Marcelo Déda Chagas (1960 - 2013).
Sua raiz política.
Marcelo Déda Chagas nasceu em 11 de março de 1960, na Rua
Cônego Andrade, 182, na cidade de Simão Dias, situada a 110 km de Aracaju. É o
mais novo de uma família de cinco irmãos, cujos pais são o senhor Manoel
Celestino Chagas e dona Zilda Déda Chagas.
A infância de Marcelo Déda em Simão Dias foi marcada pelas
brincadeiras de rua, cuja relação com a natureza era muito forte. Os brinquedos
eram comprados dos artesãos ou fabricados pelas próprias crianças. A principal
característica dessa época era a vida ao ar livre, em um período que a
violência não era algo ameaçador.
Durante os anos de ensino fundamental, Déda freqüentou uma
das instituições mais tradicionais do interior de Sergipe - o Grupo Escolar
Fausto Cardoso - na Praça Barão de Santa Rosa em Simão Dias. Em 1969, seus pais
foram morar em Aracaju e o caçula continuou no interior com sua tia Eunice
Oliveira. Mulher muito religiosa, foi responsável pela formação católica do
sobrinho que chegou a ser coroinha ao lado do Monsenhor João Barbosa, na Matriz
de Nossa Senhora Sant'Anna.
Déda ajudava nas missas e nos ritos. Ele relembra com
carinho histórias que marcaram essa fase. "Meus amigos sempre diziam que o
espírito do Padre Madeira, que havia sido enterrado na própria igreja, aparecia
para as pessoas que estivessem lá. Por isso, eu tinha muito medo de fechar as
portas do templo, quando todos já tinham ido embora, e de ser o primeiro a
chegar, às 5h30 da manhã, para bater o sino".
Em 1973, aos 13 anos, ele deixou a cidade para estudar em
Aracaju, no Atheneu Sergipense, tradicional escola pública. Sua família se
instalou no bairro São José, onde seus pais moram até hoje. A paixão pela
literatura veio mais tarde, aos 15 anos de idade, quanto teve contato com a
biblioteca do avô José de Carvalho Déda, um autodidata conhecido como Zeca.
Apesar de ter convivido muito pouco com o avô, pois ele morreu quando Marcelo
Déda tinha apenas oito anos, as influências foram decisivas na sua formação.
Escritor e jornalista, Zeca Déda havia sido eleito três
vezes deputado estadual. Nos anos 50, no entanto, encerrou sua participação
política. O menino Déda ainda nem havia nascido. Apesar de não ter convivido
com o avô nesta época, o seu senso de justiça foi transferido para o neto, que
começou a coletar depoimentos sobre o avô e a ler seus livros discursos
registrados em diários e jornais. "Mesmo ausente meu avô teve uma grande
influência no meu caráter. Ele me deixou um grande legado", conta
orgulhoso o governador.
Déda estudou no Colégio Atheneu até a conclusão do 2º Grau.
Nessa fase, conheceu Edgar Barbeiro, um comunista que, para ele, se confundia
com a esquerda de Sergipe. Começou a ler os livros de Jorge Amado, textos de
esquerda e acompanhar a eleição de 1974. Foi o início da sua paixão pela
política, alimentada pela leitura de jornais alternativos da época como
"Pasquim", "Movimento" e "Opinião".
O primeiro movimento reivindicatório que Marcelo Déda
participou e a primeira greve aconteceram no Colégio Atheneu em 1979, quando
ele mobilizou os colegas do terceiro ano contra a compra da farda de gala no
final do antigo 2º grau, período em que os alunos já estavam deixando a escola,
por considerar um desperdício tal investimento só para o desfile de sete de
setembro. A união entre sua turma e a turma da manhã culminou numa suspensão e
todos foram obrigados a desfilar no dia comemorativo, mas com a farda comum.
Ainda no Atheneu, Déda engajou-se nos movimentos culturais.
