segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Sobre a velhice, num momento depressivo:


Sobre a velhice, num momento depressivo:

RECORDAÇÃO DE 2013:

Quem fala?

Num dia o telefone toca entre a sesta e o resto da tarde.
Entre as frutas do lanche e o comprimido das seis, naquele seu momento feliz pelas coisas que você conseguiu fazer numa produtiva manhã de segunda-feira. Trabalhou... trabalhou, fez por onde levar adiante uma vida produtiva, deu bom dia aos transeuntes, sorriu para a cidade, cometeu algumas asneiras permitidas a quem erra por estar vivo, mas, no fundo, você saiu-se bem naquela segunda feira.

Quem será ao telefone?
É uma voz amiga anunciando que alguém que você ama foi-se da vida para nunca mais.

Então, o chinelo pesa arrastando-se atônito pelas trilhas da casa, os degraus se agigantam, o quintal perde a graça, sua casa já não lhe reconhece. A morte do amigo lhe apequena que você era maior com ele ao seu lado.
Falta-lhe direção ao passo.

É melhor voltar a dormir.
Mas esconder-se sob os lençóis não basta que a velhice lhe alcança a cobrar dividendos. e uma dor que nem chega a doer se aloja em suas entranhas como uma cicatriz que se desenha de repente.

Sua próxima manhã será mais pobre e menos produtiva, seu bom dia catarrento haverá de denunciar a podridão que se escondida em seu velho corpo. Bate o cansaço de continuar andando por ai como uma parábola, o resto do que foi a sua vida entre os seus.
E a tristeza finalmente lhe alcança, inexorável, anunciando o fim dos seus dias.

Quem fala?
- É a velhice chegando.

Amaral Cavalcante 30/09/2013.

Postagem originária  do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 1 de outubro de 2015.

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