sábado, 12 de janeiro de 2013

Mercado Central de Aracaju

Personagens cheios de histórias dão vida aos mercados centrais de Aracaju.

Por Stephanie Matos. *

Os mercados centrais de Aracaju transbordam cultura popular o ano inteiro. Do cordel as ervas, do repente a macaxeira. Repletos de cheiros, gostos e personagens, eles são o ponto de encontro para uns e ganha pão para outros. Com a capacidade de reunir música, culinária, artesanato e literatura, e misturar cores, saberes e sabores, os mercados são peças importantes para manutenção da cultura sergipana.

Localizados no centro histórico de Aracaju, os mercados Antônio Franco e Thales Ferraz, foram construídos na década de noventa e passaram por um processo de revitalização no ano de 2000, desde então, atraem sergipanos e turistas. O mercado Antônio Franco, reserva uma diversidade de produtos artesanais vindos de todo o estado, além das comidas típicas, da literatura de cordel e das ervas medicinais. Já no mercado Thales Ferraz é possível encontrar produtos tipicamente nordestinos, como doces, manteiga de sertão e tapioca.

E atrás de cada balcão, há um personagem, uma história de vida construída com o suor do trabalho, que tem no amor pelo mercado, sua característica mais marcante. São pessoas simples, alegres e falantes. Gente com cara de gente, sabe? Gente de coragem, que leva a vida com otimismo e força de vontade, tem orgulho de ser quem é, e sente prazer em contar sua história.

Quem passa pelo mercado e conversa com esses personagens se encanta, e assim como eu, guarda na memória um pouco de cada rosto, cada voz e cada sorriso. Hoje, eu divido com vocês, as minhas lembranças sobre o Seu careca, João Firmino e Zé Américo. Três figuras preciosas que dão vida e alegria ao Antônio Franco.

O popular Careca

Batizado de José Freire de Oliveira, seu Careca, como é popularmente conhecido no Antônio Franco, é uma das principais atrações do lugar. Mas quem o vê na rua, com seus óculos fundo de garrafa, bermudas folgadas e camisa de botão, não faz ideia de quem ele é. E assim, passando despercebido em meio à multidão, ele caminha até o mercado onde trabalha há mais de sessenta anos. Lá, abre sua barraca e se transforma na figura mais conhecida do lugar: O popular Careca. “Esse é o homem mais famoso daqui”, disse outro vendedor ao passar pela banca de seu Careca.

Quem passa por sua barraca não deixa de parar por alguns minutos, seja pra bater papo com seu Careca ou pedir informação. “Trabalho aqui desde pequeno. Com treze anos eu era empregado numa barraca que vendia manteiga e quando fiquei moço montei meu próprio negócio. Então, todo mundo aqui me conhece e eu também conheço cada um que trabalha nesse mercado”, explica ele. Com 62 anos dedicados aos mercados de Aracaju, seu Careca, conta com aconteceu o processo de revitalização dos mercados municipais. “Eu lembro que na época da reforma, mais ou menos em 1997, eu trabalhava no Thales Ferraz e com a mudança, vim para o Antônio Franco. A grande modificação ficou na parte da organização, por exemplo, tudo que hoje é vendido lá no Albano Franco, como carne e verdura, era comercializado aqui”, conta seu Careca.

A barraca do Careca é repleta de artesanato vindo de todos os cantos do Estado. Peças que garantem o sustento da sua família e tantas outras. “Criei meus quatro filhos com o dinheiro das vendas. Minha mulher está sempre aqui comigo e hoje meu filho mais velho vem pelo menos duas vezes por semana me ajudar”, disse ele.

Trabalhar durante tanto tempo no mesmo lugar acaba criando vínculos, seu Careca, sabe bem disso, e fala sobre o seu amor pelo mercado. “Conheci minha mulher aqui, o pai dela era dono de uma barraca no Thales Ferraz. Namoramos, casamos e criamos nossos filhos entre a casa e o mercado. Por isso, para mim não há outro lugar. Pretendo ficar aqui até quando a saúde deixar”, afirma.

O cordel de Firmino

Logo depois da passarela das Flores, que liga o mercado Thales Ferraz ao Antônio Franco, uma banca colorida de histórias chama atenção de quem passa. Lá, de sandália de couro no pé e versos na ponta da língua, está João Firmino Cabral, o maior cordelista do Estado.

