terça-feira, 17 de novembro de 2015

Tributo a Lu Spinelli





Publicado originalmente no Facebook/Lúcio Prado Dias.

Ano passado terminou um ciclo, o do Studium Danças, agora, o que fica?

Tributo a Lu Spinelli.
Por Lúcio Prado Dias.

Escrevi o texto ano passado, quando a coreógrafa e dançarina Lu Spineli anunciou o fim do Studium Danças. Agora, um ano depois, estupefato, recebo a notícia de sua morte. O que me pareceu sensato naquele momento, refletir sobre a noticia inesperada me impulsiona a republicá-lo, sob o impacto da comoção da perda.

Sergipe, pelas suas artes, deve muito a Lu Spinelli, pelo pioneirismo e pela coragem de enfrentar, na década de 70, uma sociedade extremamente preconceituosa. Naquela época, Aracaju era uma província desprovida de cultura e arte, poucas pessoas, na vanguarda dos acontecimentos, ousavam inovar, quebrar tabus. Ela não só inovou como revolucionou o ensino da dança em nossa cidade, enfrentando toda sorte de dificuldades, sem perder a disposição, a coragem, a garra e a determinação, para fazer o que sempre acreditou: uma dança contemporânea sintonizada com as grandes companhias de dança do país.

Tempos difíceis, matrículas escassas, a sociedade não via com bons olhos colocar suas jovens filhas na Academia de Lu! Moramos vizinhos por muito tempo na Rua da Frente ( Ivo do Prado ) e convivemos momentos marcantes da sua escola e de sua vida pessoal. As inconstâncias de João Marcos, seu esposo, porque não dizer do casal, a participação nos festivais de Dança Contemporânea e no inesquecível Festival de Arte de São Cristóvão, em várias edições.

E esse meu interesse não era por acaso, afinal as moças mais bonitas e charmosas da cidade eram suas alunas, uma delas, Cristina, viria mais tarde a ser minha esposa. E a saga continuou com Marcela, minha filha, que desde pequenina, com 5 anos, já era sua aluna e ainda hoje, passados tantos anos, continua fazendo parte do seu staff.

Lembro-me de um episódio, eu estudante de Medicina, auxiliando a Academia nos cuidados de saúde da turma que se apresentaria numa das edições do FASC e o principal bailarino, Edmilson Barreto, tivera uma entorse de tornozelo na véspera da apresentação. Valendo-me dos conhecimentos, não hesitei em lhe aplicar uma infiltração medicamentosa na região afetada, comum a época, o que lhe deu condições de dançar naquele momento.

Sim, Lu Spinelli se foi, mas todos nós continuaremos sendo os seus alunos. Com ela aprendemos lições de coragem, fibra e tenacidade. Recordo muito bem da sua luta para termos um teatro de verdade, com estrutura adequada para a dança. O único da cidade, o Atheneu, passou anos pra ser reformado e não havia mais espaços adequados para apresentação dos festivais. Foi uma luta intensa, árdua, demorada, agravada pela insensibilidade dos governantes. Palcos, cenários e sons tiveram de ser improvisados, mas Lu, em momento algum claudicou. Ao contrário! No Conselho Estadual de Cultura, era voz firme, às vezes contundente, na defesa da arte da dança. Seu jeito afirmativo de ser, muitas vezes não era bem compreendido e por outras, fortemente contestado. Assim era Lu!

Ano passado terminou um ciclo, o do Studium Danças, hoje ela se vai mas seu brilho permanecerá sempre muito forte entre nós.

Lu Spinelli será sempre uma vencedora! Descanse em paz!

Texto e imagens reproduzidos do Facebook/Lucio Prado Dias.

Postagem originária do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 12 de novembro de 2015.

Nenhum comentário:

Postar um comentário