MÉDICOS, ESCRITORES E POETAS *
Por Lúcio Antônio Prado Dias
Médicos e políticos, médicos e escritores, médicos e poetas,
duplas freqüentes na nossa história.
Analisando a estrutura da Academia Sergipana de Letras,
desde a sua fundação, observamos uma grande participação de médicos em seus
quadros. Nem todos se destacaram na medicina, é verdade, preferindo trilhar
outros caminhos, projetando-se na vida sergipana e brasileira em outras atividades.
Mas graduaram-se médicos e foram, pois, alvo do levantamento. Uma curiosidade
na cadeira de número 35, do patrono, passando pelo fundador, os sucessores,
todos foram médicos, sendo a tradição quebrada recentemente com a posse da
professora Marlene Calumby na citada cadeira.
Lourenço de Magalhães, o patrono da cadeira 35 era natural
de Estancia, onde nasceu em 11 de setembro de 1831, recebendo o grau de doutor
pela Faculdade de Medicina da Bahia em 15 de abril de 1856, defendendo a tese
“Como reconhecermos que o cadáver morreu de afogamento”. Era oftalmologista,
sendo também um profundo conhecedor em lepra, com reconhecimento internacional.
Dirigiu o serviço de oftalmologia da Casa de Saúde N. S. da Ajuda, no Rio de
Janeiro. Trabalhou como oftalmologista ainda em Estancia, Laranjeiras, Salvador
e São Paulo, onde foi diretor do Hospital dos Lázaros na Colônia de Guarapira.
Deu nome à Colônia (Leprosário) de Sergipe. Escreveu vários ensaios sobre
oftalmologia: “De l’intoxication porduite par l’instillation dans l’oeil du
collyre d’atropine”, in Gazette dês Hospitaux, “Novo processo da operação do
simbléfaro (aderência da pálpebra)” in Gazeta Médica da Bahia; “Da Kistiotomia,
Cistotomia (abertura do cristalino)”. Foi presidente da Academia Nacional de Medicina
(1895 - 1896), falecendo em São Paulo em 23 de novembro de 1905, com 74 anos.
O primeiro ocupante da cadeira, sendo pois seu fundador, foi
o cirurgião Augusto César Leite, pai da moderna cirurgia em Sergipe, fundador
do Hospital de Cirurgia e da Casa Maternal Amélia Leite, filho de Riachuelo,
onde nasceu em 30 de julho de 1886. Graduou-se em Medicina no Rio de Janeiro em
2 de janeiro de 1909, defendendo a tese “Da contra-indicação renal do emprego
do salicilato de sódio”. Voltou para Sergipe onde iniciou suas atividades em
Capela, Maruim e Riachuelo, transferindo-se depois para Aracaju onde, no
Hospital Santa Isabel, fez a primeira laparotomia em Sergipe, em 1914. Em 1916,
assumiu a cadeira de professor catedrático de Higiene Geral e História Natural do
Colégio Atheneu Sergipense e a partir de 1918 a cadeira de História Natural do
Seminário Diocesano de Aracaju. Foi Diretor da Escola de Aprendizes Artífices
de Sergipe, precursora da Escola Técnica Federal. Fundou ainda a primeira
maternidade de Sergipe – a Maternidade “Francino Melo”, em 1930, o primeiro
hospital infantil, em 1937 e a primeira escola de enfermagem. Tribuno brilhante
e político habilidoso, foi um dos fundadores e principais artífices da União
Republicana em Sergipe. Foi senador da República e Constituinte de 1934.
Abandonou a política partidária em 1937 com o golpe do Estado Novo. Recebeu
comenda do Vaticano por sua atuação médico-social. Faleceu em Aracaju em 9 de
fevereiro de 1978.
Augusto foi sucedido pelo médico pneumologista, tisiologista
e radiologista Aírton Teles Barreto , nascido em 12 de agosto de 1924. Aírton
Teles formou-se pela Faculdade de Medicina da Universidade de Pernambuco. Foi
interno do Sanatório Octavio de Freitas e do Hospital Osvaldo Cruz, em Recife.
Atuou no IAPC e IAPI como tisiólogo. Foi membro do Conselho Regional de
Medicina e participou de diretorias da Sociedade Médica. Atuou como membro do
Conselho Técnico da Escola de Serviço Social. Participou do grupo fundador da
Faculdade de Medicina de Sergipe, na cátedra de pneumologia e tisiologia. Poeta
e escritor, publicou “Lágrimas”, entre outros. Faleceu em 20 de janeiro de
1980.
Aírton foi sucedido por outro brilhante médico: João Gilvan
Rocha, nascido em 26 de agosto de 1932, em Propriá. Professor ilustre de fisiologia
da Faculdade de Medicina de Sergipe, criou, com os médicos Aloysio Vieira e
Gilton Rezende, o primeiro serviço de prevenção das doenças da mulher e
planejamento familiar de Sergipe, o PREVAN, localizado anexo ao Hospital Santo
Isabel. Artista plástico premiado, participou de inúmeras exposições no Brasil.
Cartunista. Autor do painel com as caricaturas dos médicos sergipanos que
decorou por anos as paredes do saudoso Clube dos Médicos de Sergipe. Foi um dos
coordenadores da 1º Congresso Médico de Sergipe ocorrido em 1966. Entrou de
forma inesperada e surpreendente na política ao se eleger senador por Sergipe,
derrotando categoricamente nas urnas uma das maiores lideranças políticas do
Estado, o ex-governador e ex-senador Leandro Maciel, sendo o primeiro sergipano
a obter mais de cem mil votos (77% dos votos de Aracaju) numa eleição, fato
destacado no livro do jornalista Sebastião Nery, “As 16 derrotas que abalaram o
Brasil”. Orador destacado, teve um mandato profícuo, com inúmeros
pronunciamentos e publicações. Presidiu a CEME – Central de Medicamentos do
Ministério da Saúde. Faleceu em 28 de novembro de 2002, em Aracaju, aos 70 anos
de idade.
Com a morte de Gilvan, a cadeira 35 passou a ser ocupada
pela professora Marlene Alves Calumby.
Médicos e políticos, médicos e escritores, médicos e poetas,
duplas freqüentes na nossa história.
Atualmente ocupam cadeiras na Academia os médicos Eduardo
Garcia, cientista e poeta, ex-reitor da UFS ( cadeira 2, desde 1991), José
Abud, poeta e humanista ( cadeira 9, desde 1980), Francisco Rollemberg,
cirurgião de estirpe e ex-senador da República ( cadeira 15, desde 1979),
Marcelo da Silva Ribeiro e mais recentemente o cardiologista ( e latinista)
Marcos Almeida.
Não estão mais em nosso convívio os médicos Antonio Garcia
Filho, que teve atuação destacada no sodalício, sendo seu presidente por vários
mandatos, José Maria Rodrigues Santos, Ranulfo Prata, Felisbelo Freire,
Maximino Maciel, Lapa Pinto, Renato Mazze Lucas, João Peres Garcia Moreno,
Ascendino Reis, Pedro Moreira, Antonio Dias de Barros, José Olino, Walter
Cardoso, Aranha Dantas, Joaquim de Oliveira e Guilherme Rabelo.
Nada pois a estranhar que haja entre os médicos um grande
número de excelentes escritores e poetas, em função do esplêndido conhecimento
que têm da natureza humana.
* Infonet - Blogs - Lúcio Antonio - 25/07/2008.
Postagem original da página do Facebook, em 15 de Setembro de 2012.
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