“Escrever um discurso para Academia, para mim, que sou um
marginal, foi muito difícil”, declarou, quase que em tom de confissão, Amaral
Cavalcante, durante a sabatina da 31ª edição do NósnoCabaré.comConvidados,
realizada na noite da última quinta-feira (11), ao se reportar à solenidade de posse
na Academia Sergipana de Letras. “Chegar à ASL sempre foi um sonho. Meu desafio
era chegar com o que sou, com o que fiz e com quem eu trago”.
Aos 65 anos – ditos bem vividos, Amaral Cavalcante, nascido
na cidade de Simão Dias, jornalista e poeta, autor de “Instante Amarelo” foi
imortalizado no último mês de julho com a condecoração de membro da Academia
Sergipana de Letras, ocupando a 39ª cadeira, em substituição à professora Maria
Thétis Nunes.
“A imortalidade é uma falácia. Tenho que batalhar e trabalhar
todos os dias do mesmo jeito. Isso não representa nenhuma mudança na minha
vida. Continuo o mesmo, fazendo amigos novos e bonitos, fazendo o que sempre
fiz e conservando os amigos antigos”.
Peço todos os dias aos amigos para sairmos para comemorar
este título porque a imortalidade não me eterniza”, conclamou entre risos.
“Acho que não se mede um poeta pelo número de obras que
produziu. Poesia é uma coisa que não se acaba e não pode ficar aprisionada
dentro de um livro guardado em uma estante”, teoriza, acrescentando que vê mais
poesia na vida cotidiana em companhia dos amigos.
Folha da Praia
Desde 1981, Amaral Cavalcante exerce com a “mão de ferro” e
a carteira na mão a chefia editorial da Folha da Praia, um jornal alternativo e
irreverente, inspirado pelo antigo Pasquim e em circulação até os dias atuais.
“Nos cinco primeiros anos, a Folha da Praia sobreviveu do meu salário”,
relembra.
Com edições mensais médias de 3 a 5 mil exemplares e
distribuição gratuita, o jornalista assegura que a folha, até hoje, mantém
público cativo e realiza um jornalismo de resultados.
No colóquio emotivo do editor, já na década de 80, vencendo
os limites editoriais das mídias convencionais, a rebeldia impressa e expressa
no DNA da Folha da Praia se materializou em “uma grife” da notícia aracajuana.
“A praia da Atalaia parava para se ver na Folha. Todos queriam receber e ler a
Folha da Praia, que sempre foi um jornal também escrito pelo leitor, aonde
chegamos a publicar uma folha de maconha na capa e exibimos os primeiros topless
feitos em Aracaju”.
Uma das nossas marcas era o calhau escrito, onde
publicávamos mensagens do tipo: Folha da Praia - um jornal que mete o pau e
ainda goza”, relembrou.
“Hoje a Atalaia está diferente e a Folha já não é mais
popular. As circunstâncias mudaram, os bares que frequentávamos desapareceram e
algumas pessoas também”, afirma, ressaltando que, obedecendo às circunstâncias
e às conveniências, o periódico sobreviveu aos percalços do jornalismo e foi
respeitado pelos governos, mantendo-se vivo pelas últimas três décadas.
Amaral disse se lembrar de muitos prazeres vividos em nome
desse jornalismo ideológico, libertário e subvertido que praticou. “Lembro
somente de uma dor: ter denunciando uma rede de supermercados por ter me
vendido um quilo de carne estragada, o que rendeu a minha demissão de um
jornal”.
“Éramos a geração que colocou a rosa na boca do canhão. Uma
geração que lia e vivia antenada. Apesar de muita maconha e muita maluquice,
tivemos reuniões regadas à leitura, jornalismo e literatura”.
“Respiramos revolução cultural e revolução intelectual.
Sempre gostei do novo, das transformações, sempre estive aberto ao novo e me
mantive acessível. Nunca saí deste paradigma”, define-se o poeta.
“O ideal daquele grupo era a revolução política, revolução
cultural e revolução intelectual”, diz, classificando sua geração como mais
culta e mais preparada do que a atual geração de comunicadores.
Embora atribua mais profissionalismo e seriedade à geração
atual, ele entende que o ideário mudou e os valores são mais individualizados.
“A grande figura da redação é o repórter, que não poderia ficar atrelado à
pauta, necessitando de mais tempo e mais recursos para realizar um trabalho
mais investigativo. Acho que não falta ousadia, falta tempo”.
Embora jornalista provisionado, Amaral Cavalcante se mostrou
contrário à decisão do Superior Tribunal Federal – STF, que dispensou a
exigência do diploma universitário para o exercício da profissão de jornalista.
“Foi um desrespeito à profissão. O jornalismo precisa da academia”, defendeu.
Ao final da sabatina, Amaral Cavalcante se confessou
seduzido pelo ambiente e pelas morenas do Cabaré de 5ª. “Gostei e informo que
vou voltar. Esta é a proposta de jornalismo mais interessante que existe
atualmente. O que vocês fazem aqui é muito parecido com o que a Folha fazia há
tempos”, concluiu.
*FONTE - BellaMafia
*Foto e texto reproduzidos do blog
noisnocabare.blogspot.com
Postagem original na página do Facebook, em 14 de Setembro de 2012.
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