sábado, 31 de outubro de 2015

José Sampaio - O poeta dos humildes.



Infonet > Blog Luíz A. Barreto > 05/05/2006.

José Sampaio - O poeta dos humildes.
Por Luiz Antônio Barreto.

José de Aguiar SAMPAIO, filho de Gaspar Leite Sampaio e de Honorina de Aguiar Sampaio, nasceu em Carmópolis (antiga Vila do Carmo) em 2 de maio de 1913. Estuda as primeiras letras com a professora particular Sirena Prado Silva e logo toma gosto pela leitura de poesias, como informa Jackson da Silva Lima, em seu Esparsos e Inéditos de José Sampaio (Aracaju: Nova Editora de Sergipe, 1967). Com a família transferida para Riachuelo, José Sampaio passa a trabalhar na firma Aguiar & Irmãos, de propriedade de seus tios, ao tempo em que freqüenta as redações dos pequenos jornais riachuelenses, colaborando com eles e escrevendo seus primeiros poemas, já libertos da forma tradicional, rimada e metrificada, e engajados nas questões sociais.

Entre os anos de 1932 e 1934 passa a viver em Capela, continuando a trabalhar no comércio com os tios, estabelecidos com o ramo de tecidos. A alma do poeta desponta e vai marcar, por toda a vida, sua boemia. A permanência do poeta em Capela levaria o seu amigo Joel Silveira a escrever no Dom Casmurro de 30 de março de 1940 – Nota sobre o poeta José Sampaio -, que Sampaio era capelense. Em 1934 chega a Aracaju, continua trabalhando com os tios, e logo faz amizade com a geração de jornalistas e intelectuais, que pontificava nos meios culturais e artísticos, participa da edição dos jornais estudantis e põe sua poesia a serviço das causas sociais, ao lado dos irmãos Carlos e Antonio Garcia, Márcio Rollemberg Leite, Joel Silveira, Lises Campos, precocemente desaparecido, Jaguaharo Passos e outros, aos quais foram incorporados depois Paulo de Carvalho-Neto, Armindo Pereira, Os irmãos Walter e Aloysio Sampaio.

Em Aracaju o poeta José Sampaio ganha notoriedade, e passa a liderar os jovens intelectuais sergipanos e estudantes que lutavam contra o niponazifascismo, combatiam a ditadura do Estado Novo e a censura dos meios de comunicação. Os jornais aracajuanos davam espaços para os poemas de José Sampaio, tratando de temas sociais e políticos. As revistas também publicavam as poesias do jovem poeta, passando a considera-lo “o poeta dos humildes.”

José Sampaio conciliava sua condição de poeta, sensível diante dos quadros tristes de miséria, decadência, vício, com as atividades comerciais, tanto de balconista, como de viajante, contatando com a população do interior, que passou a conhecer sua produção poética. Vários poemas ficaram nos balcões, como autógrafos do poeta aos seus clientes e admiradores, ou nos álbuns das moças, espécie de antologia de textos, em versos e em prosa, e de pensamentos pessoais.

Já casado com a poetisa Jaci Conde Dias, de Itaporanga da Ajuda, pai de Liana e de Danilo, muda-se, no final dos anos de 1940, para a cidade baiana de Feira de Santana, montando casa comercial e atuando na imprensa local, com sua produção poética. Adoece, procura tratamento no Rio de Janeiro e em São Paulo, faz uma viagem sentimental a Aracaju, em 1954, e deixa com José Augusto Garcez, fundador e diretor do Movimento Cultural de Sergipe, os originais do livro Nós acendemos as nossas estrelas, livro que desde o início da década de 1940 estava no Rio de Janeiro, pronto, esperando editor, como diz Paulo de Carvalho-Neto em artigo publicado no Correio de Aracaju, de 29 de julho de 1943, e que foi, finalmente, editado (Aracaju: Movimento Cultural de Sergipe, 1954), fixando uma obra inovadora da literatura sergipana. Retorna a Feira de Santana, continua em tratamento médico, até regressar, no início de 1956, a Aracaju, onde recebe a atenção e o aplauso público dos seus admiradores e seguidores sergipanos.

Não resistindo ao sofrimento da doença, cercado de amigos, seguidores e admiradores, o poeta José Sampaio, cognominado de “poeta dos humildes” morre no dia 3 de abril de 1956, sendo sepultado no Cemitério de Santa Isabel, no mesmo dia, com grande acompanhamento e contando, inclusive, com a presença do governador Leandro Maciel a frente da multidão.

Em 1967 Jackson da Silva Lima organizou uma coletânea de poemas esparsos, lançando-a em solenidade no Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, em presença de alguns dos amigos mais próximos de José Sampaio, como José Augusto Garcez, Santo Souza, Antonio Garcia Filho, dentre outros. Vários críticos se ocuparam da obra de José Sampaio, destacando-se Austrogésilo Santana Porto em Realismo Social na Poesia em Sergipe (Aracaju: Livraria Regina, 1960), Nunes Mendonça com o ensaio José Sampaio o homem e a mensagem (Aracaju: Separata da Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe/Livraria Regina, 1962) e Jackson da Silva Lima, que além de ser autor de livros e ensaios sobre a literatura sergipana, é uma espécie de curador das poesias e da prosa de José Sampaio, com vários textos introdutórios à obra sampaina,

A propósito da morte de José Sampaio, Santo Souza escreveu: “Morreu um dos maiores poetas que este pedaço de céu de nossa pequenina terra, com as suas luzes e suas amarguras, teve a felicidade de agasalhar, sob sua côncava parede desenhada de estrelas e de músicas noturnas. Calou a tempestade na garganta da noite. O mar estancou o seu soluço. Porque quando morre um poeta ninguém tem o direito de perturbar o seu colóquio com a noite que lhe vem fechar os olhos.”

Texto e imagens reproduzidos do site: infonet.com.br/luisantoniobarreto

Postagem originária do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 28 de outubro de 2015.

Nenhum comentário:

Postar um comentário