Em 1977, foi presidente do cineclube do Colégio Atheneu Sergipense. Foi
cineasta amador na Bitola Super/8mm, e em 1979 chegou a ser condecorado com o
Prêmio Especial do Júri no Festival de Cinema Amador de Sergipe. Na área
cinematográfica, fundou com amigos o Cine Clube do Diretório Central dos
Estudantes (DCE) já na Universidade Federal de Sergipe (UFS), onde cursou
Direito entre os anos de 1980 e 1984.
Sua militância política teve início no Movimento
Secundarista. Apesar de aprovado em segundo lugar no vestibular de Direito da
UFS, antes de escolher este curso, Déda pensou em estudar Jornalismo e
Psicologia, que não existiam na época, e também História. Seu contato com o DCE
da UFS foi feito na época de existência do grupo político estudantil de
esquerda chamado Atuação. Em 1978, Déda já freqüentava os seminários, as
conferências e os congressos que o DCE promovia.
Ainda no Atheneu concorreu ao Centro Cívico com a chapa
Ação, e foi derrotado. Sem mandato, ele montou, com outros jovens de escolas
públicas e privadas, um grupo que tinha o objetivo de reconstituir o Movimento
Secundarista e a sua principal entidade, a USES (União Sergipana dos Estudantes
Secundaristas), na época proibida pelo Regime Militar.
Em 1979, começou a trabalhar com seus companheiros na
criação do PT (Partido dos Trabalhadores), durante a reforma partidária no
final do governo Figueiredo.
O DCE foi o início de uma militância mais ativa, articulada
e fundamentada na política. Neste período, ele conciliava os estudos, o
trabalho e a militância no Movimento Estudantil e na Fundação do PT. Trabalhou
como professor de Organização Social e Política Brasileira (OSPB) e Educação
Moral e Cívica (EMC) e foi estagiário do Banese.
Um universitário com sede de conhecimento.
Na Universidade, Marcelo Déda viveu com uma geração de
professores extraordinários dentre os quais sempre destaca Luiz Alberto dos
Santos, atual secretário de Estado da Cultura, Josué Modesto dos Passos
Sobrinho, professor de Economia eleito recentemente para o cargo de reitor da
UFS; Adélia Moreira Pessoa, professora de Introdução ao Estudo do Direito; e
Ibarê Dantas, professor de Ciências Políticas, historiador e atual presidente
do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (IHGS).
Com Ibarê, Déda conheceu Gramsci que, segundo ele, foi
fundamental para mudar sua imagem de mundo e entender melhor a disputa política
no Ocidente. "Meu modelo de pensar resistiu intensamente a incorporar
esses novos valores e a trabalhar com essas novas categorias. Porém, na prática
de construção do PT, aprendi a valorizar intensamente os ensinamentos
gramscianos e de outros chamados marxistas heterodoxos, pessoas que pensaram o
marxismo e o socialismo por outros paradigmas".
Marcelo Déda aliava os debates, os estudos e os
conhecimentos acumulados à prática, e à luta do povo brasileiro por democracia,
liberdade e pelo fim do Regime Militar.
Enquanto estudante, Déda também esteve engajado nos
movimentos sociais daquele período. Apoiou os índios Xocó; e em Santana dos
Frades esteve ao lado dos posseiros expulsos por fazendeiros na Coroa do Meio,
bem como na luta contra a destruição das barracas dos pescadores.
Para Marcelo Déda, a Militância Estudantil não podia ser
meramente corporativa, mas global. Seu foco seria na universidade, com a
militância vinculada diretamente às lutas do povo pela derrubada da ditadura no
Brasil e pela construção de um país justo e igualitário.
Déda e a fundação do PT.
Com uma câmara Super 8, Marcelo Déda filmou em 1981 a segunda
visita de Lula ao Estado de Sergipe. A primeira deu-se em 1978, quando o atual
presidente da República ainda era dirigente sindical. No carnaval de 81, também
filmou toda a luta de Santana dos Frades - os jagunços armados, a retomada dos
posseiros, a missa rezada por D. José Brandão.
