Foto reproduzida do site: joaoalvesfilho.org
A vida da professora Marlene Calumby*
Por Osmário Santos.
*Imortal da Academia Sergipana de Letras, além do
magistério, é radialista e advogada.
Marlene Alves Calumby nasceu a 21 de outubro de 1950, na
cidade de Aracaju-SE. Seus pais: João Alves e Maria de Lourdes Gomes. Seu pai
faz parte da história de Aracaju pela sua participação na história da
construção civil, tendo sido o responsável pela ampliação do bairro São José,
onde construiu o primeiro conjunto habitacional direcionado à classe média.
Dele, herdou o dinamismo em suas ações. “Ele era uma pessoa que não cedia aos
problemas da vida. Os problemas chegavam, ficava abatido, mas não cedia.
Procurava uma saída e seguia em frente. Ele nunca baixava a cabeça. Isso herdei
dele”.
Conta que sua mãe tinha um coração de bondade. Era uma
pessoa muita ativa, gostava de conversar, abrir sua casa às pessoas mais
simples. O que tinha em casa repartia com os vizinhos, com as pessoas que
batiam à sua porta em busca de comida. “Todo dia, tinha gente humilde na minha
casa. Tudo nosso era repartido com as pessoas necessitadas. Essa capacidade de
partilhar que caracterizava minha mãe, repartindo sempre tudo com os outros,
herdei dela. Minha mãe, de profundo sentimento religioso, também era muito
comunicativa, ensinou-me a viver intensamente com a sua maneira de ser. Gostava
de cantar, dançar, de ir ao cinema. Essas coisas ficaram arraigadas em mim”.
Os momentos da infância de Marlene foram vividos em torno da
rua do Carmo e Avenida João Ribeiro. “Em volta das bonitas imagens da Igreja do
Santo Antônio, das procissões de Bom Jesus dos Navegantes, da festa de 8 de
dezembro, Nossa Senhora da Conceição, da Feirinha de Natal, do Carrossel do
“Seu Tobias”. “Apesar de ser a mais nova dos três irmãos – por parte de pai e
mãe - minha infância foi bastante movimentada. Como era comum na época,
brincava muito de boneca e até hoje guardo esses momentos na memória. Ainda
tenho algumas bonecas em minha casa. Lembro também que gostava muito de ler e
João, meu irmão, me incentivava nessa prática. Minha avó, com quem tinha uma
relação muito afetuosa e de cumplicidade, também gostava de ler. Acredito que
fui uma criança que apresentou, até certo ponto, sinais de precocidade. Buscava
sempre crianças mais velhas para partilhar as brincadeiras.”
Sua vida estudantil tem a marca do Colégio Jackson de
Figueiredo, iniciada no curso infantil com a professora Dona Celina. Foram 11
anos vividos ali, no colégio dos professores Benedito Alves Oliveira e Judite
Rocha de Oliveira. “O Jackson de Figueiredo é parte de minha vida. Eu era
considerada uma filha do professor Benedito e da professora Dona Judite.
Acompanhei-os até o final da vida dos dois. A ligação era tão evidente que as
alianças, quando da morte dos dois, ficaram para mim. O desejo do professor
Benedito era que o par de alianças se transformasse em uma jóia para que
pudesse estar constantemente comigo e assim o fiz. O Jackson de Figueiredo era
a minha segunda casa. Tudo que aprendi – a desenvoltura de falar em público, o
sentimento de patriotismo, o amor ao Brasil, a Sergipe, todos esse valores
foram absorvidos no dia-a-dia do Colégio Jackson de Figueiredo, onde estudei
até o primeiro ano científico. Dona Judite, até hoje, é um paradigma para a
mulher atual, pelo destaque e respeito adquirido no desempenho digno e marcante
da função administrativa. Além de D. Judite Rocha de Oliveira, uma outra
mulher, também administradora, influenciou positivamente a minha formação: Dona
Maria das Graças Azevedo Melo, que foi a minha chefe, minha diretora no Instituto
de Educação Rui Barbosa. A dinamicidade das ações destas duas mulheres
induziram-me à escolha do magistério como meu caminho profissional.”
