Infonet - Blog Luíz A. Barreto - 05/12/2008.
Carvalho Déda no batente do jornal.
Por Luíz Antônio Barreto.
Foi em Simão Dias, em 8 de setembro de 1946, que apareceu um
jornal de vida longa no interior, tendo no batente de sua redação e da
ilustração, através de xilogravuras, José de Carvalho Déda.
Basta uma simples leitura, uma conferência no Catálogo dos
jornais, revistas e outras publicações periódicas, organizado por Armindo
Guaraná, comemorativo do Centenário da Imprensa no Brasil, publicado pela
Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil, em 1908, para que tenha
a mais exata idéia de como a imprensa floresceu em Sergipe. De 226 verbetes,
cobrindo de 1832 a 1908, 140 indicavam jornais e revistas editadas em Aracaju,
e 86 no interior, salientando-se que no interior os jornais eram: 36 de
Estância, 16 de Laranjeiras, 10 de Maroim, 8 de Propriá e 7 de São Cristóvão.
Os restantes 8 estavam distribuídos por Santo Amaro das Brotas, Neópolis,
Rosário do Catete e Simão Dias.
Foi em Simão Dias, em 8 de setembro de 1946, que apareceu um
jornal de vida longa no interior, tendo no batente de sua redação e da
ilustração, através de xilogravuras, José de Carvalho Déda, advogado
provisionado, político, intelectual, homem do seu tempo, com uma obra que serve
de referência nos estudos da história e do folclore. Carvalho Déda encarnou o
seu jornal, contando com uma colaboração constante do irmão Francino da
Silveira Déda, e, mais tarde, do filho Carlos Alberto Déda, que viveu o
cotidiano de A Semana e tornou-se, após a morte do pai, no curador de todo o
acervo de 23 anos de sobrevivência.
Acostumado a redigir, Carvalho Déda fazia de tudo no seu
semanário, inicialmente circulando no domingo e mais adiante saindo aos sábado,
uma tribuna do povo de Simão Dias, sem contudo perder o contato com o Estado,
com o País e com o mundo. Mesmo sem teletipos, telex, Internet e outras
tecnologias, A Semana podia ser considerado um jornal moderno, com bom volume
de informações, editado com graça, leveza e, ainda, com o humor predominante
crítico do redator principal.
As atividades políticas de Carvalho Déda não impediram sua
presença constante na redação do jornal. Sua experiência era tão reconhecida,
que a UDN o convidou para redigir e dirigir o Correio de Aracaju, grande jornal
sergipano, que contou em sua redação com Homero de Oliveira e com Edison
Ribeiro, figuras que cuidaram do passado daquele prestigioso jornal. Carvalho
Déda deu conta do recado e parecia fazer pouca diferença, entre editar e
dirigir o Correio e a sua Semana.
A Semana teve, em seu tempo, a importância que teve A Razão,
em Estância, O Laranjeirense e O Republicano, em Laranjeiras, e o Correio
Sergipense, em São Cristóvão, que foi, sem dúvida, um dos melhores jornais de
todo o século XIX. Quando os olhos dos pesquisadores forem lançados por todo o
Estado, para formar um panorama da vida nas comunidades, tais jornais serão
referências básicas, mantendo o tônus cultural animador da sociedade sergipana.
A Semana é uma escola, no sentido de que ela ensina a fazer
jornal e a tratar as páginas dos jornais com a dignidade da boa notícia, do
comentário justo, da denúncia e da cobrança necessários e acima das questões
locais. Mais que isto, A Semana tem arte em suas páginas, seja pelas charges,
caricaturas, ou seja pelas ilustrações que fizeram de Carvalho Déda um artista,
que aliou no batente do jornal muitas qualidades requeridas pelo jornalismo. A
reunião dos jornais, a começar pela coleção 1946/1947, em CD ROM permite aos
contemporâneos solver, com prazer, esse belo exemplo de cidadania cultural
deixado por Carvalho Déda em A Semana.
Para evocar Carvalho Déda, nos exatos 110 anos de nascimento
e 40 anos de morte, o BANESE CARD e a FUNCAJU promovem, no dia 9 de dezembro,
uma Exposição comemorativa, na Galeria de Artes Álvaro Santos, focalizando em
50 painéis o cidadão, o político, o intelectual, o jornalista e o xilógrafo. Na
Exposição será lançada uma caixa com o título O Mundo de Carvalho Déda,
reunindo 4 livros: Brefáias e Burundangas do Folclore Sergipano, que ganha 3ª
edição, Simão Dias – Fragmentos de sua história, em 2ª edição, o romance
inédito Formigas de asas e a coletânea Carvalho Déda Vida & Obra, com
textos inéditos, correspondências, ilustrado com fotos e xilogravuras.
Vai na caixa, também, um DVD com a vida e a obra do fundador
de A Semana, e um CD ROM com a coleção do semanário simãodiense, dos anos de
1946 e 1947, como parte de um projeto que digitalizará toda a coleção, até
1969.
Foto e texto reproduzidos do site:
infonet.com.br/luisantoniobarreto/
Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 10 de junho de 2014.
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