Nesse período também ocorre a fundação do PT. Esses filmes
são exibidos no interior de Sergipe ou em Aracaju. As pessoas assistiam às
cenas e a partir dessas exibições faziam os debates.
"O Movimento Social de maior peso que apostou na
construção do PT, foi o Movimento Estudantil da UFS, na época dirigido pela
tendência Atuação, que tinha derrotado em duas eleições consecutivas o pessoal
que articulava com a chapa Construção, vinculada ao PCB, na época",
relata.
Em 1982, na primeira eleição do PT, Déda é lançado candidato
a deputado estadual. Estava com 22 anos e obteve apenas 300 votos. "A
prática mostrou que a política não era tão fácil assim. Não basta você ter
certeza da sua verdade, é preciso que as outras pessoas acreditem nela".
Entre 1980 e 1981, Déda foi aprovado em concurso para
trabalhar no CREA (Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura). Dividido
entre o trabalho, os estudos, a militância política e a família, ele reduz
significativamente sua militância no Movimento Estudantil, saindo do DCE e
passando a atuar no CONSU (Conselho Universitário) e no CONEP (Conselho de
Ensino e Pesquisa). "Foi a primeira vez que ocupei uma cadeira num
‘parlamento'", diz brincando.
Em 1984, explodiu a campanha das Diretas. Naquele momento,
Marcelo Déda ingressou no processo de mobilização e começou a participar de
comícios em todo Estado. Para ele, o Brasil descobriu nessa campanha que era
possível fazer política com alegria, sem ódio. No dia 26 de fevereiro de 1984,
um comício reuniu mais de 30 mil pessoas em Aracaju com as presenças de grandes
nomes da política brasileira como Lula e Ulisses Guimarães.
Déda é pai de cinco filhos, sendo três filhas (Marcela,
Yasmim e Luísa), do primeiro casamento, João Marcelo e Mateus, fruto de sua
união com a repórter-fotográfica, Eliane Aquino, primeira-dama do Estado, que
sempre marcou sua atuação pela defesa dos direitos das crianças e dos
adolescentes menos favorecidos. No Governo de Sergipe, ela é responsável pelo
Comitê de Políticas Públicas Integradas, que cuida da integração dos projetos
na área social.
Déda e o sonho de um Sergipe Novo.
Em 1985, acontecem as eleições para prefeito em Aracaju. A
conjuntura política da época foi determinante para que o PT resolvesse lançar
Marcelo Déda, aos 25 anos de idade, candidato a prefeito de Aracaju. Todos os
dias, às 11 horas, ele saía para fazer o horário eleitoral ao vivo por conta
das dificuldades financeiras. "A lei me facultava fazer ao vivo, então eu
ia cru, pregava uma bandeira com durex e estava pronto o cenário do ‘ao vivo'.
Aquilo que era uma desvantagem virou uma vantagem porque me transformei no
âncora do programa eleitoral, comentando criticamente o programa dos meus
adversários".
A campanha decolou. Segundo Déda, era impressionante a
quantidade de jovens em busca de material do partido. Com apenas 5 mil cartazes
e um Passat, funcionando como carro de som, vários atos e caminhadas foram
realizados. Marcelo Déda conquistou o segundo lugar nas urnas com
aproximadamente 19 mil votos, levando petistas e não-petistas à passeata de
comemoração pelas ruas da cidade.
Um ano depois de concorrer pela primeira vez nas eleições
municipais, Marcelo Déda é eleito deputado estadual com mais de 32 mil votos.
Em 1990, quatro anos depois da votação estrondosa, Déda conseguiu apenas 10%
disso e não se reelegeu. Em 1994, porém, voltou às campanhas eleitorais e
candidatou-se à Câmara Federal, sendo eleito deputado com 26 mil votos, o
último de uma bancada de oito. A reeleição veio em 1998 com 83 mil votos, a
segunda maior votação proporcional do Brasil.
