quarta-feira, 20 de março de 2013

Estudante Quer Garantir Preservação de Patrimônio Estadual


Estudante quer garantir preservação de patrimônio estadual

A gota d’água para o Brasil entrar na II Guerra Mundial caiu no litoral sergipano, a exatamente 20 milhas de Aracaju. Há 68 anos, três navios da Marinha Mercante brasileira foram bombardeados na costa do Estado de Sergipe, causando a morte de quase 600 pessoas – entre elas mulheres e crianças, passageiros dos navios Baependi, Aníbal Benévolo e Araraquara. Grande parte dos corpos veio dar na praia, conhecida hoje como Praia dos Náufragos. A maioria foi enterrada ali mesmo num cemitério criado para receber as vítimas desses naufrágios. O local foi tombado em 1973 pelo patrimônio estadual, mas se encontra abandonado. O estudante de História Luís Fernando Reis Menezes quer resgatar esse fato histórico e tornar o Cemitério dos Náufragos Patrimônio Nacional para garantir a sua preservação.

“Meu pai, o jornalista Carlos Lúcio Menezes, e a minha mãe, Maria Celina Reis Menezes, viveram boa parte desta história. Meu pai alistou-se como voluntário da Força Aérea Brasileira logo após o torpedeamento e esteve no local para ajudar na remoção dos corpos. Minha mãe confeccionava roupas para enviar aos campos de batalha. Quando criança, visitei o Cemitério dos Náufragos com meus pais, que me contaram a sua história”, disse o estudante. Para ele, preservar esse monumento é contribuir para o resgate da história e exaltar o sentimento de patriotismo.

Ele contou que recentemente, ao passar pelo Cemitério dos Náufragos, ficou desolado com a
quantidade de lixo e mato que havia no local. Na semana passada, o cenário era menos desolador. Moradores da região que tem familiares sepultados naquele cemitério queimaram o matagal e retiraram parte do lixo para reverenciar os mortos no Dia de Finados.

Interditado

Até três anos atrás, o Cemitério dos Náufragos ainda recebia sepultamentos. Mas em 2007 uma sentença judicial iniciada em 2006 interditou o local. A ação movida pela Promotoria do Meio Ambiente do Ministério Público Estadual pedia a interdição do espaço para evitar poluição do lençol freático. Todo o cemitério foi cercado com arame farpado para impedir o acesso de visitantes. A comunidade do Robalo protestou. “Não podemos mais vir aqui limpar o cemitério como a gente sempre fez, só no Dia de Finados. E assim mesmo porque tiramos parte da cerca, pois queremos trazer flores para nossos mortos”, disse dona Izaulina Maria Marques da Vitória, 77.

O Cemitério dos Náufragos está a 20 quilômetros do centro de Aracaju. À frente dele está a Rodovia José Sarney, que entre 1985 e 1987, enquanto era construída, levou mais da metade do cemitério, segundo os moradores. “Passaram por cima de tudo. Reviraram as covas e depois colocaram tudo no cemitério do Mosqueiro”, relembra o irmão dela, José Vitório da Silva, 73.

Mais de 100 anos

Cruzes quebradas jogadas ao chão, covas e sepulturas abertas, mato e lixo tomam conta da pequena área surgida entre os dias 15 e 20 de agosto, quando os corpos foram sepultados naquele local (ver boxe). Os moradores garantem, porém, que ele já existia, sob outro nome (Cemitério dos Campinhos), para enterrar as pessoas que moravam naquele povoado. “Já tinha há mais de 100 anos. Meus pais sempre moraram aqui e contavam que seus avós foram enterrados no Campinhos”, relatou dona Izaulina.

Para ela, para o irmão e os vizinhos, Adelaido Marques, 65 e Claudionor Andrade, 62, todos pescadores nascidos e criados no Robalo, preservar é bom, transformá-lo em patrimônio nacional, melhor ainda, mas desde que a prefeitura construa um novo cemitério para atender a comunidade.

De acordo com o Dicionário dos Médicos de Sergipe, o Cemitério dos Náufragos foi fundado pelo médico baiano Carlos Moraes de Menezes, que trabalhou em várias cidades de Sergipe, tendo inclusive participado do acontecimento. O historiador e pesquisador Luís Antônio Barreto ressaltou o valor histórico do local e disse que parte dos corpos foi sepultado naquele lugar tombado elevado à monumento histórico estadual pelo decreto n°2.571, de 20 de maio de 1973. Segundo Luís Antonio, o bombardeio dos três navios em Sergipe foi o estopim para o Brasil sair da neutralidade e declarar guerra à Alemanha, à Itália e ao Japão.

Ataque dos submarinos alemães

A II Guerra Mundial começou em 1º de setembro de 1939, quando a Alemanha invadiu a Polônia, e terminou em 2 de setembro de 1945. O Brasil entrou na guerra em agosto de 1942 depois de sofrer uma série de ataques de submarinos alemães a 20 navios da Marinha Mercante Brasileira, entre eles os três que vieram a pique na costa sergipana (dois deles em apenas uma noite em um espaço de 10 horas).

No intervalo de apenas dois dias, 15 e 17 de agosto de 1942, foram torpedeados pelo submarino nazista U-507 o Bapendi, com 74 tripulantes e 235 passageiros; o Araraquara, que levava a bordo 73 tripulantes e 69 passageiros além de carga geral; e o Aníbal Benévolo, com 64 tripulantes e 83 passageiros, praticamente todos dormindo na ocasião do torpedeamento. Quase 600 pessoas morreram (os números divergem um pouco segundo os registros históricos consultados, mas em todas as publicações, o número de mortos ultrapassou 550). Cinco dias depois, em 22 de agosto de 1942, Getúlio Vargas declarou guerra ao Eixo.

O aposentado Rosalvo Fontes, 90, era funcionário público na época e ficou encarregado de transportar os corpos. “Levamos para os Cemitérios dos Cambuís e Santa Isabel, em Aracaju, mas depois não deu tempo, pois o mal cheiro era grande. Então enterramos ali mesmo onde hoje é o Cemitério dos Náufragos”, falou.

Fonte: Jornal da Cidade.
Texto reproduzido do site: clicksergipe.com.br
Foto reproduzida do blog: conhecendocesad.blogspot.com.br

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, em 19 de março de 2013.

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