sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Um Bar de Otário


Um Bar de Otário
Por Amaral Cavalcante

 Fui ao Gleide Lanches, na calçada da Atalaia, levado por uma reticente nostalgia. O insinuante clima de pegação, os amassos fortuitos, a mistura de sons que vai do rock pauleira ao jazz, da cornice às delícias de Freddie Mercury e que de repente serena numa canção dolente de Caetano, me transportaram aos bares malucos da década de 1970, onde ficaram vencidas as minhas mais descoladas emoções. Fui tentar rever no Gleide o poeta maluco com o seu rabo de cavalo, as pantalonas berrantes, o coração feito pandeiro ritmando amores.

Que desilusão! Encontrei um povo feinho encastelado em suas mesas num círculo fechado de conversas restritas. Um bando de desconhecidos, um deserto de compartilhamentos. Nos bares de 70 caminhávamos entre as mesas nos reconhecendo, tirando onda, afofando o papo numa gregária distribuição de motivos felizes. Era assim no Bar 315, na Furna da Onça, na Cascatinha, nas Bocas, no Corno Velho, no Vaqueiro, no Burguesia, no China, no Barbudo’s... este último, um templo onde cultuávamos o por do sol carburando um fininho nas tardes amenas da Atalaia para depois, cabeça entorpecida de fumo e maravilhamentos, guardarmos o precioso botim dos nossos amores madrugados.

Duas cervejas mijadas, um frango à passarinho (de pescoço e moelas), um bêbado roçando em mim o umbigo de pitomba, pedi a conta! Meia hora depois a garçonete - metade bunda, metade indiferença - me apresentou uma conta fantástica que, depois de agitados impropérios e bate-boca com o dono, um sonolento senhor com cara de padeiro, foi refeita, salvando-me dos 20 reais acrescentados.

Amigos, amados, por onde andam vocês?

Postagem original na página do Facebook/Minha Terra é SERGIPE, em 8 de Novembro de 2012.

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