“Ponte do Imperador é nosso
Cristo Redentor” (Amâncio Cardoso). *
Tendo como marco arquitetônico a
atual Praça Fausto Cardoso, Aracaju foi criada para ser a capital da província
em substituição ao município de São Cristóvão. Projetada pelo engenheiro
Sebastião Basílio Pirro seguindo estudos de vanguarda, ainda no final do século
XIX, a cidade foi erguida às margens do rio Sergipe com o objetivo de permitir
a escoação da produção açucareira do interior e impulsionar o desenvolvimento
sergipano.
Para conhecer um pouco mais sobre
a capital batizada pelo Ministério da Saúde como campeã brasileira em qualidade
de vida confira uma breve entrevista com o professor de história do Centro
Federal de Educação Tecnológica de Sergipe (Cefet/SE), Amâncio Cardoso, que
coleciona fotos antigas e pesquisa fatos históricos de Aracaju.
Entre as fotografias mais
valiosas do seu acervo, está a da zona portuária de Aracaju em 1869, ou seja,
14 anos após a mudança da capital. Professor Amâncio é mais um das
personalidades entrevistas pela Agência Aracaju de Notícias (AAN) para o
hotsite comemorativo ao aniversário da cidade.
Agência Aracaju de Notícias (AAN)
- Qual foi o marco inicial de Aracaju?
Amâncio Cardoso (AC) - O marco
arquitetônico inicial da cidade foi a Praça do Palácio - hoje Praça Fausto
Cardoso -, porque ali foram colocados os primeiros pinos de demarcação da área
a ser construída da cidade pelos engenheiros comandados pelo engenheiro Pirro
[Sebastião José Basílio Pirro]. Nós poderíamos chamar o núcleo urbano do centro
histórico de Aracaju a praça Fausto Cardoso.
AAN - Muito se fala que Aracaju
foi a primeira cidade planejada do Brasil. Qual foi a parte realmente planejada
da cidade?
AC - Não devemos confundir
projeto arquitetônico com planejamento; ela foi projetada. Foi feito um projeto
arquitetônico, uma espécie de croqui da cidade, mas planejamento requer uma
política mais complexa, pensar no futuro, na ampliação dela, nas demandas do
futuro. Então ela não foi planejada, ela foi projetada.
AAN - Qual foi a parte projetada
da cidade de Aracaju?
AC - A parte projetada foi o que
hoje corresponde a área entre a Avenida Barão de Maruim ao sul, até o que hoje
é a praça General Valadão ao norte; e na parte leste o rio Sergipe - a avenida
Ivo do Prado, ou a antiga rua da Aurora - até a avenida Pedro Calazans a oeste.
AAN - Muita gente atribui o
surgimento da cidade de Aracaju a partir do bairro Santo Antônio. Por que isso
acontece?
AC - Porque realmente aquele lugar,
o Santo Antônio e a circunvizinhança, é muito mais antigo do que a capital. Ali
era um local de moradores, de pequenos sitiantes, lavradores, que pertenciam à
comarca de Nossa Senhora do Socorro do Cotinguiba. Então, antes da capital
existir, já existia aquele logradouro, mas quando a cidade é fundada, criada
por lei, ele não pertence ao município de Aracaju; ele continua a pertencer ao
antigo município de Socorro. Depois é que ele é incorporado à capital. Então
não podemos considerar o bairro Santo Antônio como o local mais antigo da então
capital Aracaju, e sim a área do projeto que foi oficialmente instalada a
cidade.
AAN - Dentro da história da
criação da cidade de Aracaju, quais pontos o senhor considera importantes e por
quê?
AC - Eu consideraria pontos
importantes os marcos arquitetônicos da cidade. A Ponte do Imperador - apesar
de ela não ser um marco dos primeiros dias, anos, da história de Aracaju, ela
foi construída quatro anos depois para servir de ancoradouro para o imperador
[D. Pedro II], mas eu acho que, como ela permanece na nossa memória de forma
muito significativa, é um ponto marcante da nossa cidade. Seria o nosso Cristo
Redentor, no Rio de Janeiro. O segundo ponto que eu acho muito importante
devido ao seu uso na história foi a nossa primeira igreja, a primeira igreja de
Aracaju capital - que não é a de Santo Antônio, que como eu falei, - Santo
Antônio pertencia a outra freguesia - é a igreja de São Salvador. Esta igreja
foi construída dois, três anos depois da capital fundada devido a ausência de
uma igreja.
AAN - Não existiam igrejas em
Aracaju naquela época?
AC - Por conta da morte de Inácio
Barbosa [fundador de Aracaju] não havia sido acabada a igreja que ele tinha
projetado, então construíram outra, que é a São Salvador. Essa é a nossa
primeira igreja, que recebeu o imperador para assistir uma missa de ação de
graças e foi o local onde enterraram os restos mortais de Inácio Barbosa. Então
ela tem uma ligação com a fundação da cidade que eu acho primordial se
valorizar. Outro ponto que eu acho importante na nossa capital é a antiga Praça
do Palácio, a Fausto Cardoso, por ela ser o núcleo do nosso centro histórico.
Foi ali onde tudo começou e é ali ainda onde se realizam vários acontecimentos
cívicos, políticos, sociais, onde as pessoas se encontram, onde fica a antiga
sede do governo e todos os poderes estavam ao seu entorno por ser um núcleo.
AAN - O senhor possuiu uma
coleção de fotos antigas da capital. De onde surgiu esse hobby, quais as peças
mais valiosas e como as fotos são adquiridas?
AC - Sou aracajuano da gema. Além
disso, sou nostálgico; e geralmente tenho ‘saudade' de épocas que não vivi. Não
se trata de experiência espiritualista, mas existencialista. Sinto-me parte
visceral de Aracaju. Daí minha relação de amor e ódio com ela. Muito humano,
não? Como enveredei pelo estudo de sua história e sempre gostei de apreciar
imagens, levantei fotos que busco na internet, em acervos de amigos e as que eu
mesmo produzo. Ultimamente, ensino num curso de turismo e isto me fez pesquisar
ainda mais sobre nossa capital. A foto mais valiosa que possuo foi encontrada
no site do Instituto Moreira Sales [IMS]. Ela retrata a zona portuária de
Aracaju em 1869, ou seja, quatorze anos após a mudança da capital. Acredito que
esta imagem seja inédita para os aracajuanos. É um momento oportuno
apresentá-la no aniversário de Aracaju.
* Foto e texto reproduzidos do
site (aracaju.se.gov.br) de 10/03/2009.
* Professor Amâncio foi
fotografado por Alejandro Zambrana.
Postagem original na página do Facebook, em 20 de Setembro de 2012.
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