domingo, 25 de novembro de 2012

João Silva Franco, O João Sapateiro

João Silva Franco, O João Sapateiro *

"João Silva Franco trabalhou duro para sobreviver. Negro, quase dois metros de altura, teve a vida marcada pelo sobrenome postiço. Profissionalizou-se como sapateiro, remendando o couro, trocando o salto, pondo meia sola nos sapatos da população, independentemente do poder aquisitivo de cada pessoa. Quem podia, é claro, comprava sapato novo, em Aracaju, ou em outra qualquer cidade do País. Mas, quem tinha dinheiro curto, e queria fazer bonito na festa de São Benedito, que é colada na festa de Santos Reis, encerrando o ciclo natalino, entregava seu sapato velho a João Sapateiro, estabelecido nas cercanias do Mercado Municipal. Discreto, mas de boa conversa, o sapateiro exibia na sua oficina de trabalho, folhas de papel pautado, repletas de palavras escritas em letras de forma, fixadas nas paredes e nos poucos móveis do seu canto laboral. Eram trovas, pequenos e longos poemas, que surpreendiam a freguesia. João Silva Franco passou a ser conhecido como João Sapateiro, e reconhecido como o sapateiro poeta.  João Silva Franco era um lírico, mas não cantava apenas o amor. Suas trovas estavam afiadas como navalhas, cortando com cada verso o tecido da realidade. Não calava diante das injustiças, mesmo quando a doçura de seu jeito simples e bom acolhia a todos. Numa de suas quadras, publicada na primeira antologia dos seus versos (Aracaju: Nova Editora de Sergipe, 1965), João Sapateiro corrigia a admoestação de São Paulo, que na segunda Carta aos Tessalonicenses exortava ao trabalho, como única forma de sobrevivência. O poeta, tomado de justa ira, tingiu as linhas do papel pautado com letras grandes, todas maiúsculas letras de imprensa, que diziam:

QUEM NÃO TRABALHA NÃO COME

É CONVERSA MUITO FALHA,

PORQUE SÓ VEMOS COM FOME

O POVO QUE MAIS TRABALHA.”

Ele mesmo, trabalhador e poeta, glória entre os simples, da grande e rica Laranjeiras, fez do pé de cabra e do martelo, da faca afiada e do couro, um ofício fino, para embelezar os pés dos seus contemporâneos, como fez da palavra uma arma, manejada para criar beleza, com a coragem dos bons e dos justos. Os sapatos, gastos, se perdem, mas a poesia continua servida, nos livros que publicou. (Luiz Antonio Barreto).

*Foto e texto reproduzidos do site sulanca.com


Postagem originária da página do Facebok/Minha Terra é SERGIPE, em 20 de Novembro/2012.

Um comentário:

  1. Se João Silva Franco, o João Sapateiro, trabalhou duro e de forma árdua nessa função, porem era um tempo q a profissão de sapateiro, o proficional tinha sua feira gorda e trocadozinhos extra p,ra sua beberagem em final de semana. Hj essa profissão ainda existe, só q agora é o contrário: é a continha minguada da sobrevivência e é sorte se ainda tiver trocadozinhos p,ra sua beberagem em final de semana. Eu acho muito dificil.

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