Na Câmara Federal teve atuação destacada, com grande
presença nos debates e inserção na mídia nacional, chegando à liderança da
bancada do PT e do Bloco de Oposição.
Em 26 de maio de 2000, Marcelo Déda ingressa no processo
eleitoral como candidato a prefeito de Aracaju, sendo um dos últimos colocados
nas pesquisas. Contudo, a campanha decolou e Déda começou a crescer nas
pesquisas, ganhando a eleição ainda no primeiro turno, com 52,80% dos votos
válidos, ao lado do então vice-prefeito Edvaldo Nogueira.
A gestão municipal de Marcelo Déda levantou as bandeiras da
participação popular e da inversão de prioridades, que, através de ações
articuladas, tornaram-se marcas da sua administração. Para o então prefeito, o
grande desafio era implementar um modelo de governo que não esquecesse os mais
pobres, desenvolvendo políticas públicas de inclusão social. Era a periferia
aos poucos mudando de cara. Era a cidadania acessível a todos, sem que se
abandonasse os bairros ditos nobres, conservados com zelo.
Déda também consolida a atuação em defesa dos interesses dos
municípios brasileiros, que já havia sido demonstrada enquanto ainda era
deputado federal, se alinhando aos prefeitos de todo o Brasil em manifestações
que chegaram a ser reprimidas no Palácio do Planalto, pelo governo de então. A
atuação destacada leva o então prefeito de Aracaju a assumir o comando da
Frente Nacional de Prefeitos (FNP), que redefiniu o poder de interlocução dos
municípios junto ao Governo Federal, com reflexos até os dias atuais.
Em 2004, Déda foi reeleito prefeito de Aracaju com 71,38%
dos votos válidos, o que lhe garantiu a vitória com ampla vantagem sobre a
segunda colocada Susana Azevedo (PPS), que ficou com 18,05% dos votos válidos.
A vitória ficou marcada na trajetória política de Déda, o prefeito eleito no
primeiro turno com o maior número de votos, proporcionalmente, no país. Os
princípios de sua primeira gestão continuaram a direcionar as ações do governo
municipal. Em cinco anos e três meses, Marcelo Déda transformou Aracaju na
capital nordestina da qualidade de vida, conforme pesquisa da Fundação Getúlio
Vargas.
No dia 31 de março de 2006, Déda renunciou ao mandato de
prefeito de Aracaju para encarar a disputa pelo governo do Estado. Em vitória
histórica, que simbolizou uma mudança no cenário político sergipano, Marcelo
Déda é eleito governador do estado de Sergipe com 52, 48% dos votos, ao lado do
vice-governador Belivaldo Chagas, também simãodiense. Em sua bagagem política,
o atual governador coleciona títulos, mas se orgulha, sobretudo, de ser ator da
transformação social, e líder de um grande desafio: construir um novo Sergipe.
"Podemos hoje, sergipanos de um novo tempo e de um novo
século assumir o desafio de retirar as pedras do caminho e abrir novas estradas
para o progresso, a paz e a prosperidade, usando com a simplicidade dos sábios,
os mais singelos dos instrumentos de que o criador nos dotou: 'duas mãos e o
sentimento do mundo.'" (Trecho do seu discurso de posse na Assembléia
Legislativa, janeiro de 2007).
Em 2010, Déda foi em busca da reeleição, tendo, agora, como
vice-governador, seu fiel amigo Jackson Barreto de Lima, objetivando dar
continuidade ao projeto de Governo que vinha dando bons frutos e sendo abraçado
pelo povo sergipano. Como consequência do trabalho, o resultado do pleito em
outubro daquele ano não foi diferente: Déda reeleito com 52,08%.
Texto reproduzido do site: agencia.se.gov.br
Foto reproduzida do site: maisgloria.com.br
Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 2 de dezembro de 2013.
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