sábado, 8 de junho de 2013

Para Paulo, um Réquiem e uma Ode à alegria.


Publicado pelo Blog "Cajueiros e Papagaios".
De Grace Melo, em 21 de Junho de 2010

Para Paulo, um Réquiem e uma Ode à alegria.

Vivemos, e, se não bastasse o tempo que vai marcando a contagem regressiva até o dia do encontro inevitável com aquela inexorável e ceifadeira senhora, morremos também, quando pessoas a quem amamos se vão indo, e, certamente, levam pedaços do que somos, parcela daquilo que o ser humano não consegue construir sozinho, porque é o resultado dos sentimentos compartilhados: alegria, tristeza, esperança, coragem, decepção, solidariedade. Esses fiapos da existência, que a amizade, a convivência, ajudam a juntar.

Assim, o ser humano não é o eu isolado, sozinho, mas, certamente, o resultado somado daqueles fiapos recolhidos. Há pessoas que passam pela vida tendo a extraordinária capacidade de distribuir esses pedaços, que se vão juntar a outras pessoas. Por isso, quando partem, se tornam mais pranteadas, tornam a sua ausência mais sentida.

Paulo Barbosa de Araújo foi uma dessas pessoas, e os pedaços de coragem, de esperança, de dignidade, de solidariedade, que ele deixou em cada amigo, ainda mais forte na sua mulher Osa, nos seus filhos Paulo Mário e George, tornam a sua passagem pela vida, a faina incansável de um semeador.

Houve um golpe em Botswana, no Malavi, na Croácia, na Bósnia?

Paulo ficava a preocupar-se. Estariam respeitando os direito humanos? Seriam repressores os novos donos do poder?

A distância dos fatos não lhe diminuía a preocupação, aquele sentimento solidário de um humanista que se comovia e se indignava com a injustiça e a dor, onde elas estivessem. As suas fronteiras eram globalizantes para o humanismo e também, rigorosamente restritas, no seu nacionalismo de brasileiro, que sonhou, desde a década cinquenta, um país construído com a dignade da soberania e solidariedade indispensável da justiça social. Sofreu por isso, continuava sofrendo agora, diante do festim de crápulas em que se vai transformando a vida pública brasileira.

Um dos pedaços que Paulo Barbosa de Araújo deixou engastados hoje naqueles que o conheceram, foi, sobretudo, a sua crença em um mundo melhor, por isso, foi solidário, por isso, lutou, como jornalista, como professor, como economista, como servidor público, como ser humano, que, em meio a todas as decepções, dificuldades, nunca perdeu a grande alegria de viver.

Quase no fim, plantava árvores, terminava de escrever um livro.

Para Paulo, não basta um réquiem, cantemos, também, a Ode a Alegria, aquele final feérico da Nona de Beethoven que é esperança, força, jubilo, reafirmação da vida.

Luiz Eduardo Costa - Jornalista

(Publicado no Jornal da Cidade em 16/01/2000 e no livro Petróleo: Porque Sabotado?)

Texto reproduzido aqui do blog: cajueirosepapagaios.zip.net/

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, em 8 de junho de 2013.

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