terça-feira, 6 de maio de 2014

Josa ‘O Vaqueiro do Sertão’ está longe dos palcos

 Fotos: Leonardo Dias.


Josa ‘O Vaqueiro do Sertão’ está longe dos palcos.

Por Leonardo Dias/Portal Infonet

Foi com mais de 52 anos dedicados a apresentações nos palcos forrozeiros, que o sergipano José Gregório Ribeiro, popularmente conhecido como “Josa, o vaqueiro do Sertão” construiu a sua caminhada no forró. Fã declarado do rei do Baião, Luiz Gonzaga, Josa que completou no último dia 12 de março, 85 anos, deu uma parada na carreira musical após a descoberta de um Alzheimer. Durante entrevista, a filha do cantor, Joseane de Josa, falou sobre momentos marcantes da carreira musical do forrozeiro, que inclui conquistas, amores e vida pessoal.

De origem humilde e do interior de Sergipe, o filho de lavradores do Povoado Jacaré, em Simão Dias, município distante 100 km de Aracaju, se tornaria em pouco tempo, uma das grandes referências da música popular nordestina. Autor de mais de 300 composições no forró, Josa fez questão de retratar toda a realidade vivenciada em suas composições. “Ele era um montador de cavalo, adorava as lidas do gado, sempre ligado na natureza e com 10 anos já ouvia Luiz Gonzaga. Sempre que ia vender banana na feira livre de Simão Dias ele já ia ouvindo no auto falante achando o rei”, conta Joseane.

Aos 18 anos, Josa decidiu ir ao Rio de Janeiro para seguir carreira militar, mas um acidente mudou os seus planos e fez com que ele investisse na carreira musical. “Ele foi para o serviço militar e depois foi prestar concurso na Guanabara, antiga capital do país, no Rio de Janeiro, e aí concorreu com mil pessoas para a Polícia Militar (PM), passou em 3º lugar, e sempre ouvindo Luiz Gonzaga. E foi na PM que ele ingressou como sargento músico, mais era de clarinete. Só que como ele tinha uma dificuldade na arcaria dentária, o maxilar inferior cobria o superior, estava dando dificultando na sua atuação. Em 1959, ele estava domando um cavalo bravo, e acabou caindo do animal e fraturou a tíbia e o perônio do pé esquerdo. Com essa queda, ele amputou um dedo e se aposentou”.

Aposentado, Josa foi até uma loja de instrumentos musicais localizada rua Uruguaiana, no Centro do Rio de Janeiro (RJ), e comprou o seu primeiro acordeom. Com o novo instrumento, ele retornou a solo sergipano e passou a tocar forró por todo o Estado. Sempre usando o chapéu de couro, símbolo característico do Vaqueiro. “Painho comprou um acordeom que até hoje está com ele. Em Sergipe ele começou tudo que sabia de clarinete ao acordeom, e se tornou Josa, o vaqueiro do Sertão”.

Foi com inúmeras participações em programas de rádio da época, que Josa conquistou em pouco tempo o seu espaço, e acabou ganhando o seu próprio programa na Rádio Difusora, atual Rádio Aperipê AM. E foi por meio do programa intitulado ‘Nas sombras de uma Jaqueira’, título de canção carro chefe do cantor, que ele conheceu o Rei do Baião, Luiz Gonzaga. Um encontro marcado de histórias e emoções.

“Luiz Gonzaga o rei do Baião, estava hospedado em uma pousada em Caldas de Cipó, na Bahia, e a dona do local ouvia assiduamente todos os dias o programa de Josa no rádio. Então ele ouviu o programa e gostou e disse que queria conhecer esse caboclo. Em seguida telegrafou para painho, e veio conhecer ele aqui em Sergipe. Durante esse encontro, na época, quem estava no auge era o cantor Roberto Carlos, e eles se conheceram na rádio e acabaram se estendendo no horário do programa ao ponto que a rede desligou o sinal do programa de painho. Eles acharam isso um absurdo, e para saíram em manifesto pelas ruas de Aracaju, questionando porque cortaram o rei do baião Luiz Gonzaga para por o do Roberto Carlos. E olhe que era programa de auditório, painho e Luiz foram com a platéia fazer um protesto na frente do Palácio do Governo para questionar isso (risos)”.

LP’s.

