quinta-feira, 30 de maio de 2013

"As Três Cores da Saudade". Por Lilian Rocha


As Três Cores da Saudade *
Por Lilian Rocha.

Verde, vermelho e branco. Eram essas as cores da Associação Atlética, um dos maiores clubes de Aracaju nos meus tempos de menina. Ficava na rua Vila Cristina, entre a praça Camerino e a Rua Senador Rollemberg. Além da Associação Atlética, outros clubes também disputavam as atenções dos aracajuanos, como por exemplo, o Iate Club e a Associação Atlética Banco do Brasil (AABB), que por muito tempo funcionou na Rua Riachuelo, lugar onde hoje é ocupado por uma agência do Banco do Brasil.
Naquele tempo, era muito difícil entrar num clube. Difícil e caro. Era preciso ser sócio e para ser sócio, era necessário apresentar uma proposta de admissão, que era cuidadosamente analisada pela Diretoria. Aprovada a proposta, o ‘candidato a sócio’ tinha que pagar uma elevada quantia, chamada ‘joia’, que equivalia, aproximadamente, a 20 vezes o valor da mensalidade em vigor e que, por sua vez, era dividida em inúmeras prestações...
Mas parece que todo esse sacrifício valia a pena, pois uma carteirinha de sócio abria as portas para o mundo encantado dos clubes, ou seja, o sócio e seus dependentes tinham direito à piscina, lanchonete, quadra de tênis, campo de futebol, festas, bailes de carnaval... Tudo naquele tempo acontecia nos clubes! Por isso, todo mundo queria ser sócio de um clube. Até eu.
Meu pai era bancário e consequentemente, logo virou sócio da AABB. Mas como o acesso a este clube era restrito aos funcionários do Banco do Brasil, ele sentiu necessidade de se associar a outro. E escolheu o Iate.
Portanto, nunca fui sócia de verdade da Associação Atlética, mas usufruí de todas as vantagens de um associado, graças a meu tio Afrânio Bastos, que era sócio e morava pertinho de lá, na rua Senador Rollemberg. E meu tio honrava o título de sócio, pois era um verdadeiro atleta. Nadava, remava, jogava, entendia de todos os esportes.
E de tanto gostar de esportes, um dia ele cismou que tínhamos de aprender a nadar, eu e Márcia, a filha dele, minha prima e amiga inseparável. E foi assim que entrei, pela primeira vez, na piscina da Associação Atlética, para aprender a nadar com ele. A piscina era gigantesca, uma piscina olímpica, na verdade, com blocos, raias e um trampolim enorme. Ele não sabe, mas nunca consegui aprender a nadar de verdade, pois sempre achei muito difícil administrar, de uma só vez, braços, pernas, respiração e não sei mais o quê... Mas graças a ele, perdi o medo de piscina e mesmo sem técnica, consigo ir de uma ponta a outra e sentir, dentro d´água, o mesmo prazer de todos os grandes nadadores...
Além da piscina, o clube tinha quadra de tênis, quadra de futebol, sauna e um grande salão de bailes que ficava no andar superior da sede. Para chegarmos ao salão, subíamos por uma escada bastante curiosa, que começava reta e depois se abria para os dois lados, em formato circular.
Em 1972, a Associação Atlética também viria a ser palco de uma das lembranças mais marcantes da minha vida. Ali, logo na entrada e sentados no chão, assistimos a um show de uma banda quase desconhecida ainda, formada por um monte de baianos cabeludos e uma única mulher, dona de uma voz doce e meiga que dançava freneticamente no palco, exibindo uma barriga enorme, de quase 9 meses de gravidez. Foi assim, cercada pelos muros da minha Associação Atlética, que fui apresentada aos “Novos Baianos”...
E entrou por uma perna de pato e saiu pela de pinto...
O clube fechou as portas e durante alguns anos ficou agonizando em meio ao mato que cresceu ao redor, à espera, talvez, de um príncipe que a libertasse do seu abandono, tal como acontece nos contos de fada...
Mas o príncipe, mais uma vez, não veio. Como também não apareceu para libertar o Colégio N.S. de Lourdes, nem o Cine Rio Branco, nem a casa de dr. Augusto Leite, nem a casa dos Vila Nova, nem tampouco o Hotel Parque dos Coqueiros. Todos foram sumariamente destruídos. E junto com eles, foram-se, também, mais algumas páginas da história de Aracaju...
Não resisti hoje e entrei no que um dia foi a Associação Atlética. De pé, encontrei apenas um resto do que foi uma arquibancada, 3 blocos de onde os nadadores se preparavam para cair na piscina, uma parede da sauna, a cobertura da boite Catavento e uma escada intacta que hoje não leva mais a lugar nenhum. Uma escada pintada de verde, vermelho e branco, as três cores com as quais escolhi pintar minha saudade de hoje... (Lilian Rocha – 28.05.13).

Fotos e texto reproduzidos da página do Facebook do
Grupo "RECORDANDO", postagem de Austeclino Rocha *

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, em 30 de maio de 2013.

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