domingo, 31 de agosto de 2014

Uma Homenagem a José Carlos Mesquita Teixeira

Foto: César de Oliveira.

O Grande Guerreiro das Lutas Democráticas.
(Uma Homenagem a José Carlos Mesquita Teixeira).
Por Dilson M. Barreto.

Fugindo da linha de trabalho estabelecida para elaboração dos artigos por nós publicados nesta coluna, abro hoje uma exceção para prestar uma singela homenagem a um homem público de grande valor e com uma relevante folha de serviços prestados ao Estado de Sergipe e na consolidação do processo democrático, ao lado de grandes vultos da política brasileira de elevada envergadura como Ulisses Guimarães e Tancredo Neves. Trata-se aqui, do eminente político sergipano José Carlos Mesquita Teixeira.

Há algum tempo venho alimentando este desejo, por reconhecer neste ilustre sergipano uma figura de alto valor e que merece ser sempre lembrado justamente pelo seu passado histórico. José Carlos sempre foi um irrequieto ativista no que diz respeito às demandas políticas e na luta pela consolidação da democracia.

Desde a década de 1950, ao lado de Jaime Araújo e Tertuliano Azevedo, militou na União dos Estudantes Secundaristas (USES). Quando estudante em Salvador participou ativamente da campanha “O Petróleo é Nosso”, deixando fluir sua vocação para as lides políticas. Direcionado por seu pai Oviedo Teixeira para ser empresário, em suas veias, contudo, pulsava o DNA da política e foi nela que encontrou sua realização plena, não obstante as decepções enfrentadas ao longo desse caminho. Nessas suas andanças pelo mundo da política, tinha sempre como objetivo maior o de servir e nunca o de servir-se.

Foi o fundador, nos idos de 1965, do Movimento Democrático Brasileiro (MDB) em Sergipe, quando existia um grande receio dos políticos da época em fazerem oposição ao Regime Militar, tornando-se inclusive o seu primeiro presidente, cujo mandato alcançou o período 1966-1975, e que foi transformado em 1979 no Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB). Mesmo tendo o aval do Governo Militar que arbitrariamente instituiu o bipartidarismo para falsear a ilusão de que o Brasil vivia sob o signo da democracia, o MDB surgia assim, na visão de José Carlos Teixeira, como um partido de oposição à ditadura, e esta foi justamente sua plataforma de luta enquanto pertencente à direção daquele partido. José Carlos sempre demonstrou grande coragem para enfrentar os momentos mais difíceis vivenciados pelo Brasil quando do Golpe Militar que cassou, torturou e matou vários brasileiros. Combatendo publicamente tais atos hediondos, o ilustre sergipano aqui homenageado sempre esteve na linha de frente em defesa dos ideais democráticos. É também da década compreendida pelos anos 1960, a sua participação nos movimentos culturais, com destaque para a Cultura Artística onde, juntamente com outros intelectuais sergipanos, exerceu papel relevante na divulgação de artistas e compositores, difundindo no seio aracajuano o gosto pelo teatro e pela música.

José Carlos Teixeira construiu, ao longo da sua vida pública, uma história política que dignifica Sergipe, justamente face à sua conduta impecável de coerência e capacidade para enfrentar as adversidades que se interpuseram ao longo da sua caminhada, sempre na defesa da democracia, da liberdade e dos direitos do cidadão. Mesmo não podendo ser identificado como um militante esquerdista, todavia sempre foi um progressista de centro-esquerda, de viés nacionalista, convicto em suas posições políticas. E como tal, soube romper com o tradicionalismo familiar para dedicar-se de corpo e alma às causas democráticas.

Opositor ferrenho ao Regime de 64, sempre pautou o exercício de suas atividades políticas no combate às injustiças e o arbítrio, utilizando inclusive a Tribuna da Câmara Federal para denunciar corajosamente as prisões e torturas, tenham sido elas ocorridas no interior do País ou no Estado de Sergipe, como foi o caso da célebre “Operação Cajueiro” em pleno carnaval de 1976, ocasião em que alertou o Governador José Rollemberg Leite sobre as prisões arbitrárias de militantes sergipanos que estavam ocorrendo nas dependências do 28º Batalhão de Caçadores, transformado num centro de tortura. Ao mesmo tempo em que alertava o Governador, também do Plenário da Câmara dos Deputados usou da Tribuna para, listando os nomes dos diversos companheiros presos, reiterar o direito dos familiares a visitarem seus parentes.

No âmbito da política partidária em Sergipe, foi eleito Deputado Federal pelo Partido Social Democrático nas eleições de outubro de 1962, e reeleito duas vezes agora pelo MDB nas eleições de 1966 e 1974, e 1982 pelo PMDB. Nas eleições de 1970 não foi reeleito Deputado Federal, porém, excetuando o candidato eleito Francisco Rollemberg (19.026 votos), obteve um número de votos (17.498) superior aos demais eleitos pela ARENA. Quando das eleições de 1986, concorreu juntamente com Antônio Carlos Valadares e Tânia Elias Magno da Silva ao Governo do Estado, não obtendo votos suficientes para galgar o Palácio “Olímpio Campos”. Nas eleições de 1978 e 1994 candidatou-se ao Senado Federal, não obtendo votos suficientes para se eleger.

Ao longo da sua trajetória, foi proprietário de um Jornal em Aracaju e de uma gráfica no Distrito Federal, o que lhe permitiu ser eleito vice-presidente do Sindicato das Indústrias Gráficas (1974-1976) e diretor da Federação das Indústrias do Distrito Federal (1979-1982). Exerceu ainda diversos cargos públicos, como Diretor de Captação da Caixa Econômica Federal (1987-1989), Prefeito de Aracaju (1986), Vice-Governador do Estado na primeira eleição do Engenheiro João Alves Filho (1991-1994) e Secretário da Cultura já no terceiro mandato governamental do Dr. João Alves Filho, último cargo público por ele exercido.

Teimando insistentemente em continuar pertencendo à cúpula que comandava o seu querido partido, o PMDB, todavia, não encontrando mais espaço para continuar convivendo com suas novas lideranças em função do choque de ideias, já no raiar do ano 2000 encerra definitivamente sua bem sucedida carreira política. José Carlos Mesquita Teixeira durante toda sua trajetória política de cerca de quarenta anos, identifica-se como o grande guerreiro das lutas democráticas, merecendo, portanto, a homenagem registrada nestas poucas linhas. Homenageá-lo é fazer justiça a este homem público que tem uma história de vida extremamente dignificante no cenário político, administrativo e cultural de Sergipe, merecendo, portanto, o nosso mais profundo respeito.

Texto reproduzido do Facebook/Antônio Samarone.

Postagem originária da página do GrupoMTéSERGIPE, de 29 de agosto de 2014.

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