quinta-feira, 24 de outubro de 2013

A Saga dos Braganças

Francisco Alberto de Bragança - o primeiro.

Antonio Militão de Bragança - o terceiro, o Varão Laranjeirense.

Francisco José Plácido Tavares de Bragança - o quarto.

Infonet - Blogs - Lúcio Prado - 26/09/2008.

A Saga dos Braganças.
Por Lúcio Antônio Prado Dias.

Com uma história que atravessa três séculos, a saga dos Braganças é capítulo memorável da nossa história contemporânea e árvore frondosa e bela na Medicina de Sergipe.

Nenhuma outra família entronizada em Sergipe tem uma árvore tão geneticamente ligada à Medicina como a família Bragança. Isso como resultado do que pude observar em ligeira e despretensiosa consulta, gerada pela necessidade de obter dados para o nosso Dicionário Biográfico, no prelo. E o tronco dessa árvore está situada em Laranjeiras que, na segunda metade do século XIX, era o ponto mais próspero do Estado.

A povoação que se tornou Vila em 1832 situava-se geograficamente próxima da Capital, mas ficava longe pela precariedade dos meios de transportes, quase que exclusivamente através de barcos. Por outro lado, estava colocada num patamar de salubridade e comércio acima da antiga e da nova sede de governo, São Cristóvão e Aracaju.

O primeiro Bragança médico a chegar a Laranjeiras é Francisco Alberto de Bragança, no final da década de 1830. Nascido em 1816 em Salvador, filho de Aleixo João de Bragança e Ana Joaquina do Sacramento, Francisco forma-se pela Faculdade de Medicina da Bahia em 1836. Curiosamente, ele possui um irmão chamado Antonio Militão de Bragança, também médico e formado no mesmo ano, que chega a concorrer a uma cátedra na Faculdade de Medicina da Bahia, mas que, em função de doença, falece precocemente em Laranjeiras para onde se desloca em busca de tratamento. Em sua homenagem, Francisco dá ao seu único filho varão o nome do tio: Antonio Militão de Bragança.

Mas voltemos aos ancestrais. O ramo brasileiro da família Bragança começa com a chegada a Recife, em 1811, do comerciante português Aleixo João de Bragança, oriundo da província ultramarina de Gôa, do Portugal da Ásia. Sua vinda se dá em função do comércio de açúcar, que passa por grande prosperidade em Pernambuco. Ele casa-se com uma filha da viscondessa de Valcáver, Ana Joaquina do Sacramento, de descendência holandesa, dedicando-se à fabricação e exportação de açúcar. Desse casamento nascem dois filhos: Francisco Alberto de Bragança e Antônio Militão de Bragança, que se formam ambos em Medicina em 1936.

Após a formatura, Francisco aporta em Penedo, onde permanece por dois anos e depois segue para Laranjeiras onde fica por oito anos. Transfere-se para Estância, mas dois anos depois retorna para Laranjeiras, dessa vez em definitivo, onde prospera.

Homem culto e versado em humanidades passa a dar aulas a uma jovem burguesa, regente de cadeira pública na província, e que viria a se tornar sua esposa, em 1852: Possidônia Maria de Santa Cruz, dando origem assim ao ramo sergipano dos Braganças. Em janeiro de 1860, o casal recebe a honrosa visita do Imperador Pedro II, que vai a Laranjeiras para conhecer o Colégio Nossa Senhora Santana, cujas mestras principais são, além de sua fundadora, as suas filhas, Maria Vicencia, Mariana Apolinária e Tereza Virgilina.

Francisco Alberto de Bragança, ao lado do também médico José Cândido de Faria, funda o Hospital Senhor do Bonfim em 1840, que é administrado pela irmandade do Senhor Bom Jesus do Bonfim. Infelizmente, o hospital, por falta de recursos, deixa de funcionar 19 anos depois, em 1859, um ano antes da visita do Imperador. A grande epidemia de cólera morbus de 1855, que dizima quase metade da população de Laranjeiras, atinge mortalmente o médico José Candido Faria. Já o Dr. Francisco Alberto de Bragança falece aos 52 anos, em 30 de outubro de 1868.

Antônio Militão de Bragança, nascido em 31 de julho de 1860, vive até os 89 anos de
idade, falecendo no dia 27 de março de 1949. Forma-se pela Faculdade de Medicina da Bahia, em 15 de dezembro de 1883, defendendo a tese “Paralisias Consecutivas as Moléstias Agudas”. Recém formado, segue para o Rio de Janeiro, onde permanece por breve espaço de tempo, recebendo ensinamentos no campo da oftalmologia. Volta para Laranjeiras e monta consultório na rua Direita. No ano seguinte, transfere-se para Pão de Açúcar onde permanece por 7 anos, voltando já casado para Laranjeiras em 1892, onde exerce suas atividades com grande competência e dedicação. Em 1898 exerce as funções de Delegado de Higiene em Laranjeiras, único cargo público que exerce em toda a sua existência.

Em 1911 violento surto de varíola atinge a cidade e quase a despovoa, tal o número dos que fogem para Aracaju, a este tempo melhorada em seus aspectos sanitários e com maiores recursos de atendimento. Dr. Militão de Bragança escreve e publica relato científico com o título de “A Varíola em Laranjeiras”, trabalho muito rico em detalhes clínicos, epidemiológicos e profiláticos. Uma pandemia de gripe espanhola arrasa Laranjeiras em 1918 com centena de mortes conforme o registro dos serviços públicos. Militão de Bragança é infatigável nessa luta.

Respeitado pela sua dedicação à Medicina, progride de forma mais intensa em função de atividades paralelas de senhor de engenho e criador de gado, tanto em Laranjeiras como nas margens do São Francisco. Progressista e inovador, inclui-se entre os primeiros a importar gado indiano e introduzi-lo nos rebanhos sergipanos.
Casado com Dona Maria da Silva Tavares, tem dois filhos, ambos homens. Antonio Tavares de Bragança, farmacêutico-químico e professor, e Francisco Tavares de Bragança, sacerdote. Nessa geração, portanto, não há médicos entre os Braganças.

Mas a lacuna dura pouco, isso porque Antonio Tavares casa-se com Maria Otávia Plácido Tavares de Bragança e dessa união nasce em 1925, Francisco José Plácido Tavares de Bragança, o “Sobrinho do Jesuíta”, carinhosamente chamado de Bragancinha, o “Chico”, nosso querido professor de Cirurgia, que atualmente reside em Maceió. Para não quebrar a tradição, seu filho, Ricardo Viana de Bragança, escolhe também a Medicina como profissão, especializando-se em urologia, sendo hoje o Bragança da minha geração. Uma história que não pára por aqui, uma vez que Ricardinho, filho de Ricardo Bragança, no próximo ano receberá o seu diploma de médico.

Com uma história que atravessa três séculos, a Saga dos Braganças é capítulo memorável da nossa história contemporânea e árvore frondosa e bela na Medicina de Sergipe.

Fontes consultadas:

Camerino Bragança de Azevedo - “Dr. Bragança; Esse varão laranjeirense”. Rio de Janeiro, Editora Pongetti – 1971.

Antônio Samarone de Santana - “As Febres de Aracaju – dos miasmas aos micróbios”, Aracaju, 2005

Cônego Philadelfo de Oliveira - “Histórias de Laranjeiras”. Casa Ávila. 2ª Edição – 1981.

Discurso pronunciado pelo Dr. Francisco Alberto Bragança de Azevedo ao ensejo da instalação do Ginásio “Possidônia Bragança, na cidade de Laranjeiras, em 9 de março de 1958.

Alexandre Gomes de Menezes Neto – Trabalho escrito para a Academia Sergipana de Medicina, em 1999.

Texto reproduzido do site: infonet.com.br/lucioprado

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 23 de outubro de 2013.

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