Em 1979, ano em o Dr. Augusto
Franco assumiu o governo do Estado de Sergipe, os cuidados do poder público
estadual com a área da cultura, limitava-se a um Departamento de Cultura e
Patrimônio Histórico vinculado à Secretaria da Educação e Cultura, sem
autonomia funcional nem orçamentária. Constava de três birôs instalados numa
sala desprovida de tudo, no antigo Atheneuzinho, então ocupado pela SEEC.
O governador Augusto Franco criou
uma Subsecretaria de Cultura com orçamento próprio e instalou-a condignamente
em dependências sub utilizadas da Biblioteca Pública Ephifânio Dórea, colocando
sob a direção do jornalista Luiz Eduardo Costa uma equipe de artistas e
ativistas culturais, todos jovens e referendados pela militância na causa da
cultura local.
O subsecretário Luiz Eduardo, que
despachava diretamente com o governador, pôde fazer uma profícua administração,
organizando as diversas instituições culturais existentes no Estado como os
museus, as casas de cultura, o Arquivo Público e as bibliotecas.
Foi então que o governo estadual
começou a apoiar a difusão da nossa cultura, criando Encontros Culturais em
cidades do interior, patrocinando grupos artísticos e atendendo às demandas dos
artistas locais. Enfim, aproximando-os do poder público.
Dito isto, para caracterizar a
grandiosidade do cidadão Augusto Franco - egresso das oligarquias sergipanas e
alçado ao governo por escolha da ditadura militar - lembro um episódio que me
fez respeitá-lo como gestor de visão (visionária até) e certamente digna de
louvores e memória.
Ocorre que amaldiçoado Zé Celso
Martinez, ícone da resistência cultural naqueles anos de chumbo, criador do
Teatro Opinião e abertamente defensor de plena liberdade para as expressões
artísticas, estava excursionando pelo Brasil com um recital dito “orgástico e
antropofágico”. Luiz Eduardo Costa, atento aos benefícios que essa pregação
libertária traria aos artistas locais, consentiu em patrocinar, pela
Subsecretaria, duas apresentações no Teatro Atheneu.
O teatro encheu. No palco, tudo o
que não devia ser mostrado pelo bem da tradicional família sergipana e pelos
brios dos milicos de plantão. Achincalharam os símbolos nacionais, jogaram uma
melancia espatifada na cara dos expectadores provocando-os a uma imediata
reação revolucionária, sem contar com os nus artísticos, deliciosos.
No outro dia a caretice da cidade
acordou em polvorosa indignação. Fora! Não os queremos mais! Foi quando o
governador Augusto Franco, chamando Luiz Eduardo ao seu gabinete, deu as
ordens:
- Os meninos do teatro ficam e o
Atheneu é deles, até quando eles queiram. Sergipe é governado pela democracia.
Vocês avaliem a coragem do gesto.
No ultimo ano do seu governo
recebeu de Luiz Eduardo um abaixo assinado por moradores residentes no entorno
da abandonada Caixa D’água do bairro Suíssa liderados pelo bailarino Marcos
Braz (Erê), pedindo que o governo fizesse alguma coisa naquele local que só
servia para abrigar bandidos que aterrorizavam a região. Pois o Dr. Augusto
acatou o pedido, decretou a transferência da Caixa D!Água, que era da Deso, para
a Subsecretaria e ordenou que se elaborasse um projeto, transformando aquilo
num Centro de Criatividade, uma laboratório equipado com o que houvesse de mais
moderno para incentivar a criatividade dos artistas sergipanos. Não deu tempo.
Ao relatar estes fatos, publico
minha admiração a este grande cidadão sergipano que nos governou em tempos de
ditadura, mas nunca deixou de ser um democrata determinado e esclarecido.
Foi o Governador Augusto Franco
quem, primeiro, nestes tempos modernos, apoiou a cultura sergipana.
Amaral Cavalcante
Postagem original na página do Facebook, em 3 de Setembro de 2012.
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