terça-feira, 10 de dezembro de 2013

A Cascatinha

Foto: acervo Rosa Faria/Arquivo: Adaílton Andrade
Imagem reproduzida do Facebook/Linha do Tempo/Adaílton Andrade.

(Eis um pouco de como era Barrinhos. Isto sem lhes lembrar do grande pioneiro do Colunismo Social em mídia televisiva, nem do grande produtor cultural que era).

A Cascatinha

A Cascatinha fora antes uma gruta artificial instalada no parque Teófilo Dantas, nos fundos da Matriz. Servira de residência a um casal de pacas com prole próspera e gordos traseiros, que recebia da Prefeitura honras de celebridades. Contavam até com funcionários oficialmente designados para, toda tarde, descarregar ali um apetitoso cesto de cascas de melancia e bananas podres. Fedia a chiqueiro doméstico o pedregulho disforme com três entradinhas, por onde, vez por outra, apareciam os roedores municipais em busca de aplausos.
Delícia da meninada!

Mas veio a modernidade, Aracaju preparava-se para o grande advento do turismo, arquitetos e paisagistas ( geralmente formados na Bahia) ansiosos por transformar a cidade numa quase cidade grande. Em nome não sei de que eles tiveram que condenar a gruta das pacas!

E foi então que elas desapareceram num animado churrasco prestigiado por respeitáveis figuras do terceiro escalão da Prefeitura. No seu lugar, surgiu o Bar Cascatinha.

O novo proprietário, Seu Joel, um parente de conhecido vereador noviço nas lides sociais, convencera-se de que somente o colunista João de Barros com sua vistosa criatividade, poderia trazer para a inauguração do novo estabelecimento o charme que ele precisava para conquistar frehuezia... e nos contratou.

Não fez mais do que a obrigação. Tínhamos realizado, semanas antes, a “Primeira Festa Hippie” na Sorveteria Yara, cujos escândalos e indignações movimentaram a caretice da cidade por bom tempo. Portanto, a mídia estaria no papo!

Programamos uma “performance” culminando com a volumosa atriz Walquíria Sandes chegando por via aérea, pendurada num cabo de aço e impulsionada por busca-pés e pitus. Por sugestão de Joubert, ela trajaria longa bata rebordada com o inusitado slogam: “Fogo nela!”, mas a produção chiou, a Petrobrás jamais emprestaria um guindaste e na mão, meu irmão, com a imensa Walquíria, não daria mesmo!

No dia da inauguração, com a banda “Os Comanches” maltratando Raul Seixas, amargamos um espetacular fracasso. Ninguém teve coragem para adentrar o recinto. Uma quase multidão de curiosos convenientemente distante do ba-fa-fá, mas querendo ver no que dava aquilo tudo, incentivava aos gritos “Soltem as pacas! Soltem as pacas! ”. Ao que Barrinhos respondia, com muita languidez e certa concupiscência:

- "É a mim que eles querem"...

O dono encomendara badejas de canudinhos e pasteis com recheios diversos, destinados à gulodice dos visitantes, mas qual, tirando uns quatro esfomeados, a maioria preferiu assistir àquela maluquice, de longe. Entrar, nem implorando!

A Cascatinha funcionou por alguns anos como extensão dos cabarés, varando as madrugadas. Era o lugar da última cantada, da sopa de mão de vaca e do hamburguer final, mas nunca perdeu o fedor fantasmagórico das pacas torradas que, até hoje, juram os mendigos que dormem por lá, ainda reivindicam o local.

Amaral Cavalcante – dezembro/2008.

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 9 de dezembro de 2013.

Nenhum comentário:

Postar um comentário