Como estudante interna em Salvador, capital baiana, faz o
segundo ano científico no Colégio das Irmãs Sacramentinas. “Considero uma fase
triste de minha vida, porque nunca me adaptei ao sistema de internato. Lá, não
tinha o espaço que tinha no Jackson de Figueiredo, onde eu criava, escrevia,
fazia meus discursos. Isso mudou totalmente minha vida e, por isso mesmo, durou
somente um ano. Pedi a meu pai para retornar a Aracaju. Não queria continuar
cursando o científico uma vez que não gostava de ciências exatas e o que eu
queira mesmo era ser professora”.
Volta da Bahia e começa a estudar no curso pedagógico do Colégio
Patrocínio São José. “Lá, encontrei várias figuras importantes na minha vida
pelo fato de que foram decisivas na minha ferrenha convicção de ser
professora”.
Ao final do curso, em 1969, recebe o convite para continuar
no colégio, agora, na condição de professora, ajudando às irmãs no trabalho
pedagógico. O Colégio São José é outra fase de minha vida que deixou lembranças
fortes. Não esqueço Irmã Angelina, Madre Superiora e as outras freiras que me
deixavam escrever e montar minhas peças infantis.”
Pressionada pelo pai, submete-se ao concurso vestibular para
Pedagogia, na Universidade Federal de Sergipe. “Eu achava que não lograria
êxito porque entendia que só a dedicação e o estudo intensivo levavam à
aprovação. Classifiquei-me no 7º lugar. Integrei a 3ª turma de Pedagogia da
UFS.”
“Como estudante universitária, considerava-me privilegiada
por ter tido como professores Dom Luciano Cabral Duarte, Carmelita Pinto
Fontes, Cabral Machado, Gilvan Rocha, professor Rivas em História da Educação,
Padre Ovídio em Sociologia, Maria Thetis Nunes em Cultura Brasileira, José
Rollemberg Leite, professor Paulino, professor Jackson dentre outros”. Cola
grau em Pedagogia no ano de 1973.
No segundo ano de faculdade, deixa o Colégio São José e
passa a ser monitora da Faculdade de Pedagogia por aprovação em concurso. No
terceiro ano, já estava ministrando aulas no Instituto de Educação Rui Barbosa
- Escola Normal. No quarto ano de faculdade, pelas boas notas, é selecionada
para a implantação do serviço de orientação educacional e profissional da
Escola Técnica de Sergipe. “Passei seis meses como estagiária e logo depois fui
contratada como profissional”.
A sua experiência em escola da rede pública considera que
foi das mais gratificantes e até hoje se faz presente em sua vida,
principalmente quando em seu dia-a-dia encontra com ex-alunas. “Até hoje,
encontro gente daquela época. A Escola Normal foi uma etapa importantíssima da
minha vida e essa vivência guardo com muito carinho”.
“Na Escola Normal, permaneci por 11 anos de trabalho
prazeiroso. Saí da Escola Normal quando saí do Estado para fazer especialização
na área de Educação. Quando retornei, em substituição à professora Marlene
Montalvão, fui nomeada diretora do Colégio Estadual Atheneu Sergipense, o qual
administrei por dois promissores anos, com a colaboração de colegas, excelentes
professores, sempre dispostos a trabalhar incessantemente. Nós formávamos uma
equipe extraordinária.
