segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

José Calasans, um Mestre da História



Infonet - Blog Luíz A. Barreto, em 14/09/2004.

José Calasans, um Mestre da História.

José Calasans Brandão da Silva, nascido em Aracaju em 14 de julho de 1915, falecido em Salvador, na Bahia, em 28 de maio de 2001, foi uma das mais eminentes figuras de intelectual sergipano, com forte participação na vida sergipana, especialmente até a década de 1950, continuando, ainda, depois que mudou para Salvador e passou a ser, na Bahia, uma referência como professor universitário, exercendo funções destacadas na vida cultural baiana. Em Sergipe foi professor da Escola Normal e do Ateneu, presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, liderando movimentos culturais como o da criação do Centro de Estudos Econômicos e Sociais de Sergipe, em 1944, ao lado de Orlando Dantas, Garcia Moreno, Urbano Neto, Marcos Ferreira de Jesus, Jorge de Oliveira Neto e outros, a fundação da Revista de Aracaju, com Mário Cabral e Fernando Porto. Na Bahia foi professor de História Moderna e Contemporânea e professor Adjunto de Folclore na Universidade Federal da Bahia, da qual foi Vice Reitor, no Reitorado do também sergipano Macedo Costa., sendo também presidente do Conselho Estadual de Cultura, presidente da Academia de Letras da Bahia, presidente do Rotary Clube da Bahia, dentre outras atividades.

Formado em Direito, mas dedicando-se ao magistério, à história e ao folclore, José Calasans tornou-se um dos mais acreditados intérpretes da saga de Antonio Conselheiro, em Canudos, nos últimos anos do século XIX, construindo a mais consistente, ampla e citada bibliografia. Aracaju foi tema permanente de seus estudos, desde que, em 1942, apresentou tese no Concurso para a Cadeira de História do Brasil e de Sergipe da Escola Normal. Sua vasta obra consagra a biografia do pesquisador e do mestre da história, do folclorista e do investigador da cultura popular, recolhendo farto material com o qual mereceu o reconhecimento e a admiração dos brasileiros.

Calasans chamava a atenção para o fato de que os historiadores sergipanos dedicaram, por mais de 30 anos, seus esforços defendendo o direito de Sergipe sobre terras de fronteira, que tinham ficado sob o domínio da Bahia. A questão dos limites Sergipe - Bahia de fato inspiraram mais do que um ciclo de estudos, do qual os livros de Ivo do Prado, Manoel dos Passos de Oliveira Teles, Francisco Carvalho Lima Júnior, Elias Montalvão, e muitos outros, são o melhor testemunho, uma verdadeira luta, uma causa irrecusável a ser advogada pela elite intelectual e política do Estado.

Foi ele quem mudou os rumos da historiografia sergipana, a partir da tese Aracaju, Contribuição à História da Capital de Sergipe, tratando da Política de Inácio Barbosa; Política Açucareira; Santo Antonio do Aracaju; As Causas da Mudança; A Mudança, A Nova Cidade; cada capítulo com seu sumário, e todos eles levando às Conclusões; Na epígrafe, tomada de livro de Gilberto Freyre, e assinada pelo mestre de Apipucos, José Calasans faz a defesa da Província e daquele que defendendo a sua terra pode ser chamado de provinciano:

“o nome província e o adjetivo provinciano representam algumas coisas de básico para a nossa vida intelectual e artística e para a organização e desenvolvimento da nossa cultura. Alguma coisa de fundamental para uma política brasileira de cultura e, por extensão, para uma política cultural inter - americana. “Passou o tempo de considerar-se um desdouro a condição de provinciano; ela é antes uma condição de vitalidade, de autenticidade, de vigor, de permanência e de espontaneidade, para a nossa arte, para a nossa literatura, para a nossa cultura em formação.”

Aracaju, Contribuição à História da Capital de Sergipe abre um roteiro de pesquisas e de estudos, transformados em pequenos ensaios. Parte deles reunidos, em 1944, sob o título de Temas da Província, integrando Estudos sergipanos; Brício Cardoso e o ensino normal em Sergipe; Subsídio para o cancioneiro histórico de Sergipe; Fausto Cardoso e a revolução de 1906. Outros, debaixo do título geral Introdução ao Estudo da Historiografia Sergipanos também ligam o nome de José Calasans aos estudos históricos de Sergipe. São títulos: Um Discurso de Silvio Romero (de apresentação de Projeto para um livro de história de Sergipe, apresentado na Assembléia Provincial em 1874); Os primeiros trabalhos (sobre a historiografia sergipana); A Obra de Felisbelo Freire; A Escola do Recife; Carvalho Lima Júnior; A Questão de limites; História dos municípios; História política; Livros didáticos; Formação étnica; Biografias; Outros estudos; Obras gerais; Fases da nossa historiografia . Em 1992 o Governo do Estado, através da Fundesc, reuniu tais trabalhos, sob o título de Aracaju e outros temas sergipanos.

José Calasans publicou diversos trabalhos, destacando-se: O ciclo folclórico do bom Jesus Conselheiro (1950); Cachaça moça branca (1951); A santidade de Jaguaripe (1952) Euclides da Cunha e Siqueira de Menezes (1957); No tempo de Antonio Conselheiro (1959); Os vintistas e a regeneração econômica de Portugal (1959); Antonio Conselheiro e a escravidão (1968); Folclore geo – histórico da Bahia e seu recôncavo (1970); Antonio Conselheiro, construtor de igrejas e cemitérios (1973); Canudos: origem e desenvolvimento de um arraial messiânico (1974); A revolução de 30 na Bahia (1980); Canudos na literatura de cordel (1984); Quase biografias de jagunços (1986); Aparecimento e prisão de um Messias (1988); Miguel Calmon Sobrinho e sua época (1992).

Conferencista requisitado, organizador de um dos mais completos acervos sobre Canudos, José Calasans publicou outros trabalhos e deixou inéditos. Seu acervo foi doado a Universidade Federal da Bahia e depositado no Núcleo do Sertão, dedicado aos tempos do Conselheiro, sob a orientação do professor Fernando da Rocha Peres. Outros documentos, principalmente os sergipanos, cobrindo décadas de história, foram doados, há tempo, ao Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe e ao PESQUISE, Pesquisas de Sergipe. Uma toalha de mesa, com autógrafos dos seus amigos e visitantes, está preservada em sua casa, sob a guarda da viúva, D. Lúcia Margarida Maciel da Silva, sua grande companheira e incentivadora.

Fonte: Pesquise - Pesquisa de Sergipe/InfoNet".
Contatos: institutotobiasbarreto@infonet.com.br.

Fotos e texto reproduzidos do site: infonet.com.br/luisantoniobarreto

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 14 de dezembro de 2013.

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