domingo, 10 de maio de 2015

Cadernos (especiais) de Receitas



Publicado originalmente no Facebook/Lygia Prudente, em 04/05/2015.

Cadernos (especiais) de Receitas.
Por Lygia Prudente.

Outro dia, arrumando meu “baú” de lembranças, cheguei a uns antigos cadernos, amarelados pelo tempo. Eram livros de receitas, da minha mãe e da minha sogra. Folheá-los, trouxe à tona, lembranças que acalentaram o meu coração, com ricos registros, escritos à mão, traçados e imortalizados. Agora, por conta do clima comercialmente explorado, com a proximidade do Dia das Mães, volto no tempo e até sinto a presença forte das duas, cuja convivência deixou marcas e ensinamentos profundos e colocados em prática diariamente. Interessante imaginar que simples cadernos guardam histórias, lembranças e tradições, através de anotações de uma receita especial, com o carinho e a criatividade muito pessoal de cada uma delas, que puderam provar tudo isso com o toque especial que transformava uma simples receita em pratos divinos. A minha mãe, enquanto teve saúde, abria o livro sobre a mesa da cozinha e começava a inventar receitas nos finais de semana. Ela juntava os ingredientes numa desenvoltura - adicionava o açúcar, leite, manteiga - e voltava a olhar o livro, e da receita escolhida, surgiam receitas diversas, porque ela ia criando e substituindo ingredientes quando não tinha na dispensa algum recomendado no livro. Eu, sentada à mesa da cozinha, ficava observando a concentração no trabalho executado com tanta segurança, e aguardava ansiosa, para comer o que restava da massa de bolo crua... até que chegassem meus irmãos com o quais eu dividia sempre. E assim, surgiam bolos, doces-de-leite, pastéis, molhos... de tudo um pouco. Sinto ainda o cheirinho bom que dominava a casa enquanto o fogão cumpria o seu papel de bom grado: dali surgiam obras de arte como a famosa torta gelada, os deliciosos e inigualáveis cigarretes. Tínhamos uma outra cozinha, separada do corpo da casa, na qual os quitutes eram feitos. Nela haviam dois fogões: um a gás e outro à lenha. Verdade. E, para completar, havia também um tacho grande, de cobre, onde eram feitos os doces batidos de goiaba, colhidas das cinco goiabeiras do nosso quintal. Nossa... como é bom lembrar. Junto à lembrança “viva” da minha mãe, vem também a das minhas avós. Nenete, a quem visitávamos diariamente com o meu pai e que sempre tinha guloseimas, feitas por ela, a oferecer aos netos – doce de leite, de goiaba, de banana, de bolas de queijo e assim vai. Lucila, avó pelo lado materno, morava em Salvador, mas vez por outra estava aqui, cuidando de armazenar a casa dos doces batidos de goiaba, que tanto gostava de fazer no tal tacho de cobre. Como se não bastasse, a minha sogra era “cozinheira de mão cheia” e doceira fina. Com ela aperfeiçoei as minhas ideias criativas na cozinha e reforcei os ensinamentos e as observações culinárias da minha infância. Dessa fase, ficaram as balas de leite condensado – as tais balivas (balas de Maria Aliva – esse era o seu nome), os sonhos de valsa completamente caseiros, sorvete de guaraná, e tantas outras receitas. Constato hoje, que o prazer que tenho pela cozinha tem razão de ser, e, com certeza, essas histórias se perpetuarão com Simone – minha filha, e Elaine – minha nora. Incontestavelmente, com as lembranças vêm os aromas e consigo sentir os cheiros dessas experiências na minha infância e adolescência. Por conta dos Cadernos de Receitas que guardei dessas adoráveis mulheres, e do que eles suscitaram, decidi assim, homenageá-las pelo papel dignificante que sempre exerceram como Mães e o legado que deixaram para os seus filhos, netos e gerações futuras. A felicidade é nossa de tê-las como Avós e Mães.

Texto e imagens reproduzidos do Facebook/Lygia Prudente.

Postagem originária da página do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 5 de maio de 2015.

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