Nasceu na Estância a 2 de janeiro de 1859, filho de Urbano
Joaquim da Soledade e D. Francisca Carolina de Araújo Bessa, e faleceu às 3
horas e alguns minutos da manhã de 24 de agosto de 1913, no engenho Mucuri,
termo do Socorro, tendo sido sepultado no cemitério Santa Isabel do Aracaju e
custeados os seus funerais por conta do Estado. Os primeiros anos da sua
infância transcorreram naquela cidade, aproveitados em boa parte nos estudos
iniciais do curso de humanidades. Destinado à carreira eclesiástica, freqüentou
o seminário arquiepiscopal da Bahia durante os anos de 1876 a 1879 e quase a
concluir o curso canônico resolveu susta-lo, para abraçar outra carreira que
mais se harmonizasse com as tendências naturais do seu espírito. As suas
preferências pelo estudo do direito encaminharam-no para a Faculdade de Direito
do Recife, onde, após um brilhante tirocínio acadêmico, recebeu o grau de
bacharel em ciências jurídicas e sociais a 2 de outubro de 1885, deixando de si
a honrosa tradição de primeiro estudante da turma daquele ano pelo talento e
aplicação e, segundo o juízo autorizado da Congregação dos lentes da Faculdade
habilitado para ensinar direito em qualquer universidade do mundo.
Volvendo à terra natal, foi logo nomeado promotor público da
comarca de S. Cristóvão, cargo que exerceu até 1886 Posteriormente, em 1891,
ocupou os lugares de juiz de casamentos, desembargador e presidente do Tribunal
de Apelação do Estado, dissolvido em conseqüência da revolução de 23 de
novembro desse ano, e Chefe de Polícia em 1894. Eleito deputado provincial no
última legislatura do antigo regime, foi ainda deputado à primeira Constituinte
republicana do Estado e deputado federal em 1909 pelo sufrágio do eleitorado
oposicionista. Em todas essas elevadas posições soube sempre manter a mesma
linha de indefectível inteireza e altiva independência, escopos principais dos
seus atos, não tendo podido por lamentável circunstância corresponder à
confiança política dos seus comitentes perante a Câmara Federal visto o seu
grande espírito já se ressentir a esse tempo dos estragos produzidos pelo mal
que lhe minava a existência. O honroso conceito externado pelos mestres sobre
os seus dotes intelectuais e preparo científico, confirmou-se plenamente no
exercício da nobre profissão que abraçou, mais por amor à ciência complexa do
direito, do que pela cobiça do lucro, que muitas vezes renunciou em súbitos
movimentos de excessiva generosidade. Foi na advocacia que se firmaram
solidamente os seus créditos de eminente jurisconsulto, cujo saber, vencendo o
obstáculo das distâncias, transpôs as fronteiras do Estado e foi impor-se à
admiração dos mais notáveis profissionais do foro judiciário, à dos tribunais
superiores e às agremiações científicas do país. O renome de sua vasta erudição
jurídica adquiriu tal valor na consciência dos doutos, que por ato espontâneo
do Conselheiro Carlos Antonio da França Carvalho chegou a ser convidado
insistentemente em 1892 para reger a cadeira de direito criminal da Faculdade
de Direito do Rio da Janeiro.
Maior distinção não podia aspirar o advogado provinciano,
que não se havia jamais afastado de sua terra e nem ao menos conhecia
materialmente a progressiva cidade, onde pontificam os vultos mais salientes da
mentalidade brasileira. Igual homenagem aos seus profundos conhecimentos
científicos foi-lhe prestada pelos acrianos, quando dele recebeu a espinhosa
incumbência de enfrentar o sábio jurisconsulto e príncipe da tribuna
parlamentar, conselheiro Rui Barbosa, na ação de reivindicação do território do
Acre pelo Estado do Amazonas. Nessa luta gigantesca entre os dois atletas do
direito não ficaram ao certo bem definidas as posições do vencedor e do
vencido, visto que ambos terçaram as armas com a mesma maestria e cônscios do
próprio valor bateram-se fidalgamente, elevando-se às mais recônditas regiões
da ciência, sem se ferirem na defesa da causa, que cada um patrocinava. Como
único prêmio do seu esforço desenvolvido nesse pleito memorável, para o qual se
volveu por muito tempo a atenção do Brasil inteiro, dadas as excepcionais
aptidões intelectivas dos dois valentes contendores, a Intendência do Alto Acre
deu em 1906 à principal rua da vila Rio Branco o nome de Gumercindo Bessa. Não
lhe foram menos brilhantes que os do foro os triunfos alcançados nas pugnas da
imprensa sergipana. O provecto advogado em nada desmereceu como jornalista
político. Profundo conhecedor da língua nacional, estilista irrepreensível e de
uma dialética impecável, nunca cedeu uma linha ao adversário na discussão dos
princípios doutrinários. Nos seus escritos sempre assumiu toda a
responsabilidade do ataque na defesa dos seu ideais, assinando-os
invariavelmente com o nome próprio e raras vezes com o conhecido pseudônimo de
Aulus Gelius.
O seu gosto pelo jornalismo despontou muito cedo, quando
ainda estudante na Estância, como muito cedo revelou possuir um fenomenal poder
de retentiva, que lhe permitia operar verdadeiros prodígios de memória,
repetindo literalmente a uma só leitura páginas seguidas de qualquer obra. À
semelhança do filósofo solitário, passou a melhor parte da vida no silêncio do
seu gabinete a manusear as páginas iluminadas dos oráculos do direito. Caráter
intransigente e honesto em franca rebeldia contra a hipocrisia das convenções
sociais, ele sentia-se bem naquele ambiente, exercendo toda a soberania do
talento na íntima convivência dos livros, que considerava os seus leais
conselheiros. Digno discípulo de Tobias Barreto não deixou, como seu mestre,
obras de grande fôlego, mas através do pouco que escreveu se descobre bem
quanto seria capaz de produzir. Ainda como ele, não era senhor das qualidades
integrais de um perfeito orador; entretanto, a vastidão da sua cultura
intelectual supria consideravelmente as falhas dos predicados da oratória,
tornando-o um vigoroso discutidor nos torneios da tribuna. O Governo do Estado,
em homenagem ao nome ilustre do grande morto, adquiriu a sua livraria para a
Biblioteca Pública da capital, hoje instalada no salão Gumercindo Bessa, onde
em ato solene foi colocado o seu retrato a 24 de outubro de 1916. Sócio
honorário do “Clube Democrático” de Laranjeiras, efetivo do Instituto Histórico
e Geográfico de Sergipe e membro correspondente da “Sociedade de Legislação
Brasileira” do Rio de Janeiro.
FONTE:
GUARANA, Armindo.Diccionario Bio-Bibliographico Sergipano:
Rio de Janeiro, 1925.
Esta obra poderá ser encontrada na Biblioteca Ephifânio
Dorea - Aracaju-Se.
*Texto reproduzido do site manuscritosconsultoria.com.br
* Foto reproduzida do blog
thiagofragata.blogspot
Postagem original na página do Facebook/Minha Terra é SERGIPE, em 20 de Outubro de 2012.
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