O primeiro disco do sergipano foi um compacto simples, “Fazendo Zabumba”, que contou com a participação de Luiz Gonzaga. O forrozeiro gravou ainda um disco duplo; dois LP’s com 12 músicas cada, além de realizar várias participações em coletâneas no Estado de Sergipe.

No auge de sua carreira musical, ele fez várias tournées e chegou a se apresentar no programa de Abelardo Barbosa “Chacrinha” no Rio de Janeiro/RJ. Josa também teve suas composições regravadas por cantores respeitados no forró, a exemplo de Clemilda, Alcimar Monterio, Mestre Zinho do Acordeon, Erivaldo de Carira, Zé Américo, Jailson do Acordeon, dentre outros.

Relacionamentos.

A vida de Josa foi marcada por vários romances. Ele foi casado por duas vezes e tem nove filhos, sendo quatro fruto do primeiro relacionamento, e cinco do segundo.

Ele também se tornou amigo fiel da sergipana Maria Feliciana, no qual a criou desde os 16 anos. “Ele conheceu ela em um show na cidade de Amparo de São Francisco que painho conheceu uma menina nova que já tinha 2,25m. Ela se chamava Maria Feliciana e não ia a escola enclausurada devido ao seu tamanho pelo contexto daquela época de ficar como uma vitrine, e painho fez o convite ao pai dela para ela deslanchar no basquete, saindo do contexto e tentar uma outra forma de vida. Os pais de Maria deram a tutela a painho e eles vieram para Aracaju Ela me criou durante 8 anos, e painho teve uma temporada de 8 anos com ela”.

Doença.

Há 10 anos, um Acidente Vascular Cerebral (AVC) e um Alzheimer tiraram o vaqueiro dos palcos. “Hoje a doença tirou a fala dele, a marcha, e ele não fala mais. A última vez que ele foi aos palcos ele tava com 70 anos; Em nenhum momento eu senti a não aceitação de painho com a doença. Ele é um homem muito de Deus, falava sempre em religião, havia esse respeito, o temor ao senhor. Ele sempre dizia que o homem nasce, cresce, e se desenvolve. Ele entendia esses processos da natureza. – A vida é ilusão, porque tanto orgulho, se todos são abrolhos que se acabam no chão – dizia painho”.

Reconhecimento.

Mesmo fora dos palcos, Josa é bastante lembrado pelos sergipanos. E teve o seu trabalho reconhecido em diversas premiações. “Em 1968, houve um encontro dos sanfoneiros aqui em Sergipe para escolher o melhor dos sanfoneiros, e painho recebeu o troféu da sociedade de reconhecimento no forró. Ele também teve a oportunidade de participar do 10º Fórum do Forró de Aracaju e de inclusive ter sido um dos homenageados; Foi homenageado ainda no Troféu Sanfona de Ouro, e de universidades particulares e instituições públicas”.

Josa, o vaqueiro do Sertão.

Mas o que Josa sempre procurou na sua vida, foi um cenário igual a sua música – Nas sombras da Jaqueira – e ele encontrou na cidade de Areia Branca, local que residiu por 38 anos. “Ele procurou um lugar que tivesse jaqueira para terminar seus dias e ele encontrou em Areia Branca, que é a propriedade dele, tudo o que dizia a sua música – Nas sombras da Jaqueira – e por 38 anos ele viveu lá, na cidade que ganhou o título de 3ª capital do forró no país. Com a doença, há dois anos ele está morando comigo aqui em Aracaju”.

Bastante emocionada, Joseane encerrou a entrevista falando do que o seu pai representa para a sua vida. “Para mim ele é o patrimônio cultural de Sergipe. Todos os colegas artistas têm muito respeito e amizade a ele, e eu entendo, sou filha suspeita para falar, mas eu entendo que é mérito, porque ele foi um cara que soube fazer a marca dele. Teve a moda do duplo sentido e ele não se corrompeu, e conseguiu se manter naquilo que ele defendia, e para mim ele é símbolo de força e coragem. Ele é um guerreiro e me mostra isso a cada dia nessa revolução de santidade. É o meu orgulho”, finaliza.

Imagem e texto reproduzidos do site: culturainterativa.com

Postagem originária da página do Facebook/Minha Terra é SERGIPE, de 5 de maio de 2014.

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