Na Prefeitura Municipal de Aracaju, implanta os serviços de
Orientação Educacional e Pedagógica da Secretaria Municipal de Educação. “Uma
idéia que deu certo. Na prefeitura, em quatro anos de trabalho, junto ao então
secretário municipal de Educação - Nicodemos Falcão - e depois atuando em
diversos colégios como funcionária pública municipal, a exemplo do Freitas
Brandão, Presidente Vargas e outros, sempre trabalhando no serviço de
orientação educacional. Uma das mais importantes passagens desta minha vida
profissional foi o trabalho realizado na Escola da Paróquia de São José, cujo
alunado era de domésticas, funcionando no turno noturno, quando tive a
felicidade de conviver com as freiras Sacramentinas e, em especial, com a Irmã
Maria de Nazaré, que marcou profundamente a minha vida. Encerrei minha gestão
na prefeitura auxiliando a direção do Colégio Presidente Vargas”.
Quando saiu do Atheneu, foi nomeada suplente do Conselho
Estadual de Educação. Depois passou a Conselheira, chegando a presidir o
Conselho pelo período de sete anos. “Lá, conheci mais amiúde as leis e tem
relação de perto com o trabalho pedagógico, evidentemente, voltado para a parte
administrativa. Foi aí que encorajei-me para submeter-me ao vestibular para a
Faculdade de Direito da Universidade Tiradentes. Formei-me em 1993”.
Como advogada diz que só teve três causas. Uma delas,
separação amigável. “Não nasci para advogar. Fiz Direito pois queria ampliar
horizontes e sedimentar meu conhecimento sobre legislação.”
No segundo governo de João Alves Filho, recebe o convite
para dirigir a Fundação Aperipê, tendo relutado, a princípio, por achar que
prevalecia em sua vida profissional o seu lado educacional, argumento este não
aceito pelo senhor governador, que rebate com a argumentação de que a sua
indicação fora exatamente para implantar uma visão educativa nas emissoras da
Fundação. “Fiquei por quatro anos na Fundação Aperipê de Sergipe, envolvendo-me
pelo trabalho. Senti-me motivada para fazer rádio e televisão. Como não podia
sem o registro profissional, fiz curso de radialismo, concluí e me
sindicalizei. A verdade é que me envolvi e me apaixonei pela área de
comunicação e é um verdadeiro xodó”. No dia 24 de maio de 2005, retorna ao
comando da Fundação Aperipê.
Faz vestibular para Psicologia, na Faculdade Pio Décimo, e
chega a cursar o primeiro período. “Tinha vontade de fazer Psicologia, como
também Jornalismo. O tempo curto, já viúva, mais responsabilidades em casa,
vi-me obrigada a deixar o curso”.
É membro da Academia Sergipana de Letras. Inicialmente, a
convite do sr. Ferreira Lima fui levada a participar do Movimento Cultural de
Apoio à Academia (MAC) e daí, por insistência dos colegas do MAC, inscrevi-me e
acabei me tornando acadêmica. É a Cadeira Número 30 - Gilvan Rocha, uma pessoa
que queria bem demais”.
Apaixonada por esporte, atualmente, é membro do Tribunal de
Justiça dos Jogos Estudantis e membro da Confederação Brasileira de Handebol.
Casou com o médico José Calumby Filho. “Nos conhecemos na
Escola Técnica Federal de Sergipe e no primeiro dia que vi Calumby, eu tinha a
certeza de que ele seria o meu companheiro. Fomos casados durante quase 23 anos
e tivemos duas filhas: Bianca Bárbara e Liza Cristina”.
Conta que a vida nunca lhe deu nada de graça. “Sempre a
minha vida foi muito conquistada, passo a passo. Tudo que tenho foi fruto de
muita luta. A sensibilidade que deixo emanar é porque tenho muito amor e paixão
por tudo que faço, tudo que gosto. Gosto demais de escrever, de falar de
improviso, gosto da música, das artes de uma maneira geral. Sou apaixonada pelo
teatro . Apaixono-me por tudo”.
Texto reproduzido do site:
usuarioweb.infonet.com.br/~osmario/
Publicação original em: 12/04/2006.
Postagem originária da página do Facebook/Minha Terra é SERGIPE, em 19 de Dezembro/2012.
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