sábado, 23 de janeiro de 2016

O Primeiro Médico Sergipano



Publicado originalmente no Facebook de Lúcio Prado Dias.

O Primeiro Médico Sergipano.
Por Lúcio Prado Dias.

O primeiro sergipano a se formar em Medicina nasceu em São Cristóvão em 24 de junho de 1810. Chamava-se Manuel Ladislau Aranha Dantas. De origem humilde, com 17 anos de idade e com os parcos conhecimentos que pôde adquirir na sua pequena cidade, rumou para a Bahia e matriculou-se na Escola Médico-Cirúrgica, na qual se formou em cirurgia a 6 de dezembro de 1832. Preencheu o cargo de lente substituto da seção de cirurgia da Escola de Medicina, recebendo o grau de doutor em fins de 1935.

Aranha teve uma carreira meteórica e tornou-se um dos médicos de maior prestígio na Bahia. O ponto de partida aconteceu em 1837, quando assumiu por concurso a cadeira de patologia externa da Faculdade de Medicina. Contudo, o fato determinante foi revestido de uma contenda que abalou a sociedade baiana e provocou o fechamento da Faculdade por 2 anos.

Com a morte do professor Lino Coutinho, foi posta em concurso a referida cadeira e a ela concorreram os substitutos da seção de cirurgia, Aranha Dantas e o baiano Dr. Francisco Sabino Alves da Rocha Vieira(1796-1846), cabendo a Aranha, por méritos, o provimento nessa cadeira. Sabino Alves não se conformou com a derrota, que coincidia naquele momento com a rebelião de caráter separatista e republicano conhecido pelo nome de Sabinada, que teve em Sabino, e daí a origem do nome, seu maior líder. Sabino era cirurgião aprovado pela Academia Médico-Cirúrgica da Bahia e, como lente substituto concursado, desempenhava as funções de preparador de anatomia e tesoureiro da então Faculdade de Medicina da Bahia. Além de Sabino, participaram do movimento os lentes de física e de medicina legal Vicente Ferreira de Magalhães e João Francisco de Almeida, respectivamente, e alguns alunos da referida instituição.

Sobre Sabino pesavam várias acusações, homem violento, teria assassinado pessoas e como tesoureiro da Faculdade, atos de improbidade. O historiador Braz do Amaral, no artigo “A Sabinada”, publicado na Revista do Instituto Histórico e Geográfico da Bahia em 1909, indaga: “Tinha, porém, este homem (Sabino Alves) o caráter ilibado, a moralidade precisa, a idoneidade de virtudes de um Hampden, de um Washington ou de um Bolívar? Não, claro que não. Sabino, matou o Alferes Moreira, irmão de Vicente Moreira, redator de um jornal seu inimigo, na praça do palácio. Matou um homem que o injuriava e tivera a premeditação de injuriá-lo. Matou, porém, com uma faca inter-óssea, que não é instrumento de carteira de cirurgião, de modo que não se pode deixar de concluir que todas as maneiras de se desagravar, ele havia escolhido a mais sinistra.Acrescenta a mesma fonte que o Dr.Sabino era o tesoureiro da Faculdade de Medicina em 1833 e não deu boas contas do seu tempo de tesouraria. E mais: morava na rua do Castanheda quando a sua esposa o encontrou em ato de sodomia com um crioulo, do que resultou epílogo tristíssimo. Sabino perseguiu com uma faca de ponta a mulher, que fugiu pela escada e ela, caindo fraturou um braço. Foi recolhida pelos vizinhos e por soldados que se achavam na rua, e, em conseqüência desta fratura exposta, morreu de tétano". Fracassada a revolução, Sabino foi condenado a 51 anos de prisão com trabalho, multa correspondente à metade do tempo e indenização do dano, além de galés e prisão perpétua, tendo a pena comutada pelo confinamento, morreu na prisão em 1846.

Superado esse triste e lamentável episódio e com a reabertura da Faculdade, pôde finalmente o nosso enfocado, Dr.Manuel Ladislau desenvolver a sua cátedra conquistada com méritos pela porta larga do concurso e assim permanecer o grande sergipano por longos 40 anos de magistério até se aposentar em novembro de 1873.

Em 1866, com 56 anos de idade, ainda encontrou força e disposição cívica para servir na Guerra do Paraguai, no hospital militar de Montevidéu, sendo depois nomeado médico principal do hospital brasileiro naquela cidade.

Em 1849 foi agraciado com o oficialato da Ordem da Rosa, do qual foi promovido em 1860 pela brilhante preleção feita na presença de D. Pedro II, quando da visita de Sua Majestade à Bahia em 1859. Em 1858 recebeu o Hábito da Ordem de Cristo pelos serviços prestados durante a epidemia de cólera e o elevado cargo de Conselheiro de sua Majestade o Imperador. Foi Presidente interino da Comissão de Higiene Pública e Membro do Conselho da Instrução Pública da Bahia. Teve sua biografia escrita por Alexandre Herculano, publicado em 1881. Publicou “Curso de Patologia Externa”, livro texto para os estudantes de medicina, coisa pouco comum naquele momento, de dezenas de trabalhos e artigos publicados na imprensa da época, entre os quais “Memória da Faculdade de Medicina da Bahia, ano de 1855”; “As Feridas Envenenadas”; “O Veneno das Cobras”.
É patrono da cadeira 34 da Academia Sergipana de Letras e foi sócio honorário da Academia Nacional de Medicina. Faleceu em Salvador em 4 de novembro de 1875 quando concluía a segunda edição do seu compêndio sobre a memória histórica da Faculdade de Medicina.

Texto e imagem reproduzidos do Facebook/Lucio Prado.

Postagem originária do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 21 de janeiro de 2016.

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