terça-feira, 18 de setembro de 2012

A Cultura no governo Augusto Franco (1979)


Em 1979, ano em o Dr. Augusto Franco assumiu o governo do Estado de Sergipe, os cuidados do poder público estadual com a área da cultura, limitava-se a um Departamento de Cultura e Patrimônio Histórico vinculado à Secretaria da Educação e Cultura, sem autonomia funcional nem orçamentária. Constava de três birôs instalados numa sala desprovida de tudo, no antigo Atheneuzinho, então ocupado pela SEEC.

O governador Augusto Franco criou uma Subsecretaria de Cultura com orçamento próprio e instalou-a condignamente em dependências sub utilizadas da Biblioteca Pública Ephifânio Dórea, colocando sob a direção do jornalista Luiz Eduardo Costa uma equipe de artistas e ativistas culturais, todos jovens e referendados pela militância na causa da cultura local.
O subsecretário Luiz Eduardo, que despachava diretamente com o governador, pôde fazer uma profícua administração, organizando as diversas instituições culturais existentes no Estado como os museus, as casas de cultura, o Arquivo Público e as bibliotecas.

Foi então que o governo estadual começou a apoiar a difusão da nossa cultura, criando Encontros Culturais em cidades do interior, patrocinando grupos artísticos e atendendo às demandas dos artistas locais. Enfim, aproximando-os do poder público.
Dito isto, para caracterizar a grandiosidade do cidadão Augusto Franco - egresso das oligarquias sergipanas e alçado ao governo por escolha da ditadura militar - lembro um episódio que me fez respeitá-lo como gestor de visão (visionária até) e certamente digna de louvores e memória.

Ocorre que amaldiçoado Zé Celso Martinez, ícone da resistência cultural naqueles anos de chumbo, criador do Teatro Opinião e abertamente defensor de plena liberdade para as expressões artísticas, estava excursionando pelo Brasil com um recital dito “orgástico e antropofágico”. Luiz Eduardo Costa, atento aos benefícios que essa pregação libertária traria aos artistas locais, consentiu em patrocinar, pela Subsecretaria, duas apresentações no Teatro Atheneu.

O teatro encheu. No palco, tudo o que não devia ser mostrado pelo bem da tradicional família sergipana e pelos brios dos milicos de plantão. Achincalharam os símbolos nacionais, jogaram uma melancia espatifada na cara dos expectadores provocando-os a uma imediata reação revolucionária, sem contar com os nus artísticos, deliciosos.
No outro dia a caretice da cidade acordou em polvorosa indignação. Fora! Não os queremos mais! Foi quando o governador Augusto Franco, chamando Luiz Eduardo ao seu gabinete, deu as ordens:

- Os meninos do teatro ficam e o Atheneu é deles, até quando eles queiram. Sergipe é governado pela democracia.
Vocês avaliem a coragem do gesto.

No ultimo ano do seu governo recebeu de Luiz Eduardo um abaixo assinado por moradores residentes no entorno da abandonada Caixa D’água do bairro Suíssa liderados pelo bailarino Marcos Braz (Erê), pedindo que o governo fizesse alguma coisa naquele local que só servia para abrigar bandidos que aterrorizavam a região. Pois o Dr. Augusto acatou o pedido, decretou a transferência da Caixa D!Água, que era da Deso, para a Subsecretaria e ordenou que se elaborasse um projeto, transformando aquilo num Centro de Criatividade, uma laboratório equipado com o que houvesse de mais moderno para incentivar a criatividade dos artistas sergipanos. Não deu tempo.

Ao relatar estes fatos, publico minha admiração a este grande cidadão sergipano que nos governou em tempos de ditadura, mas nunca deixou de ser um democrata determinado e esclarecido.

Foi o Governador Augusto Franco quem, primeiro, nestes tempos modernos, apoiou a cultura sergipana.

Amaral Cavalcante

Postagem original na página do Facebook, em 3 de Setembro de 2012.

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