Os olhos curiosos de Firmino percorrem cada linha do cordel e sua voz grave dá sentimento as mais diversas histórias. Apaixonado pela literatura de cordel e dono de uma sabedoria que dispensa diplomas, ele afirma: “Na minha banca ninguém tem prejuízo, porque ler não é prejuízo. Ler é cultura”. Há 56 anos produzindo e vendendo cordéis, seu Firmino, é outro personagem marcante e uma das figuras mais procuradas do Antônio Franco. Amante das palavras e com talento nato para poesia, ele encanta sergipanos e turistas com suas histórias. E na barraca “Box do Cordel“ tem de tudo. Do heroísmo a política e das festas populares aos milagres, para agradar todos os tipos de fregueses.

Nascido em Itabaiana, interior de Sergipe, Firmino conta que seu interesse pela literatura surgiu ainda na infância. “Aprendi a ler com o cordel. Eu comprava os folhetos de cordel e lia várias vezes até aprender. E na adolescência escrevi o meu primeiro cordel, chamado “As bravuras de Miguel, o valente sem igual”, afirma.

O amor de Firmino é tão grande que mesmo aos 72 anos, ele permanece de segunda a sábado, das 08h30 às 16h30 em sua banca. Lá ele expõe sua obra, vende os mais variados cordéis e livros, lê e todo simpático, conversa com quem passa e conta os “causos” do dia a dia aos amigos que param em sua banca. Com 50 trabalhos publicados, o cordelista, vê no cordel a razão de sua vida. “Eu nasci para isso, minha vida é o cordel, não sei fazer outra coisa. E não basta querer ser cordelista. Esse dom não se compra, se recebe de Deus. Felizmente eu fui escolhido por ele”, disse João.

A cozinha de Zé Américo

Quem visita o mercado Antônio Franco também pode desfrutar do melhor da culinária sergipana, comer o arribação no restaurante Recanto do Agresteiro, e de quebra bater um papo com Zé Américo do Campo do Brito. O melhor cozinheiro-sanfoneiro de Sergipe. Com mais de dez anos de mercado, faz comida por prazer e música por diversão.

Conversador, Zé Américo, passa de mesa em mesa, cumprimenta os clientes e não deixa de perguntar se a comida está agradando. Fala sobre tudo, em especial, sobre a cultura sergipana, seu assunto favorito. “Falta sergipanidade, o povo de sergipano não se interessa pelo que é da terra. Quem mais deveria apreciar a cultura desse lugar somos nós, sergipanos, mas infelizmente, os turistas mostram mais interesse. Sergipe precisa aprender a valorizar nossa cultura, pois temos uma história grandiosa, digna de destaque”, justifica Zé Américo.

Apaixonado pelo mercado, ele afirma que não pensa em levar seu restaurante para outro lugar. “Meu lugar é no mercado, aqui me sinto bem, tenho meus amigos e clientes fiéis, não tenho porque mudar. Daqui eu só saio morto”, explica. E amor dele pelo por aquele lugar vai além. “Se a prefeitura autorizasse, eu construía uma casa em cima do restaurante. Só para poder ficar por aqui o tempo todo”, diz Zé Américo com um sorriso no rosto.

Zé Américo recebe diariamente os mais diversos clientes, das pessoas que trabalham aos redores do mercado, até artistas e políticos. Seu famoso cardápio conquistou os sergipanos e turistas, e já foi destaque nos programas nacionais: “Mais você” (Rede Globo), “Vitrine Brasil’ (TV Brasil) e “Globo Rural”(Rede Globo). Em 2009, Zé Américo do Campo do Brito foi a capa da revista “Roteiros do Brasil’, distribuída pelo Ministério de Turismo. Conquista essa, que lhe rendeu a visita de personalidades como Regina Casé, Padre Zezinho, Dominguinhos e Gilberto Gil.

Texto reproduzido do site: et7ra.com.br

Foto reproduzida do Portal Infonet
Site: infonet.com.br/cidade/

Postagem originária da página do Facebook/Minha Terra é SERGIPE, em 8 de Janeiro de 2013.

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