sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Santo Sousa: Um poeta órfico em Sergipe ¹


Santo Souza: Um poeta órfico em Sergipe ¹

Introdução: 

O presente trabalho pretende direcionar os acadêmicos do Curso de Letras sobre a importância de resgatar a cultura sergipana através da valorização de poetas consagrados em nosso Estado a fim de conhecer suas obras e a relevância das mesmas para a nossa cultura.

O trabalho foi dividido em três partes: a primeira refere-se a uma pesquisa de campo realizada na Academia Sergipana de Letras; a segunda destina-se a entrevista com o poeta Santos Souza e por fim pesquisas bibliográficas. A pesquisa de campo teve como colaborador Dr. Pascoal, advogado e acadêmico da citada instituição que nos proporcionou conhecer sobre importantes informações a respeito do poeta Santo Souza, sua contribuição para a academia sergipana de letras e alguns segredos de suas obras.

A segunda parte do trabalho foi realizada na tarde de 01 de junho de 2013, onde grupo compareceu à residência do poeta Santo Souza, sendo coordenado por sua neta Ilmara Cristina Souza, jornalista e também acadêmica da Academia Sergipana de Letras que nos dera importantes informações nos proporcionando uma maior abrangência a este trabalho.

O poeta pouco disposto, embora muito lúcido, nos recebeu com uma imensa alegria. Era possível perceber no momento de sua fala o lacrimejar dos olhos por está diante de jovens dispostos a conhecer um pouco da cultura do seu Estado. No primeiro momento o poeta tímido falou sobre sua infância, seus trabalhos e a indignação em perceber o grande número de crianças que não são escolarizadas e a falta de apoio dos governantes aos que buscam preservar a cultura, logo depois falou sobre suas obras, seus prêmios, seus amigos, seus amores e recitou alguns poemas.

A terceira parte foi destinada as pesquisas bibliográficas que nos favoreceu algumas informações contidas em suas obras, as críticas destinadas a esse autor, a relevância do mesmo fora do Estado, a sua contribuição para a literatura brasileira e o trabalho de outros autores que teve como referência o poeta, Santos Souza.

Santo Souza - Biografia: 

José dos Santos Souza nasceu em 27 de janeiro de 1919 no município de Riachuelo no Estado de Sergipe. Filho da arrumadeira, Dona Hermínia “Filhinha”, uma mãe solteira e descendente de escravos, que deu a luz a ele na casa dos patrões.

Com seis anos de idade, Santo Souza começou a trabalhar na área de farmácia.

Estudou até a 3ª série, se tornando um autodidata com um vasto conhecimento tais como aritmética, história, psicologia, esoterismo, línguas como latim, hebraico, grego, etc, procurando estudar sobre tudo.

É considerado um dos maiores poetas do Estado de Sergipe e do país e suas influências literárias, segundo ele, não tem influências diretas de coisa alguma. Sua cultura se concretizou através da descoberta sobre a cultura de vários países, principalmente, a Grécia.

Para ele a poesia é algo que não pode ser explicada por ela nascer com o indivíduo. Essa sua afirmação se dá pelo fato dele ter começado a escrever pequenos versos com 10 anos de idade com a pouca instrução que tinha.

Santo Souza residiu em Riachuelo até os 17 anos trabalhando em farmácia, e em Aracaju, continuando a trabalhar na área onde aprendeu a manipular medicamentos com o mesmo dom de produção de poemas.

Aos 15 anos estudou música, e por ter sido expert em aritmética, aprendeu a tocar em três meses, compondo para clarineta algumas valsas para a namorada.

O poeta conheceu diretamente importantes poetas brasileiros como Mário de Andrade e Carlos Drummond de Andrade. É membro da Academia Sergipana de Letras, ocupando a cadeira de número 03, cujo patrono é Fausto de Aguiar Cardoso, e o fundador é Cleômedes Campos de Oliveira. Foi também membro efetivo da Associação Sergipana de Imprensa, e Membro Correspondente da Academia Paulista de Letras.

Entre os poetas sergipanos, Santo Souza é o poeta com maior número de obras e sua poesia é fundamentada no orfismo, corrente que trata de temas sacros, o bem e o mal contidos na natureza humana. Através dessa corrente, percebe-se que sua poesia busca mostrar as condições humanas, as divindades e os heróis mitológicos, criando, assim, um elo entre o passado e o presente em que o poeta se torna um intérprete do futuro.

No Brasil houve poucos seguidores do Orfismo, e, pelo que se sabe, além do poeta em estudo, houve também o poeta Cyro Pimentel do Estado de São Paulo.

Jackson da Silva Lima, importante historiador da literatura sergipana, considera a poesia de Santo Souza como filosófica, comparando-o a importantes escritores como Fernando Pessoa, Rilke, Valéry, Eliot, buscando dá uma visão sobre o homem através dos tempos e da história.

As obras de Santo Souza foram lançadas, principalmente, pelo Estado de Sergipe. E através de José Augusto Garcez, criador do Movimento Cultural de Sergipe, este se tornou o encarregado de distribuir seus livros pelo Brasil, tornando-o conhecido, especialmente em São Paulo.

A primeira obra de Santo Souza, Cidade Subterrânea, lançada no ano de 1953, fora muito bem recebida por um grande crítico literário da época, Luís da Câmara Cascudo, que inclusive, produziu o seu prefácio.

Durante o Regime Militar a obra Pássaro de Pedra e Sono fora censurada e o livro Decreto Lei Nº 13 que haveria um lançamento na Bahia não pôde ser realizado por conter ideias subversivas. Mas, felizmente, não houve problemas maiores com o escritor.

Santo Souza recebeu inúmeras condecorações e premiações pelo Estado de Sergipe, e em dezembro de 1995, ele ganhou um prêmio literário pela APCA (Associação Paulista de Críticos e Arte).

Através de informações coletadas na obra A Construção do Espanto, décimo segundo livro do autor, lançado no ano de 1998, no capítulo “Opiniões sobre o autor”, que trata da análise das principais obras de Santo Souza, além de vários comentários que o elogiam, fora notado alguns detalhes quanto suas obras. Esses detalhes são referentes, principalmente, às obras, Cidade Subterrânea e Ode Órfica.

Em Cidade Subterrânea, de acordo com Luís da Câmara Cascudo em seu prefácio, revela que na obra está contida a ideia de maldições divinas, vividas por uma sociedade que sofre um cataclisma, mas que aguarda por esperanças.

Ode Órfica, quatro livro do autor, considerado o principal, e lançado em 1956, de acordo com comentário de Sérgio Millet, considera a obra como uma meditação sobre os mistérios da vida, bem como a desilusão dos homens. Nelson de Araújo reforça a ideia, considerando Ode Órfica como o canto moderno dos homens.

De acordo com Luís Antônio Barreto no livro A Construção do Espanto, sua obra está dirigida para questionamentos essenciais da vida humana, retratando um pouco o nordeste, o canto do povo sem destino, o grito do negro escravo. O crítico sergipano ainda o considera como um poeta da cosmovisão, espécie de mediador entre o céu e a terra, e sua obra A Construção do Espanto pode ser considerada como sendo um desfecho das demais obras por está sendo refletida a aventura humana entre deuses, demônios e presságios.

Hoje Santo Souza reside na capital de Sergipe, Aracaju, tendo 94 anos, um pouco debilitado, que o fez encerrar com suas atividades artísticas para se dedicar, exclusivamente, à sua família e à leitura de jornais, revistas e livros.

Ao perguntar a ele o motivo pelo qual não mais escreve, ele afirma que foram os deuses que o mandaram parar.

A grande importância desse poeta que não pode ser esquecido deu ao município de Riachuelo uma escola que leva seu nome, Escola Municipal Santo Souza, bem como a obra Deus Ensanguentado de 2008, que houve versão em espanhol, e um livro em linguagem simples que ajuda a compreender seus poemas, Esboço para uma análise do significado da obra poética de Santo Souza, da escritora Gizelda Morais.

O presente texto se finaliza com uma importante citação de Luiz Antonio Barreto contida na obra A Construção do Espanto: “Santo Souza é um poeta de Sergipe, mas também o é do Brasil e da língua, com sua obra órfica, mas, também, com a vastidão do toque cotidiano, da vida, do ser, da beleza e da reflexão diante do mundo pulsante de todos os dias, como se a poesia fosse uma crônica, a inventar e reinventar a realidade”. (SOUZA p. 129)

Obras:

· Cidade Subterrânea (1953) (com prefácio de Câmara Cascudo)

· Caderno de Elegias (1954)

· Relíquias (1955)

· Ode Órfica (1956)

· Pássaro de Pedra e Sono (1964)

· Oito Poemas Densos (1964)

· Concerto e Arquitetura (1974)

· Pentáculo do Medo (1980)

· A Ode e o Medo (1988)

· Obra Escolhida (1989)

· Âncoras de Arco (1994)

· A Construção do Espanto (1998)

· Rosa de Fogo e Lágrima (2004)

· Réquiem para Orféu (2005)

· Deus Ensanguentado (2008)

· Crepúsculo de Esplendores (2010)

Referências Bibliográficas: 

http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/sergipe/santos_souza.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Santo_Souza

PROJETO SANTO SOUZA: um poeta órfico. Produção de Ilmara Cristina, Gleydiomar Souza, e Alessandra Gama. Orientado por Edilson Moura. Sergipe, 1998. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=wZm4-fnaFDY>. Acesso em: 01 jun. 2013.

SOUZA, Santo. A Construção do Espanto. Aracaju. Sociedade Editorial de Sergipe, 1998.
________________________________

¹ Trabalho apresentado pelos acadêmicos, Allan Tenório Bastos de Oliveira, Corália Cirilo Santos, Edione Oliveira, Gicélia Souza, Géssica Ramiro, Márcia Mendes, e Vanessa Reis, do Curso de Letras-Português da Faculdade São Luís de França, como requisito para avaliação da disciplina Optativa II – Expoentes da Literatura Sergipana, ministrada pelo Prof. José Costa Almeida.
_________________________________

Foto e texto reproduzidos do blog: literaturasergipana.blogspot

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 3 de outubro de 2013.

Nenhum comentário:

Postar um comentário