituto, um memorial, alguma coisa que recupere e projete, no âmbito da sociedade sergipana, o compromisso de manter viva a biografia política e intelectual do grande SEIXAS DÓRIA.

*Texto e imagem reproduzidos do site: infonet.com.br/luisantoniobarreto


Postagem originária da página do Grupo MTéSERGIPE, de 10 de agosto de 2014.

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