segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Antônio José Andrade: uma vida de luta.


Publicado originalmente no Jornal da Cidade.Net, em 31/03/2014.

MEMÓRIAS DE SERGIPE.

Antônio José Andrade: uma vida de luta.
Por Osmário Santos.

Um pernambucano, filho de operário de fábrica de tecidos que começou a trabalhar aos 14 anos de idade. Com espírito de luta, na sobrevivência da vida, passou por várias experiências profissionais. Chegando em Aracaju como vendedor de capas para liquidificador, hoje, já em uma outra fase da vida, conta sua vida, da sua participação no Rotary Club, e fala dos seus desejos e frustrações.

Antônio José de Andrade nasceu na cidade de São Lourenço da Mata, Pernambuco, em 5 de julho de 1928, sendo filho de Manoel José de Andrade e Ester Borba de Andrade.

Filho de um operário de fábrica de tecido que dedicou sua vida à Companhia Industrial Pernambucana, em Camaragipe, São Lourenço da Mata, diz com muito orgulho, que aprendeu com o pai a ser honesto, responsável por tudo que faz, lição transmitida aos filhos, passando agora, aos netos.

De sua mãe guarda uma lembrança muito importante, uma mulher dedicada ao lar, sempre voltada aos serviços de casa, passando muito carinho para Antônio José, e seus 12 irmãos.

Da infância, lembranças de um tempo repleto de felicidade. Menino de uma família pobre, ocupou esse tempo em contato com a natureza, com a educação através dos padres jesuítas e muito contato com a religião católica, onde aprendeu desde cedo, que tudo que acontece na vida, tem o dedo de Deus.

Vivendo numa vila operária, porém, cercado de muito calor humano, prevalecendo o espírito de fraternidade, coisa rara hoje em dia, com lágrimas nos olhos, relembra essa fase de sua vida, principalmente do momento em que teve os primeiros contatos com os livros, através da Corporação Operária da Fábrica de Camaragipe, entidade mantida pela Companhia Industrial Pernambucana, dirigida por religiosos.

Curso ginasial.

Com idade de 14 anos terminou o curso ginasial, realizado no município de Caxangá, na proximidade de Camaragipe, no antigo Colégio São Luís.

Ao receber a notícia do pai, da impossibilidade da continuidade dos estudos por problemas financeiros, compreendeu que tinha chegado o momento de enfrentar o trabalho, para ajudar a manutenção da numerosa família, em vista dos 13 filhos do Sr. Manoel José.

O primeiro emprego aconteceu na farmácia da Corporação Operária, experiência que considerou algo fantástico que aconteceu em sua vida, por ter aprendido a fazer curativo e a aplicar injeção.

No ano de 1946, foi trabalhar na fabrica de tecido de Camaragipe, trabalhar no setor de pagamento aos operários, onde permaneceu ate o ano de 48, quando foi convocado para o Exército Brasileiro.

Do tempo de pracinha fala com toda com toda satisfação do mundo, não esquecendo de dizer o dia em que foi incorporado ao Exército no dia 12 de janeiro de 1948. Se adaptando ao regime, após passar o período de adaptação, fez curso de cabo, sendo aprovado em segundo lugar. Foi promovido no dia 24 de agosto de 48, dia de Caxias.

Sempre querendo mais, fez curso para sargento, obtendo o terceiro lugar em concurso. A promoção chegou dois anos após, em 50.

Vida de bancário.

No ano de 52, por ter sido aprovado em concurso no Banco Comércio Indústria de Minas Gerais, em Recife, requereu licenciamento do Exército. “Minha paixão era trabalhar engravatado em banco”.

Como bancário trabalhou de 52 a 54, tempo em que o salário que recebia não era o suficiente para manutenção da família, já que estava casado. Tendo folga na parte da manhã, trabalhava como auxiliar de contador, na firma Viúvo Sabino Pinho. Da vida de banco aprendeu muita coisa, dizendo que foi mais uma escola da vida. “Vi a vida com outro horizonte. O banco faz você fazer novas amizades; através do banco, aprendi a ser homem”.

O bancário, na visão de Andrade, é um soldado com honras de general. “Trabalha muito e se ganha muito pouco. O soldo é de soldado e as honras é de general”.

Submetendo com êxito, a um concurso para trabalhar como gerente de um frigorífico de lagosta na cidade de Fortaleza, foi trabalhar na Lagosta Braz. “Lá, nós fazíamos as compras, colocávamos as jangadas no mar e recolhíamos o produto da pesca no frigorífico. De 30 em 30 dias, embarcávamos as lagostas num navio americano”.

Desastre.

Vindo de Aracati para Fortaleza no ano de 1960, sofreu um desastre, que provocou a queda, de uma ponte, do automóvel em que estava. “Até hoje, não sei quem me levou para o hospital. Acredito que tenha sido a mão de Deus. Passei no hospital seis meses, passando a andar, depois disso, de muletas”.

De volta ao Recife resolveu partir para uma nova etapa de trabalho. Uma constante preocupação em conquistar espaço no mercado, sempre buscando o melhor. “O homem é um sonhador. Sempre ele sonha e só sonha alto. Sonhei ter barcos de pesca, mas o destino não quis. Esse desastre me fez a voltar para minha família. Demorei muito para me recuperar, e nessa recuperação eu quero fazer uma alusão muito especial a minha esposa, pela dedicação especial que ela teve. Essa força que ela me deu foi a causa da minha recuperação”.

Na volta ao trabalho montou uma indústria de confecção, que fazia capas para bujão, fogão, tapetes para banheiro. Através da pequena indústria, descobriu o mercado de Aracaju, quando passou a fazer constantes viagens a nossa cidade, para vender seus produtos.

Aracaju.

Com pontos de vendas em Aracaju garantindo a produção da indústria, que tinha em sua família a base da mão de obra, tomou a iniciativa de montar residência em nossa cidade. “Nunca me arrependi dessa decisão. Foi aqui em Aracaju que eu criei os meus setes filhos”.

Com uma casa alugada na Cidade dos Funcionários, montou a chamada indústria, na realidade uma oficina de trabalho. Decorrido um ano de trabalho, percebendo uma queda na vendagem dos produtos, resolveu deixar de lado o trabalho de confecção para prestar serviços na TV Sergipe, que estava em seus primeiros anos. “Fui trabalhar no Departamento de Publicidade, dirigido por Luis Carlos Campos. Sentindo que podia desenvolver outras atividades paralelas, aceitei a função de gerente do Expresso Aéreo. Trabalhei na Rádio Liberdade como diretor comercial e mais outras coisas feitas em casa. Com minha pasta, correndo pela cidade, consegui criar meus sete filhos. Em Aracaju só tenho boas amizades”.

Chegou a trabalhar como gerente comercial no Magazine dos Móveis, tempo que jamais esquece, por conseguir passar para o diretor da empresa um novo conceito no relacionamento com os funcionários, através do diálogo.

Vendedor de letreiros.

Ainda quando estava vendendo comerciais para a TV Sergipe, teve a experiência de trabalhar com José Lima de Azevedo, vendendo letreiros luminosos. Sentindo que podia mergulhar em profundidade no ramo dos letreiros, trabalhando por conta própria, resolveu montar uma pequena empresa de letreiros. “Conversei com o presidente da TV Sergipe, Gétulio Passos, e ele imediatamente se prontificou a me ajudar, promovendo minha indenização, me possibilitando os primeiros passos. Foi aí que nasceu a Ajalux, em 12 de janeiro de 1978”.

Mas o lado de empresário não tomou conta de todo o tempo de Andrade, que passou a se preocupar com o lado do serviço ao próximo, se engajando no Rotary Aracaju Siqueira Campos no ano de 1985, chegando a presidente no ano de 93.

Dentro da filosofia do servir, aceitou o cargo de presidente do Conselho da Comunicação da Vara de Execução Criminais. Foi presidente da Associação dos Empresários do Distrito Industrial de Aracaju, por duas gestões. Hoje é presidente da Associação das Micros e Pequenas Empresas do Estado de Sergipe.

Frustração.

Sua frustração foi não ser funcionário do Banco do Brasil. Passou dois anos se preparando para enfrentar o concurso, sendo impedido de efetuar a matrícula por força de um decreto de Médici, que só permitia ingressar no Banco do Brasil quem tivesse até 23 anos. “Essa frustração eu carrego por todo o tempo”.
Gostaria de poder transmitir o que aprendeu na prática aos demais, esse é o seu grande desejo.

Considera Aracaju o futuro do Nordeste, pela felicidade de ter um povo acolhedor e trabalhador. “Muito feliz eu fui em Aracaju, e vou terminar o meu fim de vida nessa felicidade. Meus filhos, minha esposa, vivendo um casamento de felicidade, tendo completado no dia 22 de março, 41 anos de casamento. Se hoje se tivesse de casar, casaria com a mesma mulher.

Família.

Casou com Maria José de Andrade Amazonas no dia 22 de março de 1953. É pai de Nestor Emanoel, Marcos Antônio, Paulo César, Luísa de Marilac, Maria Goreth, Carlos Francklin e Patrícia de Paula. “Hoje, são seis filhos casados e tenho muito orgulho dos 16 netos”.

Faleceu na madrugada de segunda-feira, 24 de março de 2014, vítima de insuficiência respiratória.
Publicado em 10/04/1994.

Foto e texto reproduzidos do site: jornaldacidade.net/osmario

Foto: arquivo JC.

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 11 de agosto